Entenda como a ultra-direita manipula rancores para obter ganhos políticos

Defesa da 'liberdade de expressão' virou bandeira da extrema-direita -

Charge do Lafa (Arquivo Google)

Bruno Boghossian
Folha

A extrema direita foi às ruas no Reino Unido para propagar uma onda de ódio contra imigrantes. O bando espalhou medo e fúria, mas não fez muito sucesso. Depois de invadir abrigos, incendiar carros e agredir policiais, a turma despertou grandes atos antirracistas que, na prática, frearam os ataques. A maioria da população condenou a violência.

Mesmo assim, os políticos que usam a xenofobia como língua corrente não acharam que era o caso de voltar para a toca. O desprezível Nigel Farage tentou convencer o público de que repudia a violência, mas aproveitou para dizer que os protestos exigiam uma iniciativa urgente para conter a imigração.

UM JOGO BAIXO – A ação política da extrema direita é uma aula do jogo baixo que é possível fazer para contaminar o debate público. Partido anti-imigração por natureza, o Reform UK de Farage foi derrotado na última eleição do Reino Unido e ficou com 1% das cadeiras do Parlamento. A legenda, no entanto, tenta explorar os ataques para fazer valer suas preferências.

A manipulação de rancores não é uma tarefa difícil quando ocorre num ambiente inflamável. No Reino Unido, grupos extremistas estimularam a perseguição a imigrantes depois que informações falsas nas redes deram conta de que um imigrante em situação ilegal teria sido o responsável por assassinar três crianças na cidade de Southport.

A ultradireita conhece bem esse território. Ainda que 85% da população tenha rejeitado protestos violentos, 42% dos britânicos disseram ao YouGov que as manifestações que ocorreram de forma pacífica eram justificadas —ainda que tenham sido convocadas por radicais, a partir de um estopim xenofóbico e mentiroso.

A violência pode até ser condenada, mas o espetáculo que ela produz é capaz de ampliar o alcance de um assunto e até amplificar a adesão à retórica de grupos que, em tempos de calmaria, são vistos como radicais. Em certos casos, com alguma boa vontade coletiva, essa mudança é suficiente para que mais gente passe a considerá-los normais.

Lula se desmoraliza ao censurar dados de pesquisas, bem no estilo Bolsonaro

Homem branco vestido de terno gesticula com microfone na mão. Atrás dele há duas bandeiras do Brasil

Lula decreta sigilo em dados de uso na campanha eleitoral

Elio Gaspari
O Globo/Folha

O repórter Mateus Vargas revelou que o governo decidiu impor pelo menos dois anos de sigilo para os resultados de 33 pesquisas que custaram à Viúva R$ 13 milhões. Alguns desses levantamentos foram realizados no governo de Bolsonaro.

Segundo a Secretaria de Comunicação do Planalto, o conhecimento dos resultados dessas pesquisas pode “trazer maiores prejuízos à sociedade do que os benefícios de sua divulgação”.

CGU QUER SIGILO – Diante de um recurso da Folha de S.Paulo, a Controladoria-Geral da União entrou na questão e defendeu o sigilo:

“A sua disponibilização possui o potencial de trazer à tona informações distorcidas referentes a uma política pública a ser implantada, frustrar expectativas e gerar a propagação de informações equivocadas.”

Sabe-se que algumas dessas pesquisas referiam-se às falas de Lula sobre a guerra de Gaza e sobre as ações do governo contra o crime organizado.

BUROCRATA ONOPOTENTE – O governo que atacava os sigilos impostos por Bolsonaro bloqueia o conhecimento de simples pesquisas de opinião. Nada a ver com o segredo sobre ações sigilosas. Tudo coisa de burocrata onipotente, pois o embargo incluiu até o preço do serviço, disponível em outra base de dados.

Essa espécie de funcionário que se investe de poderes para decidir o que a população deve saber é imortal. Em 1974, durante a ditadura, ele tentava bloquear notícias sobre a epidemia de meningite que assolava São Paulo. Meses depois, o governo tomou uma surra eleitoral e o embargo foi um dos fatores da derrota.

Além de imortal, esse burocrata é universal. Em 1945 o governo americano bloqueava qualquer notícia relacionada ao seu projeto de fabricação de uma bomba atômica.

CASO DE HIROSHIMA – Estava certo, mas, na manhã do dia 6 de agosto, um general impediu que um repórter divulgasse a explosão da bomba sobre a cidade japonesa de Hiroshima, ocorrida horas antes. Vá lá, o general queria esperar que o presidente Harry Truman anunciasse o feito. Na outra ponta, o governo japonês minimizava o estrago. No Japão, fotografias de Hiroshima só foram publicadas em 1952.

O povo americano sempre soube o que aconteceu em Hiroshima, mas um quadro completo só veio à luz quando o repórter John Hersey publicou sua reportagem na revista New Yorker, um ano depois. O general que havia bloqueado a notícia da explosão de 1945 foi ouvido informalmente pela revista e liberou o texto de Hersey.

O sigilo imposto pela Secom e pela AGU às 33 pesquisas seria levantado daqui a dois anos, quando tiver terminado o governo de Lula. Pura censura de conveniência.

Mensagens são evidências de incesto entre STF e TSE para fabricar provas

Juízes auxiliares do STF ganham mais que os ministros da corte - Espaço  Vital

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

J.R. Guzzo
Estadão

O jornalista Glenn Greenwald é um blogueiro de extrema direita? Não, não é. A Folha de S.Paulo é um jornal golpista? Também não é. E o jurista Nelson Jobim, que foi ministro de Lula, de Dilma Rouseff e do STF, e alto tucano no tempo em que existia o PSDB – ele é bolsonarista? De novo: não é. Convida-se, então, o governo Lula, a esquerda nacional e o próprio STF a explicarem por que Greenwald, que publicou as gravações que levaram a Lava Jato ao óbito, publica agora na Folha gravações comprovando que o ministro Alexandre de Moraes usou a máquina do TSE para instruir decisões tomadas por ele próprio no STF.

Ficam convidados, também, a esclarecer por que Jobim decidiu afirmar em público que não houve golpe de Estado nenhum no dia 8 de janeiro. É a razão de ser de toda a atividade penal do Supremo no último ano e meio: são milhares de prisões, acusações de repressão ilegal e condenações a até 17 anos de cadeia para pessoas que participaram de um quebra-quebra em Brasília. Se não houve golpe, como justificar isso tudo?

CLÁUSULA PÉTREA – É uma cláusula pétrea na doutrina que comanda hoje todo pensamento da esquerda brasileira – criticar a conduta dos ministros do STF, dar qualquer notícia que eles não querem ver publicada e, sobretudo, dizer que o golpe do 8 de janeiro nunca existiu se deve unicamente a uma articulação da extrema direita golpista. Só os bolsonaristas, e mais ninguém, fazem esse tipo de coisa. É tudo fake news, ato antidemocrático e “ataque” ao STF.

E agora, com as evidências de incesto entre STF e TSE para fabricar provas? E a negação do golpe pelo ex-ministro Jobim? Estariam Glenn, a Folha e Jobim agindo de forma combinada e simultânea para fechar o Supremo e instalar uma ditadura fascista? Não faz nenhum nexo – como nada, nunca, fez nexo na ficção de que o STF é o Santíssimo Sacrário da democracia no Brasil.

ESTADO POLICIAL – O STF é aquilo que ele é no mundo das realidades, e as gravações agora publicadas sobre o tráfico de ordens obscuras no altíssimo judiciário são uma demonstração em HD das coisas que se dizem e que se fazem no mundo de sombras no qual opera a célula de ação político-policial criada no País pelo STF.

É um bas-fond judiciário em que um juiz diz para um funcionário, por exemplo, que ele deve aplicar sua “criatividade” para produzir o tipo de relatório que o ministro Moraes estava querendo receber. No caso, a intenção era “desmonetizar” a revista Oeste – e quando o funcionário diz que só encontrou conteúdos jornalísticos no material que havia examinado, recebeu a ordem de inventar alguma coisa para satisfazer o ministro. “Ele está cismado”, diz o juiz. “Quando fica assim, é uma tragédia”. Em outro momento, Moraes se mostra impaciente com a demora no atendimento de suas solicitações. “Vocês querem que eu escreva o laudo?”, diz ele. E por aí se vai – até o momento.

