Brasil vive a guerra civil por outros meios, como a discussão sobre impostos e gastos

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Charge do JCaesar *Veja)

Vinicius Torres Freire
Folha

O Brasil passa por uma daquelas fases acirradas de disputa por dinheiros públicos. Está pior também porque o Orçamento está quase esgotado e há limite, econômico e/ou político, para o aumento da carga de impostos. Sem solução, esse conflito já terminou em inflações medonhas. Mas pode se arrastar a perder de vista, como em tantas outras questões, o que temos visto nas últimas quatro décadas de quase estagnação.

Um “casamento com a mediocridade”, como escreveu o economista Samuel Pessoa, em sua coluna de sábado nesta Folha. Não que o país fosse melhor antes. Preparava o impasse socialmente bárbaro em que está metido.

ENORME DESFAÇATEZ – O conflito aparece como delírio, desinformação, propaganda, sectarismo e desfaçatez de classe, o que costuma passar por debate público. O grau de descaramento ora parece exorbitante. A Reforma Tributária e o “déficit zero” são os ringues da vez.

Empresários costumam se juntar nesses seminários de associações de classe ou similares, quando não raro chamam autoridades para ressaltar o evento de propaganda. Falam de “reformas”, do “manicômio tributário”, “alternativas para o Brasil”, essas papagaiadas.

Na Reforma Tributária, boa dessa gente e profissionais liberais ricos fazem lobby para cavar favores, dinheiros. É um caso maior do comportamento habitual de enfiar jabutis em leis, de obter graças da Justiça, de governador, de prefeito.

DESCARAMENTO – Tais favores arrombam a situação fiscal e pioram o “manicômio tributário”. Acontece também em outras reformas e em privatizações. O descaramento está grande.

Alguns pedem de fato um Orçamento mais racional ou eficaz. No conjunto, dinamitam fundações de um prédio que, dizem, precisa de reformas em alguns andares.

Se pudessem, empurrariam a conta toda para quem recebe benefícios da Previdência e assistência social, para a saúde, para servidores (sim, parte da elite dos servidores saqueia o Orçamento). Etc. Boa parte desse empresariado não está nem aí para a razia do bem público: achando que fariam dinheiro, apoiaram até o plano golpista de Jair Bolsonaro.

RICOS SE PROTEGEM – Pode-se e se deve mexer no Orçamento, mas os ganhos de eficiência teriam de voltar para a despesa. O país é pobrinho, desigual e carece de investimentos. A esquerda acha ou finge que o problema inexiste. De acordo com a propaganda oficial, diz que o governo vai colocar o “pobre no Orçamento e o rico no imposto”. Os ricos driblam o imposto, muita vez com ajuda do governo, e o Orçamento explodiu.

Quando se sugere a contenção do déficit, dizem que se quer dar esse dinheiro da redução da despesa a ricos e à finança, um delírio. Óbvio que “mais déficit” é que dá mais dinheiro a quem empresta ao governo, os mais ricos. A alternativa seria o calote e o confisco, explícito ou via inflação. Sugiram isso, então.

Há triste ignorância, como dizer que metade do Orçamento federal é gasta com juros ou com dívida. A receita do governo paga parte das despesas primárias (como há déficit, é preciso tomar dinheiro emprestado para pagar a conta toda). Mas a dívida que vence e seus juros são “pagos” com novas dívidas.

2 thoughts on “Brasil vive a guerra civil por outros meios, como a discussão sobre impostos e gastos

  1. Usar o Estado tributador para sustentar a mamata de juízes e promotores.

    Estado gigante, ineficiente, perdulário

    A Derrama mandou lembrança

  2. Quem ganha com a bola de neve da dívida pública?

    Quantos banqueiro e assemelhados assinaram a carta em apoio ao atual presidente?

    Lembrando palavras do Lula antes de ser eleito:

    “Obviamente que, tendo em vista os lucros que tiveram o Itaú, o Bradesco e os outros bancos, o Fernando Henrique Cardoso não é nem pai: ele é pai, mãe, avô, avó, tio, tia do sistema financeiro, que nunca ganhou tanto dinheiro como está ganhando agora”.
    (Candidato Lula, 2001, Entrevista a Ziraldo)

    Palavras do Banqueiro depois que Lula foi eleito:

    “Quando ele foi eleito, eu tive uma preocupação de que levasse o governo para uma linha de esquerda, mas ele foi mais conservador do que eu esperava”.
    Olavo Egydio Setúbal, presidente do conselho de administração da holding que controla o banco Itaú.
    (12/08/2006)

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