Vamos esquecer os 60 anos do golpe de 64, como se não tivessem ocorrido?

Passeata dos Cem Mil, Rio de Janeiro

As atrizes comandaram a passeata dos 100 mil, no Rio

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

31 de março é um aniversário. Sessenta anos do golpe. Vai passar sem nada? Muitos militares e civis gostariam de comemorar. Lembram-se das ordens do dia que os comandantes militares emitiam, mesmo depois da volta de democracia? As vítimas da ditadura teriam, obviamente, não o que comemorar, mas muito a lembrar. E cobrar. E investigar.

Parece, porém, que Lula patrocinou um acordo. Os militares não falam nada, os democratas e as vítimas da ditadura não comemoram o fim da ditadura, nem pedem julgamentos e busca da verdade. Muito ruim. Trata-se de uma volta ao final dos anos 1970, início dos 80, quando se negociou a abertura.

IMPUNIDADE – A base dessa negociação foi a anistia ampla, geral e irrestrita, que garantiu a impunidade dos que haviam participado da ditadura, incluídos os torturadores e assassinos de presos políticos.

Dirão: mas os esquerdistas subversivos também foram anistiados. Sim, mas já haviam sido presos, exilados, torturados e assassinados. Não há simetria aqui. Foi apenas um jeito de garantir a impunidade e, pois, a retirada dos militares.

Destruíram a democracia, arrasaram os direitos humanos, e tudo bem? Se tivessem sido julgados na forma da lei, como na Argentina, certamente não teríamos passado pela recente tentativa de golpe. O acordo de hoje repete essa assimetria. Diferença importante: o julgamento dos participantes do golpe de 2022. A ver.

PLANO REAL – E temos um verdadeiro aniversário de vida: os 30 anos do Plano Real. Voltaremos ao tema.

Mas fica um registro: Lula, beneficiário da estabilidade do Real, não pode comemorar. Na época foi contra o plano econômico. Por isso, agora, nada a declarar.

Mas a população brasileira pode comemorar 30 anos sem inflação descontrolada. Como seria o Brasil sem o Real? Fácil, olhem para a Argentina.

Dívida do governo não para de crescer, mas Lula quer licença para gastar mais

Gestão de Gustavo Soares responderá inquérito por possível superfaturamento em contrato de publicidade denunciado pela vereadora Lucianny Guerra - Blog do VT

Charge do Nani (nanihumor.com)

Rose Amantéa
Gazeta do Povo

Dívida do governo está crescendo, mas Lula já fala em aumentar o limite de gastos que acaba de entrar em vigor. Mas o crescimento da arrecadação de impostos em janeiro, festejado pela equipe econômica, está longe de sinalizar um equilíbrio das contas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ao contrário. O temor do mercado é de que o breve fôlego propiciado pela receita extra, vinda de eventos não recorrentes, seja visto pelo atual governo como uma “licença para gastar”, agravando ainda mais a trajetória da dívida pública, considerada preocupante pelos especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

LULA INCONTROLÁVEL – E, de fato, bastou o resultado do primeiro mês do ano para Lula começar a falar em “aumentar o limite de gastos” – limite este definido pelo chamado arcabouço fiscal, que recém começou a vigorar.

“A perspectiva geral não é boa. Quando olhamos o indicador mais importante para a solvência do governo no médio e longo prazo, a dívida pública sobre o PIB [Produto Interno Bruto], vemos que ela não para de crescer”, alerta Cristiane Schmidt, professora da Fundação da Getúlio Vargas (FGV-RJ) e do Instituto Millenium e consultora sênior para o Banco Mundial.

Depois de dois anos em queda, a trajetória da dívida pública do país se inverteu em 2023 e subiu quase três pontos percentuais em um ano, passando de 71,7% do PIB em dezembro 2022 para 74,3% do PIB 12 meses depois.

DÍVIDA CRESCE – Os últimos dados do Banco Central revelam que em janeiro de 2024 a dívida subiu mais um pouco e atingiu 75% do PIB, o maior nível desde julho de 2022.

Conforme o BC, o resultado primário de janeiro do setor público consolidado – que inclui os governos das três esferas e estatais – ficou negativo em R$ 246 bilhões, no acumulado de 12 meses.

O rombo é apenas ligeiramente menor que o acumulado até o mês anterior – R$ 249,1 bilhões, o pior resultado desde 2020, quando os gastos aumentaram com o combate à pandemia de Covid-19.

SINAL VERMELHO – Mas o resultado primário não reflete os gastos financeiros com a dívida. E eles nunca foram tão altos. Em um ano, os juros consumiram R$ 746 bilhões, segundo o dado de janeiro – o maior valor da história para um acumulado de 12 meses, equivalente a quatro anos de Bolsa Família.

Como acontece quase sem trégua desde 2014, todos os juros foram pagos com emissão de novas dívidas, uma vez que o governo não está poupando dinheiro.

Na soma do déficit primário com os juros, o chamado resultado nominal do setor público foi de um rombo acumulado de quase R$ 1 trilhão em 12 meses. O resultado só foi pior que isso em alguns meses entre 2020 e 2021.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Matéria importante, enviada por José Guilherme Schossland. Tudo indica que Lula vai fazer o possível e o impossível para transformar o Brasil numa nova e gigantesca Argentina. Se for reeleito, então, vai arrebentar a boca do balão, como se dizia antigamente. (C.N.)

Forças Armadas querem mostrar que não participaram do esquema golpista

No desespero, Jair Bolsonaro agora tenta reconquistar o apoio das Forças  Armadas – Carlos Sousa

Charge do Junião (Arquivo Google)

Jeniffer Gularte
O Globo

A cúpula das Forças Armadas e integrantes do governo avaliam que a nova prisão do tenente-coronel Mauro Cid reforça as responsabilizações individuais na investigação sobre a trama golpista, afastando a instituição como agente da ruptura.

Há também entre militares a leitura de que a tendência é que esta detenção dure por um período menor na comparação com a anterior, quando ele deixou a cadeia em setembro do ano passado, após quase quatro meses.

NOVA PRISÃO – O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro foi preso na sexta-feira por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado entendeu que Cid descumpriu medidas cautelares impostas a ele como condição para ficar em liberdade e agiu para obstruir a Justiça, atrapalhando investigações sobre as quais se comprometeu a colaborar.

Para militares do Alto Comando e integrantes do primeiro escalão do governo, a prisão reforça a responsabilização individual de Mauro Cid, afastando o “CNPJ” das Forças Armadas das suspeitas sobre ruptura institucional. Eles têm ressaltado que as investigações avançam para deixar claro que as ações partiram de indivíduos, e não da instituição.

