Hugo Motta acena com discurso de bolsonarista, enquanto a anistia avança

Motta anuncia que a Câmara pode analisar anistia

Pedro do Coutto

Não podiam ser mais absurdas as declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, negando a balbúrdia e o atentado contra a democracia no dia 8 de janeiro de 2023 , afirmando que os atos de vandalismo contra as sedes dos Três Poderes não configuraram uma tentativa de golpe de Estado.

Em entrevista à rádio Arapuan, de João Pessoa, ele reconheceu a gravidade da depredação, mas disse que os atos foram “uma agressão às instituições” promovida por “vândalos e baderneiros”, sem coordenação política suficiente para caracterizar um golpe.

AGRESSÃO – “O que aconteceu não pode ser admitido novamente, foi uma agressão às instituições. Agora, querer dizer que foi um golpe… Golpe tem que ter um líder, uma pessoa estimulando, tem que ter apoio de outras instituições interessadas, e não teve isso”, declarou.

A declaração ocorre em meio à pressão de parlamentares aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro para que a Câmara avance na proposta de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. A medida perdoaria todos os envolvidos em “manifestações” de caráter político e eleitoral entre 8 de janeiro de 2023 e a entrada em vigor da eventual lei, restringindo punições apenas a crimes de depredação de patrimônio público.

Motta não assumiu compromisso em pautar o projeto de anistia e disse que a decisão será tomada em conjunto com os líderes partidários da Casa. “Não posso chegar aqui e dizer que vou pautar a anistia semana que vem, ou não vamos pautar. Será um tema que vamos analisar, digerir”, afirmou. A anistia aos condenados do 8 de janeiro foi uma das principais pautas debatidas nos bastidores da eleição de Motta para a Presidência da Câmara. O tema foi discutido tanto com bancadas governistas quanto com a oposição.

DISPARATE – As afirmações de Hugo Mota configuram-se como um verdadeiro disparate, uma vez que o que se desenrola em Brasília é o julgamento dos acusados por subversão. Os réus tiveram chance de defesa e as investigações comprovam a culpabilidade dos mesmos que montaram verdadeiras residências nas calçadas em frente aos quartéis pedindo a intervenção militar. Está evidente a tentativa de golpe de Estado,somada às depredações e aos distúrbios em Brasília. Tudo gravado, constando como a maior da prova da participação dos réus.

As ações tentaram subverter a ordem e só não tiveram êxito pela não participação de grande parte da cúpula do Comando das Forças Armadas. Os golpistas deixaram o seu rastro sinistro, destruindo o patrimônio público e provocando a desordem. Milhares de pessoas foram à Brasilia para promover atentados contra a democracia em um ato brutal. As prisões em massa conseguiram conter os atos que tinham um objetivo claro.

O atentado foi frustrado, mas a intenção ficou e por isso dezenas de pessoas foram julgadas. Ao negar a gravidade da questão, Hugo Motta mostra, desde já, a sua intenção em resgatar a possibilidade de Jair Bolsonaro se candidatar no próximo ano, demonstrando que no cenário político, tudo é possível.

Lula fala para povo não comprar alimentos caros e dá munição para oposição

A fala gerou uma série de críticas nas redes sociais de oposicionistas

Pedro do Coutto

Uma fala do presidente Lula da Silva tem sido explorada pela oposição para atacar o governo nas redes sociais. O presidente disse que a população precisa passar por um “processo educacional” para não comprar alimentos com preços elevados para forçar os vendedores a baixarem o valor.

“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo (…) Se você vai no supermercado aí em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Olha, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que ele acha que tá caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque senão vai estragar”, disse o presidente em entrevista às rádios da Bahia Metrópole e Sociedade.

NA PRATELEIRA – “Eu não posso comprar aquilo que eu acho que está sendo exagerado o preço, então, eu vou deixar na prateleira, eu não vou comprar. Eu compro amanhã, eu compro outra coisa, eu compro um similar. Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro”, seguiu. A fala foi vista como mais um sinal de desconexão de Lula com as preocupações do povo e gerou uma série de críticas nas redes sociais de oposicionistas.

É preciso lembrar que essa estratégia de compra de alimentos com preços elevados é acompanhada por uma estratégia dos supermercados. Em 1961, houve uma CPI sobre o assunto.Naquele tempo, era o primeiro ano de Brasília e várias comissões tinham lugar no Rio de Janeiro. Os depoimentos desta CPI deixaram informações importantes sobre as questões de venda de alimentos.

Lembro bem que um dos depoentes foi um diretor das Casas da Banha, Climério Veloso. Ele revelou uma estratégia de venda adotada pelos supermercados da época mostrando que os preços variavam de um supermercado para outro conforme a diferença dos preços mínimos. A dança dos números se alternavam de um estabelecimento para o outro.

PREÇOS MÍNIMOS – Os pesquisadores do IBGE baseiam o seu trabalho na procura dos preços mínimos. Assim, se em um supermercado o preço do arroz estava mais baixo, o preço do feijão estava mais alto. Não levavam em conta a média dos preços. Quando o contribuinte notava o preço minimo do feijão, esquecia o preço do arroz. Daí porque os preços menores não levavam em conta o preço das vendas.

Os consumidores podem realizar as suas compras com base no mesmo sistema do IBGE. Mas para isso, precisam percorrer pelo menos de três a quatro supermercados. É possível fazer isso, porém é necessário ter tempo e paciência. Mas não é o caso dos contribuintes que não possuem disponibilidade e tempo para tal tarefa. Logo, acabam se baseando nos preços dos produtos, mas não levam em conta as armadilhas do sistema.

Trump ignora críticas e diz que Israel entregará Gaza aos EUA

Declarações causam espanto entre palestinos e líderes mundiais

Pedro do Coutto

As ondas de choque provocadas pela ideia de relocalizar 1,8 milhões habitantes da Faixa de Gaza continuam a rolar e o próprio Donald Trump veio para as redes sociais tentar esclarecer o que pretende, depois de, aparentemente, a sua própria Administração ter tentado fazer contenção de danos. O presidente americano escreveu que, “a Faixa de Gaza seria entregue aos Estados Unidos por Israel no final dos combates”, depois de na terça-feira, ao lado do primeiro-ministro de Israel, na Casa Branca, Trump ter afirmado que o enclave seria “propriedade” dos EUA.

