Sem exibir provas, Moraes pretende que todos acreditem no “plano” para matá-lo

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Deu na Gazeta do Povo

Que ministros do Supremo Tribunal Federal se manifestem constantemente fora dos autos, em palestras, entrevistas e diversas outras ocasiões, é algo que já não espanta ninguém no Brasil de hoje, mesmo que essa loquacidade bata de frente com todas as regras que regem a magistratura. Que falem inclusive sobre processos que estão julgando ou assuntos que possam vir a julgar também não surpreende.

Então, foi com total naturalidade, sintomática da anestesia institucional que vivemos, que o país tomou conhecimento da entrevista que o ministro Alexandre de Moraes concedeu ao jornal O Globo sobre os acontecimentos do 8 de janeiro de 2023 – os mesmos cujos participantes cabe a ele julgar, no papel especial de relator dos processos.

TRÊS PLANOS SINISTROS – O que ganhou as manchetes foi o teor de uma das afirmações do ministro. Segundo Moraes, havia não apenas um, mas três planos para livrar-se dele naquele domingo, envolvendo inclusive a participação das Forças Armadas.

“O primeiro previa que as Forças Especiais (do Exército) me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”, afirmou o ministro do STF ao jornal carioca.

Moraes ainda acrescentou que está sendo investigada a participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no planejamento da suposta prisão – haja inteligência por parte dos supostos planejadores, aliás, já que em 8 de janeiro o ministro nem estava no Brasil, pois havia viajado a Paris com a família.

CONVERSA FIADA – Até o momento, não há um único elemento em toda essa história indicando que ela possa ser levada a sério

As provas dos planos? Moraes não apresentou nenhuma evidência, como era de se esperar. Seria mesmo algo elaborado, com funções definidas e estratégias para sua execução? Ou estamos falando apenas de algum manifestante tresloucado que lançou ideias incendiárias em um ou outro grupo de WhatsApp? Não sabemos.

A rigor, não sabemos nem mesmo se chegou a haver a intenção de atentar contra a integridade física do ministro, muito menos da forma por ele descrita. Moraes espera que o país simplesmente acredite em suas palavras a respeito de uma história tão mirabolante sem nenhum tipo de questionamento, e quem levantar dúvidas sobre suas palavras ou perguntar demais ainda pode acabar sendo considerado “inimigo da democracia”…

PERGUNTA-SE – Por que nada disso foi mencionado nos vários votos pela condenação dos réus do 8 de janeiro já proferidos? Se as ameaças eram tão graves, por que o ministro não reforçou sua segurança?

A pretensão de que o Brasil aceite as denúncias de Moraes sem comprovação nenhuma é ainda mais incrível tendo em mente um episódio recente, ocorrido meses atrás no aeroporto internacional de Roma.

O que começou com uma história de “hostilização” e “agressão”, com direito a uma absurda busca e apreensão na casa dos supostos agressores, terminou como algo que nem a Polícia Federal foi capaz de descrever com clareza, já que seu relatório só consegue fazer prosperar a versão de Moraes à custa de muitas ilações e suposições.

FORA DOS AUTOS – Não é só a falta de evidências do suposto plano que nos permite o direito de não acreditar cegamente no ministro; o histórico de Moraes a esse respeito não o ajuda em nada.

O que temos, portanto, é um magistrado falando fora dos autos, sobre um processo que ele mesmo está julgando, relativo a acontecimentos nos quais, segundo seu próprio relato (carente de comprovação), ele seria vítima de uma forma bastante especial, o que o tornaria impedido de julgar em qualquer país que levasse a sério as regras de processo penal, como bem lembrou o ex-deputado federal Deltan Dallagnol.

Até o momento, não há um único elemento em toda essa história indicando que ela possa ser levada a sério. E o fato de tudo estar tão errado assim e ao mesmo tempo tão normalizado assim apenas nos mostra como o Supremo – e Moraes em específico – conseguiu se impor como superpoder capaz de ignorar impunemente a Constituição, as leis, o decoro que deveria pautar a ação dos magistrados, fazendo das próprias palavras o único critério para definir o legal, o justo e o verdadeiro.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Importante o editorial da Gazeta do Povo, enviado por Mário Assis Causanilhas. Sem a menor dúvida, Moraes precisa ser afastado do processo. Não tem equilíbrio para conduzi-lo, na tripla condição de vítima, promotor e juiz. (C.N.)

Militares temem que ato do 8/1 afete a relação com Planalto e reacenda crise

Charge Jota Camelo (site Viomundo)

Catia Seabra e Cézar Feitoza
Folha

A convocação pelo presidente Lula (PT) de um ato em memória aos ataques do 8 de janeiro virou motivo de apreensão no meio militar. Oficiais ouvidos pela Folha reservadamente afirmaram estar preocupados de que o evento reacenda críticas à vinculação de militares com o governo Jair Bolsonaro (PL) e à postura permissiva dos ex-comandantes com os acampamentos golpistas que se formaram em frente a quartéis, após a vitória eleitoral do petista no final de 2022.

Receosos com a repercussão do aniversário do 8 de janeiro na caserna, os atuais comandantes das Forças Armadas chegaram a questionar o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, sobre a necessidade de participar da cerimônia no Senado Federal, nesta segunda-feira (8).

É ATO POLÍTICO – São esperados cerca de 500 convidados, entre ministros de Estado, governadores, parlamentares, lideranças da sociedade civil e integrantes da cúpula do Judiciário, entre outros.

Os comandantes argumentaram que o ato terá caráter político e que, por isso, eles deveriam ser dispensados de participar e Múcio teria de representá-los.

O tema foi tratado durante um almoço entre os comandantes da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, e o próprio Múcio. As objeções já tinham sido discutidas entre os chefes militares em conversas informais que antecederam a reunião com o ministro.

CONVITE DE LULA – De acordo com pessoas com conhecimento do assunto, Múcio ressaltou a importância da participação dos comandantes por se tratar de um convite de Lula, formulado em conjunto com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso.

Além dos chefes das Forças, o secretário-geral do Ministério da Defesa, Luiz Henrique Pochyly da Costa, e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Renato de Aguiar Freire, deverão comparecer à cerimônia no Congresso Nacional.

A superação desse impasse não afasta o temor de que o ato, batizado de Democracia Inabalada, acabe por reabrir feridas entre militares e governo e reacenda o clima de tensão de um ano atrás.

DESCONFIANÇAS – A relação entre Lula e as Forças Armadas foi marcada por desconfianças desde a transição, mas houve um gradual distensionamento nos últimos meses. O pano de fundo da desconfiança sempre foi a avaliação, entre conselheiros de Lula, de que oficiais de alta patente estavam comprometidos com o projeto político de Bolsonaro — capitão reformado do Exército.

O próprio Lula já sinalizou que viu participação de fardados no 8 de janeiro. Poucos dias depois das cenas de vandalismo em Brasília, ele declarou em entrevista à GloboNews que os ataques eram um “começo de golpe de Estado” e que integrantes das Forças Armadas que quiserem fazer política têm de tirar a farda e renunciar do seu cargo.

“Enquanto estiver servindo às Forças Armadas, à Advocacia-Geral da União, no Ministério Público, essa gente não pode fazer política. Tem que cumprir com a sua função constitucional, pura e simplesmente”, declarou na ocasião.

SEM ANISTIA – Integrantes das Forças Armadas relatam estar preocupados com o ressurgimento de movimentos como o Sem Anistia, marcado pela cobrança de punição aos participantes dos ataques de 8 de janeiro, entre eles os fardados.

Há ainda o receio sobre uma possível reação de militares da reserva, sempre mais ruidosos do que os da ativa. Outro foco de apreensão é que o ato político volte a impulsar dentro do PT propostas no Congresso para tentar extirpar atribuições dos militares e alterar o artigo 142 da Constituição.

Enquanto as investigações relacionadas aos ataques golpistas miram os vândalos presos nos prédios públicos, os incitadores em frente ao quartel-general do Exército e os financiadores, até o momento altos oficiais das Forças Armadas estão livres de responsabilização —apesar de vozes influentes do Executivo e do Judiciário considerarem que eles foram, no mínimo, omissos.

PUNIÇÕES SIMBÓLICAS – Na sexta (5), o Exército disse em nota que houve punições a dois militares no âmbito do 8 de janeiro, mas não detalhou quais condutas causaram a punição disciplinar e quais foram as penalidades.