Outra avaliação é que tanto a prisão quanto os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, nos quais confirmam o envolvimento de Bolsonaro na trama golpista, ajudaram a imagem das Forças.

JANTAR COM LULA – No mesmo dia em que Mauro Cid voltou à prisão, o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, recebeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama, Janja da Silva, em sua casa para um jantar. O ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, também estava presente junto com almirantes.

No jantar, que segundo presentes teve clima informal e descontraído, foi tratado sobre o lançamento do Submarino Tonelero, que ocorrerá na próxima quarta-feira em Itaguaí, no Rio de Janeiro. Janja será madrinha de batismo do novo submarino, uma tradição da Força.

Como mostrou O GLOBO, o comandante do Exército, Tomás Paiva, já decidiu vetar a promoção de Mauro Cid à patente de coronel — ele poderia entrar na próxima lista, por tempo de serviço. Cid, no entanto, deve manter seu cargo e salário bruto atual, de R$ 27 mil. A remuneração só será suspensa se o tenente-coronel for condenado na Justiça.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O problema das Forças Armadas é o aprofundamento das investigações. Se cavarem muito fundo, vão perceber que a cúpula militar apoiava o golpe, caso ficasse provada a fraude na urna eletrônica. Como a manipulação eleitoral não foi comprovada, os comandantes do Exército e da Aeronáutica puxaram o freio de mão, enquanto o comandante da Marinha continuou a apoiar o golpe. Esse jantar oferecido a Lula pelo atual comandante da Marinha na sexta-feira deve ser visto como um pedido de desculpas. (C.N.)

Comunicação vive conflito com queda de popularidade do governo

Lula tem feito cobranças à comunicação comandada por Pimenta

Pedro do Coutto

Reportagem de Sérgio Roxo, O Globo deste domingo, focaliza a falta de sintonia, conflitos e rachas na Secretaria de Comunicação do governo que está preocupando o presidente Lula da Silva. O titular da Secretaria, deputado Paulo Pimenta, tem a sua atuação criticada por vários setores, sobretudo em virtude da piora dos índices de avaliação do governo revelada pelas pesquisas recentes.

Além disso, a Secom sofre com divisão interna e vê uma disputa pelo controle dos perfis pessoais do presidente Lula da Silva nas redes sociais. A pasta também é uma das áreas com maior influência da primeira-dama Janja.

EM CAMPO – Após o sinal de alerta com a queda da popularidade, o marqueteiro Sidônio Palmeira, que fez a campanha de 2022, entrou em campo. Segundo levantamento do Datafolha divulgado na última semana, o índice dos que avaliam a gestão federal como ruim ou péssima passou de 30% para 33% desde o fim de 2023. Em reunião ministerial, Lula se mostrou preocupado e cobrou dos auxiliares mais efetividade na comunicação.

Paralelamente, uma divergência no cenário governamental, revela-se com a declaração do ministro Carlos Lupi que admite participar de um palanque municipal composto por partidos que não são do governo. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou que estará em palanques adversários do presidente Lula da Silva nas eleições municipais de 2024.

Em entrevista ao jornal O Globo publicada neste sábado, Lupi disse que o pleito é diferente da eleição para presidente, como a de 2022, e leva em consideração fatores regionais. “Eleição municipal guarda a característica da realidade local. A nacional é que tem que ter uma definição macro”, declarou.

DO OUTRO LADO – O ministro, que é filiado ao PDT, afirmou que estará do lado adversário nas eleições para a Prefeitura de Recife: apoiará Túlio Gadelha (Rede), enquanto o PT deve endossar João Campos (PSB). Lupi disse querer uma federação “ampla” nas eleições e declarou que em ao menos 4 Estados estará aliado ao PSB. Em relação às conversas do PDT com outros partidos, o ministro não descartou uma aliança com o PSDB.

É estranha e contraditória a afirmação, pois o ministro faz parte do governo, representando o PDT. Se participar de um palanque que não seja governamental haverá uma problema. Portanto, algo está desconectado e sem coordenação na esfera do Planalto e precisa ser ajustado a uma realidade tão visível quanto factível. As eleições municipais deste ano, em decorrência do resultado da pesquisa do Datafolha sobre a aprovação e desaprovação do governo, causaram uma situação de embate, pois de fato os índices de desaprovação encorajam a oposição bolsonarista a desenvolver uma ofensiva utilizando as urnas do município.

Seja qual for a decisão, é estranha a declaração de Lupi, pois qualquer atuação sua na esfera da política eleitoral que não seja ao lado do governo abre precedentes para outras divergências. A situação é complicada sobretudo quanto ao estabelecimento de uma diretriz e de um comando eficiente na área governamental. É preciso que se tenha um conteúdo eficaz para poder comunicar, informando assuntos de interesse direto da população e de maior abrangência possível.

“Jura pela imagem da Santa Cruz do Redentor, para ter valor a tua jura…”

SINHÔ - O PÉ DE ANJO - Discografia Brasileira

Sinhô é um nome na História do Samba

Paulo Peres
Poemas & Canções

O pianista e compositor carioca José Barbosa da Silva, conhecido como Sinhô (1888-1930), é considerado um dos mais talentosos compositores de samba, para muitos o maior da primeira fase do samba carioca. Com letra romântica e queixosa, o samba ”Jura” pede uma promessa de amor. Ao que parece, Sinhô escreveu-a num momento de dor de cotovelo, depois de ter visto a mulher que amava nos braços de um outro pretendente. O samba foi gravado, originalmente, por Mário Reis, em 1928, pela Odeon.

JURA
Sinhô

Jura, jura, jura
pelo Senhor
Jura pela imagem
da Santa Cruz do Redentor
pra ter valor a tua jura
jura, jura
de coração
para que um dia
eu possa dar-te o amor
sem mais pensar na ilusão

Daí então dar-te eu irei
o beijo puro da catedral do amor
Dos sonhos meus, bem junto aos teus
para fugirmos das aflições da dor

Atos desconexos de Lula comprovam que a polarização é um dilema para ele

Lula de calcinha

Tese de Lula sobre a calcinha das mulheres fez muito sucesso

Igor Gielow
Folha

Os previsivelmente desconexos e esvaziados atos da esquerda contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste sábado (23) são menos relevantes no contexto das potencialidades dos campos rivais da polarização brasileira, mas retratam um dilema colocado à frente de Lula (PT).

Desde que assumiu o governo, com a grande ajuda dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o presidente aposta sistematicamente na divisão do eleitorado para manter sua base de apoio magnetizada.

