Luiz Felipe Pondé
Folha
Você não sabe o que é “estatística moral”? Proponho que você leia “La Défaite de L’Occident” (A Derrota do Ocidente) do antropólogo, demógrafo e historiador francês Emmanuel Todd, lançado neste ano de 2024, pela Gallimard. Alguns títulos dele estão disponíveis em português, este provavelmente estará em breve, espero.
Não perca tempo com o vício máximo do público contemporâneo querendo saber se o autor é de direita ou esquerda para xingá-lo segundo a vontade do freguês.
SAIU DE MODA – “Estatística moral” era um termo comum no século 19 para se referir a estatísticas de morte por alcoolismo, suicídio, homicídio e similares em uma determinada sociedade. Como tudo que se refere a moral, e a vícios e virtudes, o termo saiu de moda no tempo regressivo em que vivemos.
Putin ganhou a eleição de novo e com folga. Evidente que “observadores e especialistas ocidentais” disseram que as eleições na Rússia são favas contadas. Ninguém sabe ao certo como se contam essas favas, mas as “certezas” acerca da Rússia são algumas das maiores falácias praticadas pela inteligência pública do lado de cá.
Proporia um procedimento na sua versão hiperbólica: não leve em conta nada que se diga acerca da Rússia se vier da imprensa implicada com a ideia de que os russos e Putin são monstros que bebem sangue de crianças no café da manhã.
CABELO AZUL – O marco teórico da maioria dos especialistas ocidentais acerca da Rússia é o que uma menina de cabelo azul de 17 anos pensa sobre Putin. Se ela invadir igrejas e cantar coisas da banda Pussy Riot, demonstrando seu feminismo infantil, então, ela é o máximo da consciência política russa.
Mas voltemos à estatística moral desde a subida ao poder de Putin. Todd mostra os números em queda sustentada de mortes por alcoolismo, suicídio, homicídio, mortalidade infantil desde o início da era Putin — desde o ano 2000 mais ou menos. Tais dados revelam uma Rússia em processo de melhoria social significativa e de estabilidade social.
A partir da invasão da Crimeia em 2014, quando o Ocidente começou sua ladainha de que Putin ia se arrebentar internamente, a Rússia se preparou para boicotes econômicos, até chegar 2022 com a guerra da Ucrânia, quando expulsaram a Rússia do sistema financeiro internacional.
SEM APOCALIPSE – Nova onda de previsões do apocalipse russo veio em escala. Não se trata de torcer pelo Putin; Lula e Bolsonaro, e Índia e China já o fazem. Trata-se de apontar a anomia da inteligência ocidental, que, como um aluno de jornalismo do centro acadêmico pensa, apenas repete máximas horrorizadas acerca da Rússia sem enxergar um palmo adiante do nariz.
A Rússia criou um sistema de cartão de crédito e operações financeiras completamente independente do resto do mundo, que, ao lado da imensa potência que o país é em produção de bens agrícolas, fósseis e industriais para manutenção da vida cotidiana da sua população, fez com que a Rússia tenha se recuperado do que se supunha ser seu fim porque não obedeceu à Otan e à Comunidade Europeia.
A Rússia é mais rica do que pensa nossa vã geopolítica ocidental.
MENTALIDADE RUSSA – A tensão e o distanciamento do Ocidente — incluindo aí o período soviético — são, entre os russos, uma tradição que remonta a séculos, tocando mesmo a recusa do catolicismo romano em favor da ortodoxia grega. O século 19 é marcado por essa recusa de tornar-se um país “europeu”. O desprezo pelos modos de vida “europeus” deita raízes profundas na mentalidade russa atávica.
Cada vez que Putin demonstra esse desprezo pelo Ocidente, a imensa maioria dos russos se identifica com ele, ao contrário do que as meninas do Pussy Riot representam.
Um dos detalhes que Todd aponta no livro é que, ao contrário do que se diz no Ocidente, a população russa está muito mais próxima do seu governo —isto é, sente-se mais representada e apoia a guerra —, do que grande parte do povo europeu e americano — não uso a expressão ridícula estadunidense. Estes vivem sob uma espécie de oligarquia liberal travestida de democracia, sustentada por uma elite composta de bandos de riquinhos egressos de universidades de esquerda.
Interessante e elucidativo, pelo menos para analfabetos políticos como eu.
Ou seja , quem mais perdeu com a guerra ” Rússia & Ucrânia ” , foram os próprios países Europeus lacaios dos USA , ao se privarem do uso dos ” oleodutos/gasodutos construídos em consórcio com Rússia e terem que importar petróleo e seus derivados de além mar e dos USA muito mais caro , quem estimularam o golpe de estado na Ucrânia em 2014 e a perseguição implacável aos habitantes da Crimeia , de ascendência Russa , com o agravante de que foram os USA / UCRÂNIA quem sabotaram e explodiram os oleodutos/gasodutos do consórcio .
Putin é um fascista. E o povo geralmente gosta desse tipo de governo, ainda mais se não for tão radical.
Tivemos aqui no Brasil GV, até hoje considerado por muitos, o melhor governante que tivemos.
E vale lembrar que o nazismo é uma variante do fascismo radical.
Penso e já escrevi isso, que o povo gosta de um governo que pratica o fascismo leve. Temos o exemplo do Trump e outros.
Já a direita liberal não é um tipo de fascismo, principalmente quanto à economia.
Caro Vidal! Quem te disse, que não é TODA a
“Fraterna irmandade para tanto alçada” e uma só “idéia”
Veja onde está o “distribui-Dor Mocó”, em:
https://youtu.be/cPHCOKK0HpI?si=MIO0OjEmczk1Kty-
Gostei do artigo.
Não demoniza ninguém, nem a elite composta de bandos de riquinhos egressos de universidades de esquerda.
Pois é , Srº José Vidal .
O Presidente da Rússia Vladmir Putin pode até ser fascista , mas honra e respeita o seu país e a seu povo , já os dirigentes Brasileiros em geral são , democratas e cristãos , mas desonram e desrespeitam o seus país e a seu povo .