A Força também disse que abriu quatro processos administrativos (sindicâncias) para apurar eventuais irregularidades nas condutas de militares, mas que não encontrou indícios de crimes.

O Exército também abriu quatro inquéritos policiais militares, que foram concluídos e encaminhados à Justiça Militar. Em um dos casos, o coronel da reserva Adriano Camargo Testoni foi condenado por postagens ofensivas a seus superiores hierárquicos em grupos de conversas no 8 de janeiro. A pena imposta a ele foi de um mês e 18 dias de detenção, em regime aberto.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um país de duas caras, como o inimigo do Batman. Se o coronel Testoni fosse civil, teria sido condenado a 21 anos de cadeia, porque fez selfie na invasão. Sem selfie, a pena cairia para 17 anos, tipo Piada do Ano. (C.N.)

Falta a necessária responsabilização dos mentores do 8 de janeiro

A mando de Lula, Gleisi e PT “escondem” Haddad quando citam êxitos na economia

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Hugo Marques
Veja

O PT sempre criticou os ministros da Fazenda dos governos Lula e Dilma que não defendiam as ideias retrógradas do partido. Foi assim em 2003, quando o partido colocou sua militância para fazer crítica às propostas de política econômica e reformas estruturais de Antonio Palocci.

Foi assim em 2014, quando o partido concentrou sua artilharia no então ministro Joaquim Levy, que insistia em um plano de austeridade fiscal para reequilibrar as contas públicas. E é assim agora com Fernando Haddad, um dos poucos auxiliares do presidente que tem um cardápio de realizações a apresentar neste primeiro ano de governo.

OBRAS DE GLEISI – Quem, aliás, tiver a curiosidade de acessar as redes sociais do PT é induzido a  pensar que as conquistas neste primeiro ano de governo foram obra da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do partido. Ela aparece comemorando os resultados econômicos e enaltecendo a reforma tributária, mas sem citar o nome de Fernando Haddad ou de sua equipe.

Em um ‘post’, o PT celebra “um ano de reconstrução” e a “volta dos investimentos”, e escolhe como porta-voz dessas boas notícias a prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão, que atribui o crescimento acima da média mundial e a geração de empregos no Brasil ao Novo PAC.

A ordem do partido é alfinetar o ministro da Fazenda. Ao mesmo tempo em que comemora as vitórias de Haddad sem citar o nome dele e enaltece personagens menores do partido, o PT não desiste de alfinetar o ministro da Fazenda.

“AUSTERICÍDIO” – Desde a última sexta-feira, a legenda passou a destacar em sua página na internet a Resolução do Diretório Nacional criticando o que chama de “austericídio fiscal” da equipe de Haddad.

A resolução foi criticada pelo ministro em entrevista ao jornal O Globo: “Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’; E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver”, afirmou Haddad, que é apontado como o provável candidato à sucessão de Lula na presidência da República.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Apenas um reparo. Também pensei que a Resolução fosse do Diretório Nacional, mas o caso é pior ainda. A Resolução foi lida perante o Diretório (mais de 1.000 integrantes) por Gleisi Hoffmann, como se fosse decisão do partido. Na verdade, é apenas uma proposta da ala “Construindo um Novo Brasil”, comandada por Lula e Gleisi, que é majoritária no partido. É através desta ala que Lula dá as ordens à peãozada petista e solta seus cachorros contra Haddad, que está um pote até aqui de mágoa. (C.N.)   

Uma ausência desconhecida e tão feliz, na poesia romântica de Cecília Meireles

Não seja o de hoje. Não suspires por... Cecília Meireles - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Irrealidade”, sente que não existe passado nem futuro, pois tudo que ela compreende está no presente.

IRREALIDADE
Cecília Meireles

Como num sonho
aqui me vedes:
água escorrendo
por estas redes
de noite e dia.
A minha fala
parece mesmo
vir do meu lábio
e anda na sala
suspensa em asas
de alegoria.

Sou tão visível
que não se estranha
o meu sorriso.
E com tamanha
clareza pensa
que não preciso
dizer que vive
minha presença.

E estou de longe,
compadecida.
Minha vigília
é anfiteatro
que toda a vida
cerca, de frente.
Não há passado
nem há futuro.
Tudo que abarco
se faz presente.

Se me perguntam
pessoas, datas,
pequenas coisas
gratas e ingrata,
cifras e marcos
de quando e de onde,
– a minha fala
tão bem responde
que todos crêem
que estou na sala.

E ao meu sorriso
vós me sorris…
Correspondência
do paraíso
da nossa ausência
desconhecida
e tão feliz.

Governo Lula imita a ditadura militar e comemora a derrota do golpismo

A linguagem combativa das charges no Brasil - Portal Jornalismo ESPM

Charge do Zé Dassilva (Portal NSC)

Carlos Newton

O governo federal, responsável pela iniciativa, denominou a solenidade desta segunda-feira de “Democracia Inabalada”. Com todo respeito, acho que houve um equívoco. Certamente, o nome mais adequado seria “Democracia Inacabada”, porque ainda falta muito para que o Brasíl possa se tornar um país verdadeiramente democrático.

Sobre essas dúvidas, é sempre bom consultar o grande pensador inglês Kenneth Clark, que dizia: “Civilização? Nunca encontrei nenhuma… Mas tenho certeza de que, se algum dia encontrar, saberei reconhecê-la”. O mesmo raciocínio do Lord Clark vale para democracia, é claro.

RECORDAR É VIVER – Aqui na filial Brasil, ainda estamos longe de poder comemorar a democracia, uma situação que somente se consolida quando há divisão dos Três Poderes e respeito mútuo, algo que decididamente não acontece no Brasil, onde reina a promiscuidade institucional. Portanto, estaríamos apenas fantasiados de democracia, à espera do carnaval.

Por isso, é de estranhar esta solenidade relativa à Intentona Golpista. Fica parecendo aquelas cerimônias que a ditadura militar realizava todos os anos, em 23 de novembro, para marcar o aniversário da Intentona Comunista de 1935, quando o país nem vivia sob regime democrático.

Nunca entendi o motivo daquelas festividades militares, sempre realizadas em ato público na Praia Vermelha, Zona Sul do Rio de Janeiro, em homenagem aos mortos da Intentona Comunista, que foram mais de 100, entre civis e militares.

APENAS UM MORTO – Agora, a cerimônia é para lembrar a Intentona Golpista de 2022, em que só morreu o réu Cleriston da Cunha, justamente por falta de democracia. Se estivéssemos num regime verdadeiramente democrático, ele estaria sendo julgado na primeira instância e nem estaria preso, por não ter sido apanhado em flagrante, não ter antecedentes e sofrer de doença incurável.

Na verdadeira democracia, também não haveria um inquérito comandado por um ministro do Supremo que ia ser enforcado em praça pública, como Tiradentes, e que funciona no processo como, vítima, assistente do promotor e juiz.

Esse ministro tríplice coroado classificou democraticamente como “terroristas” os 1.404 réus pés-de-chinelo que invadiram os Três Poderes, porém o relator nada faz para apurar a culpa dos organizadores do golpe e dos militares que os apoiavam.

SESSÃO LEXOTAN – Assim, nesta segunda-feira. a democracia é louvada pela cúpula do país numa Sessão Lexotan, na qual todos terão de lutar contra o sono. O programa começa com o Hino Nacional, cantado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, aquela que tem débitos com a Lei Rouanet e nunca irá saudá-los, democraticamente.

Em seguida, será exibido um vídeo institucional sobre os prejuízos à democracia. Na sequência, começa a Sessão Lexotan propriamente dita, com seis discursos seguidos – a governadora petista Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, os presidentes de Câmara, Senado e Supremo, o relator-vítima-juiz do processo e o presidente da República, para dizer que nunca antes, na História deste país, houve uma democracia como essa.

E assim fica mais do que comprovado que é fácil defender a democracia, como diria Kenneth Clark, mas é muito difícil exercê-la.

###
P.S. –
Quanto à família do réu Cleriston Cunha, que morreu devido à incúria da democracia, tem todo direito de recorrer à Justiça e pedir uma indenização, porque ainda há juízes em Berlim e o tal regime  democrático brasileiro pode ter evoluído até a data do julgamento. (C.N.)