ESPANTALHO – Bolsonaro, mesmo tendo perdido os direitos políticos até 2030, é tratado como ameaça existencial. Com isso, o governo gira politicamente em torno da manutenção desse espantalho. Nada de novo aqui: o ex-presidente fez o mesmo com Lula ao longo de seu mandato.

Não só: ambos os líderes jogam uma partida de retroalimentação da importância do rival. O resultado fica evidente na constante polarização do país registrada pelo Datafolha, que na mais recente pesquisa mostrou o mesmo nível de divisão do eleitorado —no caso, 41% se dizem muito ou algo petistas, 30% o mesmo no registro bolsonarista.

Restam espremidos e órfãos 21% dos que se declaram neutros, exatamente o lago em que ambos os grupos terão de pescar votos nos pleitos futuros.

DECEPÇÃO – Lula tem decepcionado sequencialmente seus seguidores mais inflamados à esquerda, que vinham sendo alimentados pela influência da primeira-dama Janja na modulação mais agressiva do petista neste terceiro mandato. Da Ucrânia a Gaza, passando pela Lava Jato e a ditadura venezuelana, ele tocou violino para as franjas radicais.

Mas na hora de falar dos 60 anos do golpe militar que, no fim dos anos 1970, o viu ser gerado como ator político, Lula baixou a bola. O faz em nome de uma estabilidade tensa com os militares, já pressionados pelas investigações da trama golpista do bolsonarismo, e frustrou sua base.

Há o pragmatismo que sempre marcou Lula muito mais que qualquer esquerdismo no cálculo, mas talvez também a percepção de que a tática de usar a polarização tem favorecido mais Bolsonaro do que ele. Novamente, o Datafolha oferece uma bússola.

SINAL DE ALERTA – Na mais recente pesquisa, as curvas de aprovação e reprovação do presidente se aproximaram. Nenhuma tragédia, mas o sinal de alerta está ligado do ponto de vista estratégico, mirando o pleito de 2026.

Em um ano, o desgaste de um governo que traz bons indicadores econômicos, mas que tem se fiado mais numa querela com o rival do que em apresentar um programa que pareça ter sido feito nos anos 2020, se faz evidente.

Isso sugere a razão do abandono à própria sorte dos atos por Lula. O petista pode ter percebido que a obsessão mutuamente assegurada com Bolsonaro talvez não lhe seja mais tão vantajosa, enquanto mantém o encurralado ex-presidente com musculatura pública.

DIREITA NA RUA -Para piorar, há o fato inescapável de que a rua virou território da direita de classe média no Brasil desde que a energia liberada de forma descontrolada nos atos de 2013 virou combustível para o impeachment de Dilma Rousseff (PT) três anos depois. A esquerda, que vivia da fama de dominar esse território por meio de sindicatos e ONGs, nunca se recuperou.

Houve, claro, momentos em que as “Paulistas” ficaram vermelhas e, principalmente, o apoio a Lula o levou de volta à Presidência. Os autodeclarados petistas ainda são majoritários.

Mas o protesto pró-Bolsonaro de 25 de fevereiro foi um lembrete de que, se for disputar fotografia, a capilaridade de mobilização virtual ainda dá vantagem à direita. Enquanto resolve o que fazer, Lula arrisca ver sua base se desorganizar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Excelente análise do Igor Gielow, ex-editor de Política da Folha. Lula não está bem. Sua confusão mental é visível. Se continuar assim, será bobagem tentar a reeleição. Como diz o professor e teólogo carioca Antonio Rocha, os três mandatos já estão de bom tamanho. (C.N.)

Entenda a dificuldade de Moraes para conseguir condenar Bolsonaro e os generais

A face positiva da polarização política - 27/08/2019 - Opinião - Folha

Charge do Hubert (Folha)

Carlos Newton

Promovida no Supremo Tribunal Federal sob os auspícios do inquérito do fim do mundo (aquele que não acaba nunca nem respeita as normas processuais), a investigação do golpe institucional à brasileira parece não ter medo do ridículo.

Para levar a cabo a apuração desses fatos gravíssimos, é preciso definir muito bem as coisas, porque no Direito Universal não se pune planejamento do crime. É precisa haver a tentativa de consumá-lo, para que ocorra condenação. Trata-se de uma regra clara, tipo cláusula pétrea, que qualquer estudante entende.

NA FORMA DA LEI – No caso do golpe à brasileira, a força-tarefa do ministro Alexandre de Moraes e a Polícia Federal estão procurando brechas na lei que possibilitem condenação do planejamento. Já abriram a primeira brecha, ao impor uma interpretação ilegal e impiedosa no julgamento dos invasores do 8 de janeiro, que foram enquadrados ilegalmente como terroristas e estão recebendo penas verdadeiramente abusivas.

O critério de Alexandre de Moraes é patético, considera o réu como terrorista mesmo que não tenha sido preso em flagrante de vandalismo e não exista qaulquer prova testemunhal ou material. É algo jamais visto em nenhum país tido como civilizado. Em 1935, o ditador Getúlio Vargas não agiu assim na condenação dos rebeldes comunistas da Intentona, quando houve cerca de 120 mortos e 300 feridos. Pelo contrário, foi piedoso e concliliador.

Mas o ministro-relator-vítima-juiz Moraes não pensa assim e pretende penas ainda maiores para os líderes do golpe do 8 de janeiro. Bem, se ainda estivesse entre nós, o grande jornalista Helio Fernandes iria logo ironizá-lo, sugerindo “prisão perpétua seguida de pena de morte”…

ÚNICA BRECHA – Na forma da lei, para condenar os líderes, o múltiplo Moraes terá de enquadrá-los na brecha do “iter criminis” (caminho do crime). Isso significa que, além de planejar, o réu tentou consumar o crime, através de alguma medida concreta no caminho do crime. É muito difícil caracterizar essa medida concreta no presente caso, porque é preciso atender a alguns critérios.

Por exemplo: 1) Onde ocorreu a tentativa do golpe? 2) A que horas? Foi de manhã, à tarde ou à noite? 3) Quem participou da ação? 4) Os golpistas dispunham de quais armamentos? 5) Como seria a deposição do governante? 6) Legislativo e Judiciário teriam suspensas suas atividades? 7) A Forças Armadas estariam participando, ou teriam de ser atacados os quarteis militares e da polícia? 8) Neste caso, atacados por quem?