Os países da região têm estado a interpretar estas palavras como uma ocupação territorial, que colocaria na gaveta a ideia de dois Estados, Israel e Palestina, recorrendo eventualmente à presença militar norte-americana. Esta última ideia, Donald Trump rejeitou-a liminarmente esta quinta-feira. Na sua publicação, o presidente norte-americano insistiu que o plano refere apenas a reconstrução do enclave, num esforço internacional, intuindo contudo que ela poderá demorar vários anos.

REAOLOJAMENTO – “Os EUA, trabalhando com grandes equipes de desenvolvimento de todo o mundo, começariam lenta e cuidadosamente a construção daquilo que se tornaria um dos maiores e mais espectaculares desenvolvimentos do seu género na Terra”, escreveu. “Os palestinos já teriam sido realojados em comunidades muito mais seguras e bonitas, com casas novas e modernas, na região. Eles realmente poderiam ser felizes, seguros e livres”, acrescentou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, garantiu que o seu governo não está a par dos detalhes do plano do presidente dos Estados Unidos para a Faixa de Gaza, depois de, quarta-feira, figuras da Administração norte-americana terem tentado pôr água na fervura de relações internacionais. Tanto Marco Rubio, o novo secretário de Estado dos EUA, como a porta-voz da Casa Branca, garantiram que Trump apenas pretende a reconstrução do enclave e que ninguém seria expulso em definitivo.

A afirmação de Trump de que os Estados Unidos assumirão o controle da Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que defende deslocar os palestinos (não se sabe para qual local ), surpreende mais uma vez o mundo, pois o controle da região significa ocupar um território que não pertence ao país americano. Como ele poderia gerir os palestinos, deslocando-os de acordo com a sua decisão pessoal?

LIMPEZA – A interpretação entre os palestinos é que Donald Trump pretende implementar a verdadeira intenção de Israel para Gaza, numa verdadeira “limpeza étnica”, a qual seria o principal objetivo dos últimos 15 meses de guerra. Tanto o Hamas como a Autoridade Palestina voltaram nesta quinta-feira a repudiar a ideia.

“Não precisamos que nenhum outro país governe a Faixa de Gaza e não aceitamos a substituição de uma ocupação por outra”, afirmou o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, apelando a uma “cimeira urgente” da Liga Árabe. “A Palestina, com suas terras, história e locais sagrados, não está à venda e não é um projeto de investimento”, disse Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do gabinete do presidente da Autoridade Palestiniana.

Mais uma vez, Trump demonstra descontrole total. Impressionante como é capaz de defender a ocupação da Faixa de Gaza pelos Estados Unidos. Até onde Trump pretende ir? O mundo assiste atônito os seus rompantes e o seu sentimento de estar acima de qualquer relação diplomática ou respeito à soberania.

Lula critica a anistia e diz que Bolsonaro ‘vai perder outra vez’ em 2026

Reforma ministerial: Lula deve chamar partidos para discutir mudanças

Lula vem sendo aconselhado a montar novo mapa da Esplanada 

Pedro do Coutto

Passada a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, Lula quer chamar presidentes e líderes de partidos para tratar da reforma ministerial. O presidente vem sendo aconselhado a montar um novo mapa da Esplanada dos Ministérios com base na nova correlação de forças dentro do Congresso Nacional.

A avaliação entregue ao Palácio do Planalto por aliados é de que a atual composição de ministros não garante a aprovação das principais matérias de interesse do governo no Legislativo – porque não contempla, na mesma proporção, os partidos que mais votam com o governo.

DESEJO – Segundo alguns líderes, partidos com um único ministério, como PP e Republicanos, têm votado mais alinhados ao governo que o União Brasil, por exemplo, que tem três ministros. A dúvida, agora, é se Lula vai acatar o principal desejo dos partidos do centro: a escolha de um de seus membros para os ministérios do chamado “núcleo duro”, que atuam diretamente no Palácio do Planalto e lidam com a articulação política.

A ideia é defendida por amigos de Lula como forma de garantir o apoio desse grupo político ao longo de 2025. Em relação a 2026 e à eleição presidencial, não dá para amarrar nada. Tudo vai depender de como o governo vai chegar a esse período: fortalecido ou enfraquecido.

RECONHECIMENTO – A partir do momento que Lula admite que a reforma ministerial é necessária, ele também reconhece tacitamente que há setores no governo que não estão funcionando, a começar pela própria Presidência da República, pois Lula confessou que o governo não está entregando tudo o que prometeu na campanha eleitoral.

Logo, é preciso que ele reveja as suas ações e partir para a divulgação objetiva e honesta do que está acontecendo. Há pessoas que ocupam ministérios só para atender uma cota partidária, uma vez que não apresentam produção nenhuma que possa justificar a presença em cargos governamentais.

Gleisi Hoffmann deve entrar na equipe ministerial, sem dúvida, sobretudo após os elogios de Lula. O presidente deve ter sentido a necessidade de alguém mais combativo.  O que está deixando Lula tranquilo, por enquanto, é a ausência de uma adversário a sua altura na disputa da eleição presidencial em 2026. Caso apareça, Lula deverá se preparar para enfrentá-lo.

Confrontos de Trump no cenário externo refletem sua imprevisibilidade

Taxas aduaneiras de Trump estão detonando uma guerra comercial

Trump avança com tarifas e encara inflação no horizonte

Pedro do Coutto

A vitória de Donald Trump nas eleições, desde o início, já causava uma preocupação progressiva por parte de diversos países, entre os quais o Canadá, o México e até a China. Agora, examinados os últimos passos do presidente americano, verifica-se que, de fato, Trump declarou uma guerra comercial com uma alta taxação a esses países. A União Europeia também afirmou que reagirá com firmeza se for atingida por tais ações.

