Três Poderes demonstram ao Brasil o que é promiscuidade democrática

Tribuna da Internet | Reequilibrar os três Poderes é necessário, mas sempre  provoca crises institucionais

Charge do Luscar (Arquivo Google)

Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo

A imagem circulou sem parar pelas redes sociais. Não é para menos: ela simboliza o Brasil com perfeição. A velha imprensa tratou com a maior naturalidade: os líderes dos Três Poderes reunidos, num almoço no STF, para “debater” as tais emendas impositivas. A primeira pergunta que um jornalista sério teria de fazer diante da cena: o que os ministros supremos faziam ali? Orçamento não é assunto do Legislativo?

Montesquieu não chegou ao Brasil ainda. Em que pese ao grau de soberba do presidente do STF, que se considera um iluminado que precisa “empurrar a história”, o triste fato é que nunca o Iluminismo de boa estirpe nos deu o ar de sua graça. O conceito de República é desconhecido em nosso país, onde a promiscuidade impera, numa total confusão entre público e privado.

INDEPENDÊNCIA – A necessária divisão entre os Poderes não existe de fato. Bolsonaro era atacado pela mídia por gerar “atrito” com o STF, mas o povo vai descobrir, uma vez mais, o alto custo da “harmonia”: é a total morte da independência. Quando a cúpula toda se junta, o povo leva a mão imediatamente ao bolso e diz adeus às liberdades. É o “acordão” que sempre significa mais fardo no lombo do trabalhador, tratado como gado pelo sistema podre.

O conceito de República é desconhecido em nosso país, onde a promiscuidade impera, numa total confusão entre público e privado. O jurista André Marsiglia resumiu bem: “A função mais importante de um Poder é fiscalizar os demais, é o que chamamos sistema de freios e contrapesos. Em meio às acusações da Vaza Toga contra o judiciário, no lugar do Legislativo exercer seu papel fiscalizador, harmoniza-se para negociar emendas. O resto não importa”. Perfeito.

E o timing do encontro também diz muito: foi para mostrar união num momento em que o Senado deveria estar votando urgentemente o impeachment de Moraes.

BLINDAGEM – Os monstros do pântano se protegem. O sistema carcomido se blinda. Na democracia de gabinete, só não há espaço para o povo. Uma semana da reportagem da Folha com as trocas criminosas de mensagens dos auxiliares de Alexandre de Moraes e nada acontece. Na verdade, acontece sim: o CNJ arquiva denúncias contra quem queria sequestrar jornalista asilado nos Estados Unidos para agradar o chefe, a “bruxa” sem noção que não liga para as consequências. As bruxas supremas estão soltas…

Para adicionar insulto à injúria, o STF receberá uma comitiva de “influenciadores” em projeto que busca, supostamente, aproximar a corte da sociedade. Um dos influenciadores já próximos é Felipe Neto. Outro convidado será Átila Lamarino, aquele que defendeu o autoritarismo chinês na pandemia.

É o STF convocando seu “gabinete do ódio”, sua “milícia digital”. Senti falta, confesso, de Alexandre Frota na lista, para pautar as degolas promovidas por Moraes…

LONGE DO POVO -Marsiglia, novamente, rebateu o absurdo: “O STF não tem que se aproximar da sociedade, tem que se aproximar da Constituição. O desejo de ser apoiado pelo povo é político, descabido a uma Corte. No entanto, diz muito do momento nosso maior tribunal se sentir desconectado a ponto de precisar de ajuda para ser compreendido”.

Claro que com essa patota o STF vai apenas se afastar ainda mais do povo. Mas quem precisa do povo quando se tem a mídia e o poder?

O STF virou uma corte política, um puxadinho tucanopetista que persegue ilegalmente seus adversários e críticos. Nada disso combina com uma República, com uma democracia. É puro suco de Brasil, e o Brasil, infelizmente, não é um país sério. É o país da promiscuidade. Uma promiscuidade “democrática”, claro. O Brasil voltou e a democracia foi salva!

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

10 thoughts on “Três Poderes demonstram ao Brasil o que é promiscuidade democrática

  1. Para completar o “Alcoviteiro Conglomerado”, centralizado em “Brasília, a Libertina do Brasil”, faltou a presença da tida tímida mas deslavada “Meretriz do Apocalipse”!

  2. É, tudo o que pinta de novo, pinta no rabo do povo.
    Quando os de cima “carcam”, os de baixo “gritam”.
    É a avacalhação dos princípios republicanos.
    Montequieu, inventou o estrado tripartite, mas isto foi lá nas antigas, hoje já se poderia pensar em nova fórmula, a atual esta envelhecida.

  3. Orçamento não é assunto do Legislativo? Ora pois, quem elabora o orçamento é o executivo. Ao legislativo cabe aprová-lo.

    Mas de um tempo para cá, a voracidade do legislativo faz com que esse poder cada vez mais se imiscua nesse assunto, a ponto de já se auto destinar aproximadamente 20% de tudo que o executivo pode gastar em despesas livres. Esse percentual é muito maior que em outros países. Hoje, o valor das emendas impositivas é de uns 50 bi. Em 2015 era de uns 3 bi.

    E, claro, esse poder não quer responsabilidades na aplicação desse montante.

    O STF proibiu o tal orçamento secreto e o que o legislativo fez? mudou o nome, mas manteve o teor nada transparente das destinações.

    Constantino, como é de praxe dos boçalistas, ataca o STF. Acha que o legislativo deve poder ter o dinheiro público, sem que tenha deveres mínimos, como mostrar claramente onde os recursos serão aplicados.

    O legislativo, em vez de fiscalizar a destinação do dinheiro público, agora quer exercer a função de gestor, sem que tenha recebido votos para isso.

    E vem esse autor criticar o poder judiciário que ainda é o que consegue dar um pouco de equilíbrio às instituições do Estado.

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