Dos 30% que acham Lula “regular”, só 9% consideram que economia vai bem

Prática da Pesquisa: [Charge - Ivan Cabral] Labirinto das pesquisas

Charge de Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Bruno Boghossian
Folha

Se a eleição de 2022 abriu uma cratera no cenário político, o primeiro ano de Lula no poder não produziu abalo capaz de mudar a paisagem. Entre os eleitores do petista, só 3% classificam o governo como ruim ou péssimo. No grupo que votou em Jair Bolsonaro, apenas 8% avaliam a gestão atual como ótima ou boa.

Grande parte do eleitorado se manteve fiel ao voto do ano passado. Esse apego ofereceu a Lula o conforto de uma base leal, mas também impôs um teto de popularidade em segmentos que optaram por permanecer filiados à oposição.

LEGIÃO DE INDECISOS
– Números da última pesquisa do Datafolha mostram que, no meio do caminho, há um contingente que ainda pode cair para qualquer lado a depender do desempenho do petista.

Além dos 38% de avaliação positiva e dos 30% de avaliação negativa, outros 30% classificam a administração de Lula como regular.

Esse grupo costuma ser o alvo de presidentes interessados em bombar sua popularidade (todos, talvez com a exceção do irrecuperável Michel Temer). São eleitores que têm suas preferências políticas, mas são capazes de aderir a um governo dependendo de seu desempenho.

TURMA DO “REGULAR” – Nesse terço do país que enxerga o primeiro ano da gestão petista como regular, há mais brasileiros jovens e mais pobres do que ricos. Também há quase tantos eleitores de Lula quanto de Bolsonaro — o que sugere que o grupo é importante para a manutenção do apoio dado nas urnas e para a difícil missão de atrair votos do campo rival.

São eleitores que, a esta altura, se mostram mais desconfiados ou indecisos na hora de dizer o que vai bem e o que vai mal no país. Para quase todas as áreas, o índice de avaliação regular sobre o desempenho de Lula fica acima da média nacional.

A chave para a conversão ou a deserção desse eleitor é a economia. No grupo, só 9% têm uma avaliação positiva da área, bem abaixo da média geral dos entrevistados (24%). A maior parte está em cima do muro: 51% afirmam que o desempenho do governo na economia é regular.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGExcelente análise da pesquisa. Não foi mencionado, porém, mostrar também que uma terceira candidatura, fora da polarização, poderá chegar a um final feliz. Lula acaba de declarar que a eleição de 2026 será entre ele e Bolsonaro, mas pode estar completamente equivocado, que é, aliás, uma de suas especialidades. (C.N.)

Lula mandou Gleisi humilhar Haddad no encontro da cúpula nacional do PT

Em evento do PT, Gleisi defende déficit fiscal, e Haddad diz que gasto maior não garante crescimento

Enquanto Haddad falava, Gleisi Hoffmann fazia caras e bocas

Carlos Newton

Jamais se viu nada igual. Numa importantíssima reunião, convocada para discutir a estratégia do PT nas eleições de 2024, para tentar recuperar prefeituras, o que se viu foi surrealismo puro. A chamada “conferência”, foi convocada pela presidência do PT, que na verdade não pretendia conferir nada. O objetivo principal era destruir a imagem de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, diante da cúpula do partido.

A própria presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, assumiu esse papel sujo. Organizou um debate, com a participação do ministro, fez o discurso inicial e nem tocou na estratégia eleitoral do partido. Mudou o assunto e passou a esculhambar a gestão de Haddad no Ministério da Fazenda.

TINHA ENSAIADO – Um dia antes, no texto de uma resolução do PT, Gleisi Hoffmann mandou incluir que “não faz sentido a pressão por arrocho fiscal exercida pelo comando do Banco Central, rentistas e seus porta-vozes na mídia e no mercado. O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal…”.

Mas ninguém esperava que ela fosse adiante nem que houvesse uma armadilha preparada contra Haddad na reunião do Diretório, a mando do próprio presidente Lula da Silva. Frente a frente com o ministro da Fazenda, Gleisi disse que, por ela, o déficit seria “de 1%, 2%” do PIB em 2024, e passou a apontar o que considera outros erros da política econômica.

Haddad ficou estupefato. Tinha se preparado para falar sobre estratégia eleitoral e teve de mudar o rumo. Tentou explicar, em palavras simples, a questão do ajuste fiscal. Enquanto ele falava, aturdido, Gleisi fazia caras e bocas, desmoralizando o companheiro. No dia seguinte, seu amado Lindbergh Farias dava entrevista desancando a política econômica de Haddad, tudo combinado.

TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Lula não suporta o apoio de investidores e empresários a Haddad. Acha que seu ministro está crescendo demais da conta, e isso é inadmissível. Por isso, ao discursar, berrou que a eleição em 2026 será entre “Lula e Bolsonaro”, que nem pode ser candidato.

Pobre Lula, em 2026 já terá 81 anos. Não adianta continuar fazendo plásticas e implantes de cabelo, estará mais cansado de guerra do que a Teresa Batista, personagem de Jorge Amado. Precisa permitir que surja uma nova liderança no partido, e já se sabe que se chama Fernando Haddad, mas Lula se recusa a aceitar.

O desespero é evidente, mas não adianta tentar desmoralizar seu ministro perante o Diretório do PT, às vésperas do Natal. Isso é muito feio e Papai do Céu não gosta.

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P.S. –
Como diria Rubem Braga, Lula está envelhecido e envilecido. Mas o que esperar de quem foi dedo duro dos militares e era remunerado para delatar os companheiros sindicalistas nos anos de chumbo? (C.N.)

Brasil precisa deixar de ser esse peculiar Estado “minuciosamente intervencionista”

Ilustração de Edson Ikê publicada na Folha de S.Paulo em 10 de dezembro de 2023 mostra, sobre um fundo vermelho, personagem usando terno. Ele aparece no centro da cena, é feito em traços preto e branco, usa um terno e está de perfil, olhando para o lado direito da cena. Com a mão esqueda, segura um prato, com uma mão e um pedaço de manga de terno. Uma outra mão gigante aparece cutucando a nuca do homem

Ilustração de Edson Ikê (Folha)

Marcos Lisboa
Folha

O Brasil tem uma tradição de legislação complexa e minuciosa na economia, acompanhada por instituições de Estado com forte poder de intervenção discricionária nos mercados. Nos países anglo-saxões, a legislação é menos invasiva nos contratos entre partes privadas do que em países latinos, como o Brasil, de acordo com os resultados de agenda de pesquisa com microdados sistematizada por La Porta, Lopez-de-Silaba e Shleifer no ”Handbook of the Economics of Finance”.

As intervenções do poder público, inclusive para promover mudanças das regras do jogo, tendem a ser lentas e cuidadosas, por vezes com avanços pontuais seguidos de recuos. Mas a tradição latino-americana – e brasileira, em particular – é bem distinta.

ESTADO INTERVÉM – Mesmo em caso de contratos juridicamente perfeitos, o Estado intervém com frequência e arbitra eventuais queixumes, por vezes rompendo com o que havia sido acordado livremente.

Decisões arbitrárias do poder público ocorrem frequentemente em regimes de concessão, nos mercados de crédito ou em setores regulados. Esse Estado autoritário e discricionário foi consolidado na era Vargas, que criou uma extensa legislação intervencionista e instituições com amplo poder de mando.

Foram estabelecidos sindicatos com monopólio de representação, assim como federações e confederações de setores de empresas, que recebiam tributos recolhidos da sociedade. Nada de liberdade de adesão ou de contribuição. E herdamos instituições peculiares quando comparados com outros países, como a Justiça do Trabalho.

EXAGEROS ÓBVIOS – Alguns órgãos públicos contam com representantes do setor privado para estabelecer políticas públicas ou sanções que afetam as empresas do próprio setor.

O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), que possuía o monopólio do resseguro no país, era responsável pela regulação do setor e contava entre seus sócios o governo federal e empresas privadas de seguros. Preços das mais diversas atividades eram tabelados. Havia múltiplas taxas de câmbio, que variavam conforme o bem a ser comercializado. A realização do comércio dependia de autorização oficial.

DEMOCRATIZAÇÃO – Em 1945, tentou-se iniciar uma democracia em meio as instituições, ideias e valores herdados da longa era Vargas, que foi na contramão da economia de mercado como espaço da inovação, da concorrência e dos ganhos de produtividade.

Não se sabia bem como fazer política de estabilização, e qualquer medida de ajuste gerava a reação dos grupos organizados que dependiam dos favores oficiais. Os bastidores dessa história conturbada são descritos por Lourdes Sola no seu livro “Ideias Econômicas, Decisões Políticas”, cuja segunda edição, revista, foi publicada no último mês.

