Amar é sentir saudade, porque sentir desejo deve ser uma constante… 

Não seja o de hoje. Não suspires por... Cecília Meireles - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista, pintora e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “De longe te hei de amar”, define que é sentir saudade, porque ter desejo é uma constante.

Foi figura de destaque no modernismo brasileiro, um dos grandes nomes da língua portuguesa, que se dizia poeta, por ter combatido a palavra poetisa devido à da discriminação de gênero que apenas depunha contra outras artistas, como se houvesse caminhos distintos para ser poeta.

DE LONGE TE HEI DE AMAR
Cecília Meireles

De longe te hei de amar,
– da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo a constância.

Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?

E, no fundo do mar,
a estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.

A genialidade de Caymmi estava em seu jeito simples de retratar a vida

Caymmi, o ventilador e as “coisas boas”… uma crônica de Caetano… |  musicaemprosa

Em sua simplicidade, Caymmi era genial em tudo o que fazia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O violonista, cantor, pintor e compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008), construiu sua obra inspirado pelos hábitos, costumes e tradições do povo baiano. Teve como forte influência a música negra, desenvolveu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica.

 Estas características aparecem no “Samba da Minha Terra”, cuja letra explica a magia que o samba acarreta sobre todas as pessoas. Este samba foi gravado pelo Bando da Lua, em 1940, pela Columbia.

SAMBA DA MINHA TERRA
Dorival Caymmi

O samba da minha terra
Deixa a gente mole
Quando se canta todo mundo bole,
Quando se canta todo mundo bole

Eu nasci com o samba
E no samba me criei
Do danado do samba
Nunca me separei

O samba da minha terra
Deixa a gente mole
Quando se canta todo mundo bole,
Quando se canta todo mundo bole

Quem não gosta do samba
Bom sujeito não é
Ou é ruim da cabeça
Ou doente do pé

Havia um jardim na casa do menino-poeta, e ele nunca esqueceu das flores

Menino Caminhando Gramado Florido fotos, imagens de © vvvita #182308876

Na frente da minha casa tinha um jardim…

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, administrador de empresas e poeta carioca Evanir José Ribeiro da Fonseca (1955-2017), no poema “Jardim do Éden”, recorda sua infância e o jardim existente em frente à casa em que morava.

JARDIM DO ÉDEN
Evanir Fonseca

Na frente de minha casa tinha um jardim,
as flores nele cultivadas eram tão variadas
que pareciam travar uma grande batalha,
entre cores e perfumes que extasiavam as borboletas
que voavam, numa ida e volta frenéticas,
como se escolhessem as mais saborosas ou sedosas.

Na frente de minha casa tinha um jardim,
que eu, um garoto desbravador, perdia-me
por entre os galhos espinhosos das roseiras
e folhas imensas de tinhorão e murtas
que floriam lilases, brancas e mescladas
como se fossem várias em uma só enxertadas.

No jardim da minha casa havia caminhos feitos de cimento,
que nos garantiam acesso a todas as plantas,
inclusive a uma “dama da noite” peculiar no florir,
pois abria no anoitecer e fechava-se no amanhecer,
seu perfume, imperativo, exalava tomando toda atmosfera
que, ao entorno dela, pareciam inexistir rosas
que como envergonhadas, encantadas e inanimadas,
descansavam, ou dormiam, talvez enfeitiçadas,
diante da sobrevida que passava a imperar
no encantado jardim da minha casa!

Nessa multidão boiada, caminhando a esmo com Dominguinhos e Gil

GILBERTO GIL & DOMINGUINHOS - LAMENTO SERTANEJO by GiorgiaSiqueira on  Smule: Social Singing Karaoke App

Dominguinhos e Gil, parceiros e amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O instrumentista, cantor e compositor pernambucano José Domingos de Morais (1941-2013), o Dominguinhos, na letra de “Lamento Sertanejo”, em parceria com Gilberto Gil, inspirou-se na vida de tantos que partem do interior do país à procura de oportunidades melhores e, ao chegarem na cidade grande, deparam-se com uma realidade bem diferente, daquela conhecida em suas vidas. A música faz parte do LP Refazenda, gravado por Gilberto Gil, em 1975, pela WEA.

