Carlos Chagas
Fariam melhor se em vez de continuarem jogando farpas no adversário, Dilma Rousseff e José Serra aproveitassem esse início formal de campanha para dizer que mudanças pretendem implementar na realidade nacional. Não adianta se desculparem dizendo que a culpa é da imprensa, ou seja, que os repórteres só perguntam a respeito do que o outro lado acaba de falar. Sabemos muito bem, nós jornalistas, de nossas fraquezas, isto é, que nenhum entrevistado é obrigado a responder nossas questões.
Por conta disso José Serra, esta semana, criticou Dilma Rousseff “por ela ter assinado sem ler o programa de governo que se obrigou a retirar horas depois do Tribunal Superior Eleitoral”. Ora, o candidato tucano não aceitou sem ler e sem saber quem era Índio da Costa, a ele imposto como candidato a vice-presidente em sua chapa?
A verdade é que os dois candidatos comportam-se como se estivessem num ringue de boxe, preocupados em golpear-se. Esquecem de que ao país menos importam seus “diretos” e seus “cruzados” do que seus planos e programas para o futuro. Serra, por exemplo, em vez de criticar o recuo de Dilma diante de propostas reformistas, deveria mesmo avançar o que pensa da taxação das grandes fortunas, ou da redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais. E Dilma, ao invés de denunciar que os tucanos vão acabar com o bolsa-família, precisaria anunciar que tipo de avanço pretende imprimir à estratégia social do governo.
Corremos o risco de assistir uma sucessão presidencial realizando-se com o olho dos candidatos no espelho retrovisor. Saudades a gente tem de Juscelino Kubitschek, que em sua campanha presidencial jamais se preocupou em denunciar quem matou Getúlio Vargas, preferindo expor que o Brasil precisava de energia, transporte e alimentação.
Apesar de tudo, caranguejos
Perdoe o leitor se entramos, de quatro em quatro anos, em temas alheios à política para mergulharmos na grande paixão nacional que é o futebol. Mas em meio a essa comercializada e corrupta campanha envolvendo a copa do mundo, às vésperas da decisão sobre qual a melhor equipe entre todas as nações, torna-se necessário observar que o futebol regrediu. Ninguém reconhecerá, a começar pelos coleguinhas especializados, mas a verdade é que o esporte já foi muito mais elogiável.
Todos os selecionados tem jogado na retranca, com raras exceções aos que sustentam ser o ataque a melhor defesa. Não é essa a crítica, porém.
Já reparou o leitor que, quase sem exceção, todo jogador, ao receber a bola, em vez de despachá-la de primeira, prefere matá-la na chuteira ou na canela? Em vez de um tempo só, optam por dois tempos, a pretexto de que precisam ter certeza de a quem passar. O resultado é que o adversário já chegou e desmancha ou dificulta a jogada seguinte, tornando as partidas monótonas e previsíveis.
Dizem os técnicos ser por precaução essa perda de preciosos segundos, mas a verdade é outra: os craques atuam assim por falta de competência para jogarem de primeira, com as ressalvas de sempre. Mesmo sob o risco de entregarem a bola ao adversário, precisariam cultuar os passes rápidos, mas os técnicos não deixam e eles se tornam incapazes de agir assim. Resultado: partidas arrastadas, monótonas e sem o brilho de jogadas rápidas dos tempos de Pelé e Coutinho, ou, se quiserem antes, de Jair, Zizinho e Ademir.
Saudosismo? Nem pensar. Apenas a certeza de que o futebol, como estamos acabando de ver na África do Sul, anda para trás ou de lado, como caranguejo…