Pedro do Coutto
A Folha de S. Paulo completou nesta sexta-feira seus primeiros 100 anos de existência, uma brilhante trajetória pelos fatos, interpretações e seu compromisso democrático, compromisso consigo mesma e com seus leitores que se multiplicam no passar dos anos, o que é natural, pelo crescimento da população, se por outro motivo não fosse. Mas para falar sobre toda amplitude do jornal não se pode esquecer que nenhuma outra publicação é mais universal do que uma edição impressa que nos chega por assinatura ou por acesso às bancas tradicionais, uma vez que em suas páginas estão sempre a política, arte, esporte, administração pública e as informações que dão voz e vez às comunidades carentes que sem a publicação de seus problemas jamais poderiam chegar ao conhecimento dos órgãos municipais.
Posso dizer mesmo que o jornalismo é também um fator de pressão legítima para que os atingidos pelos desastres que se repetem pela natureza sejam resgatados e protegidos.
TRANSMITIR CONHECIMENTO– Nada, portanto, é tão representativo do que a imprensa na transmissão do conhecimento e na troca de informações. Ao lado das TVs, da rádios e da internet, os jornais são importantes elos de comunicação da sociedade moderna.
Quando falo nos 100 anos da Folha e sua luta pela liberdade e pela democracia, lamento que o Correio da Manhã, onde trabalhei por longos anos, não tenha chegado ao centenário que ocorreria em janeiro de 2001. Consequência da total desadministração que sucedeu a saída de Luis Alberto Bahia, seu grande redator-chefe. Mas esta é outra história.
ÂNGULOS DA LIBERDADE – Falando na bela estrada da Folha destaco artigos que saÍram ontem no jornal de Hélio Schwartsman e Ruy Castro, que abordaram ângulos singulares do processo democrático essencial à liberdade. Liberdade tanto para quem escreve quanto para os leitores que, no fundo são as razões de existirem as teclas nervosas de ontem e as teclas sensíveis do universo de comunicação de hoje.
Jornalista há mais de 60 anos, acrescento que vale a pena escrever, fotografar e ler o que se desenrola diariamente no mundo e em nosso país.
Aliás. É sobretudo nas páginas dos jornais que se encontra a usina da liberdade e da defesa dos princípios fundamentais que fazem circular os impulsos humanos, suas limitações, seus hábitos e sua cultura. Falando em cultura, nada supera um jornal como a Folha, que nos dias de hoje tem novamente pela frente obstáculos e arbitrariedades, porém eles acrescentam mais emoção à bela história do jornal na família Otávio Frias.
CONFRONTAR O PODER – Tanto quanto o velho Correio da Manhã e outros importantes jornais, esse monumento que é a Folha reproduz o espírito de mosqueteiro de Dumas pai. Espada em punho, a Folha veio à luz para confrontar o poder e restringi-lo à dimensão humana.
Falei em cultura e em liberdade, dois compromissos e duas lutas fundamentais à existência, que são travadas dia a dia, ao longo da História. Esse o destino da Folha de S. Paulo. Que o jornal continue iluminando a passagem do tempo dentro dos princípios que o fizeram nascer e chegar ao apogeu.
Foi um jornal, atualmente um antro de gazelas, sapatas e drogados.