Brasil, México e Colômbia ajudam a preservar a ditadura venezuelana

Procura-se um relacionamento maduro – Meio

Charge do Spacca (Arquivo Google)

Demétrio Magnoli
Folha 

Inutilmente, Lula exibiu-se como mediador ideal na Ucrânia e no Oriente Médio, esferas fora do alcance da política externa brasileira. A prova de fogo chegou na Venezuela, desenrolando-se como espetáculo humilhante: em Caracas, junto com a esperança de transição democrática, enterra-se a credibilidade da palavra do Brasil.

Celso Amorim fala como enviado diplomático de Maduro ao mundo democrático. “A oposição coloca dúvidas, mas não consegue provar o contrário.” Falso: a oposição publicou as atas de votação escondidas pelo ditador —e a autenticidade delas foi confirmada por especialistas independentes.

DUAS VERSÕES – Diante disso, EUA, Argentina, Uruguai, Peru, Equador e Costa Rica reconheceram o triunfo de Urrutia. Boric chegou perto da conclusão factual, declarando que “o Chile não reconhece a vitória autoproclamada de Maduro”.

 Na direção contrária, o Brasil articulou com México e Colômbia um bloco negacionista que, simulando cautela, oferece à ditadura o intervalo indispensável para consolidar a fraude por meio da repressão generalizada.

Circula, nas chancelarias, o desenho de uma solução negociada: a formação de um governo provisório de união nacional com a missão de promover novas eleições. A ideia inspira-se no precedente da Polônia, em 1989, cuja transição começou com a derrota eleitoral do regime autoritário.

DIVISÃO DE PODERES – No governo unitário venezuelano, o chavismo controlaria os ministérios da segurança, enquanto a oposição teria as pastas econômicas. Uma anistia ampla e a criação de instituições eleitorais imparciais preparariam o terreno para eleições gerais livres.

A solução não é justa, pois o povo já votou, mas é realista. Sem a força das armas, a oposição teria que aceitá-la. Mas a chance de impor à ditadura uma saída negociada depende da intensidade das pressões diplomáticas — e, em especial, da rejeição regional à autoproclamada vitória de Maduro.

Regimes ditatoriais começam a desabar quando sofrem fraturas internas. A aposta na pressão diplomática, combinada com garantias de impunidade à máfia chavista, oferece oportunidade a potenciais dissidentes. É precisamente para sabotá-la que o governo brasileiro costurou o bloco tripartite da protelação. Maduro precisa mais do amparo sinuoso do Brasil que do apoio efusivo de Cuba ou da Nicarágua.

ACORDO DE BARBADOS – O fracasso diplomático estende-se às obrigações mínimas. O Brasil foi um dos fiadores do Acordo de Barbados. Calou-se, repetidamente, frente às violações sistemáticas do compromisso de eleições democráticas. Hoje, avança um pouco mais na via da desonra, virando as costas à selvagem repressão desencadeada contra os oposicionistas vitoriosos no voto popular.

Amorim justificou a resistência brasileira a condenar a fraude alertando para a iminência de um “conflito muito grave”, quase uma “guerra civil”, que seria caso único de guerra entre uma ditadura armada e uma oposição desarmada. Antes, em entrevista a um jornalista beija-mão, enquanto o regime encarcerava opositores em massa, o mesmo Amorim exprimiu sua “preocupação” com “a hipótese de perseguição aos chavistas caso a oposição chegue ao poder”. Entre uma entrevista e outra, esclareceu que o Brasil dialoga com todos os lados — exceto, apenas, com María Corina Machado.

LESA-PÁTRIA – A ditadura acusa a oposição do crime de lesa-pátria de divulgação das atas eleitorais autênticas, que pela lei venezuelana são documentos públicos, qualificando-as como “forjadas”.

Nada pode impedir a prisão de Corina Machado, mas o gesto brasileiro de enviar um representante de alto nível para reunir-se com ela, sob a luz das câmeras, formaria um anel de proteção. O Brasil, porém, prefere deixá-la exposta.

Na avenida central de Caracas, evolui o cortejo fúnebre das expectativas de transição democrática. Maduro segura uma das alças do caixão. Brasil, México e Colômbia sustentam as outras três.

7 thoughts on “Brasil, México e Colômbia ajudam a preservar a ditadura venezuelana

  1. “Amorim exprimiu sua “preocupação” com “a hipótese de perseguição aos chavistas caso a oposição chegue ao poder”.
    Esse chupim albino é um galhofeiro extraordinário.

  2. O ex-chanceler não perde uma só, uma sozinha oportunidade de se humilhar, mostrar preocupação com os chavistas caso a oposição ganhasse é coisa de uma pessoa profundamente baixa, combina com o cara, ele é baixinho mesmo. O comportamento do assessor especial do presidemente Biden da Silva é o mesmo que vi do vídeo de um russo mostrando-se espantado com o proceder dos soldados ucranianos, “eles não invadem as casas”, pois é, o cara reflete a propaganda oficial, e o “assessor especial” faz igualzinho ao russo doutrinado.

    • https://www.espada.eti.br/bol-2024-07-30.htm
      : “Boletim de 30/7/2024: (1) A abertura das Olimpíadas de Paris incluiu uma exibição orgiástica de simbolismo LGBTQ que não era vista desde os tempos da Grécia e de Sodoma. (2) A vice-presidente Kamala Harris faz uma rápida aparição em programa de televisão que promove competição entre drag queens. (3) O Pentágono alerta os líderes americanos que não será possível lutar em duas guerras simultaneamente. (4) Uma parte desta bagunça é que “as manifestações violentas são parte do plano”! Novo em 10/8!.”

  3. “No governo unitário venezuelano, o chavismo controlaria os ministérios da segurança, enquanto a oposição teria as pastas econômicas.”
    Sem chances de prosperar. Um lado ficaria com a chave do cofre e o outro com a borduna. Não é preciso muito esforço para saber quem teria mais lombo para acomodar pancadas.

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