Isso não é “bolsonarismo” – são apenas fatos. Mas no Brasil de hoje existem dois tipos de fato. Um é o fato real, como o que aparece nas gravações. O outro é o fato do STF, que, depois de processado pelos ministros, passa a ser precisamente o que eles querem que seja.

APENAS ORDENS – Na história das gravações, não houve nenhuma explicação coerente para nada – apenas uma espécie de decreto judiciário dizendo que tudo ali foi legal, pois Alexandre Moraes julgou o que ele próprio tinha feito e chegou à conclusão que era legal. O Brasil foi informado, igualmente, que tem uma nova polícia – a polícia eleitoral do TSE e que, portanto, tudo isso está valendo.

Os outros ministros, o advogado-geral da União e o presidente do Senado batem palmas. Todos eles, como se sabe, são inimigos de qualquer anistia para os crimes que não foram cometidos no golpe que não foi dado – pelo simples fato, entre tantos outros, de que em dezoito meses de investigações não apareceu nenhuma prova decente contra os acusados.

É possível, um dia, que venham precisar de uma anistia para si mesmos.

Lula não reconhece vitória da oposição e até propõe novas eleições na Venezuela

Imagem mostra presidente Lula em Brasília, em 14 de agosto

Lula deixa de embromar e defende Maduro abertamente

Caio Spechoto e Sofia Aguiar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta quinta-feira, 15, que ainda não reconhece Nicolás Maduro como presidente reeleito na Venezuela. Lula também mencionou publicamente pela primeira vez a ideia de novas eleições no país vizinho se Maduro “tiver bom senso”, mas observou que não é “fácil, nem bom” o presidente de um país dar palpite na política de outra nação.

O petista deu as declarações em entrevista à Rádio T, em Curitiba. O presidente está no Paraná para uma série de compromissos na região metropolitana da capital do Estado. “Se ele [Maduro] tiver bom senso, poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições”, declarou.

SAÍDA CHAVISTA – A ideia de aventar a possibilidade de uma nova eleição na Venezuela tem sido plantada por aliados do regime chavista, mas é vista com ceticismo pela maioria da comunidade internacional, que vê na estratégia uma armadilha que poderia ser apoiada por Brasil, Colômbia e México para dar a Maduro um respiro político.

De acordo com o presidente, os problemas nas eleições venezuelanas começaram a ser observadas pelo Brasil após as votações pela não publicação das atas eleitorais. O petista disse que Maduro está devendo explicações sobre isso. “Ainda não [reconheço o resultado], ele [Maduro] sabe que está devendo uma explicação para a sociedade e para o mundo”, declarou Lula.

O presidente disse que também não é possível reconhecer vitória dos opositores do chavismo, por falta de dados concretos. Lula voltou a afirmar que é necessário divulgar os dados eleitorais do país. Duas semanas depois do pleito, cresce entre atores internacionais – e mesmo no governo brasileiro – o ceticismo com a possibilidade de divulgação real das atas.

SEM DIVULGAR ATAS – As eleições venezuelanas foram em 28 de julho. Sem divulgar as atas eleitorais, essenciais para a transparência do processo eleitoral, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou a reeleição de Maduro por 52% a 43% de Edmundo González Urrutia. Já a oposição coletou e publicou online cópias de 25 mil atas eleitorais (82% do total das mesas) e disse que sua contagem dá vitória ao desafiante, por margem inatingível para Maduro.

Apurações independentes de pelo menos três organizações – duas delas feitas com base nas atas coletadas pela oposição – indicam que o adversário de Maduro, Edmundo González Urrutia, recebeu pelo menos meio milhão de votos a mais que o contabilizado.

Lula afirmou ainda que há várias saídas para a crise política no país vizinho e que trabalha junto com o governo de Gustavo Petro na Colômbia para encontrar uma solução. Uma delas seria um governo de coalizão, entre o chavismo e os opositores. Outra, também citada pelo petista, seria uma nova eleição. “[Maduro pode] estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário que participe todo mundo, e deixar que entrem olheiros do mundo inteiro para ver as eleições”, declarou o presidente brasileiro.

A PORTA FECHADAS – A ideia de sugerir novas eleições na Venezuela foi discutida por integrantes do governo Lula a portas fechadas nos últimos dias. Pela ideia em debate, seria promovido uma espécie de “segundo turno” somente entre o Nicolás Maduro e o opositor Edmundo González.

A realização da nova votação dependeria de outro acordo entre as forças políticas venezuelanas e de determinadas condições, como a ampla presença de comitivas de observação internacionais, a promessa de anistia política aos perdedores – algo já defendido pela Colômbia – e o relaxamento das sanções contra o regime chavista.

O jornal Valor Econômico noticiou que o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, fez a sugestão a Lula e que o presidente a reproduziu verbalmente, durante a reunião ministerial realizada na quinta-feira passada, dia 8, no Palácio do Planalto.

SEGUNDO TURNO – O Estadão confirmou com a equipe de Amorim que a ideia está em discussão, tendo sido aventada por outros interlocutores do presidente. A possibilidade de realizar novas eleições ainda depende de ser mais elaborada.

A Assessoria Especial da Presidência ponderou que não se trata, por enquanto, de uma proposta formal a ser apresentada pelo País.

“É como se fosse um segundo turno das eleições”, afirmou Amorim ao Valor. “Essa ideia não é nova, existe desde o início do problema. Se quiserem negociar um pacote em torno dessas coisas, com o fim das sanções, é possível fazer uma espécie de segundo turno, com um bom acompanhamento internacional.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma Piada do Ano após a outra, e assim Lula da Silva e Celso Amorim vão perdendo completamente a credibilidade, se é que alguma dia chegaram a ter alguma. (C.N.)

Moraes julga (?) ter poderes para perseguir investigados e até juízes

Decisão foi dada no processo que suspendeu resolução do CFM sobre assistolia fetal após 22 semanas de gestação

Moraes não tem equilíbrio para ser ministro do Supremo

Matheus Leitão
Veja

Há tempos o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes é criticado por proferir decisões que, segundo seus críticos, teriam transgredido a legislação em vigor sob o nobre pretexto de defender a democracia. Em vários casos, ele teve respaldo do Judiciário, mas esse cenário está mudando.

Desde que assumiu os inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos – e, mais recentemente, o do 8 de janeiro –, o magistrado tem sido alvo de políticos de direita, com ou sem mandato eletivo, que o acusam justamente daquilo que, a princípio, buscava combater: autoritarismo.

ESTAVA GANHANDO – Até aí, Alexandre de Moraes estava ganhando o jogo. Primeiro porque, como a própria coluna opinou, o magistrado foi fundamental para a manutenção da democracia. Segundo porque essas investidas da extrema-direita se baseavam mais em narrativas do que em fatos.

Agora, porém, cresce no próprio meio jurídico a avaliação de que o ministro cruzou uma linha inédita (para ele) e corre o risco de perder parte do apoio amealhado dentro da própria classe.

 Na quarta-feira, 26, Alexandre de Moraes cassou a sentença de um juiz de 1ª instância de Maringá (PR) que havia determinado à União o pagamento de indenização a um ex-deputado estadual que tivera as contas nas redes sociais bloqueadas no inquérito das fake news. 

PUNIR O JUIZ? – Chama atenção no caso o último dos despachos: “determino, por consequência, a imediata extinção do referido processo, com remessa integral dos autos ao Corregedor Nacional de Justiça, Ministro Luis Felipe Salomão, para as providências cabíveis em relação ao magistrado”.

A postura de Moraes gera incômodos porque, na visão de juristas, contraria frontalmente o artigo 41 da Lei Orgânica da Magistratura (Loman), segundo a qual, “salvo os casos de impropriedade ou excesso de linguagem, o magistrado não pode ser punido ou prejudicado pelas opiniões que manifestar ou pelo teor das decisões que proferir”. 

Tal garantia é indispensável, de acordo com juízes, para garantir a independência judicial, isto é, a imparcialidade e isenção do julgamento – que deve submeter-se apenas às leis e às provas.

IGUAL A GILMAR – Embora essa resolução configure expediente inédito para Alexandre de Moraes, seu colega Gilmar Mendes protagonizou episódio semelhante em 2008, quando ordenou ao CNJ, ao Conselho da Justiça Federal (CJF) e à Corregedoria do TRF-3 investigar o então juiz federal Fausto De Sanctis por decisões no âmbito da operação Satiagraha. 

