
Maia enfrenta Bolsonaro, mas Gilmar fica em cima do muro…
Carlos Newton
Depois que o espantoso Albert Einstein ensinou que tudo é relativo, nada deve nos causar espanto, mas é muito difícil e intrigante constatar que a democracia brasileira possa depender de figuras controversas como Gilmar Mendes, que foi capaz de interpretar a Constituição para fazer o Brasil sofrer um retrocesso medieval, tornando-se o único país do mundo a somente prender criminosos após a quarta instância, ou Rodrigo Maia, que ajudou a transformar em Pacote Pró-Crime a série de projetos criados pelo então ministro da Justiça, Sérgio Moro, para combater a criminalidade.
O ministro do Supremo diz que apenas cumpriu a Constituição, mas agora fez exatamente o contrário, no caso da reeleição dos presidentes de Câmara e Senado. E o presidente da Câmara alega que os deputados se manifestaram livremente, porém jamais se ouviu dele nenhuma crítica às excrescências aprovadas, como a Lei do Abuso de Autoridade.
UM E OUTRO – É claro que, em comparação a Gilmar Mendes, que até “revogou” – de moto-próprio – todas as leis sobre suspeição e impedimento de magistrados, Rodrigo Maia é apenas um aprendiz de feiticeiro, mas o fato concreto é que também emperrou a redução do foro privilegiado, já aprovada no Senado, e se recusa a pautar a prisão após segunda instância. Cada um a seu jeito, ou “o homem é o seu estilo”, como dizia Lacan.
Desta vez, Gilmar e Maia não conseguiram “interpretar” a Constituição para permitir que os presidentes de Câmara e Senado sejam reeleitos, algo que poderia abalar a independência e a harmonia entre os Poderes da República.
Se a maioria (só faltou um voto) decidisse que os presidente de Câmara e Senado poderiam se reeleger na mesma legislatura, aumentaria o risco de o país cair numa ditadura branca, em que o presidente da República controla o Legislativo. caso Davi Alcolumbre permanecesse no Senado e Arthur Lira chegasse à presidência da Câmara. Estaria tudo dominado e Bolsonaro se transformaria num rei sem coroa, até porque ele só gosta de mulher jovem…
FICA NA DEPENDÊNCIA – Para garantir o funcionamento de uma democracia mambembe, o país depende da independência do Supremo, cujo presidente Dias Tofolli fez um pacto em 2019 com Bolsonaro, para blindar sua mulher e a de Gilmar Mendes, ambas apanhadas pela Receita e pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na malha fina da sonegação e lavagem de dinheiro. Aliás, Toffoli também era investigado por receber uma mesada de R$ 100 mil da mulher, a advogada Roberta Maria Rangel, e tudo ficou por isso mesmo.
O pacto, é claro, incluía também a impunidade da família Bolsonaro, embora já seja praticamente impossível impedir que continuem sendo investigados os crimes de Flávio, Carluxo e Cia. Ltda.
Agora, a estabilidade democrática dependerá do cacife de Rodrigo Maia, o único deputado que realmente tem chances de montar uma chapa capaz de derrotar o rachadista Arthur Lira, líder do Centrão, e impedir que Bolsonaro reine sem coroa, porque no Senado tudo indica que o presidente conseguirá emplacar um novo serviçal como Davi Alcolumbre..
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P.S. – E que ninguém esqueça de que, além da blindagem da família e dos amigos, essas articulações de Bolsonaro visam a impedir o impeachment e possibilitar sua reeleição, enquanto la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)