Trump cumpriu a ameaça feita na campanha para as presidenciais e decidiu avançar com a imposição de taxas aduaneiras de 25% ao México e Canadá e um adicional de 10% nos produtos importados da China. Todos sofrerão um impacto econômico negativo e um agravamento da inflação.  

SEM LIMITES – O mundo está vivendo uma tempestade onde não se observa limites, pois a reação dos países à investida americana vai se fazer sentir no comércio internacional, atingindo por igual uma série de países, e indiretamente o Brasil, isso porque a inflação dos EUA que está se delineando poderá ser repassada aos diversos agentes com os quais o país mantém relações comerciais. Logo, o Brasil, está nessa fila que poderá ser alvo dos reflexos tarifários americanos.

Pequim reagiu com rigor, elevando as importações americanas em 15% e vai apresentar queixa na Organização Mundial do Comércio (OMC) pelos 10% de taxas aduaneiras que Donald Trump decidiu impor aos produtos chineses importados. As justificativas do presidente norte-americano variam.

Donald Trump queixa-se de que o Canadá deixa a droga fentanil entrar nos Estados Unidos, o que mata milhares de pessoas todos os anos. Com a presidente mexicana houve um acordo a aplicação das tarifas ficam suspensas durante o mês, enquanto há conversações técnicas. A União Europeia ameaça reagir com firmeza se for atingida pela guerra comercial instaurada por Trump.

CONFUSÃO – O presidente Donald Trump falou em guerra comercial. O termo é muito forte, e pode criar uma grande confusão nos preços dos produtos e nas taxações do comércio internacional que integram esse movimento deflagrado.

O fato é que Trump está declarando um confronto tarifário, o que vai conduzir o mundo a uma situação de absoluto desconserto. Afinal, não se sabe quais produtos serão objetos da nova tarifação, e que tipo de reações estão por vir. Trump é um homem que acredita que não pode ser contido. Ele vive em função do confronto e da inflexibilidade. O mundo assim inicia o mês de fevereiro envolto por desafios e ameaças comerciais.

Hugo Motta e Davi Alcolumbre mantêm poder do Centrão no Congresso

Alcolumbre e Mota representam a continuidade de dinastias políticas

Pedro do Coutto

O Senado e a Câmara dos Deputados elegeram neste sábado Davi Alcolumbre e Hugo Motta, respectivamente, como seus novos presidentes. Os dois eram os favoritos em suas disputas. A previsão de analistas é que as mudanças vão manter o Congresso forte e independente do governo de Lula da Silva que deve continuar tendo dificuldade para avançar suas propostas no Legislativo em 2025, um ano decisivo para tentar melhorar a sua avaliação e fortalecer os seus planos de reeleição. A expectativa é que pautas econômicas, como a ideia de mudar regras do Imposto de Renda, possam ser aprovadas, mas à base de muita negociação e concessões, enquanto propostas com mais resistência na oposição, como a ideia de regular as redes sociais, continuem travadas.

Em seu discurso, Alcolumbre afirmou: “Para mim, governar é ouvir, liderar e servir. É disso que o nosso país precisa agora. Uma liderança que una e não que divida”, disse O presidente Lula parabenizou Alcolumbre nas redes sociais: “Um país cresce quando as instituições trabalham em harmonia. Caminharemos juntos na defesa da democracia e na construção de um Brasil mais desenvolvido e menos desigual, com oportunidades para todo o povo brasileiro”.

DISCURSO – Hugo Motta, levou 444 votos dos 513 possíveis (499 deputados votaram). Em seu discurso de vitória ele citou mais de uma vez Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 e repetiu a frase célebre do parlamentar: “Tenho ódio e nojo à ditadura”.

“Não existe ditadura com parlamento forte. O primeiro sinal de todas as ditaduras é minar e solapar todos os parlamentos. Por isso, temos de lutar pela democracia. E não há democracia sem imprensa livre e independente.” Ele terminou com uma referência ao filme Ainda Estou Aqui, indicado ao Oscar e focado na época da ditadura militar: “Em harmonia com os demais poderes, encerro com uma mensagem de otimismo: Ainda estamos aqui!”.

Tanto Alcolumbre quanto Motta são lideranças do Centrão — classificação que abarca partidos predominantemente conservadores, mas que costumam apoiar governos de diferentes tendências políticas em troca de cargos e acesso a verbas públicas. Os dois costuraram uma ampla aliança, que vai do PT de Lula ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, e contam com o apoio dos atuais presidentes das duas Casas, o deputado Arthur Lira e o senador Rodrigo Pacheco.

DIÁLOGO – Motta deve ter um diálogo melhor com o Palácio do Planalto do que Lira, mas isso não será garantia de mais facilidade nas votações. Já Alcolumbre deve dar mais dor de cabeça por ter um estilo mais confrontacional e um apetite maior por cargos e verbas públicas do que Pacheco.

Sem dúvida, o grande vitorioso nas eleições de Alcolumbre e Hugo Mota foi o Centrão, demonstrando que o bloco possui uma força suprapartidária no cenário político e de poder, ratificando que sempre que precise restituir líderes nessa caminhada, serão capazes de colocar-se  em posição de destaque para tornar-se um instrumento importante.

A vitória de ambos criou também uma nova realidade política no país que é o fortalecimento das bases que a partir de agora dividem as escalas do poder com Lula de um lado e com Bolsonaro de outro, embora Lula continue absoluto no PT, enquanto Bolsonaro está dependendo do PL e de um leque de apoios para que escolha alguém nas urnas de 2026. As urnas dirão qual será esse nome. A sucessão do próximo ano, portanto, já começou.

Trump avança com tarifas punitivas sobre Canadá, México e China

Copom mantém série de altas e sobe taxa de juros e governo cai em contradição

Charge do J.Bosco (O Liberal)

Pedro do Coutto

O Banco Central elevou nesta quarta-feira em um ponto percentual a taxa básica de juros da economia, aumentando a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano. A decisão foi unânime, ou seja, os nove diretores votaram nesse sentido. Com a decisão, se mantém a série de altas da taxa de juros na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) chefiada pelo novo presidente do BC, Gabriel Galípolo – que foi indicado por Lula para a função.