Um ano após 8/1, GSI não quer revelar quantos servidores investigou ou puniu

Conduta de Dias no 8 de Janeiro está sendo apurada, diz GSI

General G.Dias, o andarilho do Planalto, não foi punido

Eduardo Barretto
Metrópoles

Um ano depois do 8 de janeiro, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não informa quantos servidores foram investigados ou punidos pela omissão quando o Palácio do Planalto foi facilmente invadido por bolsonaristas. A coluna mostrou que integrantes do GSI tentaram deixar os golpistas que saquearam o palácio fugirem pelo térreo do prédio, em vez de expulsá-los.

A coluna questionou ao GSI quantos funcionários foram investigados internamente por causa da atuação no 8 de janeiro, quantos foram punidos, quais foram as punições, e quantos processos ainda tramitam. O ministério da Presidência não respondeu às perguntas. Sem detalhar, disse apenas que “a sindicância” foi concluída e enviada ao STF em junho.

ATUAÇÃO IRREGULAR – Diversos elementos apontam para a atuação irregular do GSI no 8 de janeiro. A coluna mostrou que militares do GSI queriam deixar os golpistas que saquearam o Planalto saírem pelo térreo do prédio.

Os radicais só foram presos por ordem da Polícia Militar, que chegou a ser confrontada por um coronel do Exército. Um assessor que presenciou a invasão ao palácio afirmou, em entrevista, que os militares do GSI não reprimiram os terroristas. O relato é corroborado por vídeos do 8 de janeiro.

Mesmo após os atos golpistas, o GSI adotou uma postura dúbia em relação às providências que tomou para punir eventuais culpados. Em fevereiro do ano passado, a pasta afirmou, por meio da Lei de Acesso à Informação, que o caso era sigiloso. Em seguida, informou não ter aberto qualquer apuração contra seus servidores.

DUAS INVESTIGAÇÕES – Poucos dias depois, contudo, a versão mudou: o ministério disse ter aberto duas investigações internas sobre o 8 de janeiro: uma em 16 de janeiro, para apurar danos materiais sofridos pelo GSI na invasão; e outra em 26 de janeiro, com vistas a apurar a atuação de funcionários do ministério, sem mencionar quantos servidores.

O ministro do GSI durante o 8 de janeiro, general Gonçalves Dias, foi flagrado caminhando entre os golpistas no Palácio do Planalto durante a invasão. Antes disso, o GSI havia se recusado a divulgar as filmagens do Planalto naquele dia diversas vezes: um pedido da Câmara, um pedido da CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, e solicitações por meio da Lei de Acesso à Informação.

Ex-chefe da segurança de Lula em mandatos anteriores, GDias foi alvo de duas CPIs: uma do Congresso e outra da Câmara Legislativa do DF. Os dois colegiados isentaram G. Dias. A CPMI do Congresso acatou a tese do general e concluiu que, de 1º a 8 de janeiro, ele só havia conseguido trocar 5% dos seus subordinados herdados do governo Bolsonaro.

Moraes tem de revelar quem ia enforcá-lo, ou então vai cair no ridículo

Internauta denuncia caminhão em que Moraes aparece enforcado; veja vídeo -  ISTOÉ Independente

Este vídeo com Moraes enforcado circula desde 2021

Vicente Limongi Netto

Nesta segunda-feira, o espetáculo justo, oportuno e memorável, da pantomima cívica. Puxão de orelhas e lição para açodados e baderneiros. O novo panteão das liberdades democráticas será inaugurado no Salão Negro do Congresso, que receberá centenas de democratas e patriotas. O povão não foi convidado. Assistirá tudo por telões.

O Brasil e o mundo estarão atentos para os marcantes discursos. Difícil prever qual será o mais emocionante. Como 2024 é ano de eleições, todos enfatizarão que não se bate na democracia nem com uma flor.

FECHOU AS FERIDAS – Os Três Poderes da República existem, pelo menos no papel, para defender os legítimos interesses da coletividade. O 8 de janeiro de 2023 fechou as feridas. O implacável xerife Alexandre de Moraes penalizou acusados com condenações avaliadas exageradas por juristas.

Outros ganharam penas suaves, premiados com tornozeleiras. Outra turba, mais felizarda, como os chefes militares golpistas, mereceu grãos de bondade do coração do ministro da Suprema Corte.

Estão livres, leves e soltos, como cantam os versos de Nelson Motta. Na praia, saudando o sol e a vida.

ENFORCAMENTO – O ministro do Supremo Tribunal Federal(STF), Alexandre de Moraes, tem o dever e a obrigação de revelar os nomes dos envolvidos no plano diabólico para enforcá-lo em Praça Pública. Não pode jogar palavras ao vento. É preciso decifrar, esclarecer e tornar pública a gravidade do fato.

A denúncia não pode ficar restrita a forte entrevista que deu ao O Globo. Sob pena de cair no anedotário popular. Porvque demorou tanto para denunciar? Por que não usou a força do cargo para exigir urgentes apurações? Por que não informou nada ao Ministério da Defesa? Será que informou ao presidente Lula?

O Brasil tem leis duras e severas para punir criminosos exemplarmente. Alexandre de Moraes tornou-se o alvo predileto nas redes sociais, por alguns setores, pelas decisões que costuma tomar como magistrado.

ADEUS, CAMPEÃO – O competente Zagallo calou a boca dos venais e analistas de araque. Mal entrou no céu e já recebeu a camisa 13, para reforçar o elenco sublime do Todo Poderoso, com outros eternos como Gilmar, Nilton Santos, Garrincha, Pelé, Vavá, Didi, Roberto Dinamite, Zito, Djalma Santos etc.

Deterioração do discurso democrata aumenta as chances de Trump vencer

A encruzilhada de Joe Biden - Outras Palavras

Joe Biden não soube manter o apoio dos eleitores de centro

Demétrio Magnoli
Folha

Trump bebe no copo do nazismo: há pouco, parafraseando o “Mein Kampf”, alertou para o “envenenamento do sangue americano” pelo influxo de migrantes hispânicos. Trump responde, como réu, à acusação de golpe de Estado: ele instruiu republicanos a fraudarem resultados das eleições de 2020 e, no 6 de janeiro de 2021, incitou a invasão do Capitólio para impedir a certificação da vitória de Biden. Como se explica, então, que as pesquisas o colocam como favorito nas eleições presidenciais de novembro próximo?

A resposta convencional, apoiada em sondagens, é que uma larga maioria de eleitores enxerga Biden como idoso demais para cumprir novo mandato. Daí decorrem as pressões – e articulações ainda subterrâneas – pela substituição do candidato presidencial democrata.

ALGO DE ERRADO – Contudo, há algo mais profundo que escapa às análises protocolares: o Partido Democrata enfrenta rejeição popular superior à do Partido Republicano.

A economia dos EUA vai bem – muito melhor que a da China, por sinal. O surto inflacionário amainou e virtualmente inexiste desemprego. A ferida é outra: segundo pesquisa do Harvard Caps/Harris, 62% avaliam que os democratas moveram-se para a esquerda em demasia, enquanto 57% pensam que os republicanos moveram-se excessivamente para a direita.

Dito de outro modo: nos EUA de hoje, um partido preso à liderança extremista de Trump aparece como opção eleitoral menos radical!

FALTA A TERCEIRA VIA – O resultado surpreendente representa uma reversão das percepções vigentes em 2020. Você tem, claro, o direito de procurar conforto nas “teorias” de uma “sociologia” infantil difundida em redes sociais: os americanos seriam congenitamente direitistas, preconceituosos ou fascistas.

Mas tente evitar o escapismo ideológico: os mesmos americanos elegeram duas vezes Barack Obama e, segundo a pesquisa mencionada, 63% deles gostariam de ter “outra escolha” no lugar do binômio Biden/Trump.

O ponto, refletido em diversas sondagens, é a contaminação do discurso democrata pelas políticas identitárias. Aos olhos do eleitorado, o partido que aprendeu a falar para a maioria com as políticas sociais do New Deal e com a cisão antirracista da Lei dos Direitos Civis converteu-se numa igrejinha subordinada aos dogmas da esquerda universitária.

