O colapso do Banco Master e a fatura que sempre chega ao Tesouro

Ilustração Zero Hora

Pedro do Coutto

Mais uma vez, em matéria de corrupção, descontrole e risco sistêmico no setor financeiro, a história se repete. A liquidação extrajudicial do Banco Master, determinada pelo Banco Central, expôs não apenas o colapso de uma instituição que já vinha dando sinais de deterioração, mas também a fragilidade estrutural de um modelo em que fundos de pensão — responsáveis pela segurança previdenciária de milhões de trabalhadores e servidores — acabam funcionando como amortecedores dos erros e das fraudes do sistema bancário.

O caso seria apenas mais um episódio de crise de liquidez se não envolvesse diretamente fundos de previdência que carregam recursos públicos, como no caso do Rio de Janeiro, onde o Rioprevidência se viu subitamente ameaçado pela possibilidade de não receber valores significativos aplicados em títulos do Master.

CONTRADIÇÕES – Segundo reportagem de Ana Teófilo, Thais Barcelos e Bruna Lessa, publicada em O Globo, o quadro revela contradições profundas e recorrentes em situações desse tipo: a vulnerabilidade dos fundos de pensão diante de bancos que oferecem rentabilidades atraentes, o peso das decisões de gestores pressionados por resultados imediatos e a ausência de uma fiscalização suficientemente preventiva — especialmente porque os fundos de previdência complementar, ainda que cuidem de dinheiro público e privado simultaneamente, não estão sujeitos à mesma ação direta e antecipada do Executivo. Ao contrário, convivem com brechas regulatórias que permitem decisões arriscadas sem supervisão rigorosa.

O Master, agora em liquidação, dificilmente terá patrimônio suficiente para pagar todos os credores. E quando um banco dessa natureza entra em colapso, o impacto não fica restrito ao setor financeiro: ele se espalha pelo Estado, pelos servidores e pelo Tesouro.

Isso ocorre porque fundos de pensão recebem contribuições dos trabalhadores, aportes do poder público e recursos previdenciários cuja natureza é, justamente, garantir segurança de longo prazo. Quando um fundo desse tipo sofre uma perda relevante — ainda que apenas potencial — a fatura recai, cedo ou tarde, sobre o Estado. Foi assim em outros episódios semelhantes e, ao que tudo indica, está sendo assim novamente.

ALERTA NACIONAL – O caso do Rio de Janeiro ilustra com clareza esse desequilíbrio. A simples perspectiva de que o Rioprevidência pudesse deixar de receber valores por falta de liquidez do Master acendeu um alerta nacional: se o fundo enfrentasse dificuldades, caberia ao Tesouro estadual — já pressionado — arcar com as obrigações previdenciárias. Não é uma anomalia: é a mecânica perversa de um sistema em que o risco privado pode rapidamente se tornar problema público.

A investigação sobre o Master, que envolve indícios de fraude, gestão temerária e operações irregulares, adiciona um componente ainda mais grave ao cenário. Não se trata apenas de má alocação de recursos, e sim de possíveis práticas criminosas que enganaram investidores, fundos e o próprio regulador. Nos bastidores, cresce a cobrança por responsabilização não apenas dos controladores do banco, mas também de gestores de fundos que assumiram posições arriscadas sem transparência suficiente.

Esse episódio expõe a necessidade urgente de repensar o modelo de governança e supervisão dos fundos de previdência. Embora manejem recursos essenciais para milhões de aposentados e futuros aposentados, muitos desses fundos operam com níveis de controle desiguais, estruturas decisórias suscetíveis a pressões políticas e um apetite por risco frequentemente incompatível com sua responsabilidade social. A linha que separa má gestão de crime financeiro é, por vezes, tênue — e quando se rompe, quem paga é o contribuinte.

TRANSPARÊNCIA – O colapso do Banco Master deveria servir de virada de chave institucional. O país precisa de regras mais sólidas de transparência, de limites mais claros para investimentos de fundos públicos, de um monitoramento mais rigoroso e, sobretudo, de mecanismos que impeçam que prejuízos privados sejam novamente empurrados para o colo do Tesouro.

A repetição constante desse enredo — bancos em crise, fundos de pensão expostos, servidores ameaçados, Estado acionado como fiador involuntário — não é coincidência: é resultado direto de um sistema que permite, estimula e normaliza riscos que jamais deveriam recair sobre quem paga impostos e contribui mensalmente para sua própria aposentadoria.

A liquidação do Master ainda terá desdobramentos longos, mas seu significado já está claro: enquanto o país não assumir a tarefa de fortalecer a governança dos fundos de pensão e de fechar as portas para a captura privada de recursos previdenciários, crises como essa continuarão se repetindo. E, como sempre, com o mesmo desfecho: a conta final chega, e quem paga não são os bancos — são os trabalhadores, os servidores e a sociedade.