LAMENTO SERTANEJO
Gilberto Gil e Dominguinhos

Por ser de lá do Sertão,
Lá do Cerrado
Lá do interior do mato
Da Caatinga do roçado.

Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade
Sem viver contrariado.

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.

Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada
Caminhando a esmo.

No início da noite, surge o mundo imaginário do poeta Emílio Moura

setembro 2015

Moura retrata Cyro dos Anjos (foto: Wilson Baptista)

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O jornalista, professor, artista plástico e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971), um dos líderes do modernismo,  revela neste poema uma visão melancólica sobre o “Mundo Imaginário”.

MUNDO IMAGINÁRIO
Emílio Moura

Sob o olhar desta tarde,
quantas horas revivem
e morrem
de uma nova agonia?

Velhas feridas se abrem,
de novo somos julgados,
o que era tudo some-se
e num mundo fechado
outras vigílias doem.

A noite se organiza e,
no entanto, ainda restam
certas luzes ao longe.
Ah, como encher com elas
este ser já não-ser
que se dissolve e deixa
vagos traços na tarde?

“A gente briga, diz tanta coisa que não quer dizer”, cantava Dolores Duran

Dolores com o marido, Marcello Netto

Paulo Peres
Poemas & Canções

A cantora e compositora carioca Adiléa da Silva Rosa (1930-1959), conhecida como Dolores Duran, foi uma das maiores representantes do samba-canção, gênero musical onde prevaleciam a “fossa e a dor de cotovelo” nos anos 50, conforme a letra de “Castigo”, que expõe o arrependimento pela perda de um amor.

O samba-canção “Castigo” foi gravado por Roberto Luna no LP “Luna Canta para Você”, lançado em 1958, pela RGE.

CASTIGO
Dolores Duran

A gente briga, diz tanta coisa que não quer dizer
Briga pensando que não vai sofrer
Que não faz mal se tudo terminar

Um belo dia a gente entende que ficou sozinho
Vem a vontade de chorar baixinho
Vem o desejo triste de voltar

Você se lembra, foi isso mesmo que se deu comigo
Eu tive orgulho e tenho por castigo
A vida inteira pra me arrepender

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria esse ser que chora
Eu não teria perdido você

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria essa mulher que chora
Eu não teria perdido você

Enfim, um poema verdadeiramente livre, na visão genial de Oswald de Andrade

Companhia das Letras - Nesta terça-feira (11), celebramos o nascimento de  Oswald de Andrade, figura de proa do modernismo. Oswald escreveu  manifestos, poemas, romances, peças teatrais, crônicas e ensaios. Sua obra  ganharia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, escritor, ensaísta, dramaturgo e poeta paulista José Oswald de Souza Andrade (1890-1954) foi um dos principais articuladores do movimento modernista literário e da célebre Semana de Arte Moderna, marco divisório na história das artes brasileiras, realizada em São Paulo, em 1922.

A rebeldia de Oswald o levava a querer muito mais do que simplesmente revolucionar forma e conteúdo da criação artística, conforme o poema “Risco”, livre de qualquer regra gramatical, sobre o qual recai a decisão de escrevê-lo ou não. Na verdade, o que Oswald queria mesmo era uma revolução que transformasse a vida social dos brasileiros, suas instituições e costumes.

RISCO
Oswald de Andrade

Um poema livre
da gramática, do som
das palavras
livre
de traços

Um poema irmão
de outros poemas
que bebem a correnteza
e brilham
pedras ao sol

Um poema
sem o gosto
de minha boca
livre da marca
de dentes em seu dorso

Um poema nascido
nas esquinas nos muros
com palavras pobres
com palavras podres
e que de tão livre
traga em si a decisão
de ser escrito ou não

Um poeta tão precioso, a ponto de entender que sonhos não envelhecem…

UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais - 50 anos Clube da Esquina: compositor Márcio Borges celebra e rememora incício da parceria

Márcio Borges, do Clube da Esquina

Paulo Peres
Poemas & Canções

O escritor, diretor do Museu do Clube da Esquina e poeta mineiro Márcio Hilton Fragoso Borges é, sem dúvida, um dos melhores letristas do nosso cancioneiro popular, criador da expressão “os sonhos não envelhecem”. Na letra de “Clube da Esquina II”, feita com seu irmão Lô e Milton Nascimento, Márcio Borges fala de um tempo de lutas, de persistência, de não se render. Vale ressaltar que a letra casa bem com a luta pela sobrevivência do homem na sociedade com a luta contra os absurdos da ditadura militar, na época, vigente no país desde 1964.

