Carlos Chagas
Muito na surdina, o Conselho Político do governo chegou à conclusão de que a meta, hoje, é garantir o segundo lugar no segundo turno das eleições presidenciais. Mas garantir não apenas para a candidatura prioritária, de Dilma Rousseff, senão outras, de Marina Silva e de Ciro Gomes. Armar uma barraca onde os candidatos possam abrigar-se significa não hostilizar, de forma alguma, a ex-ministra do Meio Ambiente e o ex-ministro da Integração Nacional. O presidente Lula saiu na frente, semana passada, ao declarar que os três postulantes exprimem a continuidade de seu programa.
É claro que no que depender do palácio do Planalto, a chefe da Casa Civil continuará recebendo todo o apoio. Sua queda nas pesquisas mais recentes serve de estímulo para maiores investimentos em seu nome. Coincidência ou não, esta semana Dilma reinicia suas viagens pelo país, isoladamente ou acompanhando o presidente Lula. Mas Marina e Ciro passarão a ser citados como hipóteses. Claro que não rejeitarão a oferta. Se já não vinham criticando o Lula, menos o farão agora, esperançosos de que se chegarem ao segundo turno, contarão com o respaldo oficial.
Fica evidente que mesmo sem uma palavra formal, o governo trabalha com a evidência de que José Serra ocupa a pole position e tem garantido o primeiro lugar no segundo turno. Todos os esforços se farão para evitar o desastre que seria a vitória do governador na primeira votação – possibilidade, aliás, hoje remota conforme as tendências apuradas. Mas é um perigo verificar que ele mantém 40% das preferências, índice que se crescer entorna o caldo. Está instituída, assim, até ulterior modificação, a trinca do barulho, na medida em que quanto mais despontem e se fixem as três candidaturas, melhor para a continuidade.
Fora da pauta
Dois meses atrás o Tribunal Superior Eleitoral referendou duas decisões do Tribunal Regional de Rondônia cassando o mandato do senador Expedito Júnior, eleito pelo PR e em vias de transferir-se para o PSDB. A acusação é de abusos praticados durante a campanha eleitoral. A sentença exarada por unanimidade mandava assumir a cadeira o segundo mais votado nas eleições de 2006, Acir Gurgacz, do PDT. Foi expedida determinação à mesa do Senado para promover a troca, coisa que o presidente José Sarney não fez até hoje.
Três mandados de segurança foram encaminhados pelo PDT ao Supremo Tribunal Federal, recebendo do relator Ricardo Levandowski pareceres favoráveis à imediata substituição. O problema é que o processo foi retirado de pauta nas duas vezes em que seria decidido em sessão ordinária da mais alta corte nacional de justiça.
Fica a dúvida no ar: por que o senador José Sarney não cumpre a ordem judicial? Por que o Supremo não vota os recursos?
Desconforto
A Marinha anda longe de considerar-se satisfeita com a compra dos submarinos convencionais franceses e a promessa de construção de um submarino nuclear dentro de quinze ou vinte anos.
A Aeronáutica não engoliu a opção feita pelo presidente Lula pelos aviões de caça franceses antes que sua análise tivesse sido completada.
O Exército sente-se preterido nessa operação de renovar os equipamentos militares, pela destinação de apenas dezesseis helicópteros, dos cinqüenta que o país irá adquirir.
Junte-se a essas frustrações as mudanças radicais na estrutura das forças armadas, com a criação de um estado-maior conjunto a ser gerido por civis, cuja competência, entre outras, será dar a última palavra em todas as compras de material bélico, e se terá a receita de uma insatisfação contida mas generalizada. Tudo começou com a criação do ministério da Defesa, retirando das reuniões ministeriais a presença das três forças. O processo parece seguir adiante e a pergunta que fica é uma só: com que objetivo?
Café com leite mais próximo
Desperta conseqüências o acordo entre José Serra e Aécio Neves, pelo abandono da proposta de uma prévia entre as bases tucanas para selecionar o candidato presidencial. Fica claro que o indicado será aquele que mobilizar mais apoio junto aos diretórios regionais do PSDB, sem esquecer suas lideranças no Congresso. A previsão, assim, indica a escolha tranqüila do governador paulista, mas ficaria seu colega mineiro sem compensações?
Aqui cresce outra vez a hipótese de lançamento de uma chapa-pura, ou seja, Serra para presidente, Aécio para vice. E quem levantar restrições ao que seria uma volta ao passado, do ressurgimento da política do café-com-leite, deve lembrar-se de que a aliança São Paulo-Minas está em vigência desde 2003. Ou alguém se iludirá imaginando que o Lula representa Pernambuco? Em termos geográficos, continuaria tudo na mesma.