A disputa pelo comando da segurança pública virou briga política

Proposta relatada por Derrite foi criticada por especialistas

Pedro do Coutto

A tramitação do chamado “projeto antifacção” na Câmara reacendeu um debate decisivo sobre segurança pública e organização do Estado brasileiro. A proposta, relatada pelo deputado Guilherme Derrite, foi criticada por especialistas, que apontaram um problema central: o texto original restringia a atuação da Polícia Federal ao exigir que operações contra o crime organizado dependessem de solicitação prévia dos governos estaduais.

A medida, além de desalinhada com o funcionamento das instituições, contrariava a lógica constitucional que garante à PF competência nacional e autonomia investigativa para atuar onde quer que organizações criminosas articulem suas redes, rotas e finanças.

RESPOSTA ESTATAL – Especialistas alertam que essa mudança não só criaria entraves operacionais, como poderia fragmentar a resposta estatal a facções estruturadas que transcendem fronteiras locais. O crime organizado contemporâneo não é mais um fenômeno restrito a territórios periféricos ou disputas de milícias por bairros: trata-se de redes complexas, com ramificações internacionais, conexões financeiras sofisticadas e logística que atravessa portos, fronteiras terrestres e rotas aéreas.

Facções brasileiras já operam em países vizinhos, organizam exportações ilegais por corredores portuários estratégicos e mantêm interlocução direta com cartéis estrangeiros. Nesses casos, a Polícia Federal não é apenas um ator relevante — é o elo central da capacidade estatal de rastrear fluxos ilícitos, articular cooperação internacional e conduzir investigações que demandam sigilo, continuidade e alcance nacional.

Condicioná-la à autorização de governadores significa introduzir atrasos, conflitos de interesse político e limites territoriais que não existem para o crime. É, em última instância, combater um fenômeno transnacional com ferramentas municipais.

ALTERAÇÃO DE REGRAS – Outro ponto de preocupação levantado por juristas e entidades de segurança pública é a alteração das regras sobre confisco de bens e patrimônio apreendido em operações contra facções. O projeto flexibiliza e dificulta a expropriação de recursos de organizações criminosas, o que pode afetar diretamente a capacidade do Estado de sufocar financeiramente essas redes.

Parte fundamental do combate ao crime organizado nos últimos anos se deveu justamente à possibilidade de bloquear contas, confiscar imóveis, apreender embarcações e rastrear laranjas utilizados para mascarar fluxos financeiros ilícitos. Enfraquecer esse instrumento significa devolver poder econômico às facções. E poder econômico, no crime, sempre se transforma em poder territorial, armamento, influência e coação social.

Ao sinalizar que vai rever o texto, Derrite parece reconhecer que segurança pública não pode ser submetida a experimentações improvisadas ou gestos de afago político. A Polícia Federal opera na fronteira mais sensível da soberania: onde o Estado afirma sua autoridade frente a organizações que disputam território, economia e legitimidade.

PLANEJAMENTO – Sua atuação depende de continuidade técnica, inteligência integrada e independência de interferências que possam desorganizar investigações complexas. A política, nesse campo, não pode ser movida por urgências eleitorais ou por disputas entre níveis de governo.

No centro do debate está uma escolha: reforçar a coordenação nacional e a inteligência integrada ou fragmentar a resposta estatal num momento em que facções ampliam sua presença nos portos, na Amazônia e em articulações transnacionais.

ENFRENTAMENTO – Não se trata de disputa simbólica entre instituições, mas de uma reflexão estratégica sobre como o Brasil pretende enfrentar organizações que operam simultaneamente no varejo da violência local e nas engrenagens financeiras globais. Qualquer proposta que fragilize a capacidade do Estado de agir de forma articulada não apenas compromete investigações em curso, como pavimenta terreno para a expansão das facções.

O combate ao crime organizado exige Estado forte, ação integrada e decisão política consistente. Tudo o que fragmente isso, enfraquece a democracia — e fortalece quem vive da sua erosão.

7 thoughts on “A disputa pelo comando da segurança pública virou briga política

  1. Que Estado forte? Um cujo Presidente sai de um encontro ambiental flopado, onde ele consome milhares de litros de diesel, libera a exploração de petróleo na Amazônia e derruba milhares de árvore pra fazer uma rodovia, e vai pro território dominado pelo narcotráfico, Colômbia, presidido pelo sancionado tresloucado Petro, pra defender uma ditadura narcotraficante?

    E, que, na maior cara-de-pau, escala seus principais Ministros pra tentarem adoçar a PEC Antifacção, que se posiciona claramente ao lado da bandidagem vitimizada.