Além disso, é um canto de uma juventude que soube compreender seu tempo, seus medos, suas angústias e suas derrotas, mas não desistiu, é um Clube da Esquina, esquina de amigos que estavam tentando vencer na vida, assim como os amigos que tentavam vencer a ditadura, belo paralelo, pois acabou a ditadura, mas o Clube da Esquina, a luta e persistência para vencer na vida, sociedade é algo sempre presente, por isso a música “Clube da Esquina II” será eterna. Foi gravada por Milton & Lô Borges no LP Clube da Esquina, em 1972, pela Odeon.

CLUBE DA ESQUINA II
Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges

Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço…

Por que se chamava homem
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos…

E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio,
De tudo se faz canção
E o coração na curva de um rio, rio, rio…

E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio,
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente, gente…

Com o Brasil caminhando desse jeito, não se sabe aonde ele vai chegar.

Morre aos 66 anos o compositor Chico Salles, ícone de forró, samba e cordel  | ND Mais

Chico Salles, grande cordelista paraibano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e cordelista paraibano Francisco de Salles Araújo (1951-2017), neste martelo agalopado, deixou seu pensamento percorrer “Os Caminhos do Brasil”.

OS CAMINHOS DO BRASIL
Chico Salles

Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe aonde ele vai chegar.
Esse papo vem do meu pensamento
Sem querer envolver outra pessoa
Falo assim deste jeito e numa boa,
Escrevendo aqui o meu lamento,
Construir uma família é um tormento
A canção não se tem pra quem mostrar
No amigo não se pode confiar
Eu só vejo vaidade e preconceito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

Nossos rios estão todos poluídos
Nossa mata tá sendo derrubada
Guris assaltando a mão armada
O saber bem longe dos oprimidos
Os homens cada vez mais desunidos
O futuro demorando a chegar
Assim é difícil ate sonhar
Nunca mais ouvi falar em respeito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

As noticias nos deixam descontentes
Confusas com assuntos arrumados
Ate os escritores renomados
São a todos os fatos indiferentes
Tão de férias descansando e ausentes
Omissos e sem nada a declarar
Quando é que iremos despertar
E exigir o que nos é de direito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

O progresso aqui é só pretexto
Cresce mesmo é a ponta da miséria
Esta é a afirmação mais séria
Que trago neste meu martelo texto
Afirmando, confirmando no contexto
Já saí por aí a pesquisar
Com tristeza e revolta constatar,
Para aqui apontar este conceito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

Na política é só corrupção
O modelo econômico indecente
A impunidade está presente
Muita hipocrisia e ambição
O descaso com a população
Tá na hora do povo acordar
Botar fogo para a chapa esquentar
E da vida tirar melhor proveito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

E assim, sempre pela contra mão.
A família tem a bolsa como esmola
Juventude aí cheirando cola
A maior desgraça da Nação
Sem saber o que é educação,
A TV ajudando alienar
Algum dia esse bicho vai pegar
A causa passará a ser efeito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

“Jura pela imagem da Santa Cruz do Redentor, para ter valor a tua jura…”

SINHÔ - O PÉ DE ANJO - Discografia Brasileira

Sinhô é um nome na História do Samba

Paulo Peres
Poemas & Canções

O pianista e compositor carioca José Barbosa da Silva, conhecido como Sinhô (1888-1930), é considerado um dos mais talentosos compositores de samba, para muitos o maior da primeira fase do samba carioca. Com letra romântica e queixosa, o samba ”Jura” pede uma promessa de amor. Ao que parece, Sinhô escreveu-a num momento de dor de cotovelo, depois de ter visto a mulher que amava nos braços de um outro pretendente. O samba foi gravado, originalmente, por Mário Reis, em 1928, pela Odeon.