RACISMO INTERFERE – Na sondagem citada, 64% julgam as universidades rendidas a políticas identitárias baseadas na raça, 69% qualificam a tese de que os brancos são opressores como prejudicial à sociedade e 73% consideram falsa a identificação dos judeus como um estamento de opressores.

O paradigma clássico da ciência política diz que o caminho para o triunfo eleitoral exige a conquista do centro do espectro ideológico. Como regra, os candidatos que obtêm sucesso nas disputas majoritárias são aqueles capazes de ocupar o centro da arena, onde se concentra a maior parcela do eleitorado. É por isso que o sistema democrático isola os extremos, inclinando-se à moderação.

A ruptura da regra – ou seja, a vitória de líderes extremistas – sinaliza uma crise da democracia. Nos EUA, a fonte da crise deve ser buscada no desvio histórico dos democratas rumo às políticas identitárias.

CENTRO DECIDE – Biden derrotou Trump, em 2020, seguindo o manual da conquista do centro. Seu partido, porém, não o acompanhou. O discurso público dos democratas, controlado pela ala esquerda, replica os dogmas identitários raciais fabricados nas universidades.

A chamada Teoria Crítica da Raça, livro sagrado da seita, substitui o conceito de classe social pelo de raça, apresentando a maioria dos americanos como uma “classe opressora”. Trump prospera nesse cenário político, explorando as inseguranças, os temores e os ressentimentos dessa maioria.

O Brasil não é os EUA. O PT evita habilmente os excessos identitários, terceirizando-os ao PSOL. Mas a força persistente do bolsonarismo tem a mesma raiz do vigor do trumpismo.

Confirmado! Parte das Forças Armadas estava apoiando a tentativa de golpe

Dedo na cara e ameaça: general do Exército demitido peitou Flávio Dino

Comandante Arruda alegou que o Brasil estava dividido

Eliane Cantanhêde
Estadão

Passado um ano de 8 de janeiro de 2023, os mandantes do crime, civis e militares, que todo mundo sabe quem são, ainda não foram responsabilizados.

O momento mais tenso daquele dia foi quando três ministros civis se reuniram no Quartel General do Exército (QG) com o então comandante, general Júlio César Arruda, e descobriram, ou confirmaram, algo ainda mais assustador do que a invasão por vândalos do Planalto, Supremo, Câmara e Senado: cooptadas pelo capitão insubordinado Jair Bolsonaro, as Forças Armadas, ou partes delas, não rechaçavam devidamente a tentativa de golpe.

ARRUDA APOIAVA – Arrogante, com ar superior, Arruda agia como negociador, ou mesmo em favor dos invasores, que ainda se amontoavam diante do QG e a quem chamava, condescendentemente, de “manifestantes”, enquanto os tanques em fila à frente do QG apontavam não para a turba acampada ali, mas para fora, tentando impedir a entrada do poder civil, representado, no primeiro momento, pelo interventor do DF, Ricardo Cappelli, acompanhado de policiais e do então comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira.

Eles tinham ordem superior, do presidente Lula, via ministro da Justiça, Flávio Dino, para “prender todo mundo” no acampamento, mas haviam sido barrados pelo bloqueio militar. “Vamos entrar”, avisou Cappelli.

“Se os senhores entrarem, vai ter um banho de sangue”, advertiu o comandante Militar do Planalto, general Dutra Menezes. E Cappelli: “O que o sr. quer dizer? Que os acampados estão armados?”.

LIGOU PARA GDIAS – Dutra Menezes ligou para o general Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e deu a entender que ele havia passado o telefone para o próprio Lula. Em alto som, para os demais barrados na frente do QG ouvirem, falou: “Sim senhor, presidente”. Desligou e avisou que Lula pedira para aguardarem, até a entrada ser liberada. E foi, mas só uma pequena brecha para o carro onde estavam Cappelli e o coronel Fábio Augusto.

Ao chegarem finalmente ao gabinete do comandante, onde voltaram a se encontrar com o general Dutra Menezes, o general Arruda já assumia um ar de confronto: “Os senhores queriam entrar com a PM aqui sem a minha autorização?”.

E acrescentou dirigindo-se a Fábio Augusto, comandante da PM: “Eu acho que tenho um pouquinho mais de tropas que o sr., comandante”.

EM NOME DE LULA – Com o clima tenso, Cappelli telefonou para Dino, que se dirigiu ao QG com os ministros José Múcio, da Defesa, e Rui Costa, da Casa Civil, para falar em nome do presidente da República. Do outro lado, Arruda pretendia convocar o Alto Comando do Exército, mas foi dissuadido.

A seu lado, um oficial tentava reduzir a gravidade das invasões dos três poderes, desdenhando: “No impeachment da Dilma, também teve manifestação da esquerda e quebraram o Itamaraty”.

Convenhamos que ninguém dá golpe quebrando vidraça do Itamaraty, mas invadir e quebrar tudo no Planalto, Congresso e Supremo é um ato nitidamente golpista, o que fica ainda mais estridente com duas minutas de golpe, complementares, achadas pela Polícia Federal. Uma na casa do ministro da Justiça do governo anterior, Anderson Torres, que era, ora, ora, secretário de Segurança do DF no 8/1 e responsável pela integridade da praça e dos prédios dos três poderes. A outra, no celular, ora, ora, do ajudante de ordens e faz tudo de Bolsonaro, tenente coronel da ativa Mauro Cid.

BRASIL DIVIDIDO – Os três ministros civis exigiam o desmonte imediato do acampamento e a prisão imediata dos que estavam lá, alguns havia meses. Arruda pedia a volta dos ônibus para buscá-los, tentando evitar as prisões e, não tão sutilmente assim, justificar os atos e seus autores.

Dirigindo-se aos representantes de Lula, recém-empossado no terceiro mandato, tascou: “Vocês precisam entender que o Brasil está dividido!”.

Ok. O Brasil estava e está dividido, mas a democracia, a estabilidade política, a garantia das instituições e o respeito ao resultado das urnas nunca, jamais devem estar em jogo. Ditadura e golpes, nunca mais!

JOIO E TRIGO – Assim, o acampamento foi desmontado e os golpistas presos às 6h do dia seguinte e Arruda caiu do Comando do Exército ainda em janeiro de 2023, vejam vocês, por insistir em manter num cargo de comando estratégico o tenente-coronel Mauro Cid.

O general Tomás Paiva assumiu e há um esforço, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário para enaltecer os militares legalistas — inclusive a cúpula demitida por Bolsonaro na metade do seu governo — e destacar que o golpe não se concretizou porque as Forças Armadas se recusaram a aderir.

Mas é preciso separar o joio do trigo. O trigo não merece ser confundido com o joio, que deve ser devidamente punido, assim como o mandante maior de uma audácia histórica dessa gravidade. Neste 8/1 de 2024, teremos a comemoração da “Democracia Inabalada”, mas ainda há muito a fazer.

Saiba por que no Brasil ninguém é mestiço, uma “carapuça racial” bem dispensável

Escravidão Indígena no Brasil: características e por que não deu certo

Na colônia, o indígena era considerado “negro da terra”

Muniz Sodré
Folha

Segundo a mais confiável fonte de dados primários do país, a maioria da população brasileira é parda. O IBGE falou, está falado. Mas cabe uma ressalva sobre certa recepção pública desse achado. É que da palavra pardo se deduziu mestiço (do latim “mixticius”, misturado). Em termos etnológicos, a mistura seria combinar duas etnias. Dentro dessa lógica, se um louro dolicocéfalo alemão se casa com uma morena francesa, o filho será mestiço. O mesmo acontece com uma japonesa e um chinês. E, claro, uma ruandesa hutu com um tutsi.

Mas pode não ser nada disso. Troque-se o critério de etnia por cor da pele, o filho da francesa será branco europeu, o da japonesa branco asiático, e o da hutu, de cor preta, também não será considerado mestiço. Para dar credibilidade à mestiçagem, é preciso primeiro acreditar em raça, depois na realidade humana da mistura. Por isso, na prática, aquele nipo-chinês seria considerado mestiço tanto por japoneses como por chineses: predominaria a ilusão da raça, não a evidência da cor.

No paradigma colonial de branquitude, todo desvio desse padrão reprodutivo significa mestiçagem. Nos EUA, pode-se ser branquíssimo, mas uma “gota de sangue negra” (leia-se parentesco afro) produz o “half bred”, mestiço.

