Pedro do Coutto
Os organizadores, financiadores e os idealizadores do 8 de janeiro, um ato de desespero contra a democracia, deixaram que os integrantes das caravanas que invadiram Brasília se danassem em meio às depredações que praticaram, pois a tentativa de golpe contra Lula havia sido vetada pelo comando do Exército, como revelou Andréia Sadi, em matéria publicada no O Globo deste domingo.
A reportagem resultou de uma entrevista com o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército e o texto deixou claro que a cúpula de golpistas sabia do veto, já que numa reunião no Palácio do Planalto o general Freire Gomes, a quem Tomás Paiva sucedeu no comando, havia vetado frontalmente o projeto de golpe exposto por Jair Bolsonaro, ameaçando-o até de prisão.
ATENTADO – Mas, os subversivos, extremistas da direita, mesmo assim, armaram um atentado à bomba para o aeroporto de Brasília e invadiram a cidade com multidões irresponsáveis, no dia 8 de janeiro. Os invasores e depredadores foram, portanto, os robôs humanos de um desespero fanático. Os que financiaram e organizaram as caravanas estavam, no fundo, pouco se importando com o destino dos que passaram da teoria à prática. Hoje, respondem às penas da lei e os principais protagonistas estão sendo condenados à prisão.
Por aí se vê o desprezo dos que estruturaram os movimentos em relação ao futuro de todos os que se lançaram na rota da subversão. Os incentivadores e financiadores nesta altura estão longe dos fatos. Mais uma vez, a história se repete. Aqueles que mandaram milhares de pessoas para a frente da invasão, hoje não atendem sequer os telefonemas.
ANISTIA – Luiza Marzullo e Marlen Couto, O Globo desta segunda-feira, revelam que a maioria das deputadas federais estão apoiando o projeto constitucional de anistia aos partidos, texto no qual foi incluído um dispositivo flexibilizando o preenchimento de cotas reservadas às candidaturas de mulheres. Supresa? Sem dúvida. Mas existe uma explicação.
Como o eleitorado aumenta de ano para ano, se o número de candidatas permanecer, as atuais deputadas ganham mais possibilidade de reeleição, levantando a bandeira legítima do feminismo na política e na administração pública. Assim, o voto de eleitoras vai se dirigir, como é natural, em grande parte para mulheres que já estão desempenhando os seus mandatos. Política é assim. A reportagem acentua que uma pesquisa assinala o apoio à emenda por parte de 76% das deputadas.
ESQUERDA – Numa excelente matéria publicada na Folha de S. Paulo de domingo, Ângela Pinho fala sobre a esquerda no mundo e suas várias fases. Ela lembra que o termo surgiu no final do século XVIII com a Revolução Francesa. Mas houve uma série de mudanças que foram registradas nos séculos XIX, XX e agora no XXI.
Já foi uma posição radical, como a União Soviética de 1917. Anti-religiosa também. Mas deixou de ser. A extrema esquerda não existe mais. E nem a ideia do fim da propriedade privada. Hoje, a meu ver, ser de esquerda é se basear no humanismo cristão e de valorização do ser humano pelo trabalho e ser favorável a uma efetiva redistribuição de renda que só pode ser alcançada por intermédio do trabalho e dos salários.
RENDA – Os salários, conforme sempre digo, não podem perder para a inflação. Enquanto isso não ocorrer, a redistribuição de renda não sai do papel e do discurso. A inflação gera lucros. Se não gerasse, ela não teria se mantido através de vários séculos. A posição, aliás, mudou de esquerda para centro-esquerda. A extrema-esquerda desabou com a queda do muro de Berlim em 1989.
No Brasil, a esquerda democrática, adversária do Partido Comunista, surgiu na redemocratização de 1945 como uma sub-legenda da UDN. Em 1950, se transformou no Partido Socialista Brasileiro, tendo como candidato à Presidência, João Mangabeira. As eleições de 1950 foram vencidas por Getúlio Vargas.