Lourdes Sola, que entrevistou protagonistas dessa história e cuidou de estudar conjuntamente a economia e a política, enfatiza a peculiar governança da gestão pública, analisa a tensão entre os técnicos e a política na época, além da aliança tática entre economistas que pareciam de campos distintos.

PÓS-1964 – Seu livro termina no golpe de 1964. Na década seguinte, reincidimos nos mesmos erros, com a tecnocracia provendo estímulos e coordenando os investimentos.

Neste caso, as regras do jogo agora permitem amplo espaço para o experimentalismo privado. Não se sabe o que irá dar certo. Por isso, deve-se deixar empreendedores independentes explorarem, de forma descentralizada, múltiplos caminhos, cada um fazendo o que achar que poderá ser mais promissor. A maioria irá fracassar. Mas os bem-sucedidos trarão novidades que serão posteriormente copiadas pelos demais, aumentando a produtividade e a renda.

As intervenções econômicas do setor público devem ser cirúrgicas e cuidadosas com a técnica, promover atividades com benefícios difusos, como ciência e tecnologia, e fortalecer a governança. Tudo isso, contudo, era estranho ao poder público no Brasil dos anos 1950.

CPI da Braskem no Senado vai trazer a Odebrecht como personagem principal

Tribuna da Internet | Odebrecht avalia desprezar a decisão de Toffoli e respeitar o acordo da leniência

Fotocharge (Arquivo Google)

Aline Brito
Correio Braziliense

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar os responsáveis pelo afundamento das minas de sal-gema da Braskem na área urbana de Maceió será instalada nesta quarta-feira (13/12), às 9h. A informação foi confirmada ao Correio pela assessoria do senador Otto Alencar (PSD-BA).

O início da CPI estava marcado para esta terça-feira (12), às 15h, mas foi adiado pelo senador baiano, que vai presidir a sessão de instalação.

RENAN RELATOR – O senador Renan Calheiros (MDB), que deve ser o relator da CPI, tinha convocado a instalação para hoje, mas Otto Alencar entrou como membro do Colegiado e, automaticamente, passou a ser o integrante mais velho. Regimentalmente, a condução dos trabalhos de instalação de uma CPI cabe ao parlamentar de mais idade.

Para que a comissão seja instalada, é necessário ter, pelo menos, sete parlamentares presentes, mas, de acordo com Alencar, ele não foi procurado por “nenhum senador” para abrir a sessão.

Com isso, Otto alegou que não teria tempo hábil nesta tarde para instalar a CPI e informou que a reunião de abertura do Colegiado será amanhã de manhã.

HAVIA INCERTEZA – Até o início desta tarde, a CPI da Braskem era considerada uma incerteza nos corredores do Senado. Isso porque o governo estava resistente à instalação da comissão.

Como adiantou a Coluna BSB-DF, do Correio, a reunião desta terça-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu todos os principais atores políticos interessados na investigação.

Estiveram presentes, no Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o senador Renan Calheiros (MDB-AL); o ministro dos Transportes, Renan Filho; o governador de Alagoas, Paulo Dantas; e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, conhecido como JHC. Se houvesse algum meio de segurar a CPI, a saída sairia desse encontro. Entretanto, o senador Otto Alencar afirmou que a instalação da comissão parlamentar é “irreversível” e que não passará de quarta-feira.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Depois de terem sido “inocentadas” pelo diligente ministro Dias Toffoli, as sujeiras da Odebrecht estão voltando às manchetes dos jornais. Desta vez, além da poluição e do afundamento de parte de Maceió, a megaempresa terá de explicar por que tem “fabricado” lucros quando o balanço está no vermelho. Vai ser sensacional. (C.N.)

Piada do Ano! Após recessão e pedaladas, Dilma é eleita Mulher Economista de 2023

Charge: Dilma no controle da inflação

Charge reproduzida do Arquivo Google

Deu na Folha

A ex-presidente Dilma Rousseff foi eleita no sábado (9) a Mulher Economista de 2023 pelo sistema Cofecon/Corecons, que reúne os conselhos federal e regional de economistas. Como se sabe, Dilma é desde março deste ano a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), conhecido como Banco dos Brics, com sede em Xangai, na China.

Nos anos em que esteve à frente do Planalto, de 2011 a 2016, o PIB (Produto Interno Bruto) retraiu em dois anos consecutivos: 3,6% em 2015 e 3,3% no ano seguinte. O ciclo de recessão da atividade econômica foi um dos mais longos da história do país, somando 11 trimestres, do segundo trimestre de 2014 ao quarto de 2016. A queda acumulada foi de mais de 8% do PIB no período.

PREMIAÇÃO – A votação do prêmio foi secreta e ocorreu durante uma plenária da Cofecon, realizada em formato híbrido. A honraria será entregue em 2024, durante a posse da nova diretoria do conselho, em data a ser confirmada.

“A premiação marca não apenas a celebração do mérito da economista, mas também destaca a importância de reconhecer e valorizar as mulheres que desempenham papéis relevantes na promoção do desenvolvimento com responsabilidade social”, disse o Cofecon, em nota.

Segundo o conselho, a escolha da ex-presidente reflete sua expertise no campo econômico e seu papel fundamental na implementação de políticas que moldaram a trajetória econômica do Brasil. “O Sistema Cofecon/Corecons reafirma seu compromisso com a promoção da igualdade de gênero e o reconhecimento do talento feminino em todas as esferas profissionais”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caramba! Quando a gente vê uma matéria assim, enviada pelo José Guilherme Schossland, pensa que é gozação, porque ninguém acreditaria numa fake news tão amalucada. Se fosse no dia 1º de abril, faria parte da brincadeira mundial, mas estamos em dezembro, nada a ver. Na dúvida, então é melhor registrar logo como Piada do Ano, pois fica mais adequado, digamos assim. (C.N.)

Lula e os governadores não sabem como enfrentar a violência que assusta o país

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge do dia: Insegurança

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Ricardo Rangel
Veja

Em Brasília, a Polícia Federal descobriu que o Primeiro Comando da Capital enviou para lá um grupo de criminosos com a tarefa de realizar uma operação que teria como alvos o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, recebeu uma ameaça de morte cujo autor diz ser outra facção criminosa, o Comando Vermelho. Há poucos meses, a PF abortou uma operação do PCC para sequestrar Sergio Moro. 

JUSTICEIROS – No Rio de Janeiro, casos recentes de assaltos e agressões no bairro de Copacabana levaram “justiceiros” (isto é, criminosos) a se organizar para fazer justiça com as quatro mãos. É o tipo de resposta que, há cerca de 20 anos, levou originalmente à criação das milícias que hoje aterrorizam a população.

Mesmo assim, um deputado estadual bolsonarista apresentou projeto para a criação de milícias de moradores, pagas pelo Estado (!), para agir na contenção da violência onde moram. Há pouco mais de um mês, no ataque terrorista mais assustador de que se tem notícia no estado, foram queimados 35 ônibus e 1 trem para protestar contra a morte de um miliciano em uma operação policial.

Quando o assunto é violência, no entanto, Brasília e Rio estão longe de ser casos isolados, nem sequer estão entre os maiores problemas do Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022, o Rio está em 20º lugar na lista de homicídios nas capitais. O Distrito Federal inteiro apresenta a taxa mais baixa dos últimos 46 anos, e estaria em penúltimo se estivesse na lista. Os campeões da violência são Macapá, Salvador e Manaus.

DOIS EXEMPLOS – Nem por isso Brasília e Rio deixam de ser emblemáticos. A capital é o centro do poder no país: o fato de organizações criminosas ameaçarem figuras importantes da República demonstra seu grau de ambição e atrevimento.

O Rio não só é uma espécie de vitrine do Brasil, como muitas das iniciativas ali criadas acabam sendo exportadas para o resto do país (é o caso das facções do tráfico, que datam dos anos 1970, com a criação do Comando Vermelho).

Não há a menor dúvida de que nossa política de segurança está redondamente equivocada. A Guerra às Drogas, em prática há 40 anos, só tem aumentado a violência. E as abordagens da direita — aumentar a violência contra traficantes nas favelas (sobrando para os inocentes que estiverem perto) — e da esquerda — omissão pura e simples — são ineficazes.

FUGINDO DO ASSUNTO – O governo federal foge do assunto há pelo menos 20 anos, insistindo que o problema é dos governos estaduais. Os governadores, quando não têm administrações infiltradas por criminosos, estão perdidos.

O governo Lula aparentou chamar a si alguma responsabilidade… mas sem apresentar qualquer plano ou projeto. No momento, o Brasil sequer tem ministro da Justiça e da Segurança: a principal atribuição do (quase) ex-ministro Flavio Dino, atualmente, é fazer campanha para o STF no Senado. Não se sabe quem será o novo ministro ou mesmo se o ministério permanecerá como está ou se será cindido entre Justiça e Segurança.