CLASSIFICAÇÃO FAKE – Como sangue nenhum tem cor além da vermelha, fica evidente que essa classificação é fake, manipulação de raça como categoria ideológica de dominação social.

A intelectualidade latino-americana embarcou na canoa da originalidade étnica, com prolíficas reflexões para-literárias. Entre nós, o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre outorga à mestiçagem um singular estatuto civilizatório.

Razão: “Uma poligamia suavemente disfarçada, que teria obtido a aprovação de especialistas em eugenia, pois os pais, em muitos casos, eram homens de primeira qualidade”. Logo, “uma escravidão desse tipo foi útil ao desenvolvimento social no Brasil” (em “Escravidão, monarquia e o Brasil moderno”).

AQUI NO BRASIL – Respaldado pela biologia de machos brancos, o mestiço justificaria a própria escravidão. Aos pretos, caberia extinção progressiva. Mas esse desejo de morte, genocida, foi vencido pela vontade vital: dez por cento declaram-se negros, a maioria se diz parda, gradação cromática que não resulta de “raças” mescladas, e sim da força latente de uma diversidade a fogo brando, imperturbada pelo Estado.

Na Colônia, indígena era “negro da terra”. Não por cor, por categorização. Hoje, negro é pertencimento político-existencial, embasado num fenótipo que varia do mais ao menos escuro, dito pardo. É categoria de biopoder, designativa de um lugar móvel na luta contra a dominação da farsa histórica da raça. O que de fato somos todos: fenotipicamente diversos. Mestiço é uma carapuça racial, matizada por meio-sorriso literário.

Reação ao ato contra os golpistas exibe a força dos bolsonaristas

Moraes transfere julgamento de réu por atos do 8 de janeiro após suposto erro na condenação - Brasil 247

Moraes decidiu julgar os 1.404 “terroristas” no Supremo

Vinicius Torres Freire
Folha

O “Democracia Inabalada”, o ato de repúdio à intentona golpista do 8 de Janeiro, terá muita ausência notória e previsível. É uma cerimônia para rememorar um grande ataque contra a República. Muitas lideranças políticas não querem que se recorde o vandalismo, pois apoiavam o governo que insuflou a baderna subversiva.

Também não querem que fique na memória que participaram de um protesto contra uma tentativa de derrubada do regime democrático, ainda menos de um ato liderado por Luiz Inácio Lula da Silva e por ministros do Supremo, alvos de ódio do bolsonarismo e da extrema-direita.

MANTER A FAMA – Eles têm de manter a fama de maus, o prestígio com o eleitorado extremista, com as falanges bolsonaristas. Precisam de votos, de recursos e propaganda nas redes; precisam manter viva a mobilização antidemocrática.

É verdade que algumas lideranças políticas estão mesmo de férias ou são relapsas; dado o seu eleitorado, calculam que não valeria a pena interromper a folga e pagar o jatinho. Outras, porém, fazem questão de recusar o convite para o ato com uma defesa dos golpistas.

Trata-se, por exemplo, do manifesto de 30 senadores a respeito do “Democracia Inabalada”. Espalhados entre elogios cínicos à democracia e críticas da violência, aparecem ataques ao Supremo, a tentativa de atribuir a este governo a responsabilidade pelo 8 de janeiro e a defesa dos vândalos, que estariam sendo condenados a penas muito duras.

CÚMPLICES OU COMPARSAS – Quase todos os líderes e signatários do manifesto foram ministros de Jair Bolsonaro ou são militantes da causa. Logo, são cúmplices ou comparsas do projeto golpista, de mentiras criminosas de fraude eleitoral e das tantas promessas de que não haveria eleição e de que decisões do Supremo não seriam cumpridas.

São cúmplices de um idiota necrófilo, que fez campanha homicida contra medidas sanitárias na epidemia, que diz ser adepto do estupro, da tortura e do assassinato como instrumento político. São também cúmplices governadores, deputados, empresários, líderes religiosos e militares.

Os autores do manifesto são cínicos a ponto de escreverem tal coisa: “…ressaltamos como pilar de atuação a lealdade à democracia brasileira e apelamos novamente aos chefes dos Poderes da República a voltarem a atuar dentro dos ditames constitucionais com a consequente volta à normalidade democrática”.

NORMALIDADE DEMOCRÁTICA – Agora é que temos problemas com a “normalidade democrática”? De fato, temos. Um deles, dos maiores, foi a campanha autoritária articulada em torno de Bolsonaro.

O bolsonarismo tem voto, parte dele repulsa a Lula, ao PT, à esquerda, à expansão de direitos civis e sociais e ao Estado. Parte é de adeptos do autoritarismo ou coisa pior.

Parte relevante da elite econômica e social do país não teve problema algum de adotar Bolsonaro como um instrumento político capaz de implantar o “liberalismo”, de acabar com impostos, de sufocar a esquerda, de reprimir o reconhecimento da diversidade humana e seus direitos e de largar os mais pobres à própria sorte.

PINOCHETADAS – É como aquela gente que elogia o ditador assassino Pinochet por ter “colocado a economia do Chile no rumo certo”, como já disseram tanto economista e empresário que andam por aí a falar de déficit e reformas.

Podendo-se matar e torturar gente por tempo suficiente, muito programa econômico pode dar certo, por tentativa e erro sob terror.

Parte da elite se engajou nisso. Quase deu certo, plano prejudicado também por parte menor da elite, mais civilizada, que se levantou, enfim, em agosto de 2022. Mas a ideia do vale tudo está viva, forte e sacudida, esperando para ressuscitar. Vide a reação ao 8 de Janeiro.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Uma pergunta que não quer calar. Será que não dava para enfrentar os golpistas respeitando a Constituição? Como se sabe, os vândalos tinham direito de serem processados na primeira instância, sem cumprimento antecipado da pena e com todas as garantias que os demais réus têm no Direito Brasíleiro. Por que o Supremo (leia-se: Moraes) atropelou a Constituição e ninguém diz nada? (C.N.)

Piada do Ano! Múcio apoia a punição de militares pela tentativa de golpe

Entrevista: 'Precisamos achar os culpados para tirar essa nuvem de  desconfiança sobre Forças Armadas', diz José Múcio - Agenda Capital

Múcio acha que a prisão de envolvidos relaxaria o clima

Vera Rosa
Estadão

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, quer que as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro cheguem ao fim o mais rápido possível. Um ano depois dos ataques às sedes do Planalto, do Congresso e do Supremo, os mentores e financiadores da tentativa de golpe ainda não foram totalmente descobertos e, de lá para cá, a imagem dos militares sofreu muito desgaste.

“Precisamos achar os culpados para tirar essa nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas”, disse Múcio ao Estadão. Em entrevista concedida na quinta-feira, 4, em seu gabinete na Defesa, o ministro parecia medir cada palavra ao ser questionado sobre o envolvimento de militares na tentativa de solapar a democracia.

O governo vai fazer um ato para marcar um ano da tentativa de golpe em 8 de janeiro. Mas aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro prometem organizar protestos. O senhor não teme novos ataques?
O verbo não é temer. Eu torço para que nada aconteça. Acredito que nada será como foi o dia 8 de janeiro de 2023. Não vai acontecer nunca mais aquilo. Ficamos sempre de orelha em pé.

O senhor propôs, à época, que o presidente Lula recorresse a um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e foi muito criticado.
Eu não propus, embora não ache que teria havido problema. O presidente disse assim: “É bom botar o Exército na rua”. Alguém atrás de mim falou: “O Exército só pode ir para a rua com GLO”. Aí o presidente respondeu: “Com GLO, não!”. Algumas pessoas achavam que a GLO daria condições a quem queria dar um golpe. Mas eu defendo a tese de que quem quer dar golpe não precisa de GLO. Golpe não tem regra. O golpista é um infrator.

Imagens do Planalto mostram o ministro da Justiça, Flávio Dino, hoje prestes a assumir uma cadeira no Supremo, discutindo com o senhor. O que ele disse?
Não estávamos discutindo. Quem estava ali eram os ministros Rui Costa (Casa Civil), Waldez Góes (Integração), o senador Randolfe Rodrigues (líder do governo no Congresso) e eu. Flávio Dino estava dizendo para nós que tinha de punir, tinha de prender. Durante a explanação que fazia, ele balançava os braços, mas não era para mim.

