Carlos Chagas
Que o PT venha se curvando às determinações do presidente Lula, ainda se admite. Afinal, sem o primeiro-companheiro o partido não teria passado do grupo dos pequenos. Mesmo engolir a exigência de fazer de Dilma Rousseff a candidata, aceita-se, até por falta de opções.
O que não dá para aceitar, engolir ou admitir, porém, é que o PT apele para asneiras como forma de contrabalançar a depressão. A última delas é um primor: os companheiros querem extinguir o Senado. Estão defendendo o unicameralismo, contrário às nossas tradições e à nossa História, vigente apenas de 1937 a 1945, sob o peso da ditadura do Estado Novo.
É primário o raciocínio de fazer desaparecer o Senado porque tornou-se um antro de corrupção e de desmandos. Lembra o episódio daquele luso cidadão que para acabar com o adultério da mulher, mandou tirar o sofá da sala.
Sem o Senado, em pouco tempo o Brasil se dividiria entre o Sul Maravilha de que falava o Henfil e o Norte-Nordeste próximo de desintegrar-se. Porque o Senado exprime a Federação e seu equilíbrio. Por isso São Paulo tem três senadores e o Piauí, também três. Prevalecendo apenas a Câmara, sob o critério de a população moldar a representação, onde São Paulo dispõe de 70 deputados, e o Piauí, de oito, imagine-se que região seria favorecida com as leis votadas pela maioria.
Acresce que se o Senado é a bola da vez, nem por isso a Câmara fica atrás em matéria de baixarias e lambanças. Basta olhar o passado e aguardar o futuro. Seria essa nova tendência do PT um sinal de que o partido trabalha por um novo Estado Novo? O chefe da Nação, pelo menos, já existe, tão popular hoje quanto Getúlio Vargas foi ontem. Mesmo o candidato oficial às eleições que acabaram não acontecendo está á vista de todos: Dilma Rousseff e José Américo de Almeida se parecem, politicamente. Assim como José Serra e Armando de Salles Oliveira…
Lições de Napoleão
Napoleão dizia, no auge do poder, ser o amor a única batalha que se vence recuando. Em todas as outras, avançar era preciso. Aí está o PT de São Paulo recuando outra vez, claro que sem amor, até com um pouquinho de raiva. Determinou o presidente Lula, no fim de semana, que o partido vá se acostumando à idéia de ter Ciro Gomes como candidato ao palácio dos Bandeirantes.
Dona Marta Suplicy, pressurosa, definiu-se como um soldado às ordens do general. É bom tomar cuidado, porque por maiores méritos de Ciro, não convencerá um eleitor sequer de que é paulista, nascido em Pindamonhangaba. Paulista não vota em cearense, quem quiser que conclua.
Ebulição
Em plena última semana do recesso parlamentar, a temperatura não baixou no Senado. São muitos os senadores que já tomaram o rumo de Brasília, uns temerosos do agravamento da crise, outros ávidos de mais confusão. Por conta da operação sofrida por dona Marly, é provável que o presidente José Sarney permaneça em São Paulo mais alguns dias, devendo os trabalhos ser reiniciados sob a direção de Marconi Perilo, do PSDB. Dependerá dele, a partir de terça-feira próxima, reunir ou não o Conselho de Ética, para apreciar as diversas denúncias formuladas contra Sarney. Se aceita ao menos uma delas, determina o regimento que o atual presidente se afaste durante o processo. Como dispõe de maioria no colegiado, tudo indica a rejeição das denúncias ou, ao menos, que o Conselho de Ética não se reúna antes do dia 11 de agosto. Surpresas, porém, não parecem afastadas.
Eunício confirmado no PMDB
Mesmo em viagem pelo Caribe,num cruzeiro com a família, o deputado Eunício Oliveira mantém contato com os cardeais do PMDB. Parece confirmada a estratégia elaborada pelo presidente licenciado do partido, Michel Temer, de só realizar ano que vem a convenção destinada a sagrar o novo dirigente maior. Até lá permanecerá na função a primeira vice-presidente, deputada Íris Araújo, em fase de mergulho permanente. A ascensão de Eunício Oliveira coincidirá com o lançamento de sua candidatura ao Senado, pelo Ceará. Traduzindo: passarão por ele os condutos da aliança com o governo na sucessão presidencial. Como ex-ministro do presidente Lula, articulará a candidatura de Michel temer a vice-presidente, na chapa de Dilma Rousseff. Em toda essa armação, só se nota um fio desencapado. O ministro da Previdência Social, José Pimentel, jura que será o único candidato a senador indicado pelo presidente Lula, com todo o respaldo oficial. Será?