Enquanto isso, continuamos a insistir na mesma política que não dá certo há décadas. Lula e os governadores precisam sair da pasmaceira de sempre e apresentar propostas mais eficazes. Se não por espírito público, por interesse eleitoral.

Israel tem cometido crimes de guerra, mas isso não deve ser considerado “genocídio”

Ataque israelense em Gaza

Ataque israelense em Gaza atinge civis, é crime de guerra

Dorrit Harazim
O Globo

O vídeo dura menos de um minuto e meio. Quem a ele assiste torna-se, para sempre, condenado a ser testemunha do horror. Não há escapatória, impossível “desver”, inútil buscar racionalidade à cena. Ela ultrapassa qualquer régua moral, política ou religiosa. É, em essência, o retrato da guerra captada pelo fotojornalista Motaz Azaiza, em Gaza.

Há quase dois meses, Azaiza registra o que vê à sua volta, e posta o que viu nas redes sociais. Na semana passada, quando novo bombardeio israelense atingiu seu bairro e vizinhos, Azaiza estava a postos. É esse minuto e meio que precisa ficar registrado aqui. Não fazê-lo seria silenciar o horror.

DISPARO À DISTÂNCIA – No massacre do Hamas contra civis israelenses, em 7 de outubro, os momentos mais sórdidos da infâmia foram mano a mano, com o algoz terrorista inebriado pelo terror da vítima em suas mãos. Missão cumprida. No caso dos bombardeios punitivos de Israel, o disparo vem à distância, não tem autoria, e as mortes que provoca não têm rosto. Os ainda vivos, em fuga, também não. Missão em curso.

Psicólogos sociais esquadrinham pesquisas atestando quanto o ser humano procura encontrar alguma coerência, propósito ou significado à vida, ao ato e ao fato de viver.

Neste fim de 2023, os tempos são de desnorteamento e dor — uma dor, ora individual, ora coletiva, que não usa máscara. De qualquer ângulo que se olhe, o que se vê é um vácuo — vácuo de compaixão, excesso de certezas vazias. Tomar conta deste mundo dá trabalho e exige paciência, já sabia Clarice Lispector.

SITE REVELADOR – Em tempos assim, é um deleite inofensivo e terno frequentar o site The Red Hand Files, criado por Nick Cave cinco anos atrás.

O extraordinário músico australiano, que frequentou os cantos mais escuros da alma humana, havia perdido dois filhos (o adolescente Arthur caiu de um precipício na Inglaterra, e Jethro, aos 31 anos, sofreu morte súbita).

Cave conseguiu se reerguer abrindo um canal de comunicação direta com a vida, na pessoa de sua legião de fãs. Passou a responder, pessoalmente, à enxurrada de perguntas que lhe chegam por escrito — até o ano passado elas somavam mais de 50 mil. Suas respostas são singelas e profundas, nunca impensadas ou insinceras.

OTIMISMO – Uma alma inquieta chamada Raymond, de Dallas (Texas), queria saber se o cantor se considerava otimista. Recebeu a seguinte resposta:

“Esperança e otimismo podem ser forças diferentes, quase opostas. A esperança brota de um sofrer sentido. É a centelha desafiadora e dissidente que se recusa a ser extinta. O otimismo pode ser o negacionismo do tal sofrer, o medo de encarar a escuridão, a ausência de percepção, uma espécie de cegueira do real. Esperança é amadurecimento e desobediência. Otimismo pode ser temeroso e falso”.

Outro seguidor, da Eslovênia, perguntou se a inteligência artificial seria capaz de criar o sublime (na canção ou em música). Cave primeiro citou o autor de “Sapiens”, Yuval Noah Harari, para quem a IA será capaz de criar músicas ainda melhores que os humanos, pois conseguirá mapear o estado d’alma de quem faz o pedido. Um algoritmo sob medida para satisfazer à necessidade emocional do cliente — se está sentindo alegria, tristeza, saudade, desejo.

UMA RESSALVA – “Só que músicas fazem bem mais que isso” — esclareceu o cantor. “Uma canção excepcional nos inunda de assombro, e essa sensação deriva exclusivamente de nossos limites como seres humanos. Tem a ver com a audácia humana de ir além de nosso potencial”.

Ou, como definiu Franz Kafka, música é o som da alma, a voz direta do mundo subjetivo.

Até mesmo à pergunta raiz das civilizações (“Deus existe?”, ele respondeu de forma franca: “Não tenho nenhuma evidência num sentido ou noutro, mas talvez essa não seja a pergunta correta. Para mim, a questão é “o que significa crer?”. Mesmo contra a vontade, acho impossível não crer ou, pelo menos, não se envolver com a busca por uma resposta, o que no fundo dá no mesmo. Minha vida está dominada pela noção de Deus, seja por sua presença ou ausência.

São muitas as dores do mundo, e neste período de festas judaico-cristãs parece até imperativo embalar-se em crenças. Só que elas de pouco ou nada adiantam quando o ser humano perde contato com a humanidade.

Não valia a pena ler ‘”Antimemórias”, de Malraux, mas peguei o livro para me distrair

Libro: Antimemorias - 9788466359832 - Malraux, André (1901-1976) - · Marcial Pons Librero

Malraux, sempre polêmico, perde-se na vaidade

Mario Vargas Llosa
Estadão

Para me distrair, peguei as memórias de André Malraux, um livro que 100 vezes decidi que não valia a pena ler, porque os personagens, entre os quais estão alguns dos principais líderes do século 20, encolhem-se para se submeterem à estatura desproporcional de Malraux e, tímidos e sempre às ordens de seu interlocutor, dizem tudo o que o autor quer que digam.

Em meados dos anos 60, quando por meia década foi ministro dos Assuntos Culturais do general De Gaulle na Quinta República, Malraux fez uma longa viagem ao Extremo Oriente, enviado pelo próprio chefe do estado francês, ao que parece, para se curar de algumas doenças causadas, entre outras coisas, pelo álcool e por uma vida familiar muito tensa.

MARCO DAS MEMÓRIAS – Essa viagem é a principal referência das Antimemórias, surgidas em 1967, depois de vários anos sem livros publicados, embora muitas das coisas que Malraux conta ou inventa tenham ocorrido antes ou depois dessa viagem, que serve de marco às suas memórias e reflexões.

Há tanta invenção e vaidade no autor que é impossível saber o que é verdadeiro nos seus diálogos com Mao ou Nehru, nos seus encontros com De Gaulle, nas suas explorações arqueológicas ou históricas, nas suas façanhas durante a Guerra Civil espanhola (ele ajudou, por meio do governo francês, a organizar uma esquadra com aviões franceses e a colocou à disposição dos republicanos, os quais comandou, embora não soubesse pilotar nem atirar) ou na Resistência contra os nazistas (à qual parece que aderiu em 1944 e não, como nos fez crer, no início da década), pela qual recebeu condecorações.

RAINHA DE SABÁ – Por certo, há um feito indiscutível: a aventura singular de procurar, aos trinta e poucos anos, juntamente com o capitão Édouard Corniglion-Molinier e outro companheiro, no deserto do Iémen, o reino da Rainha de Sabá, que é meio fantástica – o mínimo que se pode dizer dela –, que, nas brumas, aparece guiando esta dupla de personagens e que aqui atua como uma presença silenciosa, sempre sob as ordens de Malraux, que descreve sua musa de um jeito deslumbrante.

Malraux, grande admirador do britânico T.E. Lawrence, tem aquela paixão pela aventura de certos europeus fascinados por mundos que são ou parecem exóticos – e encontra o que quer encontrar, exista ou não.

Tudo indica que o que estava nas fotografias que tirou do avião que sobrevoou a zona do Iémen onde acreditava que se encontravam os restos da cidade morta da Rainha de Sabá era simplesmente um oásis com algumas casinhas e ruínas sem a menor relação com o reino bíblico, embora isso seja o que menos importa na sua aventura.

PERSONAGEM PRINCIPAL – A partir daí, tudo é um declínio singular nesse livro em que os personagens principais são, em aparência, De Gaulle, Mao, Nehru ou aventureiros lendários muito anteriores, como o francês Marie-Charles David de Mayréna.

Mas, na verdade, o personagem mais importante é o próprio Malraux. Os demais se referem a Malraux como a uma estátua, e, em cada relato que faz de seus encontros com eles, o próprio autor transmite uma lição que apaga instantaneamente tudo o que ele diz – ou pelo menos é este o efeito dos intermináveis monólogos que ele nos inflige.

O autor de “A Condição Humana” não tem interesse em nos contar sobre sua vida privada, como acontece nas memórias confessionais, ou o que está por trás da vida pública, como acontece nas memórias de figuras públicas. Parece mais interessado em sua própria importância como protagonista dos acontecimentos históricos ou na forma como os outros protagonistas, os verdadeiramente decisivos, se referem ao que ele diz ou às coisas que ele fez.

