Carlos Chagas
Triste mesmo foi a vinda do presidente do PT, Rui Falcão, a Brasília, para pressionar três senadores a não rejeitar nem sequer modificar o projeto que restringe os direitos de partidos em formação e de novos partidos terem acesso a tempo de propaganda gratuita na televisão e aos recursos do fundo partidário. Triste porque o companheiro-presidente não dialogou. Impôs a Jorge Viana, Wellington Dias e Eduardo Suplicy a aprovação integral do projeto, como questão fechada no partido. Fechada por quem, cara-pálida?
Pela presidente Dilma e pelo ex-presidente Lula. Precisamente no dia em que Dilma declarou à imprensa não estar em campanha e que todas as suas múltiplas viagens pelo país fazem parte de suas funções de dirigir o Brasil…
Fica clara a estratégia dos detentores do poder, em campanha para reeleger a presidente da República ainda no primeiro turno. Para isso, será melhor afastar liminarmente a candidatura de Marina Silva, em dificuldades para criar sua nova legenda, a Rede. Mesmo se não dispuser mais dos 20 milhões de votos recebidos em 2010, ela poderia causar um estrago nos cálculos do PT, levando a decisão para o segundo turno, tanto faz se contra ela, Aécio Neves ou Eduardo Cunha.
Depois reclamam estarmos sendo intransigentes ao lembrar que para ser criado o PT precisou lutar muito até conseguir seu registro, contestado por adversários. Pois é hoje o mesmo PT que lidera a procissão do arrocho.
Não sabemos se a oração de Rui Falcão conteve ameaças de excomunhão dos três senadores, mas é bem provável, nesse vale tudo sucessório à vista de todos.
APELO PARA DILMA ACORDAR
É pena que nem na imprensa se dá atenção aos trabalhos do Senado. De quando em quanto, porém, assiste-se a pronunciamentos de extrema densidade, como o feito pelo senador Roberto Requião, no começo da noite de terça-feira.
O ex-governador do Paraná começou acentuando que jamais entraria na Rede, de Marina Silva, à qual faltam definições claras sobre as políticas social de trabalhista. Mesmo assim, hipotecava total solidariedade à ex-senadora na tentativa de formar um partido. As dificuldades são criadas pelo governo e tem o apoio explícito da presidente Dilma.
O ponto central do discurso, ouvido apenas por três colegas, envolveu as privatizações realizadas no país com o governo Fernando Henrique. Tratou-se de uma enganação completa, não resultando delas qualquer ganho. Tarifas de água, luz e transportes foram abusivamente aumentadas. Os pedágios, também. Naquele período o Brasil quebrou três vezes. As empresas privatizadas contribuíram para o empobrecimento nacional, iniciando-se um período de remessas exorbitantes de lucros para o exterior, sem investimentos em infra-estrutura. É deletério o estado de nossas rodovias e ferrovias privatizadas.
Requião falou da Santíssima Trindade do entreguismo nacional, composta pelo PSDB, o DEM e o PPS. Sustentou ser uma falácia a acusação de que o Estado é incompetente e recordou a ação do BNDES, emprestando dinheiro para monopólios a juros baixos mas negando-se a atender empresas públicas, inclusive portos.
Deteve-se na análise da telefonia, com tarifas as mais elevadas do planeta e serviços que muito deixam a desejar, mas com remessas imensas para o estrangeiro. Terminou com um apelo à presidente Dilma para que acordasse.
NOVO JULGAMENTO?
Caso aceitos no Supremo Tribunal Federal os embargos chamados de infringentes, que visam reformar sentenças já exaradas contra 12 réus, o risco será de assistirmos a 12 novos julgamentos. Começaria tudo outra vez? Pode ser que juridicamente a possibilidade se apresente, mas em termos políticos será um desastre. Para que valeram as sentenças que fixaram cadeias variadas para os mensaleiros julgados culpados? Vale repetir, só mesmo com a intervenção rápida do presidente Joaquim Barbosa poderá ser desatado esse nó.
Ainda bem que o HF se manifestou ao contrário do articulista.