Duarte Bertolini
Não há dúvida de que é possível alcançar novos conhecimentos e mudar costumes ancestrais, como as queimadas que até hoje são feitas para renovar as pastagens e que acabam por esgotar a terra. É claro que é preciso ter um pouco de bom senso e vontade de trabalhar da forma correta, sob orientação das autoridades preservacionistas.
No meu caso, fui criado em ambiente absolutamente predatório, para os padrões atuais. Meus avós, vindos da Itália, foram obrigados a derrubar a mata para sobreviver e plantar um futuro, caçar e pescar à exaustão para sobreviver e eram agradecidos, pois achavam que esta terra dadivosa (comparada com as exauridas terras da Itália) sempre lhes ofereceria tudo.
OUTRA REALIDADE – Quando criança já eram raras as matas preservadas e os pássaros quase inexistentes. Até hoje lembro que na infância e início da adolescência eu sempre andava com um alçapão embaixo do braço, para tentar prender algum pássaro desavisado. Nessa época, eu nem tinha paciência para pescar, porque nos rios havia poucos vestígios de peixes.
Mas o ser humano, por possuir mínima inteligência pode observar, concluir e evoluir. Na cidade em que nasci, as culturas se modificaram e a mata volta a reinar em segmentos expressivos. No meu caso, hoje não suporto a ideia de viver em apartamento longe da vida ao ar livre. Trato as plantas como velhas amigas e alimento diariamente os pássaros que me visitam.
Então, é possível mudar. E a pequena mudança de cada um de nós certamente será ampliada, com grandes resultados.
PARÁBOLA – Sou católico e lembro sempre da parábola do pássaro apagando o fogo com gotas de água. Se cada um fizer sua parte (inclusive os órgãos e funcionários públicos) poderemos chegar lá. No campo da ecologia, nosso país ainda não está destruído. Podemos recuperá-lo, é possível ter esperanças.
Nossos políticos e gestores públicos são despreparados. Falta-lhes muita coisa: educação, cidadania, capacidade de aprender com os erros e uma visão mínima de futuro. Não é possível que não estejam consternados com as imagens de devastação que a TV nos exibe diariamente.
Mas não há segredo. A solução já existe. É o Cadastro Ambiental Rural, necessário para fiscalizar as propriedades e obrigá-las a cumprir as leis, transformando partes das terras em áreas ambientais e preservando as fontes de água. A fiscalização é fácil, através das fotos de satélite. No dia em que houver fiscalização, esse drama acaba e o Brasil poderá seguir em frente.