13 thoughts on “O colapso do Banco Master e a fatura que sempre chega ao Tesouro

  1. As maiores falcatruas sempre contam com enorme anuência corrupção no Estado.

    Aos investidores, contribuintes, jurisdicionados.

    FaVOR CARO

    PaVOR CARO

  2. Sendo que esses maus e desonestos gestores , são provenientes da própria sociedade civil ,através da classe política Brasileira e de maus e desonestos magistrados .

  3. Fake news dos bancos oferecendo vantagens absurdas não são investigadas pelo judiciário, pois são cúmplices dos banqueiros. Vide almoços e eventos no exterior.

  4. Só ‘camaradagem ($$$)’ explica atração de governos Castro e Ibaneis pelo Banco Master

    Daniel Vorcaro fez fortuna com títulos podres, tentou escapar da polícia e foi alcançado com o pé no jato. A aventura do banqueiro terminou numa prisão espetacular no aeroporto, quando ele embarcava para Malta. Agora falta pegar quem o ajudou a chegar tão longe.

    O Banco Master se notabilizou por oferecer títulos que pagavam muito acima dos valores de mercado. Trombeteava juros impossíveis e despejava capital alheio em empresas encrencadas. Sua propaganda prometia risco zero: se o banco quebrasse, a conta seria terceirizada para o Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

    A mágica dos CDBs já seria suficiente para acender o alerta das autoridades. Mas Vorcaro ainda se especializou em fazer negócios duvidosos com o poder público. Por pouco, não conseguiu empurrar seu banco micado para o colo do BRB, controlado pelo governo de Brasília.

    Quando o Banco Central começou a questionar a operação, o governador Ibaneis Rocha disse que a compra do Master seria uma jogada de “muito pouco risco”. Mais tarde, ele acusou quem se opôs à negociata de “agir contra o Distrito Federal”.

    Ontem a Justiça Federal decretou o afastamento do presidente do banco estatal, Paulo Henrique Costa. De acordo com as investigações, ele torrou R$ 12 bilhões em carteiras com créditos fictícios.

    Segundo a PF, a operação foi aprovada por “pura camaradagem ($$$)”. O BRB diz ter atuado “em conformidade com as normas de compliance e transparência”.

    Vorcaro gostava de se apresentar como um outsider na Faria Lima. Enquanto encenava o papel do forasteiro, dedicava-se a firmar alianças na política. Sua dobradinha mais notória foi com o senador bolsonarista Ciro Nogueira. No ano passado, o chefão do PP tentou aumentar a cobertura do FGC de R$ 250 mil para R$ 1 milhão.

    A proposta ficou conhecida no Congresso como “Emenda Master”. Foi torpedeada pelos grandes bancos, que temiam pagar a conta das extravagâncias do amigo do senador.

    A camaradagem ($$$) também deve explicar a atração do Rioprevidência pelo banco de Vorcaro. Sob o governo Cláudio Castro, o fundo de pensão enterrou quase R$ 1 bilhão em papéis do Master, ignorando alertas do Tribunal de Contas do Estado.

    Agora o prejuízo pode sobrar para mais de 235 mil servidores aposentados.

    Fonte: O Globo, Opinião, 19/11/2025 00h00 Por Bernardo Mello Franco

    • Por quê esquecem que o Amapá, governado pelo PSOL, aplicou 400 milhões no banco Master ? Há uma ressalva: o PIB do RJ superou 1.17 trilhões e o do Amapá não ultrapassou 30 bilhões de reais.

      O PSOL também é protegido pelos “cumpanheros” ?

    • Não se pode proteger o governador Cláudio Castro, que investiu 1 bilhão na arapuca do Banco Master.
      Lesou o patrimônio público dos servidores. Quem vai pagar esse prejuízo, que pode quebrar o Rio Previdência?
      Não se pode ter compromisso com o erro, seja de esquerda ou de direita.

      Quando falta dinheiro , seja dos correntistas dos bancos, dos Fundos de Pensão, ninguém pergunta se é culpa de esquerda ou direita

  5. Outros envolvidos:

    – Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central de Lula.
    – Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula.
    – Gustavo Loyola, ex-presidente do BC de Itamar Franco e Fernando Henrique.

    Uau…!!!

    O “conselhão” do Banco Master precisa ser investigado. É de cair o queixo os nomes dos envolvidos…
    https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/75909/o-equotconselhaoequot-do-banco-master-precisa-ser-investigado-e-de-cair-o-queixo-os-nomes-dos-envolvidos

    • Concordo com você Eliel. Todos devem ser investigados e punidos caro sejam comprovados os ilícitos nas condutas paralelas com o Vorcaro, presidente do banco Master,vejam de esquerda,vão centro e da direita.

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