CONDIÇÃO HUMANA – “O que me interessa em qualquer homem”, diz Malraux, “é a condição humana e certas características que expressam não tanto uma personalidade individual, mas sua relação particular com o mundo”.

Essa frase, que resume sua visão dos personagens que desfilam ao longo do livro e sua forma de abordá-los, na verdade descreve melhor seu papel nestas Antimemórias, em que tudo gira em

torno de seu impacto nos acontecimentos históricos que o tocam de perto ou de sua influência na ideia que seus interlocutores têm dos acontecimentos dos quais participaram ou foram protagonistas.

Em outro momento do livro, o autor afirma algo que parece uma justificativa para sua obsessão pela grandiloquência histórica: “De que me importa aquilo que só importa para mim?”. O resultado é um texto desajeitado, retórico e enfadonho que não leva a lugar nenhum.

MUNDO DA AVENTURA – As melhores passagens são aquelas que têm a ver com o mundo da aventura que tanto o fascina, aqueles exploradores loucos e extravagantes que levam a vida em jornadas cujo objetivo não é sempre claro, pois mais importa o percurso que o propósito.

Ele chama esse tipo de personagem de farfelus [termo francês para “doido” ou “excêntrico”] e é evidente que ele teria gostado de ser um deles ou que tentou sê-lo em certos momentos. Quando não pôde, inventou que tinha sido. Porque para ele a fronteira entre literatura e realidade era muito confusa, como o livro demonstra.

Mas tudo isso, que poderia ter dado um livro apaixonante, perde-se entre intermináveis páginas dedicadas às suas teorias sobre acontecimentos históricos e aos seus diálogos com líderes a quem faz dizer coisas que justificam essas teorias. Em todas essas longas passagens não há parênteses nem diferenciações, todas seguem um perfil teimoso e cego, a serviço de Malraux e de algum amigo ocasional, por exemplo Nehru e De Gaulle, que por vezes parecem quase seus discípulos.

NO MESMO ESTILO – Todos os “discípulos” são tratados com o mesmo estilo, em descrições infinitas e nas quais só por vezes há alguma referência ou reflexão sobre a arte oriental, de que o autor tanto gostava.

Como era diferente o ministro dos Assuntos Culturais nos seus esforços cotidianos, quando inaugurava casas dedicadas à cultura e organizava grandes exposições, nos discursos que proferia (sem falar, claro, nos seus grandes romances). Ninguém que os ouviu foi capaz de esquecê-los. Eu morava em Paris naqueles anos e me lembro do enorme impacto que tiveram.

As orações fúnebres, como a que proferiu por ocasião do traslado das cinzas de Jean Moulin, herói da Resistência, para o Panteão, ou durante o funeral de Le Corbusier, no pátio do Louvre, pouco depois de regressar da viagem ao Extremo Oriente, em 1965, são joias literárias.

ERA UM GÊNIO? – Mas este foi o canto do cisne de Malraux, como comprovam estas Antimemórias, que surgiram alguns anos depois daqueles discursos. Era um gênio? De certa forma, sim. Não há dúvida de que “A Condição Humana”, seu romance sobre uma rebelião comunista fracassada em Xangai, é uma obra-prima. E seus discursos não eram retórica vazia, como os de tantos políticos, mas sim uma literatura magnífica, tanto no conteúdo quanto na forma. Mas, ao mesmo tempo, era um homem que acreditava na sua glória e cultivava essa vaidade ao exagero.

Os discursos inflamados, que jamais esqueceremos, são a negação dessas, Antimemórias e a prova de que, na fase final da vida, escrevendo ele superava a si mesmo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Enviado por Mário Assis Causanilhas, o artigo mostra que Vargas Llosa continua em forma, sempre brilhante na criação e na demolição. (C.N.)

Governo e Congresso estão empurrando conta de luz bilionária para o consumidor 

Eletrobras (ELET3)(ELET6): qual a projeção da Genial após escolha de novo CFO? - SpaceMoney

Privatizar a Eletrobras foi um erro colossal de Bolsonaro

Johanns Eller
O Globo

A conta dos jabutis inseridos no projeto de lei das eólicas offshore para beneficiar uma série de empresários ligados ao setor, como Carlos Suarez (grupo OAS), conhecido como rei do gás, já circula nos bastidores do Ministério da Fazenda. E é bilionária. A estimativa dos técnicos do governo Lula, obtida com exclusividade pela equipe da coluna, é de que a manobra que revelamos no blog no final de novembro vá custar pelo menos R$ 33,8 bilhões ao consumidor brasileiro – que já paga uma conta alta, mesmo sem risco de apagão ou crise no abastecimento.

É praticamente o mesmo valor – até um pouco mais – que a Fazenda pretende arrecadar com a taxação dos fundos exclusivos e offshore até 2025 (R$ 30,5 bilhões).

SUBSÍDIOS DIVERSOS – O dinheiro vai ser consumido com a ampliação, a criação ou a prorrogação de subsídios variados, das térmicas a gás (R$13,2 bilhões) à usinas a carvão (R$ 2,2 bilhões) e outras modalidades de geração de energia que hoje já são mais baratas e competitivas – como as pequenas centrais hidrelétricas (R$ 8,6 bilhões).

O período de concessão dos benefícios varia conforme o subsídio e pode chegar até 20 anos. E a despesa será toda transferida ao consumidor, como alerta um técnico do governo.

“Essa é a tragédia do setor elétrico. Acharam um jeito de fazer benesses sem passar pelo orçamento. Vai do bolso do consumidor para o do empresário. O impacto na distribuição de renda é péssimo, pois a conta de luz é um item muito importante no orçamento das famílias de mais baixa renda”.

DERRUBAR O PROJETO – Preocupada com os efeitos na economia, uma ala do governo, mais ligada à Fazenda, vai trabalhar para tentar derrubar o projeto no Senado.

Mas devem enfrentar dificuldades, porque os jabutis incluídos no projeto aprovado na Câmara contemplam uma série de interesses e empresários poderosos – como o próprio Suarez, que tem vários defensores no Congresso.

O projeto, de autoria do ex-senador Fernando Collor (PTB-AL) e relatado pelo deputado federal Zé Vitor (PL-MG), chegou na última sexta-feira (dia 8) à Secretaria Legislativa do Senado Federal. Até o fechamento desta reportagem, aguardava despacho da mesa diretora da Casa para entrar na pauta.

JABUTI ESTRATÉGICO – No jargão político de Brasília, jabutis são dispositivos ou trechos incluídos na redação de leis ou medidas provisórias sem relação direta com o tema em discussão com o objetivo de serem aprovados sem alarde.

Apesar de o objetivo do PL em tese ser o de estabelecer um marco regulatório para eólicas offshore (parques eólicos em alto mar), um jabuti que atende aos interesses de Suarez foi incluído no texto pelo relator Zé Vitor no último dia 22.

No novo artigo costurado pelo MME, o custo do transporte do gás deixa de ser incluído no preço do megawatt a ser oferecido nos leilões pelas partes interessadas na construção das usinas – que, por sua vez, contratariam o transporte a partir de uma chamada pública feita pelo governo estadual junto com as distribuidoras regionais de gás.

MAIS FAVORECIMENTO – Outra medida que beneficia diretamente Suarez é a prorrogação dos subsídios a pequenas centrais hidrelétricas, conhecidas como PCHs, por mais 20 anos no chamado Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) – ao custo de R$ 2 bilhões por ano. Além de ser forte no ramo da distribuição de gás, o empresário baiano tem uma participação relevante no mercado de PCHs.

Os outros bilhões estão espalhados por outros jabutis inseridos no texto pelos articuladores do lobby pró-Suarez para dirimir as resistências de setores à obrigatoriedade das usinas térmicas – um dos pontos mais controversos da lei de privatização da Eletrobras – e viabilizar um texto consensual para ser aprovado pelas duas Casas do Congresso.

Isso porque a lei da Eletrobras obrigava o governo a contratar o fornecimento de 8 mil megawatts de térmicas no Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste a partir de 2026. Suarez, dono da Termogás, seria o principal favorecido por ser o dono das concessões para o fornecimento de gás às usinas previstas nas três primeiras regiões, mas não dispõe de gasodutos.

CUSTO DO TRANSPORTE – Porém, como o jabuti patrocinado pelo MME estabelece que o custo do transporte não será computado no preço a ser oferecido no leilão das térmicas, mas apenas após a construção das usinas, a conta do transporte ficaria na conta do consumidor – já que não há outra forma de transportar o gás senão construindo os gasodutos.

Para aplacar a controvérsia, o texto final diminuiu a quantidade de usinas a serem licitadas de 8 mil megawatts para 4.250 MW e redirecionou parte do potencial energético previsto para outras fontes energéticas que não eram condicionantes da lei que privatizou a Eletrobras.

