Vicente Limongi Netto
O pensador italiano Domenico De Masi partiu em setembro de 2022. Deixou obras marcantes. Entre elas, o livro “É importante ter coragem!”. Estimulante para milhões de brasileiros, que dormem vestidos de coragem para enfrentar as adversidades do dia seguinte.
Coragem para enfrentar malfeitores. Coragem para tentar conseguir emprego; coragem para enfrentar a bandidagem e a insegurança que tomaram conta do país; coragem para sofrer e ser humilhado nos postos de saúde e hospitais em busca de atendimento médico; coragem para repudiar o racismo e a homofobia; coragem para viver em barracos que são destruídos pelas enxurradas.
MAIS, AINDA – Coragem também para enfrentar o assédio moral e sexual; coragem para andar em ônibus imundos e caindo aos pedaços; coragem para multiplicar diariamente o alimento escasso para os filhos; coragem para se indignar com os governantes ruins e corruptos; e, por fim, ter força e coragem para, através do voto, mandar para o inferno, de uma vez por todas, a cambada de maus políticos que, com a maior cara lambida, mentem, desapontam e infelicitam os brasileiros.
E foi perda de energia a melancólica bravata de Lula chamando Trump de “mentiroso”. Não ganha nada com o patético destempero. Não cresce, política nem eleitoralmente. O dólar não vai abaixar, o Banco Central não vai reduzir os juros, os preços dos alimentos vão continuar altos, milhares de brasileiros continuam dormindo e esmolando nas ruas.
O bom senso e a boa política esperam que Lula também não responda aos insultos do presidente argentino, Javier Milei, que o chamou de “corrupto”. Perderia feio o arranca-rabo.
MATEMÁTICA ERRADA – Perdão, mas a manchete esportiva do Correio Braziliense de hoje, quarta-feira, “A matemática dos gols”, é incorreta. O texto fala de números, portanto, o correto seria “A aritmética dos gols”.
Devemos lembrar que a matemática é a ciência dos números. Mas quem trata deles, somando, diminuindo, multiplicando e dividindo, é a aritmética.
O equívoco é comum, perpetuou-se. Em rádios, televisões e impressos. Mas é chato, irritante e desagradável.
SOFRIMENTO – Empate sofrido. Com sabor de derrota. Brasil começa jogando bem, se impondo em campo, mas logo volta a irritante mesmice. Permite que o adversário comece a gostar do jogo. A tirar proveito da apatia do Brasil. Astros dos quais o torcedor espera alegrias, Vini Junior e Rodrigo, horrorosos.
Setores confusos, passes errados no meio de campo. Com vantagem no placar, é preciso saber tocar a bola, ficar com ela, girar o jogo. Com raras, produtivas e ameaçadoras jogadas de ataque. Dorival erra feio, colocando o menino Endrick no sufoco, para jogar 10 minutos.
Muito cedo para tornar-se salvador da Pátria de chuteiras. Aspecto saudável foi ver os jogadores cantando o hino nacional, com a mão direita aberta no coração. Detalhe que estava faltando, que lamentei, aqui, na Tribuna, há 10 dias.
Caro LImongi
Muito oportuna a lembranca e convite a sermos otimistas e resilentes em nosso enfrentamentos diarios.
A coragem é necessa’ria para quase todos omentos da vida e nao somente para atos heoriocs glaourizados como normalmente associamos.
Mas tomo a liberdade de aproveitar, o mote da chmada do brilante artigo para relembrar uma historia aqui do RS , envolvendo uma de suas mais tradicionais e relevantes figuras:
O doutor Protásio Alves, médico que virou nome de Avenida em Porto Alegre, foi chamado às pressas para atender Júlio de Castilhos, que “deitava um fumo” e não estava nada bem. Apresentava fortes dores na garganta.
Jornalista e advogado, Júlio Prestes de Castilhos foi presidente da Província, o que seria hoje o cargo de governador do Estado. Na época, a sede do governo gaúcho ficava no Forte Apache, localizado na esquina da Praça da Matriz, na Rua Jerônimo Coelho. Recentemente, o prédio que estava em ruínas foi restaurado e transformado em Memorial do Ministério Público. Um pouco mais acima, na Rua Duque de Caxias, morava Júlio de Castilhos, na residência que mais tarde virou museu e leva o seu nome.
Foi nesta casa que o Dr. Protásio, médico, amigo e correligionário, tentou uma traqueostomia para conter um câncer na garganta do caudilho positivista. Antes de anestesiar o paciente com éter, numa mesa cirúrgica improvisada, falou:
– Presidente, preciso operá-lo, espero que não lhe falte coragem.
Júlio de Castilhos olhou para o amigo e quase sufocando ironizou a recomendação, pronunciando seu derradeiro discurso:
– Coragem eu tenho Doutor Protásio, o que me falta é ar.
Uma parada cardíaca deu fim ao sofrimento.
Fontes: Memorial do Ministério Público e Amrigs