A elevação da Selic para 13,25% ao ano já era esperada por grande parte do mercado financeiro, depois de uma indicação do próprio Banco Central — feita em dezembro do ano passado. Como a inflação está crescendo no país, o Copom prevê na próxima reunião uma nova alta na Selic.

AJUSTE – “Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, escreveu o Copom. O processo de alta deve continuar nos próximos meses, ainda a depender do comportamento da inflação.

“Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, completou o Copom no comunicado da reunião.

A reunião desta quarta do Copom também foi a primeira em que os diretores indicados pelo presidente Lula foram maioria no colegiado, ou seja, eles foram responsáveis diretamente pela decisão tomada.

CONTRADIÇÃO – Com a decisão do Banco Central em elevar os juros da dívida em um ponto percentual, o governo Lula caiu numa contradição aparente que foi elevar a taxa num valor em que condenava Roberto Campos Neto como um adversário do Planalto. O governo, além de elevar a taxa em 1%, admite haver novo aumento, o que surpreende os analistas.

Campos Neto e a diretoria anterior do BC, indicada por Bolsonaro, foram alvo de ataque constante não somente do presidente Lula, mas também da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, por subir a taxa básica de juros em um patamar considerado excessivo. A crítica era de que isso frearia demais a economia, com impacto nos empregos e na renda.

No fim do ano passado, Lula baixou o tom. Ele publicou um vídeo, ao lado de ministros e de Galípolo defendendo a estabilidade econômica no país e o combate à inflação. E também fez acenos ao mercado e prometeu que “jamais haverá interferência” na gestão do futuro chefe da autoridade monetária.

TOM CRÍTICO – Mas a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, manteve o tom crítico. Após a última decisão do Copom, em dezembro, que elevou os juros para 12,25% ao ano, ela classificou a decisão como “irresponsável, insana e desastrosa”. Segundo informou em dezembro o ex-presidente do BC, Campos Neto, a opinião dos diretores mais recentes da instituição – incluindo seu sucessor, Gabriel Galípolo, teve “peso cada vez maior” nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), incluindo a de dezembro.

A dívida do país está entre R$ 600 a R$ 700 bilhões. Logo, 1% representa um acréscimo de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões. O governo injetou mais papéis no mercado, pois não teve como pagar os juros do montante relativo aos juros do déficit. Tal ação aumenta o endividamento, mas rola os juros por mais 30 dias. A contradição do governo está no fato dele produzir uma situação igual ou até um pouco maior do que aquela existente no período de Roberto Campos Neto. Mais um fator a ser enfrentado pelo Planalto.

Uma notícia boa! Arrecadação federal chega a R$ 2,65 trilhões em 2024

A alta representa 9,62% em relação ao mesmo período em 2023

Pedro do Coutto

O governo tem motivos para se alegrar com o resultado da arrecadação no exercício de 2024 que fechou o ano em R$ 2,709 trilhões, conforme informou nesta semana a Receita Federal. É o maior valor registrado na série histórica, iniciada em 1995. Descontada a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o arrecadado ficou em R$ 2,653 trilhões, o que representa um crescimento real de 9,6% em 2024, na comparação com o ano anterior.

Segundo a Receita, o aumento decorreu principalmente da expansão da atividade econômica que afetou positivamente a arrecadação e da melhora no recolhimento do PIS/Cofins em razão do retorno da tributação incidente sobre os combustíveis, entre outros fatores. Em entrevista coletiva para apresentar os dados, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, destacou o aumento na atividade econômica entre os fatores para o resultado.

RESULTADOS IMPORTANTES – “Os grandes números refletem os resultados importantes da política econômica nos últimos anos, da reativação da economia que vimos no ano passado e que resulta nesse resultado espetacular. Tivemos a reativação de setores inteiros da economia que, com esse aquecimento, voltaram a recolher valores relevantes de tributos. A mínima histórica do desemprego no Brasil, o grande aumento da massa salarial, que têm papel importantíssimo na arrecadação de 2024”, disse o secretário.

Também contribuíram para a arrecadação recorde o crescimento da arrecadação do Imposto de Renda sobre a tributação de fundos e o desempenho do Imposto de Importação e do IPI vinculado à importação, em razão do aumento das alíquotas médias desses tributos. No ano passado, os principais indicadores apontaram para um bom desempenho macroeconômico do setor produtivo. A produção industrial cresceu 3,22%; a venda de bens, 3,97%; e a venda de serviços, 2,9%. O valor em dólar das importações teve resultado positivo de 8,65% e o crescimento da massa salarial ficou em 11,78%.

PREOCUPAÇÃO – Por outro lado, o governo agora está preocupado com o pedido de Márcio Pochmann para deixar a Presidência do IBGE. Atrás da saída de Pochmann há um rastro de problema em torno da inflação. Existe a impressão de que a questão se reveste de algum problema relacionado à verdade sobre. Não se acha outro fator além deste para que repentinamente um técnico que preside o Instituto deixe o seu posto em um momento em que o superávit das contas públicas se afirma. Portanto, deve ser um motivo de insatisfação para o governo, não tendo cabimento a saída.

Mas a política é cheia de imprevistos e de arestas que surgem em todos os momentos. A saída de Pochmann foi anunciada pelo jornalista Elio Gaspari em seu artigo de ontem publicado no O Globo e na Folha de S. Paulo. Além disso, é um sinal de alarme no convés do governo que terá que resolver o problema de forma concreta e sem tentar fugir da realidade e iludir a opinião pública.

Claro que com a inflação uns perdem e outros ganham. Agora, por exemplo, o dólar baixou. Mas, não é garantia de que ele não suba novamente. Afinal de contas, se todos perdessem com as oscilações do câmbio, essas alterações já teriam acabado. Como não, é porque interessa a alguns setores da economia.

