Elio Gaspari
O Globo/Folha
Na manhã de hoje, há 60 anos, o embaixador americano Lincoln Gordon chegou à sua sala por volta das 9h15. Ele sabia que o golpe estava por dias, mas não sabia que o general Olímpio Mourão Filho, comandante da Região Militar com sede em Juiz de Fora, havia resolvido se rebelar. Quem o avisou que a coisa havia começado foi seu adido militar, o coronel Vernon Walters, um homem corpulento, amigo de militares brasileiros desde a Segunda Guerra Mundial.
Walters ralou durante esse dia. No fim da tarde, achava-se que o general Castello Branco, seu colega de barraca na Itália e chefe do Estado-Maior do Exército, estava encurralado no Ministério da Guerra. (Falso, ele estava num aparelho na Zona Sul.)
Um marechal avisou-o de que uma tropa legalista da Vila Militar marchava para Minas Gerais. Às 19h05 seu prognóstico era sombrio: “A rebelião parece estar perdendo ímpeto”.
NA ESCURIDÃO – Naqueles dias, o Rio de Janeiro penava um racionamento de energia e bairros inteiros ficavam sem luz à noite. Perto das 23h, o marechal Lima Brayner, chefe do Estado-Maior da Força Expedicionária Brasileira durante a guerra, ouviu pancadas na entrada de serviço do seu apartamento de Copacabana, abriu o portinhola e viu, iluminado por uma vela, o coronel Walters.
Brayner disse-lhe: “O Kruel acaba de lançar um manifesto”. “Graças a Deus”, respondeu Walters, um católico devoto.
A adesão do general Amaury Kruel, comandante da guarnição de São Paulo, havia decidido a parada. O marechal Cordeiro de Farias, patriarca de todas as sublevações militares do período resumiria a questão: “O Exército foi dormir janguista e acordou revolucionário”.
No dia 2 de abril, Walters passou pela casa de Castello Branco, em Ipanema. No dia 4, de novo, e também na do ex-presidente, marechal Eurico Dutra (1946-1950). Eleito presidente, no primeiro dia de serviço, Castello convidou-o para um almoço no Palácio do Planalto. Walters presenteou-o com um abacaxi.
NA MITOLOGIA – O coronel Walters entrou na mitologia das intervenções militares americanas como se, com seus seus pés enormes, esmagasse governos. Teria ajudado a derrubar o rei Farouk no Egito (1952), o premiê Mossadegh no Irã (1953), os presidentes Manuel Prado no Peru e Arturo Frondizi na Argentina (1962), noves fora Jango. É um exagero.
Na vida real, ele foi mais que isso. Onde houve encrenca ou mistério, lá está ele. Conversas secretas com chineses e vietnamitas? Foi Walters quem bateu à porta de embaixada chinesa em Paris com um recado do presidente americano Richard Nixon.
Era em sua casa que Henry Kissinger se escondia para negociar com os vietnamitas do Norte. Escândalo do Watergate, que derrubou o presidente dos Estados Unidos? Ele era o vice-diretor da Central Intelligence Agency em 1972, quando a Casa Branca concebeu um estratagema para congelar as investigações do FBI. Walters e o diretor da CIA, Richard Helms, barraram a manobra.
HUMOR SARCÁSTICO – Walters alistou-se no Exército para derrotar o nazismo e continuou na carreira para derrotar o comunismo. Em 1989, ele era embaixador na Alemanha e de sua janela viu o fim do Muro de Berlim. Morreu em 2002, aos 85 anos.
Walters era um interlocutor direto, dotado de um humor sarcástico. Costumava dizer que falava outras sete línguas (francês, italiano, espanhol, português, alemão, russo e holandês), mas não pensava em nenhuma. Seu português tinha pouco sotaque, como o de Roberto Campos.
Quando Fidel Castro lhe disse que estudou com padres, cortou:
— Yo también, pero me quedé fidel.
APARTAMENTO NO RIO – Quando era acusado de saber tudo sobre o Brasil, respondia: “Se eu fosse isso tudo, não teria comprado um apartamento no Panorama Palace Hotel.” (Lançado no Rio nos anos 60, o Panorama foi um mico e hoje é chamado de Favela Hub.)