É o caso, por exemplo, das usinas de hidrogênio líquido e as termelétricas movidas a carvão mineral – uma das fontes energéticas mais poluentes. A intenção dos congressistas é aprovar o PL antes do recesso, previsto para começar no dia 23. Pelo visto, tanto o governo Lula quanto os congressistas parecem empenhados em garantir a Carlos Suarez um inesquecível presente de Natal.

Datafolha reforça a ação do Congresso para tirar “superpoderes” do Supremo

De olho no STF? Veja charges do Tacho sobre a Justiça - Entretenimento - Jornal NH

Charge do Tacho (Jornal NH)

Matheus Leitão
Veja

Nova pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo, dia 10, revela que o Supremo Tribunal Federal tem perdido apoio popular em meio à nova crise institucional com o Senado.

A desaprovação do trabalho dos ministros subiu de 31% para 38%, enquanto a aprovação caiu de 31% para 27%. É uma alteração bastante significativa e que chega em um momento de fragilidade da corte.

PAUTA ADVERSA – O Senado passou a priorizar uma pauta contrária ao STF, como a proposta de emenda constitucional que limitou decisões monocráticas dos ministros, priorizando o plenário.

Outras medidas, como a que impõe um mandato para os membros do tribunal, terão a tramitação acelerada em breve.

No STF, esses avanços dos senadores estão sendo vistos como afrontas e intimidação ao poder judiciário. E a pesquisa, com a impopularidade crescente do STF, dá mais um importante empurrão ao Senado no avanço contra a corte.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Desde o célebre banho de banheira do genial matemático e filósofo grego Arquimedes, que séculos
 depois veio a influenciar a segunda lei de Isaac Newton, a humanidade sabe que toda ação gera uma reação. O Supremo, descumprindo a lei, resolveu assumir o trabalho legislativo do Supremo. Obviamente, essa bagaça não poderia dar certo, diria o comentarista Délcio Lima. Agora, o STF tem de aturar a reação do STF. Se não gostar, que então se queixe a Pitágoras ou a Newton. (C.N.)

Lewandowski no Ministério repetirá o equívoco da gestão anterior de Sérgio Moro

Aliados de Lula veem Lewandowski com favorito para Ministério da Justiça

Uma dúvida: Lewandowski vai servir a Lula ou ao governo?

Merval Pereira
O Globo

Nada mais exemplar da “calcificação” das posições ideológicas na sociedade brasileira – termo já consagrado pelo livro “Biografia do abismo”, do cientista político Felipe Nunes e do jornalista Thomas Trauman –  do que a constatação de que as mesmas atitudes criticadas por um lado são adotadas por esses mesmos críticos quando lhes convém.

A possibilidade de o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski vir a ser o próximo ministro da Justiça do governo Lula, tratada com naturalidade por petistas e associados, tem o mesmo significado de o então juiz Sérgio Moro ter aceitado ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

TIPO “CONFISSÃO” – A aceitação por parte de Moro foi considerada uma confissão de que ele condenou o ex-presidente Lula para beneficiar Bolsonaro, o que é desmentido pelos fatos.

Ficou famoso o vídeo em que Bolsonaro, ainda candidato inexpressivo, bate continência para o juíz Sérgio Moro, então o todo poderoso da Operação Lava Jato. Moro nem lhe dá confiança, parece não saber de quem se trata. Tanto que, depois da repercussão, sentiu-se na obrigação de ligar para o deputado para se desculpar pela deselegância.

Fatos posteriores demonstraram, porém, que Moro cometeu um erro político trágico ao associar-se a Bolsonaro. Na ocasião em que aceitou o convite, disse a interlocutores que estava indo para controlar os exageros do presidente eleito na questão das armas e dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que considerava possível ganhar espaço no governo para acelerar a política de combate à corrupção. A ida para o STF seria um bônus ambicionado. Não conseguiu nada disso e, como aconteceu com muitos, inclusive militares, acabou enredado numa associação política tóxica.

VIROU ASSESSOR – Depois de romper com Bolsonaro, apareceu a seu lado como assessor em debate eleitoral na televisão, explicitando que seu alvo preferencial sempre foi Lula, não importando a quem se aliasse. E que sua proximidade com Bolsonaro, da mesma forma que seu antagonismo a Lula, eram bem mais ideológicos do que deveriam ser.

E o que dizer do ministro Ricardo Lewandowski no ministério da Justiça de Lula? Por que sua eventual aceitação do cargo é avaliada com normalidade, depois de toda sua história ligada ao presidente, desde a nomeação por influências familiares até sua atuação sempre coerente a favor do ex-presidente, mesmo quando preso por acusações de corrupção?

O que dizer da teratológica interpretação da Constituição que permitiu que a presidente Dilma fosse impedida para o exercício do cargo, mas pudesse concorrer ao Senado dois anos depois? Coube ao eleitorado mineiro fazer valer a vontade constitucional, derrotando-a nas urnas.

IGUAL A MORO – A atuação do ministro Lewandowski a favor dos governos petistas pode ser vista como lealdade, ou mesmo uma coerência ideológica, o que lhe favorece na avaliação dos seus iguais, mas não difere da do ex-juiz Sérgio Moro.

Da mesma maneira, os erros de português do hoje senador Sérgio Moro são usados abusivamente pelos petistas para desmoraliza-lo.

Quando falou “conge” em vez de “conjuge”, foi ridicularizado, sem que se ao menos se desse a chance de ter sido uma decorrência do sotaque caipira. No áudio em que supostamente fala “com mim” em vez de “comigo”, não fica claro o erro, mas os ataques a ele são os mesmos.

CRÍTICAS ELITISTAS – Quando se criticam os erros de português do presidente Lula, os que o fazem são corretamente taxados de elitistas, arrogantes, preconceituosos. Por que não qualificar da mesma maneira os que criticam Moro?

Pode-se dizer que, sendo um juiz, Moro deveria dominar melhor o português. É um fato. Acho até que a história de superação de vida de Lula merece todas as homenagens, e sua origem humilde justifica erros de português (que já são raríssimos hoje, e às vezes até propositais), enquanto, como professor universitário e magistrado, os erros de Moro não deveriam existir.

 Só quero chamar a atenção para a situação esdrúxula de o erro depender do lado em que nos encontramos politicamente.

Cabe a Lula e aos moderados encontrar um idioma para tratar com a oposição

Charge do dia: Oposição circular!

Charge do Tiago Recchia, (Gazeta do Povo)

Maria Hermínia Tavares
Folha

Os estudos sobre o populismo de extrema direita têm crescido na mesma medida do reconhecimento de sua presença perturbadora nas democracias atuais. Os especialistas divergem tanto em identificar suas causas quanto ao seu poderio de destruir os sistemas democráticos.

Concordam, porém, que líderes populistas promovem a polarização política afetiva e dela se nutrem. O que, por sua vez, torna mais crispada a livre competição por votos e mais difícil a construção posterior de convergências que facilitem a vida dos eleitos.

CASO DO BRASIL – A profunda fenda política aberta pela vitória de Bolsonaro e ampliada sob o seu infausto mandato é o tema da obra “Biografia do Abismo”, do cientista político Felipe Nunes e do jornalista Thomas Traumann, a caminho das livrarias.

Nutridos por uma fartura de pesquisas, sustentam que nos últimos anos a natureza da polarização mudou. A extrema direita bolsonarista alçou ao topo do embate político a defesa de valores próprios da vida privada —modelos de família, crenças religiosas, educação dos filhos— em detrimento de questões socioeconômicas mais aptas e gerar convergências, como o papel do Estado e o combate à pobreza.

Facilitou assim a decantação de identidades políticas de natureza afetiva e, por isso mesmo, virtualmente irredutíveis e inegociáveis.

REDES SOCIAIS — A explosão do uso e abuso das redes sociais, onde as informações circulam a jato em grupos homogêneos de opinião, só reforçou o processo pelo qual a polarização foi dando lugar ao enrijecimento de posições que os autores denominam “calcificação política”.

Ela teria extravasado da velha disputa pelos corações e mentes do eleitor para invadir relações pessoais e familiares, entre colegas de trabalho e até nas escolhas de onde fazer compras.

Entre os petistas raiz teria ocorrido algo semelhante, de tal forma que, segundo os autores, o conflito calcificado poderá ter vida longa.

DEPENDE DE LULA – Se depender da extrema direita, a tendência se manterá, pois só a beneficia. Mas, a julgar pelas sondagens, nada indica que os eleitores de Bolsonaro sejam todos feitos da mesma matéria rija e impermeável. Ou que o petismo puro-sangue seja majoritário. Até porque o seu mentor maior sempre foi pragmático e afeito a buscar consensos.

Assim, dependerá dele e dos moderados que se agrupam em torno do seu governo reconhecer as diferenças no campo adversário e encontrar o idioma comum do reconhecimento e do diálogo.