A determinação de Mendes causou tanta estupefação que o magistrado a imprimiu e mandou emoldurar para pendurar na parede de casa, como narra o jornalista Rubens Valente no livro “Operação Banqueiro”.

Na época, associações representativas da magistratura lançaram notas públicas contra a decisão de Gilmar Mendes, que não teve consequências gravosas para De Sanctis, atualmente desembargador do TRF-3. A questão que fica, a partir do paralelo histórico, é se o juiz de Maringá que ora desafia Alexandre de Moraes terá a mesma sorte.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGConforme temos comentado aqui na Tribuna da Internet, Alexandre de Moraes não tem equilíbrio para ser ministro do Supremo. Ele acha que tem poderes para perseguir investigados e até juízes, vejam a que ponto chegou a arrogância dele. É lamentável. (C.N.)

Moro salienta que ‘não há comparações com “Vaza-Jato”, mas evita citar Moraes

Moro: "não há comparações" entre Vaza Jato e caso de MoraesBela Megale
O Globo

Pressionado por colegas do Senado sobre seu silêncio diante das mensagens reveladas pela Folha de S. Paulo envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o uso informal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para manipular relatórios em investigações, Sergio Moro foi às redes falar sobre o caso.

O senador criticou a chamada Vaza-Jato, que divulgou conversas no Telegram obtidas após a invasão do celular do ex-chefe da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, mas disse que “apesar dos hipócritas, não há comparações possíveis até porque o objeto dos processos é diferente”.

Nesta quarta-feira (14), Moro escreveu uma mensagem se dizendo favorável à “soltura imediata e à revisão pelo STF ou pelo Congresso das condenações e penas excessivas contra os manifestantes do 8/1”, “ao fim da censura e da perseguição contra os adversários do Governo Lula” e “ao restabelecimento pleno das liberdades democráticas e realinhamento internacional do Brasil com as democracias ocidentais”.

SEM CITAR MORAES  – Moro evitou citar nominalmente Moraes. O senador disse a aliados que, apesar de ter sido econômico ao falar do assunto publicamente, tem tido muitas conversas com os senadores nos bastidores.

Depois que as mensagens da Vaza-Jato vieram à tona, uma série de decisões de Moro como juiz foram anuladas e ele foi considerado suspeito para julgar Lula, o que possibilitou que o petista se tornasse elegível novamente e ganhasse as eleições em 2022.

Lula devia falar menos, para não criar dificuldades ao seu próprio governo

O presidente Lula durante durante a oferenda floral no Chile

Lula vaiado numa cerimônia esta segunda-feira, no Chile

Hélio Schwartsman
Folha

Relações internacionais são um terreno difícil. Elas são o que de mais perto existe do estado de natureza hobbesiano. Sem um poder central que a todos submeta, cada Estado é mais ou menos livre para agir como quiser com seus homólogos. As principais limitações são a força militar de outros países; acordos internacionais, cuja imposição, porém, é fraca; e, no caso de democracias, a repercussão política que as ações do dirigente possam ter para o público interno.

A resultante disso costuma ser uma política externa pragmática (interesses) com algum tempero moral.

ESTILO PRÓPRIO – Diplomatas não são nem padres, que julgam os atos de seus fiéis só por sua dimensão moral, nem milicianos, que não têm constrangimento em extrair por ameaça ou força o que desejam de seus clientes.

Se não faz sentido para um país deixar de comerciar com a China porque ela é uma notória violadora de direitos humanos, tampouco dá para fechar os olhos para todo e qualquer abuso cometido por nação ou governante amigos.

O Brasil não poderia ter sido o primeiro país a gritar “fraude” para as fraudes perpetradas por Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas. Não seria verossímil, dadas as ligações históricas entre Lula e o chavismo, nem prático.

MAIS SUTILEZA – Se Brasília quer conservar alguma capacidade de influência diante de Caracas, precisa atuar com sutileza. Não seria vexaminoso para o Itamaraty cobrar as atas das seções eleitorais antes de caracterizar o pleito como fraudulento.

O problema é que Lula, mais uma vez, atropelou a diplomacia profissional. Falando de improviso, ele praticamente “legalizou” a fraude de Maduro. E o petista é reincidente nessa matéria. Ele também coonestou precipitadamente a reeleição de Ahmadinejad no Irã em 2009, outro pleito repleto de suspeitas. Pega mal para alguém que foi eleito para salvar a democracia no Brasil.

Lula faria um favor a si mesmo se conseguisse segurar a própria língua.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se não falasse tantas asneiras, o presidente Lula da Silva não teria sido alvo de mais vaias do qe aplausos durante cerimônia no Chile na manhã desta segunda-feira. O caso se deu na Praça da Cidadania, onde depositou flores junto ao monumento ao libertador Bernardo O’Higgins. (C.N.)

Sem poder aprisionar jornalista, Moraes investe contra a filha dele, de 16 anos

Oswaldo Eustáquio na Espanha, em 2024

Eustáquio está longe da família e tenta asilo na Espanha, 

Eduardo Barretto
Metrópoles

O militante bolsonarista Oswaldo Eustáquio reagiu nesta quarta-feira (14/8) à operação da PF ordenada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra a filha adolescente e a esposa de Eustáquio, na casa da família em Brasília. Eustáquio está na Espanha e tem uma ordem de prisão em aberto no STF há um ano e meio. A razão de a menor de idade ser alvo é porque a investigação suspeita de que ela seja usada por Eustáquio para driblar as restrições impostas pelo Supremo a ele.

“A medida extrema contra uma adolescente de 16 anos, simplesmente por sua opinião, escancara o abuso de autoridade de Moraes e do delegado Fábio Shor, que já esteve em minha casa uma vez e deixou meus filhos com medo. Mesmo assim, eu e minha família continuamos na luta pela liberdade e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirmou Eustáquio à coluna.

Desde as 8h desta quarta-feira (14/8), a Polícia Federal, a Polícia Militar e o Conselho Tutelar estiveram na casa da família de Oswaldo Eustáquio em Brasília. Como um dos alvos é a filha de 16 anos do militante, o Conselho Tutelar acompanhou a busca e apreensão. Moraes ordenou a apreensão de armas e aparelhos eletrônicos, além de bens de alto valor usados pela família. A esposa do bolsonarista, ex-secretária de Damares Alves no Ministério dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro, Sandra Eustáquio, também acompanhou a operação.

CONTAS BLOQUEADAS – O embate entre Moraes e a filha de 16 anos de Eustáquio é antigo. Como a coluna mostrou, Moraes mandou bloquear em março do ano passado as contas da jovem. Um banco informou ao Supremo que a menina tinha duas contas: uma conta-corrente com R$ 6,3 mil, e um investimento em previdência privada de R$ 374,7 mil. As duas foram bloqueadas.

“O investigado [Oswaldo Eustáquio], de maneira sorrateira, está utilizando o perfil de sua própria filha para arrecadação de dinheiro, mediante propagação de mentiras”, afirmou Moraes, completando que esse dinheiro seria usado para evitar a prisão e cometer mais crimes.

Desde dezembro de 2022, Oswaldo Eustáquio está foragido de uma ordem de prisão do STF, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, que atendeu a pedidos da PF e da Procuradoria-Geral da República. Eustáquio mora na Espanha e pediu asilo ao país. A PF informou ao ministro que não conseguiu incluí-lo na lista da Interpol.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Para que tudo isso.? Qual foi crime gravíssimo cometido pela filha do jornalista, tão grave a ponto de submetê-la a busca e apreensão? Sinceramente, o que Moraes tem na cabeça? Quem conseguirá fazer com que caia na real? É preocupante e revoltante. (C.N.)

Taxação em plano de previdência deixado como herança avança na Câmara

Pelo texto, quanto maior a herança, maior a alíquota

Pedro do Coutto

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto que permite a taxação da previdência privada no momento da transferência aos herdeiros. Tal projeto é absurdo, sobretudo porque remete aos estados a possibilidade de fazer tal transferência aos que nada contribuíram. A herança é sempre uma decisão dos que contribuíram para os planos de previdência sem prever taxação alguma.

O texto aprovado pelos deputados estipula a cobrança do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), o imposto sobre herança, nos planos de previdência privada, como PGBL e VGBL. Enquanto no VGBL o Imposto de Renda incide apenas sobre os rendimentos, no PGBL, o imposto incide sobre o valor total a ser resgatado ou recebido sob a forma de renda. A proposta estabelece, porém, que investidores que ficarem mais de cinco anos no VGBL, a contar da data do aporte, serão isentos. Já o PGBL será tributado independentemente do prazo.