O senhor chegou a dizer que os acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis eram manifestações democráticas. Não era possível prever ali um risco iminente de ataque?

Não. Até o dia 8 de janeiro eram manifestações democráticas, tanto que em momento nenhum a Justiça mandou tirar as pessoas de lá. Foi muito melhor eu dizer que tinha parentes bolsonaristas nos acampamentos do Recife do que mentir e dizer que não tinha. Em Brasília também havia familiares de gente do Exército. Acho até que aquilo foi a forma encontrada pelo Exército para conviver com as partes contrárias que havia intramuros. Eu admito que havia algumas pessoas ali de dentro que torciam pelo golpe. Mas a instituição, o Exército, não queria o golpe.

E quem queria o golpe?
Sei de muita gente que desejava, mas não apareceu o líder. No momento em que o então presidente da República (Jair Bolsonaro) tomou um avião e foi embora, ficou todo mundo órfão.

O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, disse à Polícia Federal que o então presidente se reuniu com a cúpula das Forças Armadas, após ter perdido as eleições, e discutiu detalhes de um plano para tomar o poder. O sr. falou com Mauro Cid?
Eu nunca falei com Mauro Cid. Toda a investigação é presidida pelo ministro Alexandre de Moraes. Não tive acesso nem às pessoas com as quais o hacker (Walter Delgatti Neto) disse ter falado no Ministério da Defesa. Eu solicitei por escrito e não obtive.

Qual foi o momento mais difícil naquele 8 de janeiro?
O mais difícil foi que nós amanhecemos no dia 9 sob a égide da suspeição e contrariando todos os lados. A esquerda, contrariada, porque achava que as Forças Armadas tinham interesse no golpe. E a direita, muito zangada, porque as Forças Armadas não deram o golpe. Eu não tinha nem com quem conversar.

E por que o comandante do Exército caiu, menos de duas semanas depois?
Se você me perguntar qual o dia mais importante, digo que foi o 21 de janeiro de 2023, um sábado, quando nós substituímos o comandante do Exército (general Júlio César de Arruda). Ele foi substituído porque o clima de confiança do presidente com o comando do Exército tinha acabado. Houve uma fratura.

O mal-estar entre o presidente e as Forças Armadas foi superado?
Sim. O presidente, hoje, tem uma relação estreita com os comandantes. São próximos, se telefonam, resolvem as coisas de forma direta. Não precisam mais de intermediário. Precisamos apenas achar os culpados para tirar de vez essa nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas.

O PT nunca teve boa relação com as Forças Armadas. Quando o senhor assumiu, qual foi o pedido que o presidente lhe fez?
Quando ele disse “Olha, Múcio, eu preciso que você vá para a Defesa”, eu não entendi, porque não sou homem ligado à área militar. Minha área sempre foi a política. Passei a entender depois, porque no governo anterior se misturou muito o militar e o político. Todos os ministérios estavam ocupados por militares da reserva. Ali havia um interesse na manutenção do status quo. Foi quando nós começamos a negociar para acabar com essa história de militar fazer política, ser candidato. Pode fazer fora de lá, não dentro das Forças Armadas. Foi a partir daí que se começou o trabalho de saneamento.

Não são poucos os petistas que querem a sua saída do ministério. Como o senhor enfrenta essa hostilidade do PT?
O cargo é do presidente Lula. A decisão é dele e eu estar aqui, ou não, jamais vai interferir na nossa relação de afeto e amizade.

Quando houve a CPMI dos atos golpistas, o senhor tentou evitar a convocação de generais. Tinha algum receio?
Tínhamos a CPMI no Congresso e as investigações do ministro Moraes no Supremo. Ninguém está livre de ser investigado. Mas você conhece muito bem como são as CPIs. Ali tem um pouco da política, da emoção. Eu estava preocupado.

O senhor estava preocupado com a desmoralização das Forças Armadas?
De quem não tinha culpa. Naquele momento, para quem você apontasse já era culpado.

Então, o senhor queria blindar os militares…
Eu não estava querendo blindar. Estava querendo apenas que não houvesse uma desmoralização, uma provocação, porque a gente, quando mexe com um, está mexendo com não sei quantos. Não estou protegendo nada, mas não quero condenar inocentes. Quero punir culpados.

O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) diz que o senhor é o ministro da defesa dos militares. Como rebate isso?
Não rebato. Eu sou ministro do governo Lula e ao governo Lula interessa que os militares estejam pacificados. O mundo militar e o mundo político são completamente diferentes. O meu papel aqui é conciliar, pacificar. Eu sou o ministro do “deixa-disso”. A gente tem que fazer com que todo mundo toque o Brasil para frente.

O senhor sempre disse que os ataques golpistas são página virada. Não acha que essa página somente será virada depois da punição de todos, incluindo militares?
Principalmente os militares, no meu caso. A pior coisa do mundo é você trabalhar sob suspeição. Interessa às Forças Armadas legalistas que tudo seja absolutamente esclarecido e os culpados, punidos. Ninguém quer mais a punição do que as Forças Armadas.

Embora executores da tentativa de golpe tenham sido condenados, ainda não está claro quem foram os financiadores e os autores intelectuais desses atos…
Eu continuo achando que aquilo foi uma grande baderna. Um bando de vândalos que foi arrebanhado por empresários irresponsáveis, alguém pagou os ônibus (e disse): ‘Vamos para Brasília’.

Não é o que diz o ministro Alexandre de Moraes. Encontraram uma minuta do golpe na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e secretário da Segurança do Distrito Federal, e foram descobertas mensagens sobre isso no celular de Mauro Cid. Isso não é tentativa de golpe?
Olha, não foi por parte dos militares nem das instituições. Havia pessoas que desejavam o golpe, mas o Exército, a Marinha e Aeronáutica, não. Como são os golpes no mundo? Vai a Força e o povo vem apoiando atrás. Aqui, o povo foi na frente. Não tinha um líder. Se eles (Forças Armadas) quisessem golpe, era um conforto. Eu via daqui da janela (do Ministério da Defesa). Era gente correndo para todo canto. Não apareceu esse coordenador.

Se houver a participação da cúpula militar na montagem desse plano, o que será feito?
Se for comprovado, serão punidos.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Múcio gosta de fazer piada. Nenhum militar envolvido no golpe será punido. Serão condenados apenas os pés-de-chinelo que estavam no 8 de Janeiro. É o primeiro golpe de estado na História Universal sem líderes, sem militares e sem armamentos, tipo Piada do Ano. (C.N,)

Gleisi é apenas boneca do ventríloquo Lula na guerra com Fernando Haddad

Em vídeo à rede Al Jazeera, Gleisi Hoffmann pede apoio por liberdade de Lula | O Popular

Gleisi está sempre à disposição, para atacar Haddad,

Mario Sabino
Metrópoles

Gleisi Hoffmann trocou de alvo: sai Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, entra Fernando Haddad, que a presidente do PT acha que se converteu ao neoliberalismo, que é como petista chama a racionalidade econômica capitalista. Ela e a sua turma acusam o ministro da Fazenda de cometer “austericídio”, por sua austeridade fiscal.

A presidente do PT quer que o governo gaste ainda mais para encher pobre de esmola governamental e levar remediado a fazer um monte de carnezinho gostoso, assim como aconteceu no primeiro mandato de Lula, quando se inventou que o Brasil tinha uma “nova classe C”. Crescimento econômico bom, para Gleisi Hoffmann, é crescimento baseado em consumo insustentável.

SEM MEDIDAS – Não basta que o déficit primário do governo, em 2023, deva ter chegado a 177 bilhões de reais, sem contar os 95 bilhões de reais para pagamento de precatórios que o STF permitiu que ficassem fora da meta fiscal. Não basta a sanha arrecadatória para depenar os pagadores de impostos na miragem (ou lorota) de ter déficit zero em 2024. Gleisi quer arrombar de vez os cofres públicos para Lula ser reeleito em 2026.

Fernando Haddad está magoado com o bombardeio de Gleisi Hoffmann et caterva. Em entrevista ao jornalista Alvaro Gribel, ele disse:

“Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’ E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver. Não dá para celebrar Bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB que passou o Canadá, essas coisas todas, e simultaneamente ter a resolução que fala ‘está tudo errado, tem que mudar tudo’.”