Em alguns casos, isso poderá levar à ampliação de espaços na administração federal. Ou, como se viu há pouco, à nomeação de um procurador-geral de passado conservador.

Alagoas vai ao Supremo para retirar da Braskem a “propriedade” dos bairros 

Flexal: a incrível história do bairro que está afundando em Maceió - Giz  Brasil

A BraskemOdebrecht pensou (?) que os imóveis seriam dela…

Bernardo Mello
O Globo

Em carta divulgada nesta segunda-feira, dia seguinte ao rompimento da Mina 18 da Braskem, o governo de Alagoas preparou terreno para ingressar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para desapropriar terrenos da empresa na área afetada pelo afundamento do solo.

O documento, assinado pelo governador Paulo Dantas (MDB) e por um representante do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), estabeleceu, entre outros compromissos, que as autoridades locais vão acionar a Justiça “pleiteando a restituição dos bens” que passaram formalmente a ser propriedade da Braskem, em cinco bairros da capital alagoana que tiveram cerca de 57 mil pessoas realocadas desde 2019.

ACORDO NEFASTO – O Globo apurou com representantes da administração estadual que o governo de Alagoas prepara a apresentação de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo.

O objetivo é pleitear a inconstitucionalidade de acordos assinados pela Braskem com o poder público, desde 2019, que transferiram à empresa os direitos sobre imóveis e terrenos desocupados, cujos moradores originais receberam indenizações de realocação.

O segundo item da carta fala em “iniciar ação na Justiça pleiteando a restituição dos bens aos proprietários”. É com base neste item que o governo de Alagoas pretende acionar o STF, alegando que a transferência dos direitos de imóveis e terrenos à Braskem é inconstitucional.

ERA INDENIZAÇÃO – O argumento das autoridades estaduais é que a verba paga pela empresa aos moradores tem natureza indenizatória, e não de transferência do direito sobre bens.

A Braskem afirma já ter desembolsado R$ 3,8 bilhões em indenizações para a desocupação de 14,5 mil imóveis em cinco bairros — Bebedouro, Bom Parto, Farol, Mutange e Pinheiro — que estão classificados como áreas de risco, por conta do afundamento do solo detectado em 2018.

Em 2019, o primeiro acordo celebrado entre a Braskem e quatro órgãos de fiscalização — Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de Alagoas (MP-AL), Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública de Alagoas (DPE-AL) — previu que “pagamentos referentes aos terrenos e edificações pressupõem a transferência do direito sobre o bem à Braskem”.

POSSE DIRETA – Já o acordo firmado entre a Braskem e a prefeitura de Maceió neste ano, prevendo R$ 1,7 bilhão em indenizações, previu o município “nada mais tendo a pleitear” após a reparação financeira, “nem mesmo a título de direito de regresso”.

No acordo, a prefeitura também se comprometia a “atualizar o cadastro fiscal dos imóveis” que integram a área de risco “com base no Termo de Desocupação, documento subscrito pelos então possuidores das áreas desocupadas que atesta a transferência à Braskem da posse direta dos imóveis”.

A gestão de Paulo Dantas vem usando essa previsão do acordo da prefeitura para fustigar a atuação de Caldas, ou JHC, como é conhecido o prefeito de Maceió. Dantas já acusou a Braskem de usar as indenizações, com transferência de posse à empresa, para fazer “especulação imobiliária”.

ACORDO ANTERIOR – Em meio às acusações do governo estadual, um outro acordo assinado pela Braskem com o MPF, em 2020, para estabelecer indenizações por danos socioambientais e urbanísticos, também estipulou que a empresa “compromete-se a não edificar, para fins comerciais ou habitacionais, nas áreas originalmente privadas e para ela transferidas em decorrência” do programa de realocação.

O acordo, porém, abria uma brecha: a edificação poderia ocorrer se “após a estabilização do fenômeno de subsidência, caso esta venha a ocorrer, isso venha a ser permitido pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Maceió — AL”.

Representantes da prefeitura de Maceió avaliam que a transferência da posse dos imóveis à Braskem ocorreu para que a empresa pudesse empreender ações, inclusive de demolição, que buscam garantir a segurança da área afetada pelo afundamento.

SEM NOVAS CONSTRUÇÕES – A legislação atual do município proíbe novas construções ou exploração comercial desta região. No entanto, para atender a pressões do governo estadual, a proibição foi incluída de forma explícita na carta de compromissos.

A carta assinada nesta segunda-feira estabelece, em outro ponto, que a prefeitura de Maceió se comprometa a “não permitir a comercialização dos imóveis contidos nas áreas afetadas”.

A assinatura da carta foi a primeira ação conjunta adotada por Dantas e JHC desde o início do alerta de risco de colapso da Mina 18, no dia 29 de novembro. Desde então, governador e prefeito, que são adversários políticos em Alagoas, sequer haviam se falado diretamente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A Piada do Ano era a Braskem/Odebrecht pensar (?) que poderia lucrar com a tragédia, tornando-se proprietária de três bairros inteiros e parte de outros dois, que já contam com ruas asfaltadas e serviços de água, esgoto e energia. Agora o jogo virou e o novo sonho da família Odebrecht virou pesadelo. (C.N.)

Uso do termo “genocídio” para a reação israelense visa à condenação dos judeus

Presidente Lula conversa com o presidente da Autoridade Palestina — Planalto

Lula devia parar de falar em “genocídio” dos palestinos

Demétrio Magnoli
Folha

Amin al-Husseini, mufti de Jerusalém, deflagrou em 1936 a Revolta Árabe na Palestina britânica. No exílio, em novembro de 1941, redigiu uma declaração conjunta com a Alemanha nazista e a Itália fascista destinada a “resolver” a “questão judaica” no Oriente Médio “como foi solucionada na Alemanha e na Itália”. O documento paradigmático continua, até hoje, a nortear os defensores da eliminação do Estado de Israel.

A guerra de 1948 nasceu da rejeição da Liga Árabe à bipartição da Palestina aprovada pela ONU. A Guerra de 1967 foi precipitada pela aliança entre Egito e Síria baseada no objetivo de supressão do Estado judeu. O Hamas, fundado com uma carta que reafirma o antigo objetivo exterminista, surgiu em campanha de terror contra os Acordos de Oslo de 1993. A guerra em Gaza representa a continuação da resistência judaica ao plano de varrer os judeus da Terra Santa formulado em 1941.

PROPAGANDA – Os parágrafos anteriores parecem história, mas são propaganda. O método que os orienta é a seleção e descontextualização, não a falsificação. Eles obedecem à estratégia de produzir uma narrativa de conspiração. Foi assim que Arlene Clemesha, professora de História Árabe na USP, escreveu seu artigo sobre a Nakba. A diferença: no lugar de propaganda pró-Israel, fabricou propaganda anti-Israel.

O também professor e cientista político Leonardo Avritzer já refutou essa narrativa histórica enviesada, evidenciando os matizes e a complexidade da questão. Resta iluminar o lugar da conspiração no discurso ideológico de Clemesha.

Narrativas de complô adoram textos originários: o plano dos conspiradores. Pode ser a declaração Husseini/Hitler ou, na versão de Clemesha, o Plano Dalet. O documento, um entre tantos produzidos por atores diferentes, nos dois lados, em épocas e contextos diversos, emerge no artigo dela como a prova de algo como uma “Nakba permanente”. O artigo é sobre a guerra atual, embora simule abordar a guerra de 1948.

CONSPIRAÇÃO JUDAICA – O ponto relevante: a noção de uma conspiração judaica apoiada num plano escrito tem sua própria história. A fonte do antissemitismo contemporâneo encontra-se nos Protocolos dos sábios de Sião, a fraude policial inventada na Rússia czarista sobre um projeto de dominação mundial articulado por sombrios líderes judeus.

No artigo de Clemesha, o Plano Dalet cumpre a função dos Protocolos. Seria um roteiro ancestral seguido por sucessivos governos sionistas com o objetivo de concluir a despossessão palestina. Sábios de Sião, parte 2.

Arlene Clemesha não quer a paz em dois Estados. Acha que israelenses e palestinos precisam “encontrar formas de viverem juntos, do rio ao mar” –a senha do “Estado único” inscrito na carta do Hamas de 2017, cujo pressuposto óbvio é o desaparecimento de Israel. Para isso, sugere um intercâmbio esdrúxulo destinado a “gerar a reparação”: o reconhecimento dos sofrimentos dos judeus no Holocausto e dos palestinos na Nakba.

E A REPARAÇÃO? – A equiparação dos dois eventos é, quase, negação do Holocausto. Mas o truque vai além. A “reparação” pelo Holocausto não caberia jamais aos palestinos, que não participaram do genocídio nazista. Já a “reparação” pela Nakba caberia a Israel, a quem o artigo atribui veladamente a autoria de um genocídio continuado. Finalidade: traçar um sinal de equivalência entre o Estado judeu e a Alemanha de Hitler.