COBRANÇA – O secretário Extraordinário de Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, defendeu a medida, apesar de o governo ter retirado a cobrança do texto encaminhado ao Congresso. A tributação, porém, foi retomada pela Câmara. A minuta do projeto de lei elaborado pela equipe econômica previa a cobrança do imposto de herança sobre a previdência privada.

Com a repercussão negativa, principalmente nas redes sociais, a cobrança foi retirada do texto – sob determinação do presidente Lula da Silva. É injusta e ilegítima a forma com que o projeto de lei estabelece. São coisas do Brasil. Em última análise, pode-se esperar o veto por parte do presidente Lula da Silva. É incrível como se fazem as leis no país.

APOIO – Marcelo Freixo anunciou seu voto em Eduardo Paes. Principal nome da esquerda carioca nas últimas duas décadas e notório adversário de Paes, Freixo afirma que fará campanha este ano para o prefeito. Não só: o ex-PSOL e PSB reforça a necessidade de uma vitória no primeiro turno — que, na visão dele, passa por levar o eleitorado de esquerda ao candidato à reeleição — e defende que Paes concorra ao governo do estado em 2026.

“Em 2012, quando concorri contra ele, o Eduardo representava a direita. Hoje há outra configuração política no país e no Rio. A extrema direita e a direita estão fora do projeto do Eduardo. A candidatura dele, hoje, configura o campo democrático. O que vai derrotar a extrema direita no Brasil não é a esquerda, é essa aliança do campo democrático”, afirmou.

“Acertei no Milhar”, um samba de breque que ficou na história do jogo do bicho.

História do samba: a navalha de Wilson Batista

|Wilson Batista compôs mais de 500 sambas

Paulo Peres
Poemas e Canções

O compositor mineiro Geraldo Theodoro Pereira (1918-1955) e seu parceiro Wilson Batista usaram um dos temas mais populares, o jogo do bicho, para fazer a letra do samba de breque “Acertei No Milhar”, gravado por Moreira da Silva, em 1940, na Odeon. Um samba que ficou na história do jogo do bicho.

ACERTEI NO MILHAR
Wílson Batista e Geraldo Pereira

– Etelvina, minha filha!
– Que há, Jorginho?
– Acertei no milhar
Ganhei 500 contos
Não vou mais trabalhar
E me dê toda a roupa velha aos pobres
E a mobília podemos quebrar
Isto é pra já
Passe pra cá

Etelvina
Vai ter outra lua-de-mel
Você vai ser madame
Vai morar num grande hotel
Eu vou comprar um nome não sei onde
De marquês, Dom Jorge Veiga, de Visconde
Um professor de francês, mon amour
Eu vou trocar seu nome
Pra madame Pompadour
Até que enfim agora eu sou feliz
Vou percorrer Europa toda até Paris

E nossos filhos, hein?
– Oh, que inferno!
Eu vou pô-los num colégio interno
Telefone pro Mané do armazém
Porque não quero ficar
Devendo nada a ninguém
E vou comprar um avião azul
Pra percorrer a América do Sul

Aí de repente, mas de repente
Etelvina me chamou
Está na hora do batente
Etelvina me acordou
Foi um sonho, minha gente

Moraes se emporcalhou de tal maneira que é até arriscado tentar defendê-lo

Carlos Newton

Chega a ser comovente o esforço conjunto que está sendo feito para limpar a barra do ministro Alexandre de Moraes, mas o resultado está sendo patético. São muito graves as acusações ao relator do chamado Inquérito do Fim do Mundo, aquele que já completou 5 anos e não acaba nunca, com provas tão abundantes que a defesa praticamente se torna uma missão impossível sem Tom Cruise.

Nas primeiras 24 horas após a publicação do míssil disparado pelo jornalista e advogado constitucionalista americano Glenn Greenwald, em parceria com o excelente Fábio Serapião, as tentativas de defesa foram tiros na água.

MORAES SE DEFENDE – O próprio ministro-relator Alexandre de Moraes divulgou uma nota tímida e genérica, afirmando que todos os procedimentos que adotou foram “oficiais e regulares” e estão “devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”.

Mas o problema é justamente este – suas decisões ditatoriais estão mesmo fartamente documentadas, conforme já sabe até no Congresso norte-americano.

O que surgiu agora foram os apimentados diálogos de seus auxiliares diretos, que também ficam mal na história, pois sabiam que estavam agindo ilegalmente, Mas fora das regras,

DEFESA DE GONET – No empolgante caso, a irresponsabilidade parece ser uma doença transmissível, porque o procurador Paulo Gonet, mesmo sem ter o menor conhecimento do assunto, arriscou-se na defesa, ao dizer que a atuação do ministro sempre foi pautada por “coragem, diligência, assertividade e retidão”. E caprichou no chute final: “Invariavelmente, onde cabia nos processos sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes a intervenção da Procuradoria Geral da República, ou da Procuradoria Geral Eleitoral, houve a abertura de oportunidade para a atuação do Ministério Público”.

Mas como Gonet fala uma bobagem dessas? Um dos problemas de Moraes foi justamente ter agido sozinho, punindo e perseguindo adversários políticos sem consultar a Procuradoria, conforme já sabia se desde que a Câmara americana passou a investigar Moraes, com base em documentos oficiais do próprio Supremo.

O mais constrangedor foi o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, ter feito um apressado desagravo em favor do ministro, como se fosse aceitável que um ministro do Supremo conduzisse de maneira informal importantes investigações, encomendando relatórios à la carte para incriminar, prender e condenar cidadãos no Supremo. Não cabe corporativismo nesse tipo de tropeço, mas Barroso foi em frente.

SÉRIE DE SOFISMAS – Como o condutor dos inquéritos no STF era Moraes, que à época também presidia o TSE, Barroso disse que “a alegada informalidade é porque geralmente ninguém oficia a si próprio”. Uma bela tentativa de Barroso, mas os pedidos ilegais e amorais não eram feitos em ofícios por Moraes – quem os fazia, oralmente, era seu juiz auxiliar Airton Vieira.

O presidente do STF tentou romancear a situação. “Na vida às vezes existem tempestades reais e às vezes existem tempestades fictícias. Acho que estamos diante de uma delas”, disse Barroso, que culpou “interpretações erradas” das mensagens trocadas por auxiliares do ministro.

“Em primeiro lugar, todas as informações que foram solicitadas pelo Supremo e pelo relator dos inquéritos, ministro Alexandre de Moraes, referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas e a inquéritos que já estavam abertos no Supremo”, afirmou Barroso. “Em segundo lugar, todas essas informações solicitadas eram informações públicas.”

Fica claro que Barroso se enrolou todo, ao sofismar a defesa do indefensável, pois o problema é que Moraes agia antes de existir o relatório que depois viria a embasar sua decisão. Mas Barroso alega que ”esses procedimentos se deram para que se faça um revisionismo histórico”, porque o Supremo recebeu ataques graves, “inclusive vindo de altas autoridades, como se um erro pudesse justificar outro..

DEFESA ESCRITA – Gilmar Mendes, o experiente decano, não se arriscou ao vivo. Preferiu um discurso lido e disse que “a censura que tem sido dirigida ao ministro Alexandre, na sua grande maioria, parte de setores que buscam enfraquecer a atuação do Judiciário e, em última análise, fragilizar o próprio Estado Democrático de Direito”.

“A condução das investigações por parte do ministro Alexandre tem sido pautada pela legalidade, pelo respeito aos direitos e garantias individuais e pelo compromisso inegociável com a verdade”, sofismou Gilmar. “A situação colocada pela reportagem em nada se aproxima dos métodos da Operação Lava Jato, como muitos querem fazer crer”, disse o decano.

“[Sergio] Moro, [Deltan] Dallagnol e sua turma subverteram o processo penal de diversas formas, com combinações espúrias, visando a condenação de alvos específicos. Ali o juiz da causa dava ordens aos procuradores e aos delegados, orientava como deveriam ser as denúncias, mandava alterar as fases das operações, oferecia testemunhas à acusação”, afirmou. “O noticiado [sobre Moraes] nada ter a ver com isso.”