MENTIRA É MATO – Depois da entrevista, o namorado de Gleisi Hoffmann, o deputado Lindbergh Farias, disse que não era bem assim e coisa e tal, que Fernando Haddad entendeu errado, mas mentira é mato no PT.

O meu colega de Metrópoles, Rodrigo Rangel, publicou ontem que Gleisi Hoffmann anda dizendo que o ministro da Fazenda tem “prazo de validade”.

Segundo Rodrigo Rangel, “o veneno parte de um raciocínio segundo o qual, a partir de 2026, Lula terá de se livrar da austeridade do ministro na economia se quiser ampliar as chances do PT na corrida presidencial e que, para isso, será preciso substituí-lo por alguém mais talhado para essa missão”.

SERVIÇAL DE LULA – O que ninguém está dizendo, mas eu digo aqui (aliás, repito) é que Gleisi Hoffmann é boneca do ventríloquo Lula nessa exigência de o governo ter de estourar os cofres públicos. Por meio de Gleisi, Lula avisa Fernando Haddad de que ele não vai durar no cargo se continuar com essa história de responsabilidade fiscal (que já não existe).

Como a hipocrisia é a senhora da política, Lula não vai demorar a fazer um afago público no ministro da Fazenda, dizer que ele está realizando um ótimo trabalho etc. É o padrão.

Mas Fernando Haddad vai acabar fazendo tudo o que o seu mestre mandar. É outro padrão. Acima do interesse do país, está o interesse do chefão petista.

8 de janeiro: os ataques contra a democracia e a defesa da legalidade

Atentados contra a democracia não deverão nunca mais se repetir

Marcelo Copelli

Na próxima segunda-feira, o Congresso Nacional sediará um ato com representantes dos Três Poderes e centenas de convidados para marcar um ano dos ataques golpistas de 8 de janeiro, promovidos por bolsonaristas inconformados e que não aceitaram o resultado das urnas, promovendo a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Um atentado contra a democracia e a vontade da maioria da população refletida nas urnas de 2022.  

O ato, denominado de “Democracia Inabalável”, terá a participação do presidente da República, Lula da Silva, dos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (PSD), e do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. Além de Lula, Lira, Pacheco e Barroso, também deve falar durante o evento o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações contra os envolvidos nos ataques e por determinar as prisões dos manifestantes.

Ao mesmo tempo, o Supremo Tribunal Federal promoverá em seu edifício-sede no mesmo dia a mostra “Após 8 de janeiro: Reconstrução, memória e democracia”, que reunirá cenas que simbolizam tanto a resistência do Supremo na retomada de suas atividades, quanto os esforços das equipes envolvidas na reconstrução e restauração do patrimônio do STF.

A “Democracia inabalável”  marcará o primeiro ano desde o inaceitável  ataque às instituições do regime democrático. Nada justifica a tentativa de golpe orquestrada por algumas centenas de falsos patriotas, patrocinadores das ações de selvageria e de políticos derrotados nas urnas.  É fundamental que a data não seja esquecida.

Pelo contrário, deverá ser eternizada na memória da nação para nunca mais voltar a se repetir. Independentemente da variação das representações no poder, é imperativo que a vontade da maior parte dos eleitores, sob as determinações democráticas, sejam sempre respeitadas. Pelo bem da saúde institucional, pela preservação do Estado de Direito, pelo efetivo cumprimento das garantias constitucionais. A legalidade deverá ser sempre inabalável, para o bem de todos.

Bolsonaro tem responsabilidade ‘inequívoca’ por ataques do 8 de Janeiro, diz Gilmar

Gilmar Mendes determina volta de Ednaldo Rodrigues à CBF

Gilmar Mendes começa a se meter na relatoria de Moraes

Deu no Estadão

O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou em entrevista à agência de notícias AFP que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem responsabilidade política pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro, que completam um ano na próxima semana.

“A responsabilidade política (de Bolsonaro) é inequívoca. Eu acredito que até mesmo os militares não retiraram esses invasores, esses manifestantes, por conta de algum estímulo que havia por parte da Presidência da República”, declarou Gilmar Mendes à agência.

INVESTIGAÇÃO – Cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se há elementos para denunciar Bolsonaro. Ele é investigado no inquérito sobre os iniciadores dos atos golpistas em Brasília. A PGR avalia se ele instigou seus apoiadores contra as instituições e a não aceitarem o resultado da eleição.

Uma das provas é o vídeo publicado pelo ex-presidente no Facebook, dois dias após as cenas de vandalismo em Brasília, com teorias infundadas sobre a segurança das urnas. A postagem foi apagada minutos depois. Em depoimento à Polícia Federal, ele afirmou que estava medicado e que queria assistir ao vídeo e não publicá-lo em seu perfil.

Se for denunciado, mesmo não sendo mais presidente, Bolsonaro deve ser julgado pelo STF, porque o tribunal mantém sob sua jurisdição todas as investigações e ações relacionadas aos protestos na Praça dos Três Poderes.

ATAQUES ÀS URNAS – Gilmar Mendes também afirmou que os ataques reiterados feitos por bolsonaristas às urnas eletrônicas eram um subterfúgio para questionar o resultado da eleição em caso de derrota.

“O que estava em jogo não era a dúvida que tivessem em relação à urna eletrônica, era a busca de um pretexto para o caso de um resultado desfavorável. Isso ficou muito evidente quando Bolsonaro, depois do segundo turno, impugna o resultado das eleições só em relação às eleições presidenciais e só aonde ele tinha perdido”, afirmou também à agência AFP.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se Bolsonaro tem essa “responsabilidade inequívoca”, por que Moraes ainda não mandou que ele preste depoimento? E os militares do governo paramilitar de Bolsonaro? Eles também não têm responsabilidade pelo golpe? Ou os responsáveis são apenas aqueles pés-de-chinelo que estavam acampados em área militar, com a cumplicidade do Comando do Planalto? Eles estão pegando entre 17 e 21 anos de cadeia, com a seguinte diferenciação. Se não fizeram selfies, pegam 17 anos; se fizeram, passam para 21 anos. E ainda dizem que isso é Justiça, mas minha ironia não chega a tanto. (C.N.)

Alguma coisa tua, parecida com você, no poema romântico de Alice Ruiz Scherone

alice ruiz | SALAMALANDRO | Leo Gonçalves

Alice Ruiz, grande poeta de Curitiba

Paulo Peres
Poemas & Canções

A publicitária, tradutora, compositora e poeta curitibana Alice Ruiz Scherone, no poema “Coisa Tua”, sentiu que algo iria acontecer quando viu aquela pessoa. E o poema virou canção, na parceria com o maestro Waltel Branco, em gravação de Rogéria Holtz.

COISA TUA
Alice Ruiz e Waltel Branco

Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você

Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido

Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu
Que virei alguma coisa tua

Revelações do Subprocurador estragam a ansiada “solenidade” do 8 de Janeiro

Entrevista com o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos no estúdio Metrópoles

Subprocurador deixou Moraes numa péssima situação

Carlos Newton

Foi oportuníssima a entrevista que o repórter Fabio Victor, da Folha, fez com o subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, representante do Ministério Público Federal na apresentação de todas as denúncias relativas ao 8 de janeiro. São impressionantes as revelações do subprocurador-geral, por demonstrar que houve direcionamento na condução do inquérito pelo ministro Alexandre de Moraes, cujas investigações estão cheias de lacunas e deveriam ser consideradas imprestáveis.

Os erros processuais são chocantes, no todo e em partes. Basta dizer que se trata de punir um suposto golpe de estado, cuja denúncia formal não aponta seus líderes nem menciona nenhum dos armamentos utilizados, quando qualquer estudante de Direito sabe que não se pode conceber um golpe de estado sem que existam militares ou paramilitares em seu comando. Somente esta falha já valeria para invalidar o inquérito, mas existem muito mais lacunas.

GOLPE SEM LÍDERES – Interessante notar que a teoria do golpe de estado foi inteiramente baseada na invasão da Praça dos Três Poderes, pois foi de pronto descartada a participação dos supostos beneficiários,  o então presidente Jair Bolsonaro e seu vice, general Braga Netto,.

