Carlos Chagas
Noticiamos dias atrás que a Chevron, uma das maiores multinacionais de petróleo, mediante contrato de concessão com a Petrobrás, havia furado sem nenhum resultado um poço nas profundezas do nosso pré-sal. Nem uma gota conseguiu ser extraída, apesar das centenas de milhões gastos na operação.
A experiência serviu para demonstrar que a província petrolífera detectada no litoral brasileiro não é contínua e sua exploração vai demandar muito esforço e sacrifício, não obstante a Petrobrás tenha tido êxito na prospecção experimental dos poços que furou.
Agora vem a novidade: no Palácio do Planalto, há quem desconfie de mutreta nessa iniciativa da Chevron. Furaram de propósito no lugar errado. Para que? Para pressionar o governo brasileiro a protelar a constituição da nova empresa encarregada da exploração no pré-sal, cujo regime não será tão favorável assim às multinacionais, já que todo o petróleo extraído será comercializado por nós.
Trata-se de jogo pesado, envolvendo dezenas de bilhões de dólares e, mais do que isso, alterando a destinação do petróleo hoje fluindo em maioria para o mercado americano. A nova empresa, através da Petrobrás, poderá vender o petróleo para quem quiser. Inclusive a China, tão ávida do combustível quanto os Estados Unidos. Não é segredo que Pequim colocou dez bilhões de dólares à disposição do Brasil, com a promessa de mais cinco, para agilizar as operações no pré-sal, desde que venhamos a saldar a dívida em petróleo, não em dinheiro. O Eximbank, quer dizer, Washington, ao menos até agora só prometeu dois bilhões de dólares. A briga, pelo que se vê, será de foice em quarto tão escuro quanto é o petróleo…
Mostrar que está bem
Ontem e hoje a ministra Dilma Rousseff está no Nordeste, vistoriando obras do PAC. Além de sua presença servir para agilizar o programa, volta e meia submetido a atrasos, a viagem tem como finalidade demonstrar que a candidata vai bem. Que carecem de fundamento as informações de estar enfrentando dificuldades em seu tratamento contra o câncer. A mulher é uma guerreira, ninguém duvida. Sabe que de sua postura depende o futuro político nacional. Superando a doença, estará muito bem posicionada para ganhar as eleições do próximo ano, dado o empenho do presidente Lula e aliados. Qualquer percalço, no entanto, abrirá as portas do imponderável sobre nosso futuro próximo. Nem o governo nem o PT admitem a hipótese de José Serra tornar-se presidente da República. Seria o desmonte de estruturas erigidas ao longo dos últimos seis anos e meio, incluindo 36 mil cargos federais em comissão, centenas de diretorias e presidências de empresas estatais, favorecimento a milhares de ONGs geridas por companheiros e quantas benesses a mais, proporcionadas pelo uso do poder?
Mas se Dilma ficar alijada da disputa, quem poderá substituí-la? Falta munição suplementar no paiol oficial, até por distração do general-comandante. Ou será por tática?
Mudar o que, e como?
Exagerou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil ao sugerir a renúncia coletiva de todos os senadores, como forma de recuperação da imagem do Senado. Primeiro por tratar-se de hipótese impossível. Depois, porque tem gente boa na casa, apesar das lambanças sucessivas lá encenadas faz muito.
O Senado necessita de mudanças, muitas e imediatas, mas parece imobilizado, ou melhor, mostrando que lá o dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera. Tome-se o papelão explícito do presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque, engavetando em menos de uma semana as onze representações contra José Sarney e Renan Calheiros. Mandar investiga-las, mesmo decidido a não acreditar em recortes de jornal, seria o mínimo a fazer, até para diluir os efeitos da crise. Semanas, senão meses, passariam antes que qualquer relator exarasse suas conclusões. Agredindo a ética e o bom-senso, porém, o suplente sem votos apenas agravou a crise. Como arquivar, antes de investigar, montes de denúncias que sem ser condenações constituem importantes peças processuais?