Paulo Peres
Poemas & Canções
O cantor e compositor carioca Milton Nascimento reconhecido como um dos mais influentes e talentosos artistas da MPB, fala na letra de “Morro Velho” sobre a sorte de dois meninos, um negro e o outro branco, que brincaram quando pequenos no campo, onde um se sentia um rei por conhecer todo o lugar.
Entretanto, após o passar do tempo, a letra descreve o futuro e uma possível distância naqueles que foram, por alguns momentos, os melhores amigos da terra. De um lado, o eterno homem do campo. Do outro, o dono daquele campo, que é apenas parte de seu mundo. É um tema que nos lembra a época da escravatura no Brasil. “Morro Velho” foi gravada por Milton Nascimento no LP Courage, em 1968, pela A&M Records/Odeon.
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MORRO VELHO
Milton Nascimento
No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada
Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada
Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar,
Some longe o trenzinho ao deus-dará
Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.