Carlos Chagas
Razão teve o candidato José Serra ao comparar os presidentes Fernando Henrique e Lula, dizendo serem mais parecidos do que se pensa. As políticas econômica e social dos dois governos se equivalem, não obstante estrilos e irritação de ambos os lados.
Pois não é que a candidata Dilma Rousseff acaba de dar razão ao adversário, acoplando-se às opiniões e iniciativas praticadas pelos governos tucano e petista?
Em entrevista à TV-Brasil, esta semana, ela começou posicionando-se contra o imposto sobre grandes fortunas, outrora um dos carros-chefes do PT. Disse ser impossível quantificar a taxação e defendeu uma das mais abomináveis propostas das elites financeiras, a de que “se mais cidadãos pagarem impostos, todos pagarão menos”. Trata-se de um artifício de banqueiros e especuladores para levar os pobres, que não pagam, a pagar, sob o pretexto de incorporá-los ao sistema tributário.
Foi adiante a ex-ministra, em seu afã de agradar o andar de cima, talvez imaginando que suas definições não chegariam ao andar de baixo e ao porão. Declarou-se contra todo tipo de impostos e taxas para investimentos. Na teoria, uma bela sugestão, mas na prática, o paraíso dos especuladores. Ou não entra como investimento, na Bovespa, o capital-motel estrangeiro, aquele que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã depois de estuprar um pouquinho mais nossa economia, sem ter criado um emprego ou forjado um parafuso? Há investimentos e investimentos, entre nós, tornando-se um perigo nivelar todos por um só denominador comum.
Mas teve mais. Indagada a respeito da redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas, esquivou-se. Afirmou dever a questão ser resolvida com o tempo, sem precipitações, através de acordo entre patrões e empregados, conforme as conveniências e necessidades de cada categoria. E sem a intervenção do poder público. Ora, na realidade sustentou o livre entendimento entre a guilhotina e o pescoço, esquecida de que o Estado tem sido, há séculos, o fator de equilíbrio entre valores tão díspares quanto o capital, de um lado, e o trabalho, de outro.
Não fosse a interferência de sucessivos governos, a começar pelo da Princesa Isabel, e a escravidão não teria sido banida da vida nacional. Depois, o salário mínimo, a jornada diária de oito horas, as férias remuneradas, a defesa do trabalho do menor e da gestante, até outras conquistas que Getúlio Vargas impôs e as elites suprimiram, como a estabilidade no emprego e o salário-família.
Na pergunta sobre o controle social da imprensa, Dilma saiu-se bem, ao rejeitar qualquer tipo de censura sobre o conteúdo da divulgação de notícias, comentários e reportagens, restringindo-se à necessidade de regulamentação para uma série de modernas modalidades da mídia eletrônica.
Em suma, confirmando porque mandou retirar do Tribunal Superior Eleitoral o texto de seu programa de governo preparado pela ala progressista do PT, substituído por sucessivas indefinições dos grupos conservadores de companheiros e do PMDB, Dilma revelou-se um vídeotape de Fernando Henrique e do Lula. Eram dois parecidos. Agora são três…
Chamem o general Custer…
O índio não se emenda mesmo. Falamos do Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Depois de acusar o PT de ligado às Farcs e ao narcotráfico, sai-se agora com a afirmação da existência de entendimento entre o Partido dos Trabalhadores e o Comando Vermelho, a mais importante facção do crime organizado no Rio de Janeiro.
Diria o mais simplório observador da cena política que o homem endoidou. Ou já era assim, antes de indicado pelo DEM ao PSDB. Está mais uma vez incurso em processo por danos morais, calúnia, difamação e injúria. Não bastará multá-lo.
A campanha se deteriora, parece valer tudo na busca de votos, mas se o Poder Judiciário não agir rapidamente, a única solução será convocar o general Custer…
Ainda o segunto turno
A turma da Dilma Rousseff anda cada vez mais eufórica, imaginando que, a continuarem as coisas como vão, a candidata elege-se no primeiro turno. Pode até ser, ainda que por enquanto as pesquisas revelem a decisão ficando para o segundo. A verdade é que no ninho dos tucanos a temperatura anda subindo, com cada bicudo emplumado dando palpite a respeito de como mudar o rumo da campanha. José Serra não é de exasperar-se, mas, pelo jeito, pretende botar ordem na esquadrilha, levando-a a votar num único sentido e evitando o choque de asas. Jogar todas as fichas no programa de propaganda eleitoral gratuita pode não bastar. O importante para o ex-governador de São Paulo será assegurar a realização do segundo turno.
Pés no chão
Aécio Neves continua mantendo os pés no chão. Não quer nem ouvir falar da hipótese de, eleito senador, candidatar-se à presidência do Senado para o biênio 2011-2012. Tem gente pensando nisso, jamais o ex-governador de Minas. Primeiro porque a tradição corta a indicação de senadores de primeiro mandato para a direção da casa. Depois porque sabe muito bem das intenções de José Sarney, candidato natural a permanecer onde está, já que se trata de uma nova Legislatura a inaugurar-se ano que vem.
A grande preocupação de Aécio é levar Antonio Anastásia para o segundo turno na disputa pelo palácio da Liberdade, quando tentariam repetir a performance de Eduardo Azeredo, anos atrás, quando derrotado por Hélio Costa no primeiro turno, venceu no segundo.