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P. S. –
Muito ao contrário do que dizem os envergonhados defensores de Moraes, tudo isso tem a ver com a Lava Jato. Em comparação com os atos ditatoriais de Moraes, as conversas telefônicas do infantil Deltan Dallagnol chegam a ser ridículas. Quanto a Moro, aparece pouquíssimo nas gravações divulgadas pelo mesmo Glenn Greenwald, que ainda não comparou as duas situações, mas certamente irá fazê-lo, mais para a frente. O caso de Moraes é muitíssimo mais grave e tem um componente importante sua vaidade sem limites. Comprem mais pipocas, porque a política está pipocando. (C.N.)

Sem divulgar atas de eleição roubada, Maduro humilha Lula, Itamaraty e PT

Venezuela's President Nicolas Maduro speaks at the National Electoral Council (CNE) after its announcement that he won the country's presidential election, in Caracas, Venezuela July 29, 2024. REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria TPX IMAGES OF THE DAY

Maduro diz que entregou atas à Justiça e estão sob sigilo

J.R. Guzzo
Estadão

Já vão se completar duas semanas depois das eleições na Venezuela e, até agora, nada de atas. Falou-se muito nessas atas – boletins eleitorais com os números exatos da votação, o mínimo que se espera de qualquer eleição, mesmo as roubadas. Afinal, é preciso vir com algum tipo de documento oficial para dizer que alguém ganhou; até na Rússia do camarada Vladimir Putin o governo solta no dia das eleições, logo após o fim da votação, o número lá que eles querem.

O presidente Lula e a diplomacia brasileira apostavam tudo na publicação das tais cifras por parte do “Conselho Eleitoral”, o TSE do ditador Nicolás Maduro. Com base nelas, diriam que o “processo democrático” foi respeitado e agora é preciso reconhecer “os resultados”. Maduro deixou Lula, o Itamaraty e o PT na mão. Não publicou coisa nenhuma – e o Brasil, agora, que se vire para explicar por que as atas, que julgava indispensáveis para aceitar a validade da eleição, não apareceram.

SUMIRAM, MESMO – Não apareceram, e provavelmente não vão aparecer nunca, porque o ditador fraudou as eleições. A fraude começou antes mesmo da campanha, com o veto à candidata mais forte da oposição e, em seguida, à aliada que ela indicou para concorrer – e não acabou até agora. Na verdade, nunca uma derrota eleitoral ficou tão comprovada quanto à de Maduro.

Se ele ganhou, como disse enquanto os eleitores ainda estavam votando, por que raios o registro com as totalizações dos votos não foi apresentado até agora? Não existe isso – o sujeito ganha a eleição, mas esconde os números da apuração. Agora, na verdade, toda a história não tem mais sentido.

Mesmo que Maduro divulgue as cifras que o Brasil está cobrando, que seriedade pode ter uma ata eleitoral publicada duas semanas depois da eleição, ou sabe-se lá quanto tempo?

LULA MODERADOR – A humilhação para Lula e o governo brasileiro, do jeito como estão as coisas, só tende a aumentar. Queriam e querem, como exigência estratégica da sua política externa, que Maduro e a ditadura na Venezuela continuem. Mas em vez de fazer logo de uma vez como Rússia, China, Cuba, Nicarágua, Irã e outras ditaduras-raiz, que comemoraram o resultado e continuaram a tratar da vida, Lula quis se exibir mais uma vez no papel de estadista esclarecido.

Lula imaginou-se como “poder moderador”, ou algo assim, e como “ponte de diálogo” entre malfeitores eleitorais e democracias que condenam a fraude. Mas o Brasil não tem poder nenhum nessa questão, não modera nada e não pode servir de ponte entre duas margens que se afastam cada vez mais uma da outra.

Que “diálogo” pode haver, com o Exército na rua e 2.000 opositores na prisão? E por quê? Maduro não precisa do Brasil, nem de Lula.

 

Piadas do Ano! Barroso, Gilmar e até Gonet ainda tentam defender Moraes

No STF, ministros têm saído em defesa de Moraes

A capacidade de Moraes fazer insanidades é impressionante

José Marques
Folha

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, fez um desagravo em favor do ministro Alexandre de Moraes nesta quarta-feira (14), um dia depois de a Folha revelar que ele usou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de maneira informal para investigar bolsonaristas no Supremo. Além dele, se manifestaram a favor de Moraes o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Segundo Barroso, como o condutor dos inquéritos das fake news e das milícias digitais no STF era Moraes e que, à época, o ministro também presidia o TSE, “a alegada informalidade é porque geralmente ninguém oficia a si próprio”.

SEM TEMPESTADES – “Na vida às vezes existem tempestades reais e às vezes existem tempestades fictícias. Acho que estamos diante de uma delas”, disse Barroso, que afirmou ainda terem ocorrido interpretações erradas das mensagens trocadas por auxiliares do ministro.

Segundo Barroso, a dificuldade da corte não é “não é com a divulgação de nenhuma informação”, “mas as interpretações erradas, essas nós precisamos desfazer”.

“Em primeiro lugar, todas as informações que foram solicitadas pelo Supremo e pelo relator dos inquéritos, ministro Alexandre de Moraes, referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas e a inquéritos que já estavam abertos no Supremo”, afirmou Barroso. “Em segundo lugar, todas essas informações solicitadas eram informações públicas.”

O presidente do Supremo também fez uma retrospectiva do “contexto em que esses procedimentos se deram para que se faça um revisionismo histórico”. Ele disse que o Supremo recebeu ataques graves, “inclusive vindo de altas autoridades”, e citou os acampamentos em frente ao quartel-general do Exército e os bloqueios das estradas.

DEFESA ESCRITA – Já Gilmar, em discurso lido, disse que “a censura que tem sido dirigida ao ministro Alexandre, na sua grande maioria, parte de setores que buscam enfraquecer a atuação do Judiciário e, em última análise, fragilizar o próprio Estado democrático de Direito”.

“A condução das investigações por parte do ministro Alexandre tem sido pautada pela legalidade, pelo respeito aos direitos e garantias individuais e pelo compromisso inegociável com a verdade”, afirmou Gilmar. “A situação colocada pela reportagem em nada se aproxima dos métodos da Operação Lava Jato, como muitos querem fazer crer”, disse o decano.

“[Sergio] Moro, [Deltan] Dallagnol e sua turma subverteram o processo penal de diversas formas, com combinações espúrias, visando a condenação de alvos específicos. Ali o juiz da causa dava ordens aos procuradores e aos delegados, orientava como deveriam ser as denúncias, mandava alterar as fases das operações, oferecia testemunhas à acusação”, afirmou. “O noticiado [sobre Moraes] nada ter a ver com isso.”

IMPEACHMENT – Na noite de terça, senadores e deputados federais do campo bolsonarista deram início a uma mobilização em defesa de uma CPI e do impeachment do ministro.

Por outro lado, aliados do presidente Lula (PT) defenderam publicamente e nos bastidores o ministro Alexandre de Moraes de críticas sobre sua atuação no cargo e descartaram comparações entre a conduta do magistrado e a do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil).

Pessoas próximas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) compararam o episódio ao da Vaza Jato, em que foram reveladas mensagens entre procuradores da Lava Jato e o então juiz federal Moro. Por sua vez, um ministro de Lula, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, afirmou tratar-se de um exagero a comparação, embora o gabinete de Moraes no STF tenha ordenado por mensagens e de forma não oficial a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas no inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal durante e após as eleições de 2022.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A coisa é muito séria, meus amigos. A tal ponto que Gilmar Mendes não se arriscou ao vivo e teve de redigir uma defesa mínima de Moraes, bem genérica e logo saindo do assunto, para esculhambar Moro e Dallagnol, quando os erros de Moraes são muito mais graves, não há possibilidade de comparação. O ministro Barroso e o procurador Goner também se emporcalharam, ao tentar defender o que é indefensável pela própria origem. O assunto, que mistura política com justiça, tipo chiclete com banana, é apaixonante, e logo iremos voltar a ele. (C.N.)

Desta vez, as emendas parlamentares tem saído muito pior do que o soneto

Charge do JBosco (O Liberal)

Dora Kramer
Folha

Tradicionalmente, as emendas parlamentares ao Orçamento da União sempre foram um jeito de o Executivo manter o Legislativo sob sua dependência. A cada votação negociava-se uma liberação.

Quando passaram a ser impositivas houve uma primeira, e hoje vemos, ingênua impressão de que era uma boa maneira de frear a troca daqueles recursos por votos.

MELHOR PARTE – Ingenuidade, porque à época não se considerou a força do velho, e cínico, ditado de quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte.