Nota-se que é juridicamente impossível cumprir esses pré-requisitos para enquadrar os réus no “caminho do crime”. porque eles pararam ainda na fase de planejamento. Foram “covardões”, como diria Lula da Silva, simplificando o ato.

NA VIDA REAL – Bem, estamos raciocinando sobre o que dizem as leis, criadas para harmonizar os conflitos e possibilitar a vida em sociedade. Mas é evidente que na Justiça de hoje, tudo é possível. Para libertar Lula em 2019, por exemplo, o Supremo transformou o Brasil no único país do mundo que não prende criminoso condenado em segunda instância, uma situação humilhante e vexaminosa.

O exemplo é José Dirceu, recentemente condenado a 27 anos e 1 mês pelo STJ, que continua livre e despreocupado, usufruindo do enriquecimento ilícito e até comemorando seu aniversário com a presença de 500 convidados especiais, entre eles o vice Geraldo Alckmin e o presidente da Câmara, Arthur Lira, vejam a que ponto chegamos.

No Brasil de hoje, a lei não vale nada. O que está em vigor é a polarização, em que as partes se odeiam e desprezam qualquer sentimento democrático. Bolsonaristas e lulistas nem percebem que são iguais, movidos por um ódio que não nos levará a lugar nenhum.

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P.S. –
Como todos os demais brasileiros, tenho parentes e amigos bolsonaristas e lulistas. Espero que eles me perdoem por ser independente e defender a aplicação correta das leis, porque respeitá-las é a única forma de vivermos numa sociedade democrática. A polarização nos faz tanto mal que nem percebemos quando chegamos a ponto de defender o descumprimento das leis. (C.N)

Defesa de Bolsonaro pedirá gravações, diz Wajngarten sobre os áudios de Cid

Fábio Wajngarten

Fábio Wajngarten está trabalhando na defesa de Bolsonaro

Deu no Poder360

O assessor e ex-secretário de Comunicação do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fabio Wajngarten, afirmou em seu perfil no X (antigo Twitter) que a defesa do ex-chefe do Executivo tomará as devidas providências sobre os áudios vazados do tenente-coronel Mauro Cid.

Nas gravações, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro diz ter sido coagido a delatar e faz críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Os áudios foram publicados pela revista Veja na 5ª feira (21.mar.2024).

CONVERSA GRAVADA – Teriam sido feitas durante uma conversa entre Cid e um interlocutor em algum momento depois de 11 de março de 2024, quando o tenente-coronel deu um depoimento para a Polícia Federal.

Wajngarten afirmou ter sido surpreendido e ainda não ter uma ter opinião formada, “nem juízo de valor, diante de tantas possibilidades que podem ter ocorrido”. No entanto, declarou ser “gravíssima” a possibilidade de o que Cid falou e o que foi registrado serem diferentes.

“O levantamento do sigilo das gravações dos depoimentos dele, na íntegra, poderá dirimir potenciais dúvidas e dará a transparência necessária para a elucidação de parte dos fatos. Se for uma estratégia da defesa dele, vazando áudios como forma de declaração em OFF/ON, não creio que tenha sido oportuna”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O ministro Alexandre de Moraes pensou que iria botar uma pedra no assunto, ao quebrar o sigilo do último depoimento de Mauro Cid, nesta sexta-feira, mas a defesa de Bolsonaro vai pedir que ele levante o sigilo também da íntegra dos outros depoimentos do tenente-coronel, que disse ter sido constrangido por seus inquisidores. A decisão de Moraes é previsível – se levantar o sigilo, é porque Mauro Cid em nenhum momento foi pressionado. Porém, se não levantar, é porque realmente os federais tentaram direcionar os depoimentos dele, e isso é gravíssimo, porque bagunça o coreto do inquérito do fim do mundo, aquele que não acaba nunca e não respeita as regras processuais. Por fim, que ninguém se espante se essas gravações sumirem, como ocorreu com as filmagens das câmaras no Ministério da Justiça no 8 de Janeiro, que teriam sido apagadas, segundo Flávio Dino. O jogo da polarização é sujo e tudo pode acontecer. (C.N.)

Fogo amigo! Igualdade de gêneros impõe serviço militar a mulheres na Dinamarca

Na Ucrânia, Ministério da Defesa é criticado por forçar mulheres soldados a  marchar de salto alto | Mundo | G1

Serviço militar agora é obrigatório para dinamarquesas

Hélio Schwartsman
Folha

Luta pela igualdade de gêneros produziu revés para as mulheres, com a adoção, pela Dinamarca, do alistamento militar obrigatório para todos

Era uma questão de tempo até que acontecesse. A necessária luta pela igualdade entre os gêneros produziu um revés para as mulheres.

 A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, anunciou que, a partir de 2026, as mulheres do país estarão sujeitas ao serviço militar obrigatório, que por ora vale só para os homens.

SISTEMA DE LOTERIA – Na Dinamarca, os militares, homens e mulheres, são recrutados principalmente em bases voluntárias, mas cerca de 5 mil rapazes ainda são convocados a cada ano por um sistema de loteria.

Pelos planos de Frederiksen, que deverão passar sem problemas no Parlamento, a obrigatoriedade atingirá também as mulheres e o tempo de serviço será ampliado de 4 para 11 meses.

Sempre que o Estado obriga alguém a fazer o que não deseja, comete uma violência. Há obviamente coisas como pagar tributos, que precisam ser repartidas entre todos, mesmo que contra a vontade do cidadão.

DESDE NIXON – O serviço militar, porém, não entra na categoria das imposições inevitáveis. O mundo demorou um pouco para descobrir isso, mas, desde que os economistas Milton Friedman, Walter Oi e Martin Anderson convenceram Richard Nixon de que a obrigatoriedade era uma aberração ética e que não fazia sentido econômico (o custo de tirar jovens de suas carreiras supera o de contratar um exército profissional), mais e mais democracias foram abolindo o alistamento mandatório ou pelo menos o transformando em relíquia existente apenas “de jure”, mas não “de facto”.

Restaram exceções, como o Brasil e alguns poucos países da Europa, notadamente na Escandinávia. Hoje, são só 85 das quase 200 nações que mantêm a conscrição obrigatória.

O interessante aqui é que, como nos anos 1960 e 1970 a polarização não era tão automática, essa foi uma reforma sugerida por economistas de direita que rapidamente ganhou o apoio da esquerda. Eram tempos em que ambos os lados olhavam para o mérito das propostas antes de rejeitá-las.