Desaprovação de Lula supera aprovação e assusta o Planalto

Levantamento já capta efeitos da ‘crise do Pix’

Pedro do Coutto

A pesquisa do Instituto Quaest vem acender o sinal de alarme para o presidente Lula da Silva, pois pela primeira vez o índice dos que desaprovam o governo, 49%, é maior dos que aprovam, 47%. É a primeira vez na série histórica do levantamento que a avaliação negativa supera a opinião positiva. As porcentagens se encontram dentro da margem de erro, de um ponto percentual. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos e entrevistou 4,5 mil pessoas presencialmente.

Na última pesquisa Genial/Quaest, realizada em dezembro do ano passado, a aprovação do trabalho de Lula estava em 52%, e a desaprovação, em 47%. Ou seja, enquanto a desaprovação subiu dois pontos, a aprovação do governo caiu cinco pontos. Em ambos os casos, os movimentos foram acima da margem de erro da pesquisa. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%.

BOA INTENÇÃO – Apesar disso, o percentual dos eleitores que acredita que Lula é bem intencionado ainda supera o daqueles que acreditam que ele tem más intenções, por 47% a 46%. No entanto, 65% dizem que ele não tem conseguido fazer o que prometeu em campanha, e só 20% acham que tem conseguido.

A mesma conclusão é possível quando a pergunta é sobre a avaliação do governo – e não só do trabalho do presidente. De dezembro para cá, o percentual dos que avaliam o governo de forma negativa subiu de 31% para 37%, superando pela primeira vez a avaliação positiva. Esta caiu de 33% para 31%. Já os que avaliam o governo de forma “regular” eram 34% em dezembro, e agora são 28%.

O levantamento é o primeiro a captar os efeitos da crise do Pix sobre a avaliação do governo. Na semana passada, a oposição usou as redes sociais para acusar o governo de ampliar a coleta de informações de pagamentos via Pix para cobrar mais impostos. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre o assunto ultrapassou a marca de 300 milhões de visualizações no Instagram.

IMPACTO – Na pesquisa Quaest, o impacto do assunto é perceptível, já que a “regulação do Pix” foi a notícia negativa mais citada, de longe, com 11% – a segunda colocada foi mencionada por 3%. São 66% os brasileiros que acham que o governo errou em sua atuação sobre o tema.

O governo tem que agir rapidamente para conter os números em queda, uma vez que o declínio pode estabelecer um processo de maior duração. É muito difícil inverter uma tendência dessa, mas é viável, bastando a execução de ações concretas, não ficando apenas nas palavras. É necessário que a opinião pública veja o empenho do governo e a execução das ideias.

Delação de Cid implica Michelle e Eduardo Bolsonaro em trama golpista

Ala “mais radical” do grupo incluía Michelle e Eduardo Bolsonaro

Pedro do Coutto

O tenente-coronel Mauro Cid disse em seu primeiro depoimento no processo de delação premiada à Polícia Federal, em agosto de 2023, que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro tinham envolvimento com a suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo ele, a mulher e o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro eram a ala “mais radical” na articulação da ação antidemocrática.

Segundo a íntegra da delação de Cid, Michelle e Eduardo teriam incentivado o ex-presidente a tomar medidas extremas após a vitória nas urnas do presidente Lula da Silva. No entanto, no relatório final da Polícia Federal, concluído em novembro de 2024, a alegação não é referida, além da ex-primeira-dama não ter o nome citado e o deputado apenas ser mencionado tangencialmente. Ainda de acordo com Cid, Michelle e Eduardo teriam alegado a Jair que ele tinha o apoio popular e dos CACs.

“ALA RADICAL” – Além dos familiares, Cid disse que a “ala radical” era composta também pelo deputado Filipe Martins, o ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência Onyx Lorenzoni, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, o general Mário Fernandes, e os senadores Jorge Seif e Magno Malta. Destes, apenas Martins Fernandes foi formalmente indiciado pela PF. À época, Michelle e Eduardo teriam negado envolvimento em alguma articulação de golpe. A defesa da ex-primeira-dama disse que as acusações são “absurdas e sem fundamento” e Eduardo classificou a delação de Cid como “delírio” e “ficção”.

Segundo o texto, Mauro Cid disse que o ex-presidente se encontrava com três grupos distintos depois que perdeu a disputa para Lula da Silva. Eram os “conservadores”, que teriam uma linha bem política. A intenção desses indivíduos era transformar Bolsonaro em um “grande líder da oposição”. Alguns dos integrantes seriam o senador Flávio Bolsonaro e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União.

“MODERADOS “ – Tinham também os “moderados” que diriam concordar com “as injustiças” do Brasil, mas não eram a favor de uma intervenção radical. “Entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, afirma o texto.

Participantes incluiriam o general Júlio César de Arruda, militar e então comandante do Exército, além do general Paulo Sérgio Nogueira, então Ministro da Defesa. POr fim, existia ainda os “radicais”, em que parte seria a favor de ir atrás de uma suposta fraude nas urnas. Outra parcela “era a favor de um braço armado”. Estavam inclusos o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.

DEFENSORES – “É muito grave saber que Michele e Eduardo Bolsonaro estavam entre os maiores defensores do golpe armado contra a posse de Lula”, postou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann em sua rede social. “Eram e ainda são as pessoas mais próximas do inelegível e seus maiores porta-vozes na política. Fica cada vez mais insustentável a conversa mole de que ele não tinha nada a ver com a trama contra a democracia, que previa até o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A hora da verdade está chegando”, assinalou Gleisi.

Complicações graves à vista para os envolvidos diante da trama golpista que envolve a participação do próprio ex-presidente da República. A situação política do país revela que a delação de Mauro Cid não pode ser um lance isolado. O projeto vem à tona com suas faces expostas e verdadeiras, deixando principalmente mais claras as ações de Bolsonaro.

