Paulo Peres
Poemas & Canções
O magistrado, jornalista, político, contista e poeta paulista Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924), membro da Academia Brasileira de Letras, no poema “A Flor e a Fonte”, compara a tortura que a fonte impôs à flor com a sua vida e o que restou do seu amor.
A FLOR E A FONTE
Vicente de Carvalho
“Deixa-me, fonte!” Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria
Cantava, levando a flor.
“Deixa-me, deixa-me, fonte!”
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte…
“Não me leves para o mar.”
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
“Ai, balanços do meu galho,
“Balanços do berço meu;
“Ai, claras gotas de orvalho
“Caídas do azul do céu!…”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
“Cantigas do rouxinol;
“Ai, festa das madrugadas,
“Doçuras do pôr-do-sol;
“Carícias das brisas leves
“Que abrem rasgões de luar…
“Fonte, fonte, não me leves,
“Não me leves para o mar!”
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor
Paulo Peres sempre nos brinda com canções e poemas que nos remetem aos tempos em que se produziam e se liam textos de muito bom gosto e escrita primorosa.