Walters alistou-se no Exército em 1941 antes mesmo que os Estados Unidos entrassem na guerra. Seu pai teve algum dinheiro, mas perdeu-o na Grande Depressão dos anos 30. Tinha talento para idiomas e lapidou-o na adolescência, como mensageiro de uma companhia de seguros da babel de Nova York. Achou que com isso teria uma boa posição mas, de saída, virou soldado raso.
Um ano depois era tenente, na área de informações, e um coronel mandou que aprendesse português. Em 1943, foi designado para acompanhar oficiais brasileiros nos Estados Unidos e, mais tarde, na Itália. Daí em diante foi intérprete das conversas de presidentes americanos com brasileiros, de Dutra a Médici, de Harry Truman a Richard Nixon. Teve dois padrinhos, o presidente Eisenhower e Averell Harriman, milionário, diplomata, ex-governador de Nova York e grão-duque do partido democrata.
VIROU FLAMENGUISTA – Depois de ter vivido alguns anos no Rio (e virar flamenguista), era adido militar em Roma em 1962, quando o embaixador Lincoln Gordon pediu ao presidente Kennedy que o removesse para o Rio, reforçando o dispositivo militar da embaixada. Walters moveu céus e terra para não sair de Roma, pensou em pedir passagem para a reserva. Em outubro, o coronel desceu no Rio e teve 13 generais para recebê-lo no aeroporto.
Na noite de 13 de março de 1964, ele viu o discurso de João Goulart na casa do general Castello Branco. (O alto da testa de Castello batia abaixo da base do queixo de Walters, que o descreveria assim: “Baixo, robusto. O pescoço muito curto e a grande cabeça dão a impressão de que é corcunda”.)
Walters deixou o Brasil em 1967 como general. Uma semana depois da edição do AI-5, quando havia pressão para que os EUA se afastassem da ditadura, ele escreveu ao secretário de Estado, Henry Kissinger, defendendo a aliança: “Se o Brasil se perder, não será outra Cuba. Será outra China”.
PORTAS ABERTAS – Walters foi adido militar em Paris, vice-diretor da CIA, embaixador nas Nações Unidas e em Berlim. Lá, pelo seu jeitão loquaz, o secretário de Estado, James Baker, evitava-o.
Em 1966, a Polícia Federal prendeu dois americanos com contrabando de minérios na Amazônia. Um poderoso senador foi ao secretário de Defesa e pediu por eles. Walters recebeu o seguinte telegrama: “Apreciamos seus francos comentários se há algo que possa ser feito nesse caso através de seus bons contatos com seus interlocutores militares brasileiros”.
Walters foi a Castello Branco dizendo-se envergonhado por encaminhar a gestão. Dias depois, as celas dos americanos amanheceram com as portas abertas e eles fugiram.
ELE E KISSINGER – O general Walters está no seu gabinete de adido militar na França e recebe uma mensagem de Washington informando que o avião que conduz o secretário de Estado Henry Kissinger para mais um encontro secreto com vietnamitas está sobre o Atlântico e será obrigado a descer no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. Missão: Trazer Kissinger, incógnito, a Paris.
Walters desceu, caminhou até o palácio presidencial e pediu para ser recebido imediatamente pelo presidente francês Georges Pompidou. Expôs o seu caso: precisava de um avião para buscar o secretário.
Quando Pompidou perguntou-lhe o que Kissinger vinha fazer em Paris, respondeu que a viagem envolvia uma senhora. Pompidou emprestou-lhe um jato militar, ele desceu em Frankfurt, atravessou a pista, mandou apagar os refletores e resgatou Kissinger. Seguindo a rotina, levou-o para seu apartamento, onde a empregada jamais soube quem era o hóspede.
Walters escreveu dois livros de memórias, o primeiro, “Missões Silenciosas” muito bom, tem edição em português.
“Se o Brasil se libertar não será outra Cuba, será outra China”
Lula e essa esquerdalha fake garantiram a condição subalterna em 2024.
Pois é!
Resta saber, quem e quando projetou essa quase oculta realidade?
https://youtu.be/cPHCOKK0HpI?si=lS2-2vPIEpiWV1ph
Feliz 31/03 para todos!
