Presidente do PT “renova” o conceito de democracia ao defender a China

Seminário do PT com o Partido Comunista, críticas aos EUA e carta de Lula para Xi Jinping: a viagem de Gleisi à China

Gleisi ficou encantada com a democracia no modelo chinês

Fabiano Lana
Estadão

Apologia à ditadura é algo que merece censura e bloqueio nas redes sociais? Se a resposta for sim, qual deve ser a reação aos comentários da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, sobre o regime autoritário da China, país que foi visitar? Lá ela só viu desenvolvimento e prosperidade. E ainda desafiou seus críticos, sobretudo do agronegócio e do setor mineral, a cortar relações comerciais com o gigante asiático.

“O que vi na China foi uma sociedade próspera, que cresce, inclui a população, e influencia o mundo. Com grandes investimentos na indústria, infraestrutura e tecnologia”, afirmou Gleisi, em tom quase fervoroso, no “X” de Elon Musk – que aliás é proibido por lá.

VISÃO PARCIAL – Gleisi certamente teve uma visão parcial da China. Não deve ter sido apresentada, por exemplo, às políticas de repressão a minorias como a Uigure, entre outros grupos mulçumanos, denunciadas pelo Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Os prisioneiros políticos da China são estimados em 48,7 mil, números que devem ser negados pelas autoridades oficiais, e talvez Gleisi concorde com os burocratas.

Mas pela visão da deputada, tudo isso, aparentemente, pode ser relativizado frente ao desenvolvimento célere da China nos últimos 40 anos. “Estão construindo um modelo socialista a partir de sua realidade sustentando um país com 1,4 bilhão de habitantes”.

UMA DÚVIDA – Sem entrar no pormenor de que hoje a China exerce muito mais um capitalismo de Estado dirigido por uma organização central e não o sonho utópico do socialismo, permanece a seguinte dúvida: se existe o sucesso econômico, a violência pode ser minimizada ou perdoada?

Isso valeria também para o regime do chileno Augusto Pinochet, que a despeito dos assassinatos conduzidos pelo Estado, abriu as portas para o Chile ser hoje o paÍs mais rico do continente em termos per capita? Fica uma pergunta geral: até que ponto podemos aceitar repressão por progresso?

A visão peculiar de democracia de Gleisi foi complementada aqui no Brasil, ao defender o ministro do STF Alexandre de Moraes da acusação de censura.

MAIOR AMEAÇA – Para ela, a maior ameaça à democracia brasileira vem da “extrema-direita, comandada por Jair Bolsonaro, que utiliza de todos os meios para atacar as instituições e seus representantes, semeando mentiras e conspirando, inclusive, com forças poderosas de fora do país”.

Pode até ser (apesar de tudo indicar que o movimento golpista já foi debelado e Bolsonaro está mais próximo de uma temporada na prisão do que se tornar um ditador).

Mas será que, se o movimento ameaçador contra a democracia partisse de grupos de esquerda a presidente do PT, estaria tão preocupada? Os elogios vibrantes ao que ocorre na China talvez provem que não, que não estaria comovida.

DIZIA NIETZSCHE – É a suspeita daquele filósofo rebelde do século 19, o Nietzsche, que denunciava a subordinação dos valores, sobretudos os morais, aos interesses de cada um e à luta pelo poder de todos. No Brasil temos vários exemplos, de todas as ideologias.

Temos no cardápio, entre outras opções:

1) o silêncio da maioria da esquerda, ou mesmo o desdém aberto, com as acusações proferidas pela ex-companheira do filho de Lula, por violência doméstica, em tempos de “mexeu com uma mexeu com todas”;

2) a nota do Itamaraty, comandado pelo nosso Rasputin Celso Amorim, de que o ataque do Irã a Israel se trata de “envio de drones”;

3) frases do presidente Lula que ajudam o protoditador Putin; e muito mais a escolher.

Esses ingredientes mostram que o tempero que dá sabor a certas declarações e atitudes políticas tem sido a hipocrisia. Aliás, se não fosse a hipocrisia, o que seriam das relações comerciais e das políticas no mundo?

12 thoughts on “Presidente do PT “renova” o conceito de democracia ao defender a China

  1. A China é uma ditadura com economia capitalista. É verdade que a população melhorou de vida, mas isso não muda a questão da ditadura.

    Quanto ao socialismo ser utópico, acho que o autor errou. O que é uma utopia é o comunismo que jamais conseguiu ser posto em prática e talvez não seja nunca, pois não estamos preparados para esse tipo de convivência.

  2. Já tive uma máquina fotográfica Nikon. Mas, como dizem não era minha praia, não sabia usar os filtros. Acho que todos os petistas, são excelentes fotógrafos. Pois, de acordo com sua conveniência us filtros para mascarar a realidade. O molusco há pouco tempo também disse que a Venezuela é uma democracia relativa.

    • A presidente do PT, Gleise Hoffmann, foi entrevistada ontem no Estúdio I.
      Merval Pereira, presidente da ABL foi escalado para fazer as primeiras perguntas.
      A primeira, cobrou da deputada, a afirmação de que a China era uma Democracia.
      Gleise negou, sem nenhuma convicção. Os políticos são assim mesmo, negam todas as evidências. Nesse caso, tinha que negar mesmo, porque na China pode ter tudo menos, a tal Democracia. Lá, vige o Capitalismo de Estado.
      Antes de Xi Jinpibg, os mandatos tinham um tempo de cinco anos. Xi acabou com a regra, se tornando ditador vitalício.
      Quem se insurgiu no Politiburo, leia-se PC Chinês, sumiu do mapa, lógico que devem estar na prisão em algum lugar.
      Evidente, que os laços comerciais do Brasil com a China, são do interesse do país, principalmente nas exportações de produtos primários. A China e o maior parceiro comercial do Brasil. Ideologia a parte, porque o que vale é o interesse do Brasil.
      Gleise perdeu uma importante oportunidade de ficar calada.
      Uma observação:
      A arrogância de Gleise ao responder as perguntas dos jornalistas ficou evidente no semblante do Merval e do Guedes.

      Não é porque se tratou da Gleise, do PT, que deixarei de criticar.
      Gostaria de ter o prazer, de ler alguma crítica, até simplória, de Bolsonaristas sobre o governo do seu Jair.
      Será que ainda verei isso escrito aqui? Não custa nada sonhar

      • Votei no Bozo, apesar de não ser bozonarista, com a esperança de mudanças, detalhe:outro pulha, apenas “afanou menos”, seus filhos são execráveis, negacionista dos infernos, sujou-se por migalhas com os relógios e jóias, devido a ganância por grana fácil, aquele cercadinho ridículo dispensa comentários, cercou-se de incompetentes, etc…mais?

  3. Tenho profundo apreço e respeito pelo jornalista, escritor e presidente da ABL, Merval Pereira. Leio sua coluna no O Globo, frequentemente e discordo muito pontualmente de suas análises.
    Quanto a Pedro do Couto, devo confessar, que nunca discordei. Pedro, a meu juízo é uma unanimidade, mesmo com a famosa frase de Nelson Rodrigues, de que toda unanimidade é burra.

    Voltando ao tema do artigo, que trata da China. É realmente um regime ditatorial. Nem esquerda nem direita. Simplesmente Ditadura.
    Partido único e pensamento único.
    Até membros do PC Chinês, ministros e membros superiores das Forças Armadas, se discordarem são afastados e presos. Imaginem, o cidadão comum, a imprensa ou alguma oposição?

    Nos quatro anos do governo Bolsonaro, assistimos algo parecido com a China de Xi.

    Logo no início do governo, Bolsonaro demitiu o Ministro Gustavo Bebiano e o ministro, general Santos Cruz, por divergências com o presidente e seus filhos, principalmente o Carlos. A diferença fundamental, é que não foram presos.
    Quem discordasse do Bolsonaro era demitido na hora e, até quem se manifestava contra a ruptura democrática e o ataque as urnas Eletrônicas também foi demitido sumariamente, com requintes de crueldade, como foram o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, o comandante do Exército, general Edson Pujol, o comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Moretti Bermúdez, todos legalistas. A ordem era sair mudo e continuar calados, como estão até hoje. Outra diferença, com a China de Xi Jinpibg, os quatro oficiais superiores não foram para nenhum exílio no deserto chinês ou na ilha de Fernando de Noronha. Foi a única diferença de fundo, no restante os métodos de defenestração foram os mesmos.
    Cabe uma pergunta: quem aprendeu com quem?
    Respostas para o Blog.

  4. Gleisi na planilha da bem aventurança era conhecida como Coxa. Ficou encantada com o capitalismo de estado do Xi Jiping, aquilo ali não é um quimera ou uma utopia, é a forma que encontrou para dizer que o comunismo é o Paraíso Perdido desde que Mao e Stalin morreram.
    O comunismo propriamente dito nunca existiu, o que fizeram foi uma arremedos dos ditos do Karl Marx, assim justificam os devotos.
    Em termos de melhor dos mundos, Gleisi deixaria Pangloss, Cândido e Cunegundes no chinelo.

  5. Comunismo não existiu e nunca existirá.
    Se dividirmos igualmente toda a riqueza da Terra entre seus habitantes, no início seria uma “zona” mas, quando as coisas se acertassem, os ex-ricos seriam os novos ricos e os miseráveis seriam os novos miseráveis.
    PS: Guardadas as diferenças gramaticais, tudo foi tirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, escrito em meados do século XIX com as comunicações obtidas do “mundo espiritual” e codificadas por Kardec.

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