O artigo não surpreende: nove anos atrás, na hora do massacre terrorista da redação do Charlie Hebdo, Clemesha atribuiu às vítimas a responsabilidade por suas mortes. O que deveria surpreender é o uso ritual do termo “genocídio” para mencionar a operação de guerra israelense.

Lula faz isso, noite e dia. Prefere, sempre, “genocídio” a “crimes de guerra”. Há um motivo para isso, exposto de modo (mal) oculto no artigo de Clemesha: não se trata de condenar atos desse ou daquele governo de Israel, mas de condenar inapelavelmente o próprio Estado judeu.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Belíssimo artigo de Demétrio Magnoli. É inaceitável a demonização que fazem dos judeus. O problema é que os palestinos islamitas transformaram Israel num motivo para morrerem como heróis. Na verdade, são escravos em vida, acorrentados por uma religião que lhes proíbe a alegria de viver, aprisiona as mulheres e persegue os homossexuais. Assim, a maioria dos jovens islamitas prefere ir logo para o paraíso, onde cada um é esperado por 72 virgens e um punhado de viúvas sedentas de amor. Quando morrem, seus pais se orgulham, é uma inversão total de valores. Os islamitas acreditam nisso, ninguém jamais conseguirá vencê-los sem guerra. Depois de destruírem os judeus, vão atacar os cristãos, os espiritualistas, os ortodoxos, os umbandistas, será um nunca-acabar. Como dizem os árabes, “Maktub” (Assim estava escrito), (C.N.)

Nova Piada do Ano! Governo federal multou a Braskem em apenas R$ 2,5 mil…

foto colorida da mina operada pela Brasken em Maceió

A poluição das águas já começou e está sendo monitorada

Paulo Cappelli e Petrônio Viana

Após o tremor de terra de 2018 que revelou o afundamento do solo em cinco bairros de Maceió (AL), a Agência Nacional de Mineração (ANM), autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia, multou a Braskem em R$ 2,5 mil por descumprir exigências da fiscalização em 2017.

O valor irrisório aplicado na gestão Temer chamou a atenção do deputado alagoano Alfredo Gaspar (União Brasil), que se debruça sobre a questão.

AFUNDAMENTO – A multa se referia exatamente à ausência de um programa de monitoramento de subsidência, ou seja, do afundamento abrupto ou gradativo do solo. O estudo não foi realizado, e, em 2018, ocorreu o primeiro tremor de terra provocado pelas cavidades no subsolo da capital alagoana.

A exploração mineral vem sendo apontada por especialistas e autoridades públicas como a principal causa do problema. A multa só foi aplicada em 2020, dois anos depois do problema geológico provocado pela exploração de sal-gema ser revelado.

Neste domingo, o problema se agravou com o rompimento da mina de exploração 18. Um alerta máximo foi emitido pela Defesa Civil Estadual, e o local foi isolado. Neste caso, a multa aplicada à Braskem pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), órgão estadual, foi de R$ 72 milhões, por danos ambientais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É claro que o problema está apenas começando. Com as chuvas do verão, as rachaduras vão aumentar, com risco de novos afundamentos, como o que ocorreu neste domingo, que ainda está sendo avaliado. As múltiplas maracutaias da Odebrecht somente serão amplamente divulgadas quando a CPI for iniciada, em fevereiro. Até lá, será esse novela no dia-a-dia. (C.N.)

Brasil precisa se posicionar de forma clara sobre a disputa entre Venezuela e Guiana

Maduro usa a Guiana para reconquistar apoio popular

Murillo Aragão
Veja

As Guianas sempre foram foco de certa confusão política e diplomática. Dom João VI, em retaliação às invasões napoleônicas, ocupou a Guiana Francesa. Posteriormente, através de um acordo, o Brasil devolveu essa região aos franceses.

No início do século XX, o Brasil teve uma disputa territorial com a Inglaterra, que colonizava a Guiana, a mesma região que hoje é objeto de controvérsia entre a Venezuela e a Guiana. Este episódio histórico é conhecido como “A Questão do Rio Pirara” onde fomos derrotados diplomaticamente.

JÂNIO MADUROU – Na década de 1960, Jânio Quadros, numa iniciativa controversa, criou a Operação Cabralzinho com o objetivo de ocupar a Guiana Francesa, alegando ser território brasileiro. Isso se assemelha, de certa forma, às pretensões de Maduro em disputar uma terra cuja decisão internacional lhe foi contrária. A ridícula iniciativa de Quadros era sintetizada pelo codinome escolhido. Não podia ter dado certo.

Voltando à atualidade, para o Brasil, é crucial definir uma postura clara nessa questão. Primeiramente, o governo Lula deve distinguir claramente o que são simpatias do governo de hoje com políticas de estado.

O governo brasileiro, embora aliado de Maduro, deve aderir às políticas de Estado de neutralidade e pacificação. Esta é a conduta esperada do país.

ESTABILIDADE REGIONAL – Neste contexto, o Brasil deve agir diplomaticamente, instando a Venezuela a aceitar as decisões dos tribunais internacionais e a se abster de quaisquer ações unilaterais.

O Brasil, enquanto potência regional, já acatou decisões internacionais adversas aos nossos interesses. Respeitá-las é uma política de Estado.

Portanto, o Brasil não deve mostrar ambiguidade em relação a possíveis agressões da Venezuela à Guiana. Deve se posicionar de maneira firme e clara. Se o Brasil aspira a ser um líder global, deve começar zelando pela paz e estabilidade regional.

Preocupado com o comunismo, Jânio queria fazer “intervenção” na Guiana 

Anjovida: O Jânio que ficou na retina

Jânio não sabia aonde ir, estava completamente perdido

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Presidente tatarana querendo encrenca com a Guiana não é uma exclusividade da Venezuela. Jânio Quadros namorou essa ideia, quando não se conheciam suas reservas de petróleo. No dia 31 de julho de 1961 ele mandou um bilhete aos ministros militares armando o bote:

“1) Desejo chamar a atenção de Vossas Excelências para o problema das três Guianas, submetidas a intenso trabalho autonomista ou de emancipação nacional, com a presença de fortes correntes de esquerda, algumas, reconhecidamente, comunistas.

2) Cumpre traçar, com urgência, planos em relação às mesmas, e executá-los.

Haverá, ainda, a possibilidade da nossa penetração nesses três Estados e, eventualmente, a da integração respectiva, no todo ou em parte, a nosso país?”

INSISTIU NO TEMA – Uma semana depois ele voltou ao tema, anunciando que trataria das Guianas numa próxima reunião ministerial.

No dia 21 de agosto haviam-se realizado eleições na Guiana Inglesa, vencidas pelo primeiro-ministro Cheddi Jagan, um líder popular, que se afastava da Inglaterra.

Jânio voltou ao assunto, no dia 23, sem falar em anexação territorial, e escreveu aos ministros militares:

“Excelências:

1) Com as recentes eleições da Guiana Britânica instalar-se-á, sem dúvida, ao Norte do Brasil, um país de estrutura soviética. Conheço o dirigente desse novo governo e considero-o da mais alta periculosidade;

2) Solicito de Vossas Excelências, nas respectivas pastas e no Conselho de Segurança, a máxima vigilância no que respeita à infiltração comunista nas Forças Armadas e nos setores fatais [vitais] da economia e do trabalho da nação.”

RENUNCIOU – No dia 25 de agosto, Jânio teve outra ideia e renunciou à Presidência da República achando que voltaria ao poder nos braços do povo.

Deu no que deu.

(Dois anos antes, o cubano Fidel Castro havia renunciado ao cargo de primeiro-ministro depois de se desentender com o presidente Manuel Urrutia. Dias depois o povo reconduziu-o ao poder.)

EREMILDO, O IDIOTA – Eremildo é um visionário e defende a criação de um organismo supranacional para resolver todos os problemas do mundo, sem que o Congresso de cada país possa barrar suas decisões.

O cretino achou correta a decisão do Itamaraty de classificar o plebiscito para decidir a questão da anexação do Essequibo como “um assunto interno da Venezuela”.

Eremildo teme apenas que Javier Milei resolva denunciar o laudo arbitral do presidente americano Grover Cleveland de 1895 e convoque um plebiscito para que os argentinos decidam se ele deve anexar o oeste de Santa Catarina.

Campos Neto dá aviso indireto a Rui Costa sobre PAC com investimentos públicos

Ilustração de Caio Gomez (Correio Braziliense)

Denise Rothenburg
Correio Braziliense

Ao traçar o cenário de 2024 para um grupo de parlamentares na Frente Parlamentar do Empreendedorismo, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez um alerta para o governo. Em especial, ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, que planeja trazer crescimento econômico via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com investimentos públicos, como se tentou fazer no governo Dilma Rousseff.

