Lula pretende formar uma “Lulabrás” com Petrobras, Eletrobras, Vale e outras

PRIORIDADE - Lula: estratégias e ações políticas do presidente estão focadas na conquista de um quarto mandato

Montagem com foto de Ricardo Stuckert (Veja)

José Casado
Veja

O sonho de consumo de Lula é construir uma “Lulabrás”. Nas suas palavras: “O que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos.”

Ainda não se conhece esse “pensamento de desenvolvimento”. Como não foi apresentado na campanha eleitoral de 2022 nem nos primeiros 14 meses de governo, talvez venha a público nos próximos 46 meses de governo. Por enquanto, existem apenas sinalizações sobre futuras políticas setoriais.

NEOINDUSTRIALIZAÇÃO – É o caso da “neoindustrialização”, com a renovação de incentivos fiscais às montadoras de automóveis e a disposição do BNDES em apostar em outro “polo naval” — o quarto, depois de três fracassos nas últimas seis décadas.

É, também, o caso da anunciada “nova política mineral”. O governo dispõe de um estoque de 70 mil áreas para pesquisa, exploração e lavra que pretende leiloar, mas tropeça nas próprias mazelas: a estrutura operacional da Agência Nacional de Mineração é do tempo do papel, inoperante na era digital.

Outro grande impasse governamental é com o petróleo. A Petrobras prevê declínio na produção dos poços do pré-sal do Sudeste na próxima década. Existe a possibilidade de novos e grandes achados no pré-sal da bacia do Amazonas, na chamada margem equatorial (do Rio Grande do Norte ao Amapá).

NA DÚVIDA – Mas o governo joga com o tempo. Devaneia à espera encontrar um ponto de equilíbrio entre a ambição diplomática de liderar a transição energética em bases sustentáveis e a abertura da Amazônia como uma nova fronteira de exploração de petróleo.

Surpreendido com o avanço institucional do Congresso e a consequente perda de poder do governo em relação ao dispunha quando presidiu por oito anos seguidos, no início do milênio, Lula topou com a realidade de uma estreita margem de manobra na economia. Por isso, julga necessário alinhar “as empresas brasileiras” àquilo que, precariamente, define como “pensamento de desenvolvimento do governo”.

Transformou a Petrobras (receita anual de cerca de 600 bilhões de reais) em alvo no palanque eleitoral, e, por ironia, com propostas de intervenção na gestão parecidas com as do adversário, Jair Bolsonaro. No Palácio do Planalto, a “questão Petrobras” é dada como resolvida, fato consumado no 14º mês de governo.

ELETROBRÁS E VALE – Segue pendente a reversão da privatização da Eletrobras (vendas anuais em torno de 30 bilhões de reis). “O pessoal fica nervoso porque o Lula, sabe, denuncia a privatização da Eletrobras”, disse ao repórter Kennedy Alencar,, referindo-se à perda de poder governamental na gestão. “O que fizeram na Eletrobrás foi crime de lesa pátria.” Por enquanto, não há perspectiva de reversão na privatização nos termos desejados pelo governo.

No alvo, agora, está a Vale (faturamento em torno de R$ 400 bilhões). Sobram críticas:

“O que nós queremos é que a Vale tenha mais responsabilidade, inclusive a quantidade de minas que está na mão da Vale e que ela não explora há mais de 30 anos e fica funcionando como se fosse dona e vendendo. A Vale, ultimamente, está vendendo mais ativo do que produzindo o minério de ferro. E ela está perdendo o jogo para algumas empresas australianas.”

ACUSAÇÕES – Sobram, também, acusações: “A Vale não explica para a sociedade brasileira o compromisso dela com a empresa da Guiné-Conacri [a BSGR, do bilionário israelense Beny Steinmetz]. Ele não explica por que desistiram de uma ação de 500 milhões de dólares porque a parte contrária descobriu que o diretor da Vale estava envolvido na corrupção e eles preferiram abandonar o processo. E a Vale não explica porque que ela desistiu da mina [de carvão] de Moatize, em Moçambique, que foi um esforço para a gente conseguir.”

Duas décadas atrás, quando o mundo era outro, ele quis impor seus planos à Vale, na época comandada por Roger Agnelli, executivo da empresa de investimentos do grupo Bradesco: “O que aconteceu na saída do Roger? A gente estava tentando reconstruir a indústria naval brasileira [o terceiro pólo naval, que naufragou na corrupção na Petrobras]. A gente estava tentando construir e a gente queria construir navios grandes. De repente, a Vale vai e contrata três grandes navios de 400 mil toneladas da China. Aí eu chamei o Lázaro Brandão, que era o presidente do Bradesco, e eu falei: ‘Não é possível mais a gente fazendo uma política industrial de construir uma indústria naval e o cidadão [Agnelli] de uma empresa como a Vale não vai comprar’. Então tiramos ele.”

Ele tem planos para submeter a Petrobras, Eletrobras e Vale, entre outras empresas, ao “pensamento do desenvolvimento de governo brasileiro”. Lula sonha com uma “Lulabrás”.

6 thoughts on “Lula pretende formar uma “Lulabrás” com Petrobras, Eletrobras, Vale e outras

  1. Sr. Newton

    Tenho um nome fantasia mais sugestivo..

    RoubaBrás…

    Como dizia Dona Bela na Escolinha do Professor Raimundo

    “Eles só pensam naquilo…”… (roubar o povo).

    Grande Abraço…

  2. Pois eu tô é na torcida para que isso aconteça, chega de usar as estatais como vaca leiteira para enriquecer acionistas vagabundos que nem brasileiros são. Que sirvam ao seu propósito de alavancar o desenvolvimento do país, foi pra isso que a maioria dos brasileiros votaram no Lula.

  3. Se bem entendi o propósito do artigo, o negócio de desenvolver a indústria nacional é bobagem. As empresas estatais (economia mista) devem dar o maior lucro possível, no menor prazo e, se possível, com a venda de ativos para engordar tal lucro e, assim o mesmo ser dividido entre os pobres acionistas.

    O bom mesmo é comprar equipamentos e tecnologia estrangeira, gerando bons empregos nos países que realizam essas exportações.

    Aí alguns sempre falam nos desvios ocorridos, como se as falcatruas ocorressem somente em empresas públicas.

    Esses também acham que fornecer qualquer tipo de subsídio às nossas indústrias é ruim. Deveríamos deixá-las à mercê do livre mercado. Pensam esses, que os outros países praticam esse tal de livre mercado tão propagandeado, mas pouco praticado.

    E nesse ritmo de sempre, continuamos com nossos déficits em contas correntes e com a renda média dos trabalhadores cada vez mais achatada.

    Quando se fala em reindustrialização, os “patriotas” protestam, sempre usando as mesmas ladainhas intermináveis. Por exemplo, no caso da exploração do petróleo, a nossa opção pela preservação do meio ambiente não deveria ter essa pauta.

    Então tecem loas ao agronegócio da exportação e fecham a mente à degradação do meio ambiente que ele traz junto.

    Quando Trump (principalmente) ou atualmente Biden , agem em defesa das indústrias americanas com subsídios gigantescos ou até retirando petróleo de areias betuminosas num processo altamente poluente, está tudo bem. Quando países europeus ou asiáticos fazem a mesma coisa, também.

    O Brasil não deve imitar esses maus exemplos dizem esses patriotários.

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