Ambiente de incerteza faz com que empresas reduzam ou adiem investimentos

Dólar, juros e Trump, a tempestade perfeita

Pedro do Coutto

Uma série de fatores tem criado uma atmosfera de incertezas e levado empresas a adiar projetos e investimentos na economia brasileira, incluindo o aumento de despesas para quem tem dívidas em dólar e a alta nos custos de produção. Depois de um crescimento econômico acima do esperado observado em 2024, companhias brasileiras de todos os portes no atual cenário enfrentam obstáculos, descrito pelos empresários como o de uma tempestade perfeita.

Conjugam-se mutuamente a taxa básica de juros (Selic) em 12,25% ao ano (com expectativa de chegar a 15% no fim de 2025), dólar alto (valorização de 27% no ano passado) e as incertezas em torno das contas públicas no Brasil e do novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

RECEIO – Há temores dos custos financeiros que estão causando retração de investimentos e a palavra de ordem nas empresas é investir e contratar menos para atravessar as questões previstas para 2025. Além dos juros mais altos, há um nível de incerteza maior no exterior e no Brasil, o que limita decisões de consumo e investimentos, com reflexos negativos na economia e na performance das empresas.

A possibilidade de tarifas (sobre importações) nos EUA pode reduzir a competitividade de produtos brasileiros no mercado americano em relação a produtos locais ou de outras origens que forem menos taxados. Na semana passada, o dólar caiu abaixo dos R$ 6 com a ausência do tarifaço prometido por Trump antes da posse. Ainda assim, empresas exportadoras estão se protegendo para esse cenário.

BARREIRAS – Na siderurgia, um dos setores brasileiros que mais exporta para os EUA, o temor vai além das barreiras de Trump por lá. Preocupa a possibilidade de entrada de mais aço da China no Brasil, em condições desleais de concorrência. Mas ainda é cedo para avaliar potenciais impactos.

Para o governo, a redução dos projetos de investimentos é algo preocupante, sobretudo porque nesses estão embutidos o caráter dos empregos que precisam ter continuidade. Será preciso avaliar cada passo e estabelecer planos de médio e longo prazo para evitar o que já foi conquistado até agora.

Governo quer reduzir impostos de importação para baratear alimentos

Governo afirmou que não haverá congelamento de preços

Segundo o ministro Rui Costa, ao facilitar a importação desses alimentos

Pedro do Coutto

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou nesta sexta-feira, que o governo estuda a possibilidade de reduzir o imposto de importação de alimentos que, por algum motivo, estiverem mais baratos no exterior que no Brasil. Segundo Rui Costa, ao facilitar a importação desses alimentos, o governo contribuiria para aumentar a oferta do produto e, por consequência, a queda do preço.

“Não tem explicação para [o preço interno] estar acima. Todo produto que o preço externo estiver menor que o interno, vamos atuar. O preço se forma no mercado. Se tornarmos mais barata a importação, vamos ter atores do mercado importando. E vão ajudar a baixar o preço do produto interno”, disse.

CONGELAMENTO – Rui Costa disse ainda que o governo não pretende adotar nenhuma medida fora do padrão para baixar o preço dos alimentos nos supermercados. “Não haverá congelamento de preços, tabelamento, fiscalização”, afirmou o ministro. A fala aconteceu após reunião entre o presidente Lula e ministros sobre propostas para baratear o preço dos alimentos, tema que se tornou prioridade para o governo federal neste início de ano.

O governo Lula diz que vai trabalhar para intensificar iniciativas de estímulo à produção agrícola já existentes, em particular aquelas destinadas aos produtos que compõem a cesta básica. “Eu diria que o carro-chefe, para resumir, é que o presidente pediu para que deem uma lente de aumento, foco maior, na hora da definição de políticas públicas já existentes”, afirmou Rui Costa. O ministro disse que a ênfase será dada aos produtos que fazem parte da cesta básica.

É preciso destacar que favorecer as importações de alimentos estrangeiros para conter os preços no mercado interno vai acarretar consigo a necessidade também de facilitar a tributação dos produtos fabricados no país, pois uma vez que se abre impostos para conter preços, as variáveis terminam não sendo importantes já que vantagens tributárias vão se encontrar nas gôndolas dos supermercados.

REIVINDICAÇÃO – Os produtores brasileiros, evidentemente, reivindicaram também vantagens fiscais atribuídas aos produtos vindos de fora. Com isso, serão contidos os preços de modo geral, fazendo com que essa política do governo assegure estabilidade entre o que é importado e o que é produzido no país. Aliás, será um fator de equilíbrio já que a quase totalidade de produtos agrícolas que são comercializados no Brasil não apresentam nenhuma vantagem em relação às importações.

O que pode ocorrer é uma facilitação para os produtos que vêm de fora e se deparam com o mercado brasileiro com preços inferiores aos de origem nacional. De qualquer forma, porém, o governo deixou claro com a medida anunciada que está preocupado com o reflexo político, melhor falando, com a política eleitoral.

Portanto, a campanha praticamente já começou diante da preocupação da administração atual de não conceder argumentos a possíveis adversários que podem usar como justificativas o custo de vida no país. Entretanto, no plano da alimentação e de seus reflexos inflacionários, não faltarão fatores à oposição para combater o ponto vulnerável na administração Lula da Silva que efetivamente não pegou ainda a forma adequada de vencer a etapa inflacionária. Os alimentos continuam subindo e o governo se vê obrigado a cortar a taxa de importação.

Trump vai exigir redução dos juros e desafia independência do BC americano

Trump dominou a edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos

Pedro do Coutto

Donald Trump discursou na última quinta-feira, em vídeo, no Fórum Econômico Mundial de Davos, voltando a defender o uso de combustíveis fósseis para impulsionar a economia e disse que vai exigir o corte das taxas de juros nos Estados Unidos. O presidente americano disse que o mundo testemunhou uma revolução do bom senso nos últimos dias, criticando o antecessor, Joe Biden, principalmente pelo aumento da inflação e pela forma como lidou com a imigração.