“Achar que vai crescer com investimento público, a gente não consegue fazer isso”, disse Campos Neto.

INVESTIMENTO PRIVADO – O presidente do Banco Central assinalou que, dos 19% investidos no Brasil, o setor privado contribui com 17% e o setor público com apenas 2%.

“Temos que fazer o dever de casa. Importante passar a mensagem de consolidação do arcabouço fiscal”, afirmou.

Obviamente, o presidente do BC não citou nem o PAC nem Rui Costa. Mas, para os parlamentares bons entendedores da política presentes à palestra de Campos Neto, o recado tem nome e endereço.

HADDAD (AINDA) TEM LASTRO – Os operadores do mercado financeiro veem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como a personalidade de destaque do governo, conforme detecta a nova pesquisa da Fatto Inteligência Política. O segundo destaque vai para o secretário especial da Reforma Tributária, Bernard Appy.

Se tiver juízo, o  PT precisa apoiar mais decididamente o seu ministro da Fazenda. Afinal, o mercado não fecha com o governo para o que der e vier, mas apoia Haddad.

Pelos dados da pesquisa, Lula, neste primeiro ano, não conseguiu obter a confiança total dos agentes financeiros.

Antissemitismo exibe a podridão moral das elites progressistas nos Estados Unidos

ONU alerta para avanço do antissemitismo na Europa e nos Estados Unidos | As Nações Unidas no Brasil

ONU tem criticado o antissemitismo nos EUA e na Europa

Mario Sabino
Metrópoles

Uma comissão do Congresso dos Estados Unidos ouviu esta semana, em audiência sobre as manifestações antissemitas nos campi universitários do país, ocorridas depois da eclosão da guerra entre Israel e o Hamas, as presidentes de três das mais prestigiosas universidades americanas: Claudine Gay, de Harvard, Liz Magill, da University of Pennsylvania, e Sally Kornbluth, do Massachussetts Institute of Technology. As respostas delas mostram o apodrecimento moral de uma elite que se guia pelo relativismo progressista.

A deputada Elise Stefanik fez a seguinte pergunta a Claudine Gay, Liz Magill e Sally Kornbluth: “Incitar ao genocídio dos judeus viola o código de conduta ou as regras da sua universidade relativas a bullying ou a assédio?”.

A MESMA RESPOSTA – As três presidentes deram basicamente a mesma resposta, assim resumível: “Depende do contexto, de o discurso se tornar ação”. Ou seja, a incitação ao genocídio só violaria as regras dessas instituições se judeus fossem efetivamente massacrados.

É escandaloso. É de um cinismo nojento. Incitar ao genocídio dos judeus não tem nada a ver com liberdade de expressão, como quiseram fazer supor Claudine Gay, Liz Magill e Sally Kornbluth, por meio das suas respostas abjetas.

É discurso de ódio sob medida para alimentar as violências físicas e psicológicas que vêm sendo cometidas contra estudantes universitários judeus pela horda antissemita que prega a destruição de Israel, em nome de uma Palestina que vá “do rio (Jordão) até o mar (Mediterrâneo)”.

FORTE REAÇÃO – Como não poderia deixar de ser — ainda bem — a indecência causou clamor dentro e fora das instituições que elas presidem. Horas depois, Liz Magill pediu desculpas: “Naquele momento, eu estava focada nas políticas de longa data da nossa universidade alinhadas com a Constituição dos Estados Unidos, que diz que o discurso por si só não é punível. Eu não estava focada, mas deveria estar, no fato irrefutável de um apelo ao genocídio do povo judeu é um apelo a uma das mais terríveis violências que seres humanos podem perpetrar. É o mal, pura e simplesmente”.

Claudine Gay também se retratou: “Há quem confundiu o direito à liberdade de expressão com a ideia de que Harvard tolera incitações à violência contra estudantes judeus. Vou ser clara: incitações à violência ou genocídio contra a comunidade judaica ou qualquer grupo religioso ou étnico são vis, não têm lugar em Harvard, e aqueles que ameaçam nossos estudantes judeus serão responsabilizados.”

Ambas só se desculparam porque se viram obrigadas a fazê-lo (Sally Kornbluth ainda não havia se manifestado até o fechamento deste artigo). Difícil acreditar que a resposta das presidentes das três universidades seria a mesma se a pergunta da deputada Elise Stefanik fosse sobre incitação ao genocídio de negros, como Claudine Gay. É que no relativismo progressista e antissemita uns são mais relativos do que os outros. Podridão moral.

Se puder, o PT pega, mata e come Haddad, que é criticado publicamente pelo partido

Em evento do PT, Gleisi defende déficit fiscal, e Haddad diz que gasto maior não garante crescimento

Enquanto Haddad se explicava, Gleisi fazia caras e bocas

Vinicius Torres Freire
Folha

O governo tem dez dias para aprovar no Congresso os aumentos da receita de impostos e a reforma tributária. Às vésperas desses dias decisivos para o sucesso econômico de Lula 3, o PT pendurou Fernando Haddad em um poste e o malhou feito um Judas. Faltou chama-lo de traidor.

No sábado (9), diante de Haddad, a deputada Gleisi Hoffman, presidente do PT, disse que, por ela, o déficit seria “de 1%, 2%” do PIB em 2024. Um dia antes, no texto de uma resolução do PT, que ainda pode ser revisado, lia-se que “não faz sentido” “a pressão por arrocho fiscal exercida pelo comando do BC, rentistas e seus porta-vozes na mídia e no mercado. O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal…”.

BESTEIRAS MAIORES – Na prática, os manifestos do PT não fazem quase diferença alguma. Lula decide, mas Haddad tem evitado as besteiras maiores propostas por colegas de ministério e partido.

No entanto, o Congresso pode apresentar a conta para o ministro da Fazenda: “você quer dinheiro, mas seu partido não ajuda”. Além do mais, o PT chutou o centrão, o que é legítimo, mas não alivia o desespero desta quinzena legislativa final.

Não é novidade que o PT tenha tais ideias. Lula começou a abrir as porteiras para esse pensamento mágico-tosco na virada para seu segundo mandato. De início, não causou muito dano. A dívida caía e o governo tinha burras cheias de dinheiro. Agora, o país está estagnado faz uma década, o dinheiro acabou, a dívida é enorme e é difícil arrumar receita para pagar ao menos a despesa primária. Lula pode voltar a liberar a boiada? Essa dúvida custa caro.

ENTENDA O DEFICIT – Notem que Gleisi fala de déficit PRIMÁRIO de “1%, 2%” do PIB. A meta de Haddad é zero; dificilmente o déficit será menor do que 0,7%. Porém, o déficit total (“nominal”) do governo central, nos últimos 12 meses, foi de 6,84% do PIB (R$ 724 bilhões).

O déficit primário foi de 1,03% do PIB (falta para pagar despesas correntes) e a conta de juros foi de 5,8% do PIB (pagos com mais dívida). Essa conversa está podre de velha, mas ainda causa estupefação, inclusive para não-liberais; dá vergonha discutir coisa tão tosca.

O PT acusa rentistas, entre outros, de querer limitar o déficit. De onde vai tirar dinheiro para financiar o déficit e o pagamento dos juros? Vai tomar emprestado dos rentistas, entre outros.

E OS JUROS? – De quanto será a taxa de juros? Em parte, será a Selic, definida pelo Banco Central. Na maior parte, para empréstimos de prazos maiores, não. A Selic influencia essas outras taxas, mas não as determina.

Quem diz quanto vai custar o empréstimo? Rentistas e outros credores: 27,4% da dívida mobiliária federal fica com previdência privada e seguradoras (que precisam deixar dinheiro em lugar seguro, para fazer os pagamentos que devem); 23,5% com fundos de investimento (poupança privada, dos mais ricos e mesmo remediados que tenham um “fundo de banco”); 4% com instituições do governo; 10,2% com não-residentes no país; 28,3% com instituições financeiras (mas nem todo esse dinheiro “é do banco”).

Uma dívida que cresce sem controle vai fazer com que os credores peçam taxas de juros maiores, tudo mais constante.

CALOTE SUICIDA – Qual é o plano, então, afora um calote explícito e suicida? Tabelar os juros, de modo direto ou indireto, com financiamentos ou intervenções do BC (ora ilegais)? Supondo que essa ideia não cause tumulto imediato (causará), o que fazer da inflação, que subirá também por causa da desvalorização do real (muito rentista não ficará com seus haveres em reais)? Para quem lê ao menos jornais, é fácil perceber que isso lembra a Argentina.

Melhor do que tomar emprestado dos ricos é cobrar-lhes imposto, mas até isso tem limite e é politicamente difícil. Dívida maior enriquece rentista.

O desânimo é muito grande.