Apesar da confusão, Bolsonaro não deve escapar da cadeia, as provas são inquestionáveis

A charge do Izânio fala | Portal AZ

Charge do Izânio (Portal AZ)

Merval Pereira
O Globo

O ex-presidente Bolsonaro recebeu em mãos o certificado falso de vacina, segundo depoimentos. É uma falha criminosa; a intenção dele foi ludibriar a exigência da vacina, porque ele não acreditava nela. Era um assunto pessoal, mas o presidente da República não pode fugir da lei, que existe para todos.

Este crime pode levá-lo à prisão por cinco anos. É inaceitável que tenhamos ex-um presidente capaz de fraudar as coisas mais básicas quando estava no poder, como um certificado de vacinação. E ainda tem a tentativa de golpe de Estado, que é o crime mais grave de todos e parece que ele não vai escapar.

Todos os depoimentos e relatos levam a ele, não há mais dúvidas sobre isso. Não há como explicar todos os fatos relatados nas delações. Ele tentou fortemente um golpe de Estado.

Bolsonaristas comemoram o fracasso das manifestações lulistas deste sábado  

Foi constrangedor o fracasso dos atos públicos do lulismo

Julia Chaib
Folha

Líderes da oposição ao presidente Lula avaliam que o esvaziamento dos atos deste sábado (23) reflete erros da esquerda e reforçam a capacidade de mobilização popular de Jair Bolsonaro (PL).

Para dirigentes de partidos aliados a Bolsonaro, por mais que Lula em si não tenha se engajado na convocação dos protestos, é inevitável compará-los às manifestações que têm se mobilizado em torno do ex-presidente — investigado, dentre outras coisas, por tentativa de golpe de Estado no final do seu governo.

FOI GRANDE… – A mais notória delas foi no final de fevereiro, na avenida Paulista, em ato chamado pelo ex-chefe do Executivo Federal para que ele se defendesse das acusações de que teria tramado um golpe de Estado. Na ocasião, o próprio Lula admitiu que o evento foi “grande”.

Além de o “timing” ter sido considerado um equívoco por políticos de oposição – e por integrantes do próprio governo –, os oposicionistas ouvidos pela Folha dizem que a esquerda está com dificuldade de se conectar com as ruas, ao contrário de Bolsonaro, apesar da série de acusações que pesam contra ele.

Nos últimos dias, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro no caso que apura a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19, por suspeita de inserção de dados falsos em sistema público e associação criminosa. Também diz que a fraude pode ter sido realizada no escopo da tentativa de aplicar um golpe para impedir a posse de Lula.

ATOS DISPERSOS – Neste sábado, movimentos de esquerda fizeram uma série de atos dispersos pelo país, convocados em resposta ao ato de fevereiro do ex-presidente, apesar do distanciamento do governo e do racha na visão de partidos e militantes sobre a pertinência da mobilização.

Os protestos foram anunciados por partidos e entidades após ato no mês passado que reuniu uma multidão na avenida Paulista, em São Paulo.

Os temas da manifestação deste sábado acabaram pulverizados, incluindo a lembrança aos 60 anos do golpe militar e pedido de que não haja anistia para golpistas. A pauta contra a anistia contrasta justamente com o que foi pedido por Bolsonaro no ato da avenida Paulista. Na ocasião, ele defendeu perdão aos condenados por penas exacerbadas no dia 8 de janeiro de 2023, quando houve ataques aos Três Poderes.

NOGUEIRA IRONIZA – O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), avalia que a esquerda está desorganizada e que Lula está blindado da realidade. O dirigente diz haver dificuldade do campo para se conectar com as ruas devido à “frustração de promessas” feitas e não entregues.

“A esquerda hoje consegue encher palácios, encher o Diário Oficial com cargos para a companheirada, mas é uma espécie em extinção nas ruas do país”, falou.

As manifestações de sábado provam que o vazio de propostas da esquerda produz o vazio na realidade e na sociedade. Do jeito que vai, a esquerda vai ser declarada espécie em extinção pelo Ibama”, provoca.

MAIS CARISMA – Já o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, vê Bolsonaro com carisma e grande capacidade de mobilização das ruas. “Lula não quis fazer parte de nenhum movimento agora porque não é hora. Depois do tamanho do que Bolsonaro fez, precisavam de 100% de engajamento e ainda assim iam ter dificuldade de fazer igual”, disse Valdemar Costa Neto à Folha.

O líder do PL no Senado, Rogério Marinho (RN), diz que o esvaziamento dos atos mostra uma falta de sintonia da esquerda com boa parte da população. “O PT historicamente se acostumou com a massa convocada pela máquina sindical. Havia sempre um movimento muito forte das centrais sindicais, o que não há mais”, afirma.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Foi um fiasco anunciado. Quando houve a manifestação pró-Bolsonaro em fevreiro e os petistas imediatamente decidiram convocar o revide, já era previsto que não daria certo. E o fracasso foi mesmo estrondoso, como se dizia antigamente. (C.N.)

Somente os julgamentos dos líderes do golpe dirão quem somos como nação

Golpistas invadem a praça dos Três Poderes e depredam o prédio do Palácio do Planalto, na imagem, do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília

Punição dos líderes do golpe tem de ser mais ainda rigorosa

Demétrio Magnoli
Folha

Sabemos, hoje, que o golpe de verdade seria assestado em dezembro de 2022, não no 8 de janeiro de 2023. A trama foi virtualmente desvendada, por meio de provas documentais e testemunhais. O que o STF fará com os golpistas?

Compara-se, geralmente, o 8 de janeiro de Brasília com o 6 de janeiro de 2021 de Washington, o dia da invasão do Capitólio pelas hordas de Trump. As semelhanças saltam à vista de todos: um presidente autoritário contestando sua derrota eleitoral, a invasão dos edifícios-símbolos do poder democrático por uma turba de vândalos.

Contudo, há uma diferença crucial entre os dois eventos: no 6 de janeiro deles, Trump ainda ocupava a Casa Branca; no nosso 8 de janeiro, a presidência já havia sido transferida a Lula.

GOLPE FRACASSADO – Ninguém – nem mesmo Bolsonaro! – é tão estúpido a ponto de apostar suas fichas principais num golpe de Estado adiado para depois da entrega das chaves do Palácio. O 8 de janeiro foi uma tentativa derradeira, desesperada, de reativar os motores de uma tentativa golpista fracassada. Não por acaso, o líder da intentona assistiu ao evento da segurança prudente de uma mansão na Flórida.

“Tentativa de golpe com minuta é ridículo”, argumentou Mourão no Senado, procurando um caminho tortuoso para salvar seus companheiros de armas da responsabilização judicial. O vice enjeitado simula não saber que máfias são antros de desconfiança e traição.

