Carlos Chagas
A sorte do presidente Lula não tem tamanho. Talvez daí nasça sua presunção de estar gerindo o melhor governo que o Brasil já teve desde o Descobrimento. Será monumental exagero, é verdade, mas torna-se inebriante para quem governa saber que o Eximbank, dos Estados Unidos, colocou à nossa disposição dois bilhões de dólares para investirmos no Pré-Sal. E a China, dez bilhões de dólares. Para começar.
Claro que as verdinhas não virão empacotadas para os cofres da Petrobrás ou de uma suposta nova empresa capaz de ser criada. Os créditos corresponderão a máquinas, equipamentos, plataformas submarinas, navios e toda a parafernália construída lá fora, necessária à extração das imensas reservas de petróleo descobertas no fundo de nossa plataforma e adjacências. Oferecem material que a Petrobrás não possui, muito menos os recursos para adquiri-lo à vista no mercado mundial. Aceitando a proposta, o Brasil se comprometerá a parcerias com empresas americanas e chinesas, para pagamento posterior da dívida em petróleo, sob o compromisso de abastecer as necessidades desses dois países.
Trata-se de um bom negócio para as partes, e a pergunta que se faz é porque Washington e Pequim mostram-se tão interessados em sair na frente e celebrar conosco esses contratos. A resposta é dupla: porque seus serviços de informação confirmaram a evidência da riqueza do pré-sal, e, em paralelo, por confiarem no Brasil. Poderiam ter oferecido propostas similares à Venezuela, à Arábia Saudita, à Nigéria e até ao Iraque e ao Irã, detentores de reservas semelhantes. Verificam, porém, sermos um país sério, confiável, onde a democracia encontra-se sedimentada, livres que estamos da instabilidade política das referidas nações.
Aqui repousa a sorte do Lula, ainda que as operações com a China, os Estados Unidos e possíveis novos centros de poder proponentes devam vir cercadas de muitos cuidados. A indústria petrolífera mundial funciona como verdadeira máfia, que se puder passar o Brasil para trás, passará.
O importante será assegurarmos a soberania e o interesse nacional, mesmo participando do jogo bruto que envolve não apenas empresas, mas governos estrangeiros. Suas populações precisarão cada vez mais de combustível. Querem assegurar o fornecimento por longos anos, até décadas, além de promoverem negócios para suas economias. Mas se vamos pagar em petróleo tantos bilhões e outros que oferecerão, ótimo. Desde que, vale repetir, tenhamos cuidado.
Mão aberta
Além de abrir mão de lançar candidato próprio à presidência da República, o PMDB traça o seu futuro em duas paralelas que, ao contrário da Física, talvez venham a se encontrar antes do infinito. Porque a tendência no partido também é de não apresentar candidato ao governo de São Paulo.
A direção nacional do partido inclina-se por apoiar a candidata do presidente Lula e do PT, porque o PMDB integra a aliança que dá suporte ao governo e dispõe de seis ministérios e centenas de diretorias de empresas estatais. Mesmo assim, há restrições. Existem dúvidas quanto à possibilidade de Dilma Rousseff decolar, tanto por razões eleitorais quanto por motivos de saúde. Foi por isso que na semana passada o presidente Lula sondou o deputado Michel Temer, comandante nacional do PMDB, para companheiro de chapa da candidata. Parece que ele aceitou.
O problema que afeta a unidade do partido é que lado oposto, do PMDB paulista integrado ao seu chefe, Orestes Quércia, o acordo já foi celebrado com a candidatura José Serra. E, por singular que pareça, os peemedebistas de São Paulo também abriram mão de disputar o governo do estado. Apoiarão quem os tucanos indicarem, seja Aloysio Nunes Ferreira, seja Geraldo Alckmin ou qualquer outro.
A conclusão é de que o PMDB, aparentando desinteresse e estoicismo, não está de mão aberta. Pelo contrário, parece mais fechada do que mão de porco: quer o poder, tanto faz se com um ou com outro lado…
Ainda o diploma
Houve tempo, no início do século passado, em que a profissão de jornalistas era considerada de segunda classe. À exceção dos políticos que escreviam e até possuíam jornais, referia-se à maioria dos repórteres com o gesto de quem tange galinhas. O tempo passou, a profissão aprimorou-se pela ânsia que a sociedade tinha pelas notícias.Veio o jornalismo eletrônico e mais se exigiu dos profissionais de imprensa em matéria de ética, objetividade, veracidade e conformidade com os fatos. Por isso nasceram as escolas de jornalismo e, em seguida, chegou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. O mesmo havia acontecido, mesmo antes, com a medicina, a arquitetura, a engenharia e a advocacia.
Agora, pelo jeito, é a vez do retrocesso. Pergunta-se por que começou com o jornalismo, e a resposta é simples: porque os jornalistas incomodam, na medida em que não divulgam exatamente o pensamento e os interesses das elites. Quem se sente agravado, desmentido ou simplesmente em desacordo com suas idéias é tentado a punir os jornalistas, já que não pode punir a notícia, mesmo verdadeira. Políticos e magistrados formam na primeira fila dos que pretendem vingar-se dos repórteres que escreveram ou apresentaram informações contrárias aos seus interesses ou ao seu pensamento. E a vingança, agora mesquinha, foi acabar com o diploma. Mais ou menos como tirar o sofá da sala para acabar com adultério da mulher…