Não há governo! Nas ruas, todos seguem esmagados pelas patas do poder público

Chuva alaga ruas do Rio; Paes pede que carioca evite sair - 21/01/2024 -  Cotidiano - Folha

Morador comprou gelo para tentar salvar os alimentos

Luiz Felipe Pondé

Folha

Em São Paulo temos algumas certezas. A cada dia seremos mais assaltados nas ruas, nos afogaremos mais nas tempestades, ficaremos sem luz mais vezes e por um número imenso de horas ou dias. E isso nada tem a ver com esquerda e direita. O mal do Brasil está para além dessa “dialética”. São Paulo está à deriva, o Rio está à deriva, o país soçobra na delinquência.

O atraso, como dizia Nelson Rodrigues, não cai do céu, há que construí-lo arduamente. Há séculos que investimos no atraso, na ignorância, na corrupção, no crime, na miséria.

PACIENTE TERMINAL – O Estado brasileiro faliu administrativamente e moralmente. A sociedade brasileira é um paciente terminal. O crime organizado paulatinamente toma conta de tudo, e o Estado fica pegando no pé do cidadão comum, enchendo o saco com temas de costumes.

Não pode usar a expressão “família tradicional”, tá? “Cuidado com os pronomes em sala de aula”. A judicialização da sala de aula é a próxima fronteira do mercado jurídico. Uma festa: em vez de processar bandidos profissionais, processaremos adolescentes mal-educados.

Aliás, a “família brasileira” é uma várzea. Ouvi, recentemente, num país da Europa, como era chocante ver muitas crianças brasileiras jogadas às traças —vale dizer que esse comentário surgiu num ambiente de profissionais da educação e saúde mental.

FÁCIL E DIFÍCIL – Confessemos: nada mais fácil do que atormentar gente comum porque disse X ou disse não se importar com Y. O difícil mesmo é pegar bandido, seja ele chique ou assassino pago. A “justiça” pode perseguir qualquer profissional por aí facilmente, tirar sua vida, seu ganha-pão, assediá-lo, condená-lo ao ostracismo, mas impedir que o país naufrague no crime organizado são outros 500.

Muito mais fácil acusar todo mundo disso, daquilo e daquilo outro do que conter o processo através do qual vários setores da economia no país vão sucumbindo à lavagem de dinheiro. Mais fácil discutir, elegantemente, a discussão da discussão —repetição proposital— da segurança pública do que, de fato, impedir que a sociedade brasileira marche para a condição do Equador.

PERDEU A BATALHA – Não há mais salvação na “luta” contra as drogas. O Estado perdeu a batalha. Todo mundo sabe disso, o resto é pra inglês ver.

Reconheçamos: o “projeto latino-americano” fracassou como sociedade na imensa maior parte do continente. O Brasil, uma terra de cínicos, se afoga em termos da moda saídos das mais inúteis ciências humanas, enquanto vê o país se transformar numa imensa usina de pessoas antissociais. Golpes, fraudes, assaltos, assassinatos, corrupção.

O Estado brasileiro é de uma inutilidade quase absoluta. Morre-se a rodo, ninguém na verdade tá nem aí, mesmo os que ganham eleições e dinheiro dizendo que estão.

ESQUERDA E DIREITA – E isso nada tem a ver com esquerda e direita, repitamos o mantra. A esquerda esteve no poder federal na maior parte do tempo nos últimos anos. Fracassou redondamente. Só não se diz isso claramente porque a inteligência pública brasileira é quase toda corrupta: lavam-se ideias sujas e comportamentos sujos, assim como o mercado lava dinheiro sujo.

A direita teve sua chance no governo federal e fracassou vergonhosamente, ridiculamente e de forma canalha durante a pandemia. Um dos maiores pecados do “experimento bolsonarista” foi ter nos levado ao horror de ver, em 2022, que a gangue petista era, naquele momento, um mal menor.

É MAIS TRANQUILO – Venhamos e convenhamos, é muito mais tranquilo perseguir, acossar, cobrar, destruir pessoas comuns, amedrontadas pelas patas do poder público, do que enfrentar gangues, narcotráfico, usuários de crack, assassinos, políticos safados, e grandes negócios regados a dinheiro sujo.

O Estado e seu clero de inteligentes ficam discutindo amenidades, tipo “Isso é gordofobia ou não é?”, “Isso é sexismo ou não é?”, “Os evangélicos são gente reacionária sem salvação ou não?”, enquanto nas ruas todas as gentes de todas as cores são esmagadas pelas águas, pela miséria, pela desesperança.

Temo que as autoridades desse país desistiram. Umas talvez por preguiça, a maioria seguramente por canalhice, vaidade e oportunismo.

15 thoughts on “Não há governo! Nas ruas, todos seguem esmagados pelas patas do poder público

    • Discordo, eu não me considero culpado, pela situação desse País. Culpados são não só nossos políticos e toda a engrenagem pública. Mas a maior parte é também de uma grande parcela da população que só quer levar vantagem

    • Caro conterrâneo

      Ia esftever comentário saudando e elogiando o artigo de Pond’e mas tu dissestes quase tudo.

      Assino combo relator.

      Gosto do Ponde por que claramente e, assumindo tofisbos riscos, não entra na babacao obtigatorio que todo artista ou intelectual deve obrigatoriamente fazer.

      Vida longa a Ponde.

  1. Não há governo! Nas ruas, todos seguem esmagados pelas patas do poder público

    Sr. Newton

    Domingo nas caminhadas pelas ruas do Tucanistaõ vi o desprezo e descaso com a população e daqueles que pagam impostos.

    Nem as coisas mais simples e básicas de uma administração público os Ultra-Extrema-Comuna-Direitistas-Centristas-Vagabundistas conseguem fazer.

    Pondé bateu no fígado dessa gentalha vagabunda calhorda incompetente e corrupta, tudo com a benção da Ultra-Extrema-Comuna Midia Nefasta e também corrupta.

  2. É MAIS TRANQUILO – Venhamos e convenhamos, é muito mais tranquilo perseguir, acossar, cobrar, destruir pessoas comuns, amedrontadas pelas patas do poder público, do que enfrentar gangues, narcotráfico, usuários de crack, assassinos, políticos safados, e grandes negócios regados a dinheiro sujo.

    Pondé deu duas pauladas na cabeça dos Super-Heróis-Vilões, Xandão das Galáxias e o Sinistro de Qualquer Coisa, Tone Montanha., também chamado de Super-Mentirão….

  3. Como sempre, criticar é fácil. O que fazer é que são elas. Pondé não foge à regra.

    O problema da criminalidade continuará a aumentar ou pelo menos estacionar, afinal de contas, a população carente (e sem esperança) é a que mais cresce.

    Ontem ouvi uma entrevista com oúnico brasileiro que assinou uma carta requerendo que a classe mais rica (a que ele pertence) pague mais impostos.impostos. E também falou muitas coisas que a classe dominante esconde. Inclusive a mídia e o autor do texto. Recomendo a entrevista concedida a GZH.

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