Nelas, guardam-se provas incriminadoras contra comparsas, para efeitos de chantagem ou vingança. O núcleo golpista operou segundo padrões mafiosos. Deles, surgiram gravações de reuniões conspirativas e até, preservada, a tal “minuta do golpe”.

SEM MISTÉRIO – A delação de Mauro Cid e os depoimentos do general Gomes Freire e do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, motivados pelas ofensas do general Braga Netto contra o primeiro, uniram as pontas soltas. Inexiste, agora, mistério. A PF tem em mãos uma sólida acusação, que fará seu caminho até o STF.

O triunvirato do golpe abrange Bolsonaro, o chefe da gangue, o militar e ex-ministro da Defesa Braga Netto e o civil e ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Meia dúzia de outras figuras, com ou sem farda, completam o núcleo subversivo. Qual será o destino deles?

Alexandre de Moraes escolheu um machete afiado para julgar os mais notórios entre os culpados inúteis do 8 de janeiro, a areia grossa do caminhão bolsonarista. O relator somou cinco crimes, inclusive dois que significam essencialmente a mesma coisa: tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de Direito.

RIGOR EXCESSIVO – Da interpretação legal implacável emergiram sentenças de até 17 anos de prisão. Não faltam juristas que enxergam excesso: justiça exemplar, um outro nome para o desvio político da justiça.

Mas, a partir desse precedente, o que fazer com os líderes do golpe de verdade, que não são feios, sujos e malvados, mas componentes da fina flor das elites militar e política? A regra universal da proporcionalidade solicita sentenciá-los a penas bem mais longas que as dos palermas sem sobrenome do 8 de janeiro, sonsos capazes de produzir fotos e vídeos de seus próprios atos de vandalismo.

Os julgamentos dos líderes do golpe dirão quem somos, como nação, ou ao menos iluminarão a natureza de nosso sistema judicial.

IGUAIS DIANTE DA LEI – Só sentenças duras – mais pesadas que as dos apenados do 8 de janeiro – obedecerão ao requisito inegociável da igualdade perante a lei.

A finalidade delas não será promover vingança ou exemplo, mas dissuasão: inflacionar o custo do planejamento da derrubada da ordem democrática até o patamar suficiente para prevenir aventuras futuras.

Os presidentes vindouros devem saber o preço de ultrapassar a fronteira da democracia. As Forças Armadas precisam aprender, de uma vez por todas, que servem, exclusivamente, às instituições civis. O STF não tem o direito de assar uma pizza.

STF criou a democracia do sadismo, e o horror se tornou banal no Brasil

Tribuna da Internet | Com Dino no Supremo, Lula escancara que a Corte se  tornou um órgão político

Charge do Bier (Arquivo Google)

J.R. Guzzo
Estadão

O Supremo Tribunal Federal, a quem a Constituição impõe a obrigação de funcionar como o protetor máximo das leis no Brasil, tornou-se uma infâmia mundial. Não se trata de um ponto de vista, ou de desagrado em relação às decisões do STF, como os ministros repetem todas as vezes em que são criticados.

Trata-se de constatar fatos objetivos, indiscutíveis e cada vez mais perversos – ou na fronteira daquilo que a psiquiatria descreve como transtornos mentais de natureza patológica.

IDOSA CONDENADA -Não tem nada a ver com política. Que dúvida pode haver sobre a conduta de um Supremo Tribunal que condena uma professora aposentada de 71 anos de idade, sem nenhum antecedente criminal, a passar os próximos 14 anos de sua vida na cadeia – pelo crime de “golpe de Estado”?

É demência. Não há a menor possibilidade material de uma pessoa assim dar um golpe de Estado, ou qualquer coisa remotamente parecida. O que há é uma desgraça para a sociedade brasileira.

Fica tudo mais alucinante quando se olha para os detalhes. A acusada estava em liberdade provisória e teve permissão para retirar a tornozeleira eletrônica que o STF colocou nela, porque precisou fazer uma cirurgia delicada por conta de uma fratura do fêmur esquerdo. A autorização foi dada no dia 4 de março; no mesmo dia, a professora foi condenada a 14 anos de prisão, mais uma multa de R$ 14 mil.

NO HOSPITAL – Três dias depois da operação, a polícia entrou no seu quarto num hospital do ABC para lhe colocar de novo a tornozeleira. É como ela está hoje, mais a sua diabete, hipertensão e problemas circulatórios, à espera de ser mandada de volta à cadeia para cumprir pena até os 85 anos de idade. Qual o propósito racional de uma coisa dessas?

O STF, como se divulgou há pouco, manteve na prisão, por onze meses inteiros, um morador de rua de Brasília, também ele acusado de “abolição violenta do Estado de Direito”. Já tinha condenado um barbeiro e um vendedor ambulante.

E já tinha deixado morrer na cadeia um preso que precisava receber tratamento médico urgente, negado pelo ministro Alexandre de Moraes. Qual vai ser a próxima vítima?

HORRO BANAL – Essas depravações são, em geral, recebidas com passividade; o horror se tornou banal no Brasil. Mas o governo, a esquerda extremista e o próprio Supremo Tribunal Federal vão além disso.

Ficam enfurecidos com as vítimas, culpam a elas pelos absurdos que lhes são impostos e não admitem que se fale em anistia.

Uma hora o mundo vai começar a saber o que é essa democracia do sadismo que foi imposta aos brasileiros. Aliás, já começou – Elon Musk, em pessoa, contou o que está acontecendo para os seus 150 milhões de seguidores no X. “Preocupante”, diz ele. Não vai parar por aí.

Entenda a tensa reunião secreta de Bolsonaro e Moraes, citada por Cid

Bolsonaro e Alexandre de Moraes

Jair Bolsonaro foi “aconselhado” a não atender a Moraes

Paulo Cappelli
Metrópoles

No auge da tensão após vitória de Lula em 2022, Bolsonaro e Alexandre de Moraes se reuniram secretamente, nos primeiros dias de dezembro, na casa do senador Ciro Nogueira, no Lago Sul, em Brasília. O encontro durou mais de duas horas e foi intermediado pelo anfitrião.

Passado o segundo turno, Ciro Nogueira, então ministro da Casa Civil, tentou convencer Bolsonaro a reconhecer publicamente a vitória de Lula. Foi o senador quem articulou para que o então presidente gravasse um vídeo pedindo que manifestantes anti-Lula desbloqueassem estradas em novembro. Alexandre de Moraes sabia dos movimentos de Ciro e aceitou o convite para se reunir com Bolsonaro.

