Quando militares revelam urdiduras do golpe, cai a tese de perseguição política

Charge do Céllus (Arquivo Google)

Dora Kramer
Folha

O avanço das investigações, o que vai sendo revelado pouco a pouco sobre as preparações golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos mostra muita coisa. Também já torna possível que pessoas presentes na avenida Paulista em 25 de fevereiro, para corroborar a tese da injustiça, considerem a hipótese de terem sido enganadas.

Não digo os fanáticos nem os adeptos da ruptura institucional, mas aqueles que por alguma razão acreditavam que Bolsonaro fosse vítima de narrativa oposicionista.

SEM PERSEGUIÇÃO – Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica à Polícia Federal não permitem que se fale em perseguição política.

O general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior foram escolhidos pelo então presidente por serem afinados com ele. Substituiu militares dados como simpatizantes da esquerda, os chamados “melancias”, no intuito de aliar procedimentos.

Portanto, não sendo políticos de profissão, a motivação deles para dizer o que disseram à PF guardou relação apenas com os compromissos de elogio à verdade e à fidelidade aos preceitos inerentes às prerrogativas das fardas estreladas.

AÇÃO GOLPISTA – Dos relatos se depreende a evidência de que houve mesmo uma tentativa de cooptar o estamento militar para uma ação golpista tanto antes quanto depois das eleições de 2022.

Ficamos sabendo que, no final daquele ano, Bolsonaro não estava doente nem deprimido em função da derrota, como se dizia no entorno dele. Estava mesmo é conspirando para tentar achar um jeito de anular o resultado das eleições e continuar no poder.

Não conseguiu porque não teve apoio. E aqui conta a atitude legalista de militares, mas conta também a falta de anuência do Congresso, a firmeza do Supremo Tribunal Federal, o repúdio internacional e o gosto da maioria da sociedade pelo Estado de Direito. A democracia resistiu, a verdade vem sendo posta e, dando tudo certo, não absolverá seus detratores.

3 thoughts on “Quando militares revelam urdiduras do golpe, cai a tese de perseguição política

  1. Repitam comigo: O golpe não aconteceu porque os Estados Unidos não só não apoiou como foi contra. O resto é suposição. Ponto.

    Vide golpes de 1964, do Chile e outros. Ponto Final.

  2. E se Donald Trump fosse o presidente, o Golpe teria dado certo?
    O componente internacional foi uma ponta do quebra cabeça, um elo da corrente golpista.

    O que pesou, na falta de apoio dos generais do Alto Comando e dos brigadeiros do Alto Comando da Aeronáutica, foi o dia seguinte.
    O que fazer para unir legalistas e golpistas?
    Os golpistas chamavam os legalistas de melancias e davam ordem ( Braga Neto) para entregar a cabeça do general Freire Gomes aos leões ( o que isso significa?) . Pediu para os golpistas, majores e coronéis para perseguirem a família do general Freire Gomes. Romperam o limite da lealdade, da camaradagem, da hierarquia e da disciplina.
    As duas correntes militares entrariam em confronto. Seria deflagrado um banho de sangue entre os irmãos militares, revivendo um episódio parecido no governo Geisel, quando o ministro do Exército, general Silvio Frota planejou um Golpe para depor o presidente Ernesto Geisel.
    Geisel sustou o Golpe, com apoio do general Hugo de Abreu, Chefe do Estado Maior do Exército e número um na sucessão de Geisel.
    Geisel demitir Frota pessoalmente, indo sozinho ao Forte Apache comunicar a decisão ao Ministro. E ainda deu a ordem: Pegue seus pertences pessoais, que o avião está lhe esperando para levá-lo de volta ao Rio de Janeiro.
    Não se sabe mais, do que Geisel falou para Frota, para o ministro abaixar a cabeça e seguir seu rumo. O substituto, vindo do Sul, assumiu imediatamente. Geisel sabia de todas a trama e agiu na hora certa, como um bom estrategista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *