Tornar-ser mero papagaio da propaganda antissemita não é um destino que se inveje…

Dois fuzis apontando para direções opostas, uma em preto e outra em vermelho, ornadas por estrelas de Davi estilizadas e por arabescos de tabuleiro de gamão

Ilustração de Angelo Abu (Folha)

João Pereira Coutinho
Folha

Terroristas do Hamas entram em Israel para massacrar e sequestrar mulheres, crianças e velhos. Há quem festeje. Há quem não festeje, mas “compreenda” a barbárie como um ato de resistência contra a política israelense. Não vou comentar nada disso. Com a idade, deixei de gastar o meu latim com psicopatas ou antissemitas. Só abro uma exceção para pessoas que suspeito mal informadas ou mal influenciadas.

Nesses casos, há uma pergunta que sempre faço a elas: “por que motivo você esbraceja tanto contra Israel, mas não adota a mesma postura com outros países que cometem atrocidades bem piores?”

MUITOS EXEMPLOS – Pense na China perseguindo os uigures. Pense em Mianmar fazendo o mesmo aos rohingyas. Ou na Índia brutalizando os muçulmanos da região de Caxemira. Agora mesmo, há uma limpeza étnica a decorrer em Nagorno-Karabakh, com mais de 100 mil armênios fugindo às investidas do Azerbeijão.

Um antissemita não dá bola para nenhum desses conflitos. Não há lá judeus para acusar. Mas quem recusa o rótulo de antissemita, tem de responder por sua gritante incoerência: por que Israel e não os outros?

Sempre faço essa pergunta, repito. Mas vejo agora que não sou caso único: o jornalista Jake Wallis Simons, no seu recém-publicado “Israelophobia: The Newest Version of the Oldest Hatred and What To Do About It”, repete a pergunta com insistência. Só para mostrar como a “israelofobia” que corre solta é, na verdade, uma forma de antissemitismo.

CRITIQUEMOS ISRAEL – Ponto prévio: para Simons, criticar Israel é legítimo; não existe nenhum estado que esteja acima da crítica. Assino em baixo. Os assentamentos na Cisjordânia, o irredentismo dos fanáticos que desejam um “Grande Israel” entre o Mediterrâneo e o rio Jordão ou as pulsões populistas e iliberais de Binyamin Netanyahu com sua grotesca reforma judicial, tudo isso merece repúdio.

O que não é legítimo é só criticar Israel com uma obsessão particular, ignorando o mundo ao redor. Isso é suspeito, camarada. Isso é antissemitismo, quer você esteja consciente ou não.

Mas Simons tem outras perguntas para você. Como essa: “Diga um país que, historicamente falando, tenha uma ficha moral mais limpa que Israel.”

É FICHA SUJA – Uma vez mais, Simons não afirma que a ficha moral de Israel é limpa. Não é. Longe disso. Ele apenas convida o leitor a responder por que motivo Israel é o único país que, na linguagem da “israelofobia”, não tem “direito a existir” por seus erros ou crimes.

Se Israel não tem, quem tem? Os Estados Unidos? A China? O Irã? Os países árabes da região? Aliás, falando nisso, você consegue citar um país do Oriente Médio que tenha uma ficha mais suja que Israel? Um só? Ou, inversamente, você é capaz de citar algo de admirável em Israel?

Se você não sabe responder a essas perguntas, cuidado com as companhias, alerta Simons. Elas sabem responder sem hesitar, colocando Israel no grande altar da monstruosidade. Isso é antissemitismo e ser um mero papagaio da propaganda antissemita não é destino que se inveje.

SALVAR UMA VIDA – O livro de Jake Wallis Simons saiu no momento certo. Só para despertar em cabeças saudáveis a hipótese da manipulação ou do desconhecimento. Também aqui se aplica o preceito judaico de que salvar uma vida é salvar a humanidade inteira.

Mas o livro é também útil para relembrar a natureza do Hamas. Nessa visão das coisas, o Hamas quer o mesmo de sempre: um estado palestino independente ao lado de Israel, o fim dos assentamentos, o retorno dos refugiados das guerras de 1948 e 1967 e a divisão de Jerusalém entre os dois povos.