EFEITO CONTRÁRIO – Contudo, se o objetivo era distensionar a relação do ministro do STF com Bolsonaro, pode-se dizer que a reunião provocou efeito reverso. Mesmo após a longa conversa, nenhum dos dois recuou e acenou com bandeira branca.

Em boa parte da reunião, Ciro Nogueira deixou o recinto e permitiu que Bolsonaro e Moraes conversassem a sós. Sem aperto de mãos, qualquer chance de reaproximação foi sepultada no 8 de Janeiro.

Bolsonaro, por sinal, não seguiu o conselho de Ciro Nogueira que poderia ter mudado o curso da história. Ainda presidente, ele foi convencido pela ala ideológica de que reconhecer a vitória de Lula desagradaria à boa parte de seu eleitorado que pleiteava uma intervenção militar.

FORAM CONTRA – Entre os que foram contra o discurso, estão Braga Netto, Onyx Lorenzoni, Filipe Martins e militares como Mauro Cid.

A revelação da reunião faz parte de áudios, obtidos pela revista Veja, nos quais Mauro Cid desabafou sobre suposta pressão que receberia da Polícia Federal para incriminar Bolsonaro e se enquadrar na sentença que Moraes já teria planejado.

Ao depor, não tocou no assunto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A reunião já tinha sido noticiada, à época, não era nenhum segredo. O oportuno artigo de Paulo Capelli, enviado por José Guilherme Schossland, vai confirmando que Jair Bolsonaro – um completo idiota, como sempre o consideramos aqui na TI – aos poucos foi se tornando um joguete nas mãos do general Braga Netto, o verdadeiro mentor do golpe, que seria o principal líder e beneficiário, pois não há golpes sem as Forças Armadas e os militares já estavam por aqui com as maluquices de Bolsonaro. (C.N.)

Nova prisão de Mauro Cid não invalida provas da delação

Caso Marielle! PF prende irmãos Brazão e ex-chefe de polícia como mandantes

Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, acusados de mandar matar Marielle Franco — Foto: Reprodução

Chiquinhio, Domingos e Barbosa, os três ditos mandantes

Paulo Toledo Piza
Metrópoles

A Polícia Federal prendeu, na manhã deste domingo (24/3), três suspeitos de mandar matar Marielle Franco. A Operação Murder Inc. apura os homicídios da vereadora e do motorista Anderson Gomes e a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves.

Foram presos o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ); o irmão dele, Domingos Brazão, que é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio; e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa.

BUSCA E APREENSÃO – Foram cumpridos três mandados de prisão preventiva e 12 de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), todos na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Também são apurados os crimes de organização criminosa e obstrução de justiça.

A ação conta com a participação da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), e apoio  da Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro e da Secretaria Nacional de Políticas Penais, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Conforme prevê artigo 797 do Código de Processo Penal, “os mandados de natureza criminal podem ser cumpridos em qualquer horário, inclusive aos domingos e dias feriados”.

LIGAÇÃO COM MILÍCIA – Chiquinho e Domingos Brazão têm o reduto político e eleitoral em Jacarepaguá, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, historicamente dominado pela milícia.

Chiquinho Brazão foi citado na delação de Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco. Ele foi vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelo MDB por 12 anos, inclusive durante os dois primeiros anos de mandato de Marielle, entre 2016 e março de 2018, quando foi assassinada.

Em 2018, Brazão foi eleito para a Câmara dos Deputados pelo Avante e, em 2022, foi reeleito para a Casa Legislativa pelo União Brasil.

BOA RELAÇÃO? – Chiquinho nunca havia sido citado no caso Marielle e chegou a afirmar à coluna do Guilherme Amado que tinha um bom convívio e relação com Marielle Franco nos dois anos em que dividiram o plenário da Câmara carioca.

Entretanto, o nome de seu irmão, Domingos Brazão, apareceu no depoimento do miliciano Orlando Curicica sobre o crime à Polícia Federal.

Assassino confesso de Marielle Franco, o delator Ronnie Lessa disse à Polícia Federal (PF) que o contexto da execução envolveu uma disputa imobiliária em área de interesse da milícia, na Zona Oeste do Rio. Essa linha de investigação deu um nó na cabeça da classe política carioca.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Demorou, mas enfim a investigação andou. Com delação ou alcaguetação, sempre fica mais fácil. E um final vexaminoso, indecoroso, vergonhoso – três homens públicos envolvidos com sanguinários milicianos. Que país é esse? (C.N.)

Um desabafo poético de Gregório de Mattos, chamado de “Boca do Inferno”

Um poema altamente negativo de Gregório de Mattos, que era conhecido como “Boca do Inferno” - Flávio ChavesPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta baiano Gregório de Mattos Guerra (1636-1695), alcunhado de “Boca do Inferno ou Boca de Brasa” é considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa, no período colonial. Gregório ousava criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a “cidade da Bahia”, ou seja, Salvador, como neste soneto.

TRISTE BAHIA
Gregório de Mattos

Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos.
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.

Lula precisa modernizar e aprimorar o discurso, para não perder mais eleitores

CHARGE – Blog do Cardosinho

Charge do Quinho (Charge Online)

Roberto Nascimento

Se o governo está indo muito bem, inflação dentro da meta, aumento do PIB, desemprego caiu, redução da taxa de juros, já próxima de um dígito, aprovação da Reforma Tributária, enfim, um conjunto de boas notícias econômicas.

Então, por que a avaliação do governo despencou? É simples. Basta conferir os discursos de Lula, com apoio à ditadura da Venezuela, por exemplo. Depois, a comparação com Hitler, ao se referir ao genocídio que o governo de Israel pratica em Gaza e que provoca a desgraça humanitária da população palestina.

MAIS BOBAGENS – Em seguida, veio a fala sobre as calcinhas no Palácio do Planalto, foi terrível. Depois, na reunião ministerial, citar Bolsonaro e chamar o ex-presidente de “covardão”, isso pegou muito mal, dando munição para às redes sociais bolsonaristas.

Para piorar o quadro, surgiu a reportagem da Folha, atestando que os 261 objetos não foram furtados do Alvorada, como anunciaram escandalosamente Lula e Janja da Silva. Os móveis e outros bens foram descobertos no depósito do Alvorada. Uma tremenda mancada.

Se continuar com esses erros, os partidos da direita vão ganhar as eleições municipais de lavada. Lula não pode, de moto próprio, pavimentar a estrada para a direita voltar ao poder em 2026.