JURA
Sinhô

Jura, jura, jura
pelo Senhor
Jura pela imagem
da Santa Cruz do Redentor
pra ter valor a tua jura
jura, jura
de coração
para que um dia
eu possa dar-te o amor
sem mais pensar na ilusão

Daí então dar-te eu irei
o beijo puro da catedral do amor
Dos sonhos meus, bem junto aos teus
para fugirmos das aflições da dor

Um desabafo poético de Gregório de Mattos, chamado de “Boca do Inferno”

Um poema altamente negativo de Gregório de Mattos, que era conhecido como “Boca do Inferno” - Flávio ChavesPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta baiano Gregório de Mattos Guerra (1636-1695), alcunhado de “Boca do Inferno ou Boca de Brasa” é considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa, no período colonial. Gregório ousava criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a “cidade da Bahia”, ou seja, Salvador, como neste soneto.

TRISTE BAHIA
Gregório de Mattos

Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos.
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.

Vejam como Manuel Bandeira pretendia que fosse seu último poema

Eu gosto de delicadeza. Seja nos gestos,... Manuel Bandeira - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886/1968), membro da Academia Brasileira de Letras, nasceu em Recife e foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. É considerado como parte da geração de 1922 do modernismo no Brasil. Seu poema “Os Sapos” foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna

O ÚLTIMO POEMA
Manuel Bandeira

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Affonso Romano confronta seus desejos poéticos com essa dura realidade

Erros e acertos de Picasso são vistos como poesia por Affonso Romano de Sant 'Anna - Flávio ChavesPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna descreve os seus “Desejos”, em versos bastante atuais.

DESEJOS
Affonso Romano de Sant’Anna

Disto eu gostaria:
ver a queda frutífera dos pinhões sobre o gramado
e não a queda do operário dos andaimes
e o sobe-e-desce de ditadores nos palácios.

Disto eu gostaria:
ouvir minha mulher contar:
– Vi naquela árvore um pica-pau em plena ação,
e não: – Os preços do mercado estão um horror!

Disto eu gostaria:
que a filha me narrasse:
–  As formigas neste inverno estão dando tempo às flores,
e não: – Me assaltaram outra vez no ônibus do colégio.

Disto eu gostaria:
que os jornais trouxessem notícias das migrações dos pássaros,
que me falassem da constelação de Andrômeda
e da muralha de galáxias que, ansiosas, viajam
a 300 km por segundo ao nosso encontro.

Disto eu gostaria:
saber a floração de cada planta,
as mais silvestres sobretudo,
e não a cotação das bolsas
nem as glórias literárias.

Disto eu gostaria:
ser aquele pequeno inseto de olhos luminosos
que a mulher descobriu à noite no gramado
para quem o escuro é o melhor dos mundos.

Um vestido muito especial, que virou personagem da poesia de Adélia Prado

Amor pra mim é ser capaz de permitir... Adélia Prado - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora e poeta mineira Adélia Luzia Prado de Freitas lembra da paixão, que virou um ritual, quando usou “O Vestido” que a faz amante.

O VESTIDO
Adélia Prado

No armário do meu quarto
escondo de tempo e traça meu vestido
estampado em fundo preto.

É de seda macia desenhada em campânulas
vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.  

“Tive, sim, outro grande amor antes do teu, tive sim”, cantava o genial Cartola

Itaú Cultural celebra centenário do samba com exposição sobre Cartola |  Agência Brasil

Cartola e Don Zica, o grande amor do sambista

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Angenor de Oliveira (1908-1980), mais conhecido como Cartola, considerado por diversos músicos e críticos como o maior sambista da história da música brasileira, na letra de “Tive Sim”, expõe que teve um grande amor, mas não tem como compará-lo ao atual. Esse samba foi gravado por Luiz Melodia no CD Estação Melodia, em 2009, pela Biscoito Fino.

TIVE, SIM
Cartola

Tive, sim
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim
Íamos vivendo em paz

Nosso lar,
Em nosso lar sempre houve alegria
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou

Tive, sim
Mas comparar com o teu amor seria o fim
Eu vou calar
Pois não pretendo amor te magoar

Uma declaração de amor profunda, sincera e absoluta, no poema de Adalgisa Nery

Há 41 anos morria a escritora e poetisa carioca Adalgisa Nery | eliomar-de-lima | OPOVO+Paulo Peres
Poemas & Canções

A jornalista, política e poeta carioca Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (1905-1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, no “Poema da Amante”, faz ardentes confissões amorosas.