Na área ambiental, Trump listou as medidas que já tomou para barrar iniciativas sustentáveis e promover a exploração de combustíveis fósseis. “Os Estados Unidos têm a maior reserva de petróleo e gás do planeta. E vamos usá-la”, disse. O presidente americano afirmou que vai pedir à Arábia Saudita e à Organização dos Países Exportadores para reduzirem o preço do petróleo.

CORTE – “Se o preço caísse, a guerra entre Rússia e Ucrânia acabaria imediatamente”, disse, sem entrar em detalhes. Trump disse que depois dessa redução no preço do petróleo, vai exigir o corte imediato das taxas de juros dos Estados Unidos, um desafio ao Banco Central americano, que é historicamente independente, e acrescentou que elas deveriam estar caindo no mundo inteiro.

Na área econômica, o presidente americano prometeu cortes de impostos para as empresas que se instalarem nos Estados Unidos. Trump também disse que espera um relacionamento justo com a China, reclamou do déficit comercial com a União Europeia e voltou a ameaçar os aliados históricos com mais taxação sobre importações. Foram quatro dias de expectativas em Davos de olho nos próximos quatro anos de governo Donald Trump. Não há dúvidas: mesmo à distância, o presidente americano dominou esta edição do Fórum Econômico Mundial. Direta ou indiretamente, Trump passou pelos debates e discursos.

Os preços do petróleo foram para o território negativo com o discurso de Trump, enquanto o euro caiu e o dólar oscilou entre ganhos e perdas em relação a uma cesta de moedas fortes. Algumas de suas críticas mais duras foram reservadas aos tradicionais aliados dos EUA, o Canadá e a União Europeia, que ele ameaçou novamente com novas tarifas, ao mesmo tempo em que repreendeu suas políticas de importação, culpando-os pelo déficit de produtos comerciais dos EUA com esses parceiros. “Uma coisa que vamos exigir é o respeito de outras nações. Canadá. Temos um déficit enorme com o Canadá. Não vamos ter isso em lugar nenhum”, disse.

CRÍTICAS – Ele também criticou duramente seu antecessor Joe Biden e as políticas que dominam Davos há anos, desde as políticas de mudança climática até a diversidade. O ex-secretário de Estado dos EUA John Kerry, que serviu sob o comando de Biden, ficou visivelmente constrangido enquanto ouvia o discurso. Trump prometeu reduzir a inflação com uma combinação de tarifas, desregulamentação e cortes de impostos, juntamente com sua repressão à imigração ilegal e o compromisso de tornar os Estados Unidos um centro de inteligência artificial, criptomoedas e combustíveis fósseis.

O fórum de Davos deu a alguns executivos a oportunidade de questionar publicamente o presidente sobre questões que afetam seus negócios ou, em alguns casos, seus investimentos, projetos e interesses específicos. Trump repetiu uma série de falsidades conhecidas – que os EUA tinham o ar e a água mais limpos durante seu primeiro mandato, que ele venceu por grande número de votos nos Estados Unidos, e que havia um Green New Deal nos EUA que ele havia revogado.

Trump agiu rapidamente para reprimir a imigração, expandir a produção doméstica de energia e ameaçou impor tarifas pesadas à União Europeia, China, México e Canadá. Ele também retirou os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde e do acordo do clima de Paris. Ele disse que renomeará o Golfo do México como Golfo da América, embora outros países possam não adotar o novo nome. Ele também ameaçou retomar o Canal do Panamá do Panamá.

PERDÃO – O presidente ainda perdoou mais de 1,5 mil partidários que atacaram o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, em um esforço fracassado para reverter sua derrota nas eleições de 2020, causando indignação entre parlamentares e policiais cujas vidas foram colocadas em risco. Trump está se movendo para desmantelar os programas de diversidade dentro do governo dos EUA e está pressionando o setor privado a fazer o mesmo. Isso fez com que algumas pessoas em Davos procurassem novas palavras para descrever práticas no local de trabalho que, segundo elas, são essenciais para seus negócios.

Em poucos dias, Trump tem promovido grandes reflexos internacionais com as suas declarações. Saber se serão efetivadas é outra questão, uma vez que muitas das ações se confrontam com a legalidade e os limites constitucionais do seu próprio país.

Governo de Lula enfim entra em alerta com inflação de alimentos

Lula deu um puxão de orelha nos ministros

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva está efetivamente preocupado com a inflação causada principalmente pela elevação dos preços dos alimentos. A percepção no Planalto é que o aumento da inflação tem corroído a popularidade do governo. Em 2024, a inflação estourou o teto da meta e fechou o ano a 4,83% — o limite era 4,5%.

O preço dos alimentos puxou o indicador e foi o que mais subiu no período.A inflação de alimentos e bebidas ficou em 7,69%, bem acima do que ocorreu no ano anterior, quando o grupo subiu 1,11%. Além disso, o subgrupo Alimentação no domicílio avançou 8,23% no ano, com o aumento no preço da carne como destaque.

PUXÃO DE ORELHA – Os dados são referentes ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado neste mês de janeiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Durante a reunião ministerial desta segunda-feira, na Granja do Torto, Lula deu um puxão de orelha nos ministros, cobrando medidas para o enfrentamento do aumento de preços dos alimentos.

A questão gerou um debate sobre os fatores que contribuem com esse resultado, como o preço do dólar e o impacto dos eventos climáticos extremos ao longo do ano. A preocupação do governo está voltada para os reflexos na área política, sobretudo nas eleições presidenciais de 2026. A evolução dos preços de artigos essenciais afeta diretamente a imagem do governo.

Lula quer discutir políticas públicas concretas que possam mitigar a alta do preço dos alimentos, embora haja uma preocupação no governo de que a inflação demoraria a arrefecer. A avaliação do Planalto é que, se os valores não diminuírem logo, o governo precisa pelo menos deixar claro à população que busca resolver o problema. Lula deve passar a tratar do assunto com frequência nas suas falas públicas.  