REDUZIR OS DANOS – Em 2018, a direita apostou em Bolsonaro, mas ele foi tão mal, que acabou abandonado por diversos setores que não quiseram apoiar sua reeleição. Preferiram deixar Lula ganhar em 2022, para reduzir os danos causados ao capitalismo nacional e internacional.

Agora a direita trabalha na surdina, para voltar em 2026, com um candidato mais inteligente e ensaboado. A derrota de Lula é dada como certa, caso tente a reeleição.

As pesquisas refletem o momento e atestam o fechamento da boca do jacaré, quando a reprovação e a aprovação do governo estão empatadas.

NOVOS TEMPOS – Não estamos em 2002 ou em 2010. Muita coisa mudou de lá para cá. Nesses tempos modernos de 2024 a direita está muito mais forte e ativa nas redes sociais, fazendo a cabeça do povo.

É preciso reduzir esses danos provocados por Lula e por posicionamentos do próprio PT. Alguém precisa ter coragem para dizer ao presidente que ele está dando tiros de canhão no pé.

O marqueteiro da campanha, Sidônio Palmeira, foi recontratado. Ele precisa controlar Lula. Nesse momento, é preferível o presidente se calar e evitar declarações por demais polêmicas e que possam ter viés negativo.

Por que Moraes esqueceu (?) de quebrar o sigilo dos outros depoimentos de Cid

O ministro do STF Alexandre de Moraes

Mauro Cid sabe que está sendo perseguido por Moraes

Carlos Newton

Não houve surpresa, neste sábado, dia 23, quando o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do novo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, bem a tempo de ser veiculado com absoluta exclusividade no Jornal Nacional da TV Globo, principal noticiário do país.

Ao decidir quebrar o sigilo do depoimento, o magistrado justificou que o fazia para não deixar dúvidas de que o militar não fora forçado a fazer delação premiada:

“Diante da necessidade de afastar qualquer dúvida sobre a legalidade, espontaneidade e voluntariedade da colaboração de Mauro César Barbosa Cid, que confirmou integralmente os termos anteriores de suas declarações”, escreveu o ministro do Supremo Tribunal Federal.

DIFÍCIL DE ACEITAR – Em meio à total cumplicidade da Organização Globo e de outros órgãos de comunicação, está difícil aceitar essa liberalidade pontual de Moraes, que manda divulgar o que não tem importância, mas mantém sob sigilo o que realmente importa.

Se o ministro Moraes de fato pretendia “afastar qualquer dúvida sobre a legalidade, espontaneidade e voluntariedade da colaboração de Mauro César Barbosa Cid”, digamos, repetindo as próprias palavras do relator, deveria se apressar em quebrar o sigilo da íntegra dos depoimentos anteriores de Cid, feitos no pau-de-arara do século 21, durante os quais ele teria sido pressionado a dizer o que seus inquisidores pretendiam ouvir.

Somente assim, com a revelação da íntegra dos depoimentos, mediante transcrição de perguntas, respostas e comentários, poderemos saber a verdade que nos libertará. Mas está difícil…

ADVOGADO CONIVENTE – Cid está sendo defendido por Cezar Bitencourt, um coronel da reserva que se formou em Direito e opera na Justiça Militar.  É um advogado de pouca experiência, que só entrou na causa porque convenceu o tenente-coronel a fazer delação premiada.

Agora, o problema está criado. Cid esperava um outro tratamento, porque ele atuou na conspiração como agente infiltrado, repassando diariamente ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, todas as informações que conseguia sobre a trama do golpe.

Mas está acontecendo o contrário. O tenente-coronel vem sendo investigado como se tivesse sido um dos líderes da conspiração, e por isso ele se considera perseguido e injustiçado, enquanto seu advogado nada faz e só pensa no faturamento garantido se for mantida a delação.

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P.S. –
Na verdade, a investigação do golpe no chamado inquérito do fim do mundo está cheia de furos jurídicos e processuais, porque as principais perguntas não estão sendo feitas, enquanto as dúvidas não têm sido dirimidas e permanecem nos autos. Mas isso é assunto para outro artigo, também com absoluta exclusividade. (C.N.)

Além de destruir a Lava Jato, o STF desmontou o combate à corrupção

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

A Lava-Jato estaria completando dez anos se não tivesse sido abatida pelo Judiciário, incluindo, principalmente, o Supremo Tribunal Federal. Não apenas abateu a operação de Curitiba, mas afastou do cenário todo o sistema de combate à corrupção.

Formou-se uma ampla aliança de políticos dos velhos métodos, da direita à esquerda, com empresários, todos apanhados em corrupção, para interromper a Lava-Jato e, mais, eliminar seus efeitos. Condenações à prisão, multas, devolução de dinheiro, acordos de leniência, tudo isso vem sendo anulado. Ninguém foi absolvido. Simplesmente os processos foram anulados, com base no cipoal de formalidades da Justiça. Provas, mesmo evidentes, foram declaradas imprestáveis.

ALEGRIA E TRISTEZA – Esse pessoal, portanto, comemora uma morte. Mas há quem lamente. São aqueles — entre os quais me incluo — que observam nesse retrocesso a volta da velha política e do capitalismo dos amigos. Nesse regime, prosperam não as empresas mais produtivas, mas as que pagam as maiores propinas.

Falso, portanto, o argumento de que a Lava-Jato destruiu empresas e reduziu o PIB brasileiro. Primeiro, porque essas empresas estão de volta, com outro nome e provavelmente as mesmas práticas. Segundo, porque empresas que crescem com base na corrupção não criam valor.

Ao contrário, destroem valor e produtividade porque bloqueiam o surgimento de concorrentes eficientes. Mais fácil obter uma vantagem em Brasília do que gastar dinheiro e cérebros criando novas tecnologias e métodos.

TUDO DE VOLTA – Sobram exemplos dessa volta triunfante do capitalismo de amigos. Nenhum mais evidente que a retomada da Refinaria Abreu e Lima. Em 2005, foi lançada, por um custo de US$ 2,5 bilhões. Feito menos da metade, já custou US$ 20 bi. E quem seria candidato forte a retomar as obras? A Odebrecht, digo, a Novonor. Novo?

Nesse caso, não é propriamente um aniversário, mas uma comemoração de volta para aqueles velhos tempos. Vale para o PT e para o governo Lula — e sua narrativa de que tudo não passou de uma conspiração liderada pelos Estados Unidos para destruir as empreiteiras brasileiras e a Petrobras.

Para eles, as empresas não quebraram por terem cometido grossa — e confessada — corrupção e, no caso da estatal, uma gestão temerária nos governos petistas. Faziam tudo certo e foram atacadas. E tem quem acredite.