“Seria leviano eu falar isso ou aquilo a respeito de uma pessoa sem ter apurado a respectiva prova. Quem trabalhou assim foi a Lava Jato e não deu certo. O meu trabalho é diferente. Eu primeiro busco provas para depois falar e apresentar a minha denúncia”, ressalvou o subprocurador-geral.

“Havia uma massa de pessoas querendo derrubar um governo legitimamente eleito e praticando atos de vandalismo. Eu vou ter que provar que Pedro, Manuel, Jair e fulano de tal praticaram cada ato assim. Dizer: esse quebrou isso, esse só riscou aquilo, não, aquele quebrou o relógio, aquele vandalizou uma cadeira do STF. Não tem como se fazer isso”, alega o procurador, para se justificar:

“Então, nós aplicamos a tese do crime multitudinário – que não é nova –, dizendo que a execução daqueles crimes foi feita por várias pessoas ao mesmo tempo, e não preciso provar que foi Pedro, Joaquim ou Jair que fez cada coisa”.

TRABALHO FACILITADO – É muito fácil conduzir um inquérito em que não é preciso provar que cada um deve responder por seus atos, na forma da lei. Seria bem mais difícil processar Jair Bolsonaro e os demais militares que participavam do complô, como os generais Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Eduardo Ramos, assim como o almirante Almir Garnier.

Mas seria preciso haver provas sólidas, não é o caso dos 1.404 pés-de-chinelo que participaram da invasão e podem ser condenados de qualquer maneira, sem direito a recurso.

Para se isentar de qualquer responsabilidade, Carlos Frederico Santos criticou a condução da investigação a respeito dos militares, iniciada pela Polícia Federal sem combinação com o Ministério Público Federal. Mas evitou entrar em conflito com o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos no STF.

MILITARES IMPUNES – “Também eles (os militares) podem ser enquadrados em crimes de golpe de estado e abolição violenta do estado democrático de Direito por omissão imprópria. Isso está sendo investigado, mas são investigações mais complexas. Nós não participamos diretamente das primeiras medidas relativas aos militares das Forças Armadas. O Ministério Público só foi notificado quando já estava tudo pronto”, disse.

O fato concreto é que Moraes, como condutor do inquérito, não exigiu que os militares fossem investigados em profundidade. Achou melhor botar uma pedra em cima, para pacificar o país, ao invés de buscar as provas.

Digamos que Moraes agiu certo ao poupar os militares, mas deveria também ter poupado os pés de chinelo ou fazer com que fossem julgados na primeira instância, com direito de recorrer. Do jeito como procedeu e está procedendo, Moraes é um juiz bipolar, que não enfrenta os poderosos e tripudia sobre os desprotegidos. E ainda há quem chame isso de justiça.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quanto ao repórter Fábio Victor, o Brasil fica devendo a ele esse importantíssimo serviço que prestou à nação, ao mostrar os equívocos absurdos que vêm sendo cometidos em nome da Justiça e serão comemorados nesta segunda-feira pelas autoridades brasileiras, que têm o dever de corrigir esses erros, mas nem se importam com eles. Aliás, quem se interessa? (C.N)

Na guerra contra o Congresso, o governo espera obter ajuda direta do Judiciário

Lula se aproxima do STF em meio a batalhas difíceis no Legislativo ao longo de seu terceiro mandato

Lula precisa desesperadamente do apoio do Supremo

William Waack
Estadão

A decisão política de Lula de enfrentar o Congresso via vetos revela um componente abrangente. Parece que ele não entendeu que preside um governo de minoria. A falta de uma maioria no Legislativo – algo que o presidente reconhece em público – não explica sozinha a questão.

Nesse sentido, aliás, o Brasil apenas repete a experiência recente de vários países na América do Sul, não importa o campo ideológico do chefe do Executivo.

IMENSAS COMPLICAÇÕES – É gritantemente óbvio que a falta de votos no Congresso, somada ao inédito avanço do poder do Legislativo sobre o Executivo, cria imensas complicações políticas. Agravadas pelo fato de que o governo não dispõe de decisivo apoio político e/ou social quando Lula fala de raposas tomando conta do galinheiro.

Talvez tenha sido premeditada a insuficiência de esforços por parte do vencedor das últimas eleições ao montar um governo e uma agenda que fossem além da distribuição de ministérios, verbas e pedaços da máquina pública a siglas que tem como razão de existência justamente a proximidade da máquina pública (transformada em ferramentas na defesa de seus interesses, e não se está falando de corrupção).

Seja como for, por cálculo ou por circunstâncias, o resultado é que nem antes ou depois do 8 de janeiro de 2022 o País viveu algo comparável ao sentido clássico da palavra em espanhol “concertación”. O que se antecipa para a comemoração de um ano da data é mais do mesmo ao longo das fraturas políticas.

JUDICIALIZAÇÃO – Ao entrar na queda de braço com o Congresso assume-se a judicialização de várias das questões. E até é possível supor, no âmbito exclusivo da disputa judicial, que o Executivo julgue ter a lei ao seu lado ao contestar, por exemplo, matéria relativa à desoneração da folha de pagamento de empresas.

Mas não é apenas disso que se trata (das razões jurídicas). Está embutida na queda de braço via judicialização o pressuposto de que a instância final – o STF – favorecerá os pleitos do governo. É uma busca de contrapeso aos poderes “exorbitantes” (no entender do Executivo) do Legislativo.

A ideia de contar com “simpatia política” no STF nasce de uma convergência de interpretações entre o núcleo duro no Planalto e integrantes influentes no Supremo sobre a natureza da oposição ao governo (e ao próprio STF) dentro do Legislativo. Não seria outra coisa, interpreta-se, senão cortina de fumaça para pretensões pouco republicanas por mais emendas e cargos, ou apenas manifestações do bolsonarismo derrotado. Lula está experimentando como é levar adiante um governo de minoria. O STF também.

Piada do Ano! Juros do rotativo no cartão de crédito caem para “apenas” 434,4%

Charge reproduzida do Arquivo Google

Hamilton Ferrari
Poder360

A taxa média de juros do rotativo do cartão de crédito para pessoas físicas caiu de 445% ao ano em outubro para 434,4% ao ano em novembro. A queda de 10,6 pontos percentuais diminuiu o patamar de cobrança para o nível mais baixo desde março de 2023, quando era de 433,3%.

O Banco Central divulgou os dados no relatório de estatísticas monetárias e de crédito. A taxa média do rotativo do cartão de crédito tinha subido 22,5 pontos percentuais de janeiro a novembro. Aumentou 38,1 pontos percentuais em 12 meses. Os juros do rotativo do cartão de crédito são os mais elevados entre as modalidades de crédito para pessoas físicas do país.

TAXA DE INADIMPLÊNCIA – O rotativo do cartão de crédito é cobrado quando o consumidor não pagou o valor total da fatura até o vencimento. A taxa de inadimplência do rotativo é de 54%. Teve queda de 1,9 ponto percentual em novembro, mas subiu 9,7 pontos percentuais em 12 meses.

O cartão de crédito também tem a modalidade parcelado, quando a fatura é paga em mais de um mês. Nesse caso, o banco ou outra instituição financeira cobra encargos sobre o atraso.

A taxa média do parcelamento é de 196,2% ao ano. Caiu 0,4 ponto percentual em novembro. Subiu 13,8 pontos percentuais no ano e 14,5 pontos percentuais em 12 meses.

MÉDIA DE JUROS – Ao considerar todas as modalidades de crédito, a taxa média de juros no país com recursos livres (negociados no mercado) é de 41,8% ao ano. Às pessoas físicas, os juros são maiores, de 54,9%. Para as pessoas jurídicas, a taxa média é de 22,2%.

A nova regra que limita as taxas começou a valer nesta quarta-feira (3.jan.2024). O valor da fatura do cartão não poderá exceder 100% da dívida.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Em tradução simultânea, o povo brasileiro continua a ser o mais explorado pelos banqueiros. As taxas cobradas às pessoas físicas são cerca de 150% maiores do que as cobradas às empresas. Nessa descarada exploração do homem pelo banqueiro, a Piada do Ano é comemorar a queda dos juros de 445% para 434,4%. Sinceramente, é uma situação revoltante. Em nenhum outro país minimamente civilizado essa agiotagem é legalizada. Mas quem se interessa? (C.N.)