Kids pretos: STF conclui julgamento, mas mistério de “Juca” pode reabrir o caso

Continua desconhecida a identidade de “Juca”, o quarto alvo

Malu Gaspar
O Globo

O julgamento do núcleo 3 da trama golpista, que terminou na última terça-feira (18) na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), reconstituiu a atuação de militares das Forças Especiais do Exército, os kids pretos, na conspiração bolsonarista para impedir a posse de Lula – mas não esclareceu o grande mistério que a Polícia Federal (PF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) não conseguiram responder.

Mesmo após o final do julgamento, continua desconhecida a identidade de “Juca”, o quarto alvo do plano de monitoramento, sequestro e assassinato de Lula, do então vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes, batizado de Punhal Verde e Amarelo.

NOME NO PAPEL – O esquema golpista estava descrito em um papel encontrado pela PF com o general Mário Fernandes, que era o número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro na ocasião da trama contra Lula. De acordo com as investigações, o plano foi elaborado pelo próprio Fernandes e impresso dentro do Palácio do Planalto em novembro de 2022, após a derrota do então presidente para o petista na eleição.

Os alvos dos golpistas, segundo o documento, eram Jeca, Joca e Juca. A PF concluiu que os dois primeiros apelidos se referem, respectivamente, a Lula e Alckmin. Diálogos captados pelos investigadores demonstram ainda que Moraes era chamado de “Professora” pelos golpistas.

Mas o inquérito não chegou a uma definição sobre o Juca, como deixa claro o relatório que embasou o indiciamento de Bolsonaro e outros réus da trama golpista divulgado em novembro de 2024.

SEM ELEMENTOS – “Ao final, o último codinome utilizado é de JUCA. Citado como ‘iminência parda [sic] do 01 e das lideranças do futuro gov’, o autor indica que sua neutralização desarticularia os planos da ‘esquerda mais radical’. A investigação não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”, destaca o documento.

Da mesma forma, a denúncia apresentada pelo procurador-geral, Paulo Gonet, não avança sobre a identidade do alvo do plano de assassinato. “O plano utilizava o codinome ‘Jeca’ para Lula da Silva e ‘Joca’ para Geraldo Alckmin. Visava, também, atingir um quarto alvo, apresentado com o codinome ‘Juca’, que ainda não foi identificado pela autoridade policial”, ressalta o PGR em uma nota de rodapé da acusação apresentada em março deste ano.

De acordo com o Punhal Verde e Amarelo, a eliminação de Juca serviria ao propósito de desarticular “os planos da esquerda mais radical”. O general Fernandes conclui ainda que seu assassinato não provocaria “grande comoção nacional”.

MANOBRA – Já a morte de Jeca (Lula) “abalaria toda a chapa vencedora”, “colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos Três Poderes, sob a tutela principal do PSDB”, destaca trecho do ´plano em referência à legenda à qual Alckmin foi filiado durante 30 anos. Por esse motivo, ainda no raciocínio de Mário Fernandes, a “neutralização” do vice-presidente eleito “extinguiria a chapa vencedora”.

Como publicamos no blog na ocasião da divulgação do relatório da PF, os investigadores do caso especulavam à época que o quarto alvo fosse Flávio Dino, atualmente ministro do Supremo. Outra possibilidade é que se tratasse de José Dirceu, ex-ministro de Lula que é um alvo constante da extrema direita.

OS “SUSPEITOS” –  Na ocasião do plano de golpe orquestrado pelos bolsonaristas, Dino havia sido recém eleito senador do Maranhão pelo PSB e era cotado como potencial integrante do futuro governo Lula, o que se confirmou com sua indicação para o Ministério da Justiça no início de dezembro.

Por essa lógica, o então senador eleito, aliado próximo de Lula e aliado histórico do PT, se encaixaria na perspectiva de uma “eminência parda” do terceiro mandato do petista, mas os agentes não encontraram elementos para cravar a hipótese.

Já nos círculos militares a principal aposta era que Juca seria, na verdade, José Dirceu. Braço direito de Lula no primeiro mandato, Dirceu chefiou a Casa Civil até deixar o cargo após o escândalo do Mensalão do PT, em 2005. Meses depois teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados e foi condenado pelo STF em 2013.

CONSELHEIRO – Embora nunca mais tenha ocupado cargos nos governos Lula ou Dilma Rousseff, Dirceu era visto entre bolsonaristas como um dos conselheiros mais poderosos do presidente eleito.

Uma viagem do ex-ministro a Cuba após as eleições de 2022 chegou a ser citada em um diálogo entre um coronel do Exército condenado no núcleo de desinformação do caso, Guilherme Marques de Almeida, e o também coronel Dougmar Mercês, que não está entre os denunciados pela PGR.

“Ele deve estar querendo ficar de fora desse período. Se der M, ele já está em asilo”, escreveu Almeida. “Vdd[Verdade]! Vai articular lá de fora a reação”, respondeu Mercês. Dino e Dirceu jamais reivindicaram publicamente a possibilidade de terem sido alvos da trama golpista.

REAL IDENTIDADE – Seja como for, fato é que os autos do maior julgamento da história do Supremo Tribunal Federal deixaram de esclarecer a real identidade de Juca e relegaram ao campo especulativo um relevante detalhe do plano que conspirou contra a democracia brasileira.

O quarto alvo do Punhal Verde e Amarelo só será conhecido caso o general Mário Fernandes ou algum dos réus da trama golpista decidam revelá-lo no futuro por iniciativa própria.

4 thoughts on “Kids pretos: STF conclui julgamento, mas mistério de “Juca” pode reabrir o caso

  1. Ora pombas, diria Nhô Victor meu saudoso avô materno: JUCA, é Jucá, o Romero, parceiro dos tal Machado, gravados tramando o necessario envolvimento com o “STF e TUDO”, para “ESTANCAR AS SANGRIAS”!

  2. Roteiro pra um filme fajuto de guerra, a Força Delta (Kids Pretos?) embarca para derrubar o governo do Talibã, logo no aeroporto são detidos e a minuta dos assassinatos é apreendido pela inteligência do Talibã.
    Daí por diante é só como manteiga no focinho de gato, vão prendendo de um por um.
    Minha opinião sobre o filme fajuto, “mas que merda de Força Delta é essa, deu de mão beijada o planejamento dos assassinatos”.
    O Serviço Secreto do Barba bota no bolso Cia, Mossad, MI6, e o de Portugal no rol dos incompetentes, uns meros abelhudos.

  3. A verdade nem sempre aparece.

    A História é lotada de mentiras repetidas e acreditadas sem racionalidade, conforme o interesse de quem está no poder e o momento.

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