Quem faz as regras comanda o jogo, no caso o Congresso, que, com a conivência de ocasião do Planalto, foi mudando os ritos até chegar ao comando praticamente discricionário de R$ 50 bilhões do Orçamento.

A coisa tomou uma desproporção tal que a relação se inverteu e o Executivo tornou-se dependente do Legislativo, em outra agressão à independência dos Poderes. Fosse pouco, a dinâmica é obscura, infringe o princípio da transparência consignado no artigo 37 da Constituição.

COMO BEM ENTENDEM – É isso que o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República têm tentado explicar ao Congresso Nacional: o dinheiro público não pode ser utilizado como bem entendem suas altezas, sem que se saiba de onde vem a solicitação, para onde vão e no que serão aplicados os recursos.

A resposta do Parlamento beira o deboche: além de dizer que não tem “como colaborar”, pois não haveria meios de fornecer os dados pedidos, alude à existência de um suposto “direito adquirido” para seguir na transgressão.

USO ABUSIVO – E não são meras suspeitas. Está claro que as emendas vão para redutos de interesse dos parlamentares, apaniguados e até parentes, não necessariamente para localidades mais necessitadas.

Sendo tal instrumento duto de ligação direta entre o envio do dinheiro e a obtenção de vantagens eleitorais, temos aí mais uma forma de financiamento de campanhas, em uso abusivo da paciência do público.

Alexandre de Moraes tornou-se campeão de pedidos de impeachment no Senado

Altamiro Borges: A pressão pela queda de Alexandre de Moraes

Charge reproduzida d revista Forum

Rafael Moraes Moura
O Globo

O pedido de impeachment que a oposição está preparando contra Alexandre de Moraes será o 23º em tramitação na Casa. O ministro é o alvo “campeão” de pedidos dessa natureza, que podem ser apresentados tanto por cidadãos comuns quanto pelos próprios parlamentares.

Até agora, segundo levantamento pela equipe do blog feito junto ao Senado, já tramitam na Casa ao menos 22 petições dessa natureza contra Moraes – dos quais 20 têm o ministro como único alvo. Um dos pedidos quer o impeachment de todos os integrantes do Supremo e outro tem como alvo, além de Moraes, o atual presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.

ALGO INÉDITO – Apesar de tantos requerimentos, nunca na história do Senado foi aberto um processo de impeachment contra um ministro do Supremo, uma hipótese que passou a ser discutida com mais frequência nos bastidores de Brasília com a eleição de uma bancada bolsonarista mais representativa no Senado a partir de 2022.

O ex-presidente Bolsonaro é alvo de uma série de investigações que estão sob a relatoria de Moraes no STF, como o inquérito das fake news, das joias sauditas e o dos atos antidemocráticos que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes, em 8 de janeiro de 2023.

54 VOTOS – Para Moraes ser afastado do cargo seria preciso o voto de 54 senadores, um número que os próprios bolsonaristas admitem ser difícil de ser atingido. Hoje, a bancada dos aliados do ex-presidente conta com estimados 30 votos fiéis.

Um dos parâmetros para essa estimativa é o placar da indicação de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal (STF), que foi aprovada em dezembro do ano passado pelo Senado com 47 votos favoráveis, 31 contrários e 2 abstenções, apesar da ameaça explícita de bolsonaristas de que o nome seria barrado pela Casa.

Esse é um dos motivos para o ex-presidente da República apostar as fichas no aumento da bancada da direita nas eleições de 2026, quando 2/3 das vagas serão renovadas.

Lula e Amorim queriam sugerir novas eleições e viraram piada na Venezuela

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Jornal humorístico de Caracas usou a Piada do Ani

José Casado
Veja

“Brasil propõe repetir eleições até que Maduro ganhe” — estampou nesta terça-feira (13/8) El Chigüire Bipolar, jornal satírico venezuelano especializado em “notícias parciais e sem veracidade” editada por uma capivara com indigestão psicológica. Acrescentou: “Num esforço para solucionar a crise venezuelana, Celso Amorim, assessor do presidente Lula da Silva e a única pessoa para quem, no entanto, não é suficiente uma web com todas as atas do CNE [Conselho Nacional Eleitoral], sugeriu repetir as eleições na Venezuela até que [Nicolás] Maduro ganhe.” Poderia ser uma “melhor de três”, ironizou o jornal.

Lula esboçou essa proposta de novas eleições presidenciais durante a reunião ministerial da última quinta-feira (8/8), contaram os repórteres Andrea Jubé e Fernando Exman, do jornal Valor Econômico. Amorim confirmou, qualificando-a como sugestão “informal.”

SEM COMENTÁRIOS – Em Caracas, a oposição à ditadura chefiada por Maduro, que já havia rejeitado a ideia, preferiu nem comentar. Indicou a piada do El Chigüire Bipolar como resposta.

Lula e Amorim sequer conseguiram ser originais. Esse plano havia sido torpedeado pelo ex-presidente da Colômbia, Iván Duque. Em comentário de 543 palavras que divulgou numa rede social, no domingo anterior (4/8), Duque contou que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela estudava “a possibilidade de declarar nulas as eleições”, com o argumento de que os dados das urnas podem ter sido corrompidos em suposta ofensiva de hackers a partir da Macedônia contra o Conselho Nacional Eleitoral.

Dominados por Maduro, o tribunal e o conselho eleitoral não divulgam informações sobre esse hipotético ataque, assim como não publicam as atas eleitorais (boletins de urna) que alegam sustentar a vitória do ditador — a oposição lançou quase 30 mil atas na internet, demonstrando a derrota do regime por mais de 30 pontos percentuais de diferença. O tribunal marcou para a próxima sexta-feira (16/8) a “sentença” sobre o resultado eleitoral. Será “inapelável”, avisou.

DEU TUDO ERRADO – Dez dias atrás, a mensagem de Duque sobre manobras da cleptocracia venezuelana para anular a eleição podia ser interpretada como reação retórica de um ex-presidente colombiano adversário do chavismo. A proposta de Lula e Amorim deu-lhe um verniz de autenticidade, ao menos em parte. Ele antecipou: “O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, sugeriria repetir as eleições para ajudar Maduro, e está tentando que México e Brasil façam o mesmo.”

O plano prevê decreto judicial, “de cumprimento obrigatório”, ordenando ao conselho eleitoral que “desproclame” Maduro como eleito” e determine nova eleição presidencial “para a primeira quinzena de dezembro de 2024”.

Duque listou consequências possíveis nesse “cenário estratégico” da ditadura: 1) “Congelar” a situação política — em tese, não haveria motivos para protestos domésticos; 2) “Eliminar” a suspeita de e fraude nas urnas com a teoria de que os dados eleitorais teriam sido modificados no suposto ataque hacker; 3) “Satisfazer” parte da opinião pública externa com novo processo eleitoral; 4) “Blindar o regime ditatorial por quatro meses, para que possa se organizar e garantir sua vitória nas urnas em dezembro.

APOSTA ERRADA – Lula e Amorim apostaram na permanência da cleptocracia chavista. Ambos têm um histórico de duas décadas nesse flerte, primeiro com o coronel Hugo Chávez e, depois, com Maduro. Desta vez, perderam (ano passado haviam apostado no candidato peronista na Argentina, e também perderam com ele).

Adotaram a tática da cegueira deliberada. Na campanha, promoveram homenagens públicas a Maduro, enquanto rejeitavam, em privado, atender a um telefonema da líder da oposição, María Corina Machado, banida da eleição.

Nos últimos quinze dias, diante das evidências e protestos contra fraude, produziram distrações — entre outras, questionando a legitimidade dos boletins de urna divulgados pela oposição (82% do total). Reivindicavam papel de liderança na resolução do impasse venezuelano. Acabaram virando meme em Caracas.

Trump chama Kamala de ‘comunista’ e isso mostra que ele está preocupado

A imagem mostra um homem em um terno escuro com uma gravata vermelha, gesticulando com a mão direita enquanto aponta para frente. Ao fundo, há várias bandeiras dos Estados Unidos dispostas em fileiras, criando um efeito visual marcante.

Trump perde a linha e chama Kama de “comunista”

Paul Krugman
Folha/(NYT)

Donald Trump tem usado uma palavra feia para descrever a vice-presidente Kamala Harris. Não, não estou falando de chamá-la de “vadia” em particular, embora ele supostamente faça isso. Estou falando de “comunista”, um insulto ecoado por alguns de seus aliados. Por exemplo, Elon Musk em uma postagem no X, declarou “Kamala é literalmente uma comunista”, demonstrando, entre outras coisas, que ele literalmente não sabe o significado de “literalmente”.