POEMA DA AMANTE
Adalgisa Nery

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

Casimiro de Abreu, o grande poeta romântico, descobriu que simpatia é quase amor…

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Casimiro José Marques de Abreu (1839-1860) nasceu em Barra de São João (RJ) e foi um intelectual brasileiro da segunda geração romântica. Sua poesia tornou-se muito popular durante décadas, devido à linguagem simples, delicada e cativante, conforme sua definição poética do “Que É – Simpatia”. Este poema inspirou um dos blocos carnavalescos mais famosos do Rio de Janeiro, “Simpatia é quase amor”.

QUE É – SIMPATIA
Casimiro de Abreu

Simpatia – é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia – são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia – meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d’agosto
É o que m’inspira teu rosto…
– Simpatia – é quase amor!

Um poema de Machado de Assis à sua amada Carolina, pouco antes de perdê-la

MACHADO DE ASSIS se DESPEDE de sua ESPOSA - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. O poeta escreveu “A Carolina”, este belíssimo soneto sobre o amor à sua mulher.

A CAROLINA
Machado de Assis

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Desemprego e cansaço do trabalhador que sonhou tirar diploma na cidade

Músicas, vídeos, estatísticas e fotos de Zé Geraldo | Last.fm

Zé Geraldo, grande compositor mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor mineiro José Geraldo Juste, na letra de “Catadô de Bromélias” confessa porque está cansado de viver na cidade, onde a chegada do desemprego deixou-lhe como solução regressar para onde veio em busca de dias melhores em todos os sentidos. A música faz parte do CD Catadô de Bromélias, gravado por Zé Geraldo na Sol do Meio Dia, em 2008.

CATADÔ DE BROMÉLIAS
Zé Geraldo

Cansei da vida na cidade
Meu diploma
Minha faculdade perderam o valor
Desemprego chegou
Vou voltar pro lugar
Donde nunca eu devia ter saído
Volto hoje um ilustre desconhecido
Vou bater de porta em porta
Procurar emprego
Na porteira da fazenda eu vou me apresentar

Meu nome é José
Sou carpinteiro
Assim como José
O primeiro

Eu faço alguns biscates
Sei limpar lavoura sei catar café
Eu ando a pé quantas léguas for
Pra buscar qualquer coisa pro senhor
Domingo de sol
Levanto bem cedim
Não vou ficar que nem na cidade
Quando eu passava o dinterimbebim
Vou entrar no mato
Vou catar bromélias
Pra enfeitar o seu jardim

De noite eu vou pro terreiro
Tem mulher bonita
Tem violeiro
Quem sabe eu encontro um coração aberto
Que ainda queira ter por perto
Um catadô de bromélias
Um simples sonhador
De paixão e alegria
Vou fazer festa pra ela até romper o dia

Meu nome é José
Sou carpinteiro
Assim como José
O primeiro

“E para sempre a amante solidão nos chama e abraça”, diz Lya Luft 

Grupo Livrarias Curitiba - Deixo aqui uma singela homenagem para essa  grande escritora nacional que vai fazer muita falta 💔 Lya Luft escreveu e  publicou vários romances, coletâneas de poemas, crônicas, ensaiosPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft, no poema “Canção Pensativa”, sente passar por um momento de solidão, mas sabe que tem de voltar à realidade e buscar um novo amor.

CANÇÃO PENSATIVA
Lya Luft

Um toque da solidão, e um dedo
severo me traz à realidade: não depender
dos meus amores, não me enfeitar
demais com sua graça, mas ver
que cada um de nós é um coração sozinho.

Cada um de nós perenemente
é um espelho a se mirar, sabendo
que mesmo se nesse leito frio e branco
um outro amor quer derramar-se em nós,
entre gélido cristal e alma ardente
levanta-se paredes para sempre.

(E para sempre
a amante solidão nos chama e abraça.)