FELIZ PÁSCOA BRASIL, certo de que com a RPL-PNBC-DD-ME nós podemos mais, muito mais, faremos em 20 anos o que não fizeram em 134 anos, e não farão nunca porque o negócio dele$ é bitolado e limitado à conservação do sistema apodrecido, da velha herança maldita, da guerra tribal, primitiva, permanente e insana, por dinheiro, poder, vantagens e privilégios, sem limites, da maldita polarização política nefasta e da maldição do nefasto aparelhamento partidário das instituições, à moda todos os bônus para ele$ e o resto que se dane com os ônus. “TENHO NOJO DE DITADURAS”, aversão, asco, repulsa, e a pior delas é a ditadura do tempo que caso pudesse a estrangularia, inclusive porque a dita-cuja é implacável, não termina nunca, não me permite parar o tempo nos melhores momentos de nossas vidas. Verdade seja dita Justiça seja feita. Nos EUA a eleição para presidente não é direta, admite as candidaturas avulsas e é considerada a democracia mais portentosa do planeta, mas tb ainda não é uma democracia de verdade. Neste contexto, nacional e internacional, não existe risco de o Brasil se tornar uma nova ditadura porque, na verdade, com o advento da república do militarismo e do partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, há 134 anos, ele se tornou um complexo de ditaduras setoriais: do militarismo, do partidarismo, do sindicalismo, do capital velhaco, da corrupção, da roubalheira, dos fundões bilionários partidário e eleitoral…, da gastança compulsiva irresponsável, da comilança e da impostança, das armações, dos esquemas, da mentira, da safadeza, da má-fé, da criminalidade, do judiciário, da imprensa, da violência, da barbárie… O fato é que no Brasil, e tb nos EUA, não existe Democracia propriamente dita coisa nenhuma, enquanto poder e governo do povo para o povo, nunca existiu. E essa coisa de endeusar o voto como expressão da democracia não passa de uma farsa montada pelo capital velhaco para camuflar a plutocracia putrefata que praticam, com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, inclusive porque se é o voto que define a democracia, não obstante viciado, como alardeiam os conservadores do sistema apodrecido, então temos que admitir que tb são democracias todos países citados na seguinte “NOTA DA REDAÇÃO DA TRIBUNA DA INTERNET – É isso que vai ficar na História, graças ao colossal trabalho de Elio Gaspari, não a versão disparatada que os clubes militares divulgaram essa semana, dando os militares golpistas de 64 como heróis. Um dia, os militares entenderão que a democracia é o único caminho. Mas isso ainda vai demorar muito. Basta ver os exemplos da Nicarágua, Cuba, Venezuela, China, Coreia do Norte e Rússia, sem falar em Afeganistão, Myanmar, Guiné Equatorial, Arábia Saudita e outros 36 países. Com todo respeito ao canídeo, melhor amigo do homem, ainda vivemos num mundo cão. (C.N.)”. Portanto, o grande desafio, histórico, das novas gerações, doravante, continua sendo fazer do Brasil uma Democracia de verdade, como jurou que faria o último general presidente, João Batista Figueiredo, que assim se expressou: “Hei de fazer do Brasil uma Democracia de Verdade, e ai daqueles que tentarem me impedir (recado para o porão da dita-cuja-dura, fora de controle, que faziam as cagadas por contra própria e jogavam a culpa nos generais). Todavia, tendo em vista que nem o militarismo e nem o partidarismo, politiqueiro$, e nem os seus tentáculos velhaco$, disseram como fazer do Brasil uma Democracia de verdade, eu, por conta própria, riscos e sacrifícios, há cerca de 40 anos, me entreguei ao trabalho e missão (que deveria ser de todos e todas e não apenas minha), de mostrar como fazê-lo, com projeto próprio, novo e alternativo de política e de nação, a nova via política extraordinária, no bojo da Revolução Pacífica do Leão, que mostra com todas as letras o novo caminho para o possível novo Brasil de verdade, confederativo, com Democracia Direta e Meritocracia, a nova política de verdade, com Deus na Causa, um Pulo de Leão, adiante dos EUA, posto que projeta o Brasil na vanguarda democrática do possível novo mundo civilizado. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/03/datafolha-53-descartam-nova-ditadura-no-brasil-maior-indice-da-serie.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=compfb&fbclid=IwAR038ObBOzETnAp3vh6VBn0SM9s3wfQX9LY-MjRTapp9zq8jrahdd17I6vc_aem_AQ4U7TytQhOgPvydnLs3FJ0OJiJog9B3bUzZ9HajgSMRChI7zGaHOGNubbT24hyob9y4p0po9SRTbkJRqHpIK0CA