Agora, Harris obviamente não é comunista. Então, por que Trump diz que ela é? Bem, a tática de acusar alguém de ser comunista, assim como a de usar questões raciais —que Trump também faz em relação a Harris— faz parte da tradição política americana. Por exemplo, no início de sua carreira política, Ronald Reagan participou da Operação Coffee Cup, um esforço para convencer os eleitores de que o seguro de saúde governamental, na forma do Medicare, destruiria a liberdade americana.

POLÍTICAS SOCIAIS – Também é verdade que o discurso político americano carece de um termo amplamente aceito para pessoas que não acreditam que o governo deva controlar os meios de produção, mas que acreditam que devemos ter políticas para limitar a desigualdade econômica e prevenir dificuldades evitáveis.

Para encontrar tal termo, é necessário ir a países europeus onde era importante distinguir entre partidos que apoiavam uma forte rede de segurança social e partidos comunistas, que não eram a mesma coisa. Nesses países, políticos como Harris, que apoiam uma economia de mercado livre com uma robusta rede de segurança social, são conhecidos como social-democratas.

A questão é que a social-democracia não é uma posição radical. Pelo contrário, tem sido a norma por gerações em todas as nações ricas, incluindo a nossa.

ASSISTÊNCIA MÉDICA – É verdade que a rede de segurança social dos Estados Unidos é menos abrangente do que as da Europa Ocidental. Mesmo assim, temos um sistema universal de aposentadoria, a Seguridade Social, e assistência médica universal para idosos, o Medicare. O Medicaid, que fornece assistência médica para americanos de baixa renda, cobre cerca de 75 milhões de pessoas. Cerca de 7 milhões são cobertos pelo CHIP, o Programa de Seguro de Saúde Infantil. A Lei de Cuidados Acessíveis subsidia a assistência médica para milhões mais. E assim por diante.

Além disso, esses programas têm um apoio público esmagador. Pelo menos três quartos dos eleitores registrados têm uma visão favorável da Seguridade Social, do Medicare e do Medicaid. A ACA era impopular quando foi promulgada, mas agora tem 60% de aprovação.

Se você acredita que o governo não deveria apoiar os idosos e pagar pela assistência médica de muitos americanos, essa é uma posição filosoficamente defensável. E certamente há ativistas na direita política que consideram praticamente toda a expansão do papel do governo desde o New Deal ilegítima. Mas eles têm muito pouco apoio fora de sua bolha ideológica.

PERIGOS DA VIDA – Até Friedrich Hayek, que os libertários adotaram como seu patrono intelectual, reconheceu que não há razão “por que o estado não deveria ajudar a organizar um sistema abrangente de seguro social para prover contra aqueles perigos comuns da vida contra os quais poucos podem fazer provisão adequada.”

O que nos traz de volta a Harris. Ela é uma social-democrata que favorece programas governamentais que mitigam a dureza de uma economia de mercado —mas quase todos os democratas, a maioria dos americanos e, quer percebam ou não, muitos republicanos também são assim.

Ela quer expandir a rede de segurança social, especialmente para famílias com crianças, mas o conjunto de políticas que ela apoia não representaria uma mudança fundamental no papel do governo. Ela já defendeu um sistema de saúde de pagador único, mas desde então recuou dessa posição, e se você acha que um sistema de pagador único é uma ideia radical e antiamericana, o que você acha que é o Medicare? 

Auxiliar de Moraes sugeriu estratégia para evitar o “uso descarado do TSE”

O ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, Eduardo Tagliaferro (de terno), e Airton Vieira, juiz instrutor de Alexandre de Moraes no STF

O peritoTagliaferro e o juiz Vieira, auxiliares de Moraes

Fabio Serapião e Glenn Greenwald
Folha

O juiz instrutor Airton Vieira, principal assessor de Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal, demonstrou em áudios a preocupação com a forma de atuação dos gabinetes do ministro no STF e no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele se refere ao modelo que vinha sendo usado para a solicitação e produção de relatórios que depois embasavam decisões do ministro contra bolsonaristas no inquérito das fake news durante e depois da campanha eleitoral de 2022.

Duas mensagens enviadas em 10 de outubro de 2022 por Airton Vieira a Eduardo Tagliaferro, perito forense e então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, mostram o receio de que algo viesse a público.

MUITO DESCARADA – “Formalmente, se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada, digamos assim. Como um juiz instrutor do Supremo manda [um pedido] pra alguém lotado no TSE e esse alguém, sem mais nem menos, obedece e manda um relatório, entendeu? Ficaria chato.”

Como revelou a Folha, mensagens trocadas entre Airton Vieira e Tagliaferro mostram que o ministro transformou o setor de combate à desinformação do tribunal eleitoral durante sua presidência em um braço investigativo de seu gabinete no Supremo. O material obtido pela reportagem tem origem em fontes com acesso legal a dados de um telefone que contém as mensagens, não decorrendo de interceptação ilegal ou acesso hacker.

Procurado, o gabinete de Moraes inicialmente não se manifestou. Após a publicação da reportagem, em nota, disse que “todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”. O perito Tagliaferro afirmou que não se manifestará, mas que “cumpria todas as ordens que me eram dadas e não me recordo de ter cometido qualquer ilegalidade”.

FORA DO RITO – Na verdade, o mInistro usou procedimentos fora do rito para investigar bolsonaristas. No áudio de 10 de outubro de 2022, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, Airton Vieira cita a necessidade de passar a dizer que o pedido de produção do relatório tinha como origem o TSE e não o gabinete do STF.

Na ocasião, Airton Vieira já havia feito alguns pedidos para Tagliaferro, atendidos com a produção de relatórios em que constavam o timbre do STF. Ele, então, encaminha uma mensagem pedindo um relatório solicitado dias antes. Como resposta, Tagliaferro envia um relatório sobre um vídeo postado pelo “Grupo Brasil Conservador” com ataques à lisura das urnas eletrônicas.

O documento tem como timbre o nome do “Supremo Tribunal Federal”, seguido da descrição: “Relatório Técnico 10/10/2022”. Ele replica prints do vídeo e do grupo onde foi compartilhado. “Por favor, veja se está ok”, diz Tagliaferro.

MUDANÇA DE AUTORIA – Na resposta ao assessor do TSE, dividida em dois áudios, o juiz Airton Vieira pede a mudança da autoria do documento, como forma de esconder a origem da sua produção. No primeiro áudio, de 1 min e 40 segundos, o juiz instrutor afirma ter conversado com a “Cristina” sobre a necessidade de substituição de “Supremo Tribunal Federal” por “Tribunal Superior Eleitoral” no timbre dos documentos.

Ele prossegue dizendo que a produção deveria ser atribuída a “ordem do dr. Marco Antônio”, com a indicação do processo 4.781, o número do inquérito das fake news no STF. A menção é a Cristina Yukiko Kusahara Gomes, chefe de gabinete de Moraes no STF, e a Marco Antônio Martins Vargas, juiz auxiliar de Moraes no TSE.

“Atualmente, o ministro passa por uma fase difícil, qualquer detalhe, qualquer peninha pode virar amanhã ou depois mais um objeto de dor de cabeça para ele”, diz Airton Vieira no áudio enviado a Tagliaferro.

BLINDANDO MORAES – “Para todos os fins, fica de ordem dele, do dr. Marco [do TSE], que ele manda enviar pra gente [no STF] e ai, tudo bem. Ninguém vai poder questionar nada, etc., falar de onde surgiu isso, caiu do céu, a pedido de quem, etc.”, prossegue o juiz instrutor de Moraes.

Cerca de dois minutos depois, o juiz Airton Vieira manda outro áudio, de 1 minuto e 20 segundos, em que dá mais detalhes sobre as orientações. Segundo ele, o modelo a ser seguido a partir de então fora debatido entre a chefe de gabinete Cristina Gomes e outro assessor de Moraes no STF, Jefferson Silva.

“Em um primeiro momento pensei em colocar o meu nome, de ordem do juiz Airton Vieira, etc. etc. Mas, pensando melhor, fica estranho. Porque eu não tenho como mandar pra você [Tagliaferro], que é lotado no TSE, um ofício ou pedir alguma coisa e você me atender sem mais nem menos”, afirma.