    O sonho dourado do Aparato Totalitário Petista, para profundar o processo de extorsão, dominação e manipulação da Sociedade para garantir o bem estar na civilização das oligarquias (zelites) patrimonialistas econômicas, sociais, políticas, intelectuais, estatais, jurídicas é uma Guarda nacional do estilo da bolivariana da ditadura narcotraficante amiga do Maduro.

    https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/repressao-a-oposicao-na-venezuela-e-a-mais-mortal-dos-ultimos-anos-diz-ong/

    É que seu aparelho repressivo judicial, o STF, está tomado torpedos da artilharia dos EUA e corre o risco de fenecer, enquanto tal.

    Ao que parece os eleitores do inútil Lula, maior farsa e aberração ideológica da História, estão dispostos a o manter fingindo governar, ainda que destrua o país.

  2. A propósito do Aparato Petista.

    O Aparato Petista transformou a Academia em um seu aparelho de dominação ideológica para criar uma realidade paralela que omite os fatos, cultua a figura de Lula e evita qualquer crítica. Trata-se de produção mística e alienante não-científica.
    Diante disso, nosso objetivo com este site é preenchermos essa lacuna com uma análise crítica e realista desse Aparato, expondo seu caráter hegemônico de extorsão, dominação e manipulação da Sociedade e como vem aprofundando os problemas estruturais do país.
    Por acreditarmos que a Academia está impossibilitada de realizar uma análise crítica assim, por ter se tornado uma linha de produção fordista de intelectuais orgânicos do Aparato, produzindo ideologias justificantes e não ciência, optamos por desenvolver tese autônoma sobre o tema e publicar os respectivos estudos e opiniões neste site.

    Visite o nosso site e acompanhe em tempo real a construção da nossa tese independente e autônoma:

    https://www.criticapoliticabrasileira.com/

  3. O capitão Derrite, eleito deputado federal em 2022, licenciado do cargo de Secretário de Segurança de São Paulo pelo governador Tarcísio de Freitas, para relatar a PEC Anti facções enviada pelo governo ao Congresso em regime de Urgência, em dois dias, causou uma polêmica federal. Deturpou o texto, que levou seus meses ouvindo a sociedade, Ministério Público e outras autoridades. A mexida do Derrite, se fixou em dois pontos:

    1- Submeter a Polícia Federal só controle dos governadores. Qualquer investigação, inquérito, operações contra o tráfico internacional de armas e drogas, contrabando, descaminho na esfera estadual, só poderia começar ou avançar com a aprovação ao dos governadores. O Art.144, parágrafo primeiro e incisos, I, II, III e IV da Constituição Federal se tornariam letras mortas.
    Ora, senhor Derrite, a Polícia Federal é uma Instituição de Estado, portanto, não pode ser subordinada ao governo federal e muito menos aos Governadores.

    2- Equiparar as organizações criminosas ( tráfico de drogas e de armas, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, prejuízo a Fazenda Nacional) seriam transformados em Terrorismo. Bem, além de absurdamente ilógico, abriria a porta para intervenção de potência estrangeira, a pretexto de combater o terrorismo e o tráfico de drogas, aliás e a propósito, o que Trump está fazendo nas costas do Caribe, próximo da Venezuela e nas costas do Pacífico em frente a Colômbia. Será que o Brasil seria a bola da vez?

    Bem, esse risco de ataque a soberania nacional, ficaria na conta de Hugo Motta, Tarcísio de Freitas e o boi de piranha, chamado capitão Derrite.

    A sociedade mais uma vez, protestou nas redes sociais contra o monstrengo que Derrite queria aprovar, a ponto de Hugo Motta e Derrite desistirem de trair o Brasil. Na prática, tentaram de lambuja, reviver a PEC da Blindagem, porque sem aprovação dos governadores, a Polícia Federal não poderia investigar o destino das Emendas Parlamentares.

    Deputados e senadores, querem usar o dinheiro público, sem transparência e sem controle, conforme exarado na Lei das Licitações.

    Mais uma vergonha da lavra do Senhor Hugo Motta.

  4. Pelo que se sabe , a Polícia Federal do Brasil ” , é um ente do Estado Nacional Brasileiro e já deveria á muito tempo ter autonomia própria , tais como , legal , constitucional , administrativa , operacional , orçamentaria e política livrando-a de chantagens e manipulações diversas , de cada governo (federal , estadual e municipal) plantonista do momento e dessa corja de políticos criminosos e de membros criminosos do poder judiciário Brasileiro , como esta acontecendo agora .

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