Trump, o homem tempestade, promove inquietação e perplexidade

Os primeiros atos de Trump e a grande inquietação internacional

Saída da OMS e do acordo de Paris estão entre as medidas

Pedro do Coutto

O mundo, na sequência da posse de Donald Trump nos Estados Unidos, amanheceu intranquilo com as posições anunciadas, principalmente quanto ao estado de calamidade que se aplica às fronteiras e o impulso para expandir limites dos Estados Unidos. Trump lançou uma campanha à base de choques com a realidade, mudando o comportamento usado até então pelo ex-presidente Joe Biden, partindo assim para uma situação de confronto com a política que vinha sendo colocada em prática.

Trump, logo no dia de regresso à Casa Branca, assinou ordens executivas que retiram os Estados Unidos do Acordo de Paris – pedra basilar no combate às alterações climáticas – e da Organização Mundial da Saúde, a maior e mais influente agência global na luta contra as crises sanitárias. “Vou retirar-nos imediatamente do injusto e unilateral Acordo de Paris sobre o clima”, disse o novo presidente antes de assinar a ordem. “Os Estados Unidos não vão sabotar as suas próprias indústrias enquanto a China polui impunemente”.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS – A decisão não é inédita. Já no seu anterior mandato enquanto 45.º presidente Trump tinha retirado os Estados Unidos do acordo. A decisão foi, porém, revertida pelo ex-presidente Joe Biden quando este tomou posse. A saída dos Estados Unidos do acordo que estabelece o combate às alterações climáticas, assinado em 2015 por quase duas centenas de países, coloca em causa o objetivo de impedir um aumento das temperaturas globais na ordem dos 1,5 graus.

Ainda na área do clima, Trump revogou um memorando de 2023 de Joe Biden que proibia a perfuração de petróleo em cerca de 16 milhões de hectares no Ártico, defendendo que o governo deve encorajar a exploração e produção de energia em terras e águas federais.

IMIGRAÇÃO – Além disso, Donald Trump declarou que implementará rapidamente ações executivas sobre imigração, política energética e operações do governo federal para verificar dezenas de prioridades de política de campanha. Além disso, prometeu emitir cerca dezenas de ordens executivas projetadas para reverter ou eliminar aquelas implementadas pelo governo Biden.

Stephen Miller, o novo vice-chefe de gabinete de política de Trump, apresentou algumas dessas ações na tarde de domingo em uma ligação com republicanos seniores do Congresso, confirmando que elementos de um conjunto abrangente e planejado de ações de imigração entrariam em vigor, incluindo Trump invocando uma emergência nacional na fronteira como uma forma de desbloquear o financiamento do Departamento de Defesa para uso do governo.

DIVERSIDADE – O presidente americano se comprometeu ainda a assinar ordens executivas rescindindo as políticas de diversidade, equidade e inclusão do governo federal, Miller disse aos legisladores, bem como ações para remover ordens executivas específicas relacionadas a gênero colocadas em prática pelo seu antecessor.

Os discursos e seus conteúdos, na prática, deixam preocupados uma série de governos e de populações. O governo Trump governa na base de ameaças, dizendo inclusive que o Brasil e a América Latina dependem muito mais dos Estados Unidos do que o contrário.Veremos agora como reagirá o presidente Lula da Silva diante das circunstâncias colocadas por Trump e a politica que ele colocará em prática.

A inquietação promovida pelas declarações do presidente americano tiveram grande repercussão internacional. Seja como for, o mundo acordou sob o impacto das ameaças que ficam como as tempestades que desabam sobre países e territórios, ameaçando governos e as populações de países que fazem fronteira com os Estados Unidos. Vejamos até que ponto chegarão as nuvens que carregam consigo sinais de tempestades.

Aliados e estrategistas se dividem sobre atitude do governo na crise do Pix

Governo precisa acertar a sua Comunicação, reforçando as suas ações

Pedro do Coutto

Na última semana, Gleisi Hoffmann,  presidente do PT,  defendeu a decisão do governo Lula ao revogar a portaria da Receita Federal que aumentaria a fiscalização nas transações via Pix. Por outro lado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, e o ex-líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu,  tiveram o posicionamento oposto, indicando que o Planalto errou ao recuar na medida após o vídeo viral de milhões de visualizações do deputado federal Nikolas Ferreira.

O tema abre uma divisão na base aliada do presidente Lula, além de promover controvérsias entre estrategistas de campanha, especialistas em comunicação digital e líderes de institutos de pesquisa diante de uma das crises mais intensas enfrentadas pelo governo do PT até agora. Enquanto as diferentes alas de profissionais divergem quanto à estratégia adotada pelo governo, há o consenso de que o deputado Níkolas teve as suas declarações sustentadas por argumentos legítimos, apesar do exagero típico das narrativas políticas.

ACERTO – Uma corrente avalia que o governo acertou ao revogar a medida, mas não conseguiu evitar os danos, uma vez que a revogação confirma que não era fake news. Ninguém disse que o governo taxaria diretamente o Pix das pessoas.

A proposta envolvia usar o Pix para monitorar as transações financeiras dos contribuintes e, com base nesses dados, cobrar mais impostos. Portanto, de forma indireta, o Pix seria utilizado para taxar os brasileiros. De forma paralela, em momentos como esse, não há o bom e o ruim. Há o ruim e o pior. Recuar estancou a crise na visão dos que defendem a ação governamental.

ERRO – Para os que vão por outro caminho e acham que o Planalto errou, o governo deixou na mão os defensores das medidas e ofereceu munição para que a oposição saísse como vitoriosa.Além disso, da forma como o recuo foi anunciado, o governo inflamou ainda mais a situação, sendo que a  melhor maneira de enfrentar esse movimento seria entender a nova dinâmica da opinião pública e levar a informação onde está a audiência, independentemente do canal, veículo ou plataforma.

Como se vê, as opiniões se dividem não somente entre os aliados do governo, mas também entre os profissionais que gerenciam crises como a enfrentada recentemente pelo Planalto. O governo, volto a dizer, precisa melhorar as suas estratégias e a sua Comunicação, reforçando os seus pontos fortes, a divulgação de suas ações e confrontando de forma concreta os ataques da oposição.