FORMATO IDEAL – A seguir, Airton Vieira detalha como seria o formato correto para solicitar relatórios e monitoramentos para a assessoria comandada por Tagliaferro. “Eu teria que mandar um ofício ao presidente do TSE, pedindo para que ele repassasse essa ordem para você, para que você, aí, me atendesse”, diz.

Em seguida, o juiz instrutor de Moraes indica ter ciência da irregularidade dos pedidos diretos que fazia a Tagliaferro para envio dos relatórios posteriormente utilizados para embasar medidas cautelares contra bolsonaristas. “Ficaria chato”, diz o juiz instrutor, se descobrissem a forma como os dois estavam atuando.

“Embora saibamos que entre nós as coisas são muito mais fáceis justamente porque temos um mínimo múltiplo comum na pessoa do ministro [Alexandre de Moraes], mas eu não tenho como, formalmente… Se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada, digamos assim”, afirma. “Como um juiz instrutor do Supremo manda pra alguém lotado no TSE, esse alguém sem mais nem menos obedece e manda um relatório, entendeu? Ficaria chato.”

QUESTIONAMENTOS FUTUROS – Três dias depois, em 13 de outubro, os dois voltam a falar sobre relatórios e o juiz instrutor cita novamente o receio de “questionamentos futuros” ao solicitar o envio das informações por ofícios assinados pelo juiz Marco Antonio Vargas, que atuava no gabinete de Moraes no TSE.

“O ministro pediu que daqui pra frente todos os relatórios, ele quer que venham acompanhados dos respectivos ofícios de encaminhamento. Especialmente esses mais delicados, para que se evite qualquer questionamento futuro. Ele quer procedimentalmente tudo em ordem”, diz Airton Vieira.

Também dias depois, em 19 de outubro, Airton faz um novo pedido para produção de um relatório sobre o pastor André Valadão. “Como combinamos? De origem do Dr Marco?”, questiona Tagliaferro. Em seguida, o juiz instrutor de Moraes no STF reforça o modelo a ser seguido e cita a chefe de gabinete de Moraes, Cristina Yukiko Kusahara Gomes, como autora da sugestão de seguir o formato que esconde a real origem do pedido para produção do relatório.

FRAUDE DE ORIGEM – “Sim. Enviando o setor de [combate à] desinformação para nós. Em razão da situação atual, a Cristina entende melhor que as nossas PETS [petições por meio das quais Moraes ordena medidas via STF] surjam por provocação, com algum documento”, afirma Airton Vieira.

De outubro de 2022, data dos áudios, até de abril de 2023, o principal assessor de Moraes continuou a solicitar diretamente a Tagliaferro o monitoramento de redes e produção de relatórios contra bolsonaristas.

Em todos os casos, Tagliaferro, de acordo com as mensagens obtidas pela Folha, seguiu as ordens do juiz instrutor e encaminhou os relatórios, com seus respectivos ofícios, como se tivessem sido produzidos a pedido do juiz auxiliar Marco Antônio Vargas e com o timbre do TSE.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Hoje é dia de julgamento presencial no Supremo. Todos os ministros estão juntos no plenário, num clima péssimo, pois essas notícias escancaram a impressionante decadência da Justiça brasileira. (C.N.)

Era só o que faltava! Tribunal dobra valor de auxílio-alimentação para desembargadores

Deu a louca no Poder Judiciário? - Espaço Vital

Charge do Nef (Jornal de Brasília)

 

Aline dos Santos
Campo Grande News

O TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) dobrou o valor do auxílio-alimentação para juízes e desembargadores da ativa. De acordo com resolução publicada nesta segunda-feira (dia 12), no Diário da Justiça, “o auxílio-alimentação, previsto no artigo 255-B da Lei n. 1.511, de 15 de julho de 1994, será concedido aos magistrados ativos na forma de auxílio pecuniário, no valor correspondente a 10% (dez por cento) do valor do subsídio do magistrado, a ser incluído na folha de pagamento mensal”.

Ainda segundo o documento, foi modificado o artigo 1º da Resolução 58, de 18 de janeiro de 2012. O dispositivo anterior previa auxílio-alimentação de 5% para os membros da magistratura estadual. A mudança foi aprovada em sessão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, realizada no último dia 7.

NOVOS VALORES – Desta forma, o magistrado em início de carreira, que tem subsídio de R$ 30.647,65, terá direito a auxílio-alimentação de R$ 3.064. Antes, o benefício era de R$ 1.532.

No  topo da carreira, um desembargador, que recebe subsídio de R$ 39.717,69, receberá auxílio-alimentação de R$ 3.971. Até então, o valor era de R$ 1.985. A título de comparação, o salário-mínimo do trabalhador brasileiro é de R$ 1.412.

Magistrados de MS recebem ainda recebem gratificação por acúmulo de trabalho, auxílio-transporte e licença-prêmio. A reportagem solicitou informação ao Tribunal de Justiça sobre o impacto na folha de pagamento, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O mais incrível é que, desde a pandemia da Covid, os juízes e desembargadores frequentam cada vez menos as Varas e Plenários. Adoraram o tal do home-office.  Na verdade, cada vez trabalham menos. Muitos anos antes de pandemia, em todo o país, os juízes já tinham adotado o chamado day off, transformando toda sexta-feira em feriado. Enquanto isso, os trabalhadores brasileiros ganham cada vez menos em relação aos magistrados e demais elites do funcionalismo. E ainda chamam isso de Justiça. Tragam o balde grande, porque de repente me deu vontade de vomitar. (C.N.)  

Piada do Ano! Moraes assegura que seus procedimentos foram “oficiais e regulares”

Moraes reforça presidência do TSE com juiz da Lava Jato e ex-ministro da  Justiça - 12/03/2022 - Poder - Folha

Apanhado em flagrante, Moraes jura que fez tudo certinho

Marianna Holanda
Folha

Sobre o inquérito das fake news no Supremo, que completou 5 anos com série de controvérsias, foco amplo e denúncias de irregularidades, o ministro-relator Alexandre de Moraes divulgou nota afirmando que todos os procedimentos que adotou foram “oficiais e regulares” e estão “devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”.

As declarações foram dadas por meio de nota de seu gabinete enviada pela assessoria de imprensa do STF. Moraes declarou que, no curso das investigações dos inquéritos das fake news e das milícias digitais, nos termos regimentais, “diversas determinações, requisições e solicitações foram feitas a inúmeros órgãos”.

“Inclusive ao Tribunal Superior Eleitoral, que, no exercício do poder de polícia, tem competência para a realização de relatórios sobre atividades ilícitas, como desinformação, discursos de ódio eleitoral, tentativa de golpe de Estado e atentado à democracia e às instituições”, afirmou.

MINISTRO APOIA – O ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) saiu nesta terça-feira (13) em defesa do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), após a Folha revelar ordens do gabinete do magistrado para produzir relatórios da Justiça Eleitoral para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas na corte. Teixeira foi o primeiro ministro do governo Lula (PT) a comentar a reportagem, que ele chamou de “sensacionalista”.

“A matéria da Folha de S.Paulo que acusa o ministro Alexandre é sensacionalista e não corresponde à verdade. A matéria só tem o efeito de alimentar o movimento de tentar desacreditar o STF para incidir no julgamento do inelegível”, disse Teixeira no X, antigo Twitter.

O ex-secretário nacional de Justiça de Lula, Augusto Botelho, também defendeu Moraes. Ele disse, nas redes sociais, que o caso é diferente de quando há troca de informações entre as partes.

“A comunicação e a troca de informações entre TRIBUNAIS é completamente diferente da comunicação e da troca de informações entre PARTES”, escreveu.

BRAÇO INVESTIGATIVO – Diálogos aos quais a reportagem teve acesso mostram como o setor de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido à época por Moraes, foi usado como um braço investigativo do gabinete do ministro no Supremo.

As mensagens revelam um fluxo fora do rito processual e regimental envolvendo os dois tribunais, tendo o órgão de combate à desinformação do TSE sido utilizado para investigar e abastecer um inquérito de outro tribunal, o STF, em assuntos relacionados ou não com a eleição daquele ano.

A Folha teve acesso a mais de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares de Moraes, entre eles o seu principal assessor no STF, que ocupa até hoje o posto de juiz instrutor (espécie de auxiliar de Moraes no gabinete), e outros integrantes da sua equipe no TSE e no Supremo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esta novela também vai ser longa. Podem comprar pipocas. (C.N.)