Se esse fosse o programa das festas, até eu concordaria com eles. Fatalmente, é preciso ler a carta fundamental do grupo onde os objetivos são outros e, até hoje, imutáveis: a destruição do estado de Israel. Ponto final. Para usar o mesmo teste de coerência, você até pode concordar com esse objetivo. Mas, concordando, você terá de defender a destruição de todos os países onde reina ou reinou a injustiça, o abuso e até o crime. Começando pelo seu, claro.

10 thoughts on “Tornar-ser mero papagaio da propaganda antissemita não é um destino que se inveje…

  1. Existe política israelense ou simplesmente o maléfico jogo de seus fundadores e manipuladores “khazarianos”, que juntaram duas escaramuças para dizimando suas populações, criar sua nova e idealizada “khazaria”, na Ucrania!

  2. Cerca de 150 manifestantes realizaram um ato em apoio à Palestina – e à ação do Hamas– nesta 3ª feira (10.out.2023), em Brasília. O protesto foi realizado em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, região central da capital federal. O ato é realizado 4 dias depois do ataque realizado pelo grupo extremista Hamas contra Israel, no sábado (7.out). Em resposta, o governo israelense bombardeou alvos na Faixa de Gaza. Quase 2.000 pessoas já morreram no conflito….

    Leia na fonte: https://www.poder360.com.br/brasil/brasilia-tem-ato-a-favor-dos-palestinos/

    Qual é o poder ou ministério que deve se insurgir contra isso ?

  3. Fica aqui uma pequena contribuição a nivel de ideia que poderia ser o começo da solução do drama palestino-israelense.

    A curto prazo, infelizmente, a única politica possivel é a de contenção de danos, Israel com certeza já está retaliando na faixa de Gaza e muitos inocentes pagarão o preço absurdo das ações de alguns terroristas, que com certeza não é a maioria dos palestinos que vivem em Gaza. Assim o mundo tem que ajudar a minimizar os danos que Israel vai infligir àquela população. Corredores humanitários para fuga de crianças e gente indefesa bem que poderia ser realizados.
    Já a prazo mais longo uma coisa é certa. Israel vai reocupar a faixa de Gaza e o que fazer com a enorme população palestina que habita o local? Lanço aqui uma idéia:
    INVISTAM NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS PALESTINAS! Elas precisam ser desideologizadas. A única ideologia que conhecem é a do ódio aos judeus, a crença que para existirem eles tem que exterminar até o ultimo judeu na face da terra. Isso além de absurdo é totalmente impraticável, nem os judeus tem que exterminar os palestinos e muito menos os palestinos irão exterminar os judeus. Eles tem aprender a conviver, seja em 2 estados distintos ou dentro de um mesmo país.
    Na fronteira da faixa de Gaza com Israel não é aconselhável existir ocupação civil, apenas militar(provavelmente do Estado de Israel, porem o ideal é que fosse da ONU, porém Israel dificilmente aceitaria), mas mesmo assim não é impossível aplicar um plano de reeducação de crianças palestinas nesta area militarizada. É do interesse do mundo todo e principalmente do estado de Israel que é o lado forte do conflito e por isso mesmo tem a obrigação de propor soluções que ao menos minimizem o sofrimento dos palestinos e por que não dos próprios judeus que na sua maioria esmagadora querem a paz e não querem a aniquilação dos arabes palestinos.

    • “Ativistas Entre os Colonos Judeus Advertem Que o Governo Israelense Planeja um Ataque Maciço Contra os Palestinos na Faixa de Gaza Após a Remoção dos Colonos.”
      “O propósito do Desengajamento Unilateral, que envolve a remoção dos colonos judeus assentados nas áreas predominantemente palestinas, é cumprir as profecias de Obadias 15-18 e Ezequiel 34. A advertência desses ativistas revela que muitos em Israel têm conhecimento dos planos genocidas de Sharon.”
      Publicado em 31.07.2005.
      https://www.espada.eti.br/n2058.asp
      PS. Como se vê, há meios e fins!
      Há “dendos”, em:
      Rabino Weiss-Um Segredo para contar ao Mundo!
      https://youtu.be/4JrGN_QJj4o?si=_AXTjb-1j_ht9fCP
      PS Ouçam!

  4. Assim fica difícil. Se formos seguir essa lógica de perseguição antissemita e israelofobia, então do mesmo modo não podemos criticar a Rússia na Ucrânia sob o risco de incorrer em russofobia.
    Com o devido respeito às vitimas inocentes de ambos os lados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *