Defesa da democracia já não basta para conter a força do populismo de direita

Populismo - Tempo de Política

Populismo da extrema-direita é um fenômeno na Europa

Maria Hermínia Tavares
Folha

Jair Bolsonaro perdeu as eleições — e seu golpe de Estado deu chabu. Ele não poderá disputar cargos públicos até 2030, além de ter contas pendentes com a Justiça que poderão deixá-lo fora do jogo, sabe-se lá por quanto tempo.

O que o mantém vivo na política, além de parcela da opinião pública, são a sua conspícua família e o espaço que lhe concedem, não sem ambiguidades, aqueles que à sua sombra se elegeram governadores, senadores e deputados.

MESMO DESTINO – Mas é possível que seu prestígio e sua liderança no campo da direita declinem. Nesse caso, terá destino semelhante ao de líderes populistas derrotados nas urnas mundo afora, em proporção maior dos que permanecem no poder e corroem a democracia por dentro.

Outra coisa é a presença, na vida pública brasileira, do populismo de extrema direita, cuja permanência de certa forma independe do que possa ocorrer com o ex-capitão.

Tratando do fenômeno na Europa, o cientista político americano Larry Bartels, em “Democracy Erodes from the Top” (“A Democracia Desaba a Começar do Topo”, em tradução livre), chama a atenção para a existência de reservatórios de sentimentos e atitudes do público que abastecem o populismo de direita.

RESERVATÓRIO – São estáveis ao longo do tempo, mudam pouco de tamanho e só ganham importância política quando líderes se dispõem a explorá-los para ganhar eleições.

No Brasil, o reservatório é grande, antigo e fundo. É formado pela rejeição aos políticos profissionais —e às elites em geral— uns e outras irremediavelmente corruptos; pela desconfiança das instituições representativas; pelo anseio de segurança e ordem que alimenta o aplauso a políticas de mão dura contra o crime; e, ainda, por valores reacionários em matéria de educação, religião e família.

Anos a fio, diferentes combinações desses sentimentos foram mobilizadas por populistas de direita como Jânio Quadros, Paulo Maluf, Fernando Collor e Bolsonaro, sem falar nas centenas de políticos que seguem povoando os governos locais, as Assembleias Legislativas e o Congresso Nacional, atulhados de pastores e pastoras, delegados de polícia, cabos e coronéis aposentados.

OUTRA REALIDADE – A diferença em relação ao passado é que hoje os sentimentos a avolumar o reservatório são alimentados por uma multiplicidade de organizações da sociedade civil —laicas e religiosas—, por núcleos que produzem interpretações do que foi ontem e do que é hoje e pelo uso habilidoso das redes sociais.

Embora imprescindível, a defesa da democracia já não basta para conter a força do populismo de direita e assim evitar a tragédia periodicamente encenada com diferentes elencos.

7 thoughts on “Defesa da democracia já não basta para conter a força do populismo de direita

  1. Sr. Newton

    Essa é a “democracia” e liberdade do Super Vilão Cabeça de Ovo Podre….

    “Proibir, multar, prender, arrebentar, e aqueles que ficarem mais bravinhos, vão direto para o El Paredòn do Castro. sem dó nem piedade”.

    “….Moraes derrubou perfis a pedido de órgão chefiado por ele no TSE, mostra relatório”””..

  2. As redes sociais servem para que populistas, principalmente da extrema-direita, explorem os instintos primitivos de muitos seres humanos.
    A ganância, o egoísmo, o individualismo, a falta de empatia, a resistência a quaisquer mudanças, as crenças nas supremacias de raças.

    A extrema-direita insiste em temas de costumes ultraconservadores, tais como xenofobia, ódio aos que preferem o coletivismo e a quem demonstra empatia, a resistência à ciência e às artes. Essas coisas são comuns entre as pessoas que tendem para esse extremo de ideologia.

    A extrema-esquerda não é diferente na radicalização ao tentar impor coisas contrárias aos instintos primitivos das pessoas.

    Muitas fake news são o combustível para atiçar os sentimentos eivados de paixão e irracionais e que podem corroer os alicerces da democracia.

    Por isso, a campanha contra quem ousa tentar impedir tal uso pelas redes sociais é previsível. E é sempre com a mesma desculpa: a liberdade de expressão absoluta, sem freios.

    Penso que um dia, se chegarmos lá, evoluiremos no sentido de ultrapassarmos esses instintos irracionais para vivermos mais coletivamente. Hoje, parece coisa impossível, pois talvez estejamos ainda na infância da evolução humana.

  3. Na minha opinião , essa retórica de ” direita & esquerda ” , serve apenas para mascara a total falta de respeito ás leis do país , puro e simples .

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