Carlos Chagas
Com todo o respeito, mas o pessimismo tomou conta de quem escutou as palavras do presidente Lula, segunda-feira, no seu programa de rádio. Porque apesar do ufanismo permanente, o companheiro-mór pela primeira vez demonstrou estar com os pés no chão. Reconheceu as agruras do trabalhador ao acentuar que o Brasil já recuperou a metade dos empregos perdidos com a crise econômica. Entenderam bem? A metade. Apenas a metade.
Para o Lula, até o fim do ano poderemos recuperar tudo, ou seja, chegar a dezembro alcançando os patamares verificados no último mês de 2008.
Traduzindo: houve desemprego em massa, de lá para cá, coisa que o governo mascarou, e, positivamente, não conseguiu conter. Isso apesar das seguidas declarações de que a crise era marolinha, de que tínhamos sido os últimos atingidos e seríamos os primeiros a sair das dificuldades.
O governo omite os números do desemprego. Não apenas o atual, do Lula, mas todos os anteriores. O máximo que se permitem os donos do poder é divulgar a existência de 12% de desempregados, ou 15%, ou 10%, às vezes mais, às vezes menos. Mas não transformam os percentuais em números.
Quantos desempregados existem no país, hoje, quando apenas a metade dos atingidos pela crise conseguiu voltar a trabalhar? Não erra quem supuser, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, vinte milhões de desempregados, dos quais pelo menos cinco milhões perderam seus postos de trabalho a partir da crise. Na melhor das hipóteses, dois milhões e meio voltaram a ter carteira assinada, conforme palavras do próprio presidente. A conclusão, por baixo, é de que dezessete milhões e meio continuam à míngua. E não se incluam neles os beneficiados pelo bolsa-família, uma espécie de emprego público necessário mas faceiro.
Enquanto isso acontecer não dá para acreditar que logo seremos uma das economias mais importantes do mundo. As fábricas de automóveis podem ter voltado a produzir, o ABC respira melhor, o consumo vai retornar a antigos níveis, mas como aceitar os desempregados à margem do processo?
Em suma, se metade dos empregos extintos há seis meses voltaram a ser criados, melhor. Pior, mesmo, para dezessete milhões e meio de cidadãos. E suas famílias, que se calculadas na base mínima de quatro pessoas, levam o desespero e a miséria a setenta milhões de brasileiros…
E agora, companheiro?
Parece inegável que depois do competente Márcio Thomaz Bastos, o presidente Lula também acertou ao designar Tarso Genro para ministro da Justiça. A dupla deixa longe as variadas escolhas anteriores, de Fernando Henrique a Itamar Franco. Polêmico, como o antecessor não era, Tarso Genro não foge de vespeiros.
O diabo é que acaba de ser lançado pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul, com direito a comício, discurso e euforia entre os companheiros gaúchos. Mais importante do que saber se foi antecipação ilegal de campanha, que a lei proíbe, é indagar como daqui por diante Tarso Genro conciliará a contradição. Cada uma de suas iniciativas futuras, como ministro, será cotejada com sua condição de candidato, numa disputa que se afigura como das mais acirradas em todo o país. Precisará ficar de olhos em José Fogaça, na governadora Yedda Cruzius e, mais do que tudo, na incômoda situação de Dcilma Rousseff vir a dispor de dois palanques nos pampas. Há quem suponha o ministro deixando de aguardar março do ano que vem para tornar-se apenas candidato.