Política está paralisada pelo temor de Jair Bolsonaro vencer a eleição

Jair Bolsonaro: notícias sobre o ex-presidente do Brasil | Folha

Não há a menor dúvida de que Bolsonaro tem apoio popular

J.R. Guzzo
Estadão

Mais cedo ou mais tarde, para o bem de todos e a felicidade geral da nação, a vida política brasileira precisará sair do ponto morto em que está hoje e fazer uma tentativa de andar para frente. Do jeito que está a coisa, não adianta nada ficar todo mundo querendo pisar no acelerador. O motor faz muito barulho, mas o carro não sai do lugar – e o lugar onde ele está é ruim. Como pode estar bem uma democracia em que o presidente da República chama o povo para a rua, e não vai ninguém? Pior: só vai tanque de guerra, polícia e os picaretas que vivem em palanque de governo.

Para complicar, o político que o governo descreve como a maior ameaça para a democracia que jamais apareceu neste País enche a rua, mais uma vez, com o seu próprio comício. Como se explica uma coisa dessas? Deveria ser o contrário. A praça de Lula (e do ministro Alexandre de Moraes) teria de estar dura de gente para defender a democracia que foi exibida naquele palanque. A praça de Jair Bolsonaro, que segundo as classes pró-governo quer impor uma ditadura, teria de estar vazia.

AO CONTRÁRIO – Como pode haver um regime democrático no Brasil se o povo faz o oposto do que os especialistas em democracia esperam que ele faça? Eleição, nesse caso, vira perigo de morte: os eleitores podem escolher os governantes antidemocráticos, e aí o que se vai fazer? A Venezuela, por exemplo, tem uma reposta pronta para isso: proíbe que os candidatos “errados” disputem a eleição, e se mesmo assim o povo escolher algum indesejável, o STF lá deles diz que foi o governo quem ganhou, com “ata” ou sem “ata”. Quem quer ver os números da votação é “golpista”.

É um caminho, sem dúvida. Pode ser um pouco “desagradável”, como diz o presidente Lula – mas resolve, e ele mesmo, mais muita gente boa, achava até outro dia que a Venezuela tinha democracia “até demais”.

Mesmo agora, depois do roubo da eleição, acha que que não há uma ditadura por lá. É só “um rolo”, diz ele, e por conta dessa avaliação não há nada de realmente errado com a Venezuela, levando-se em conta que tudo o que está enrolado sempre pode se desenrolar um dia.

ELEIÇÕES LIVRES – Se esta opção não for disponível para Lula, o Supremo e quem mais acredita neles, é possível pensar em outras – a começar pela possibilidade de se fazer eleições livres, com urnas que produzam as “atas” escritas tão desejadas por Lula na Venezuela e com o entendimento que o candidato mais votado vai para o governo. Caso o eleitorado escolha o pior de todos, nada de pânico. Se ele fizer um governo ruim, é só eleger um nome que seja o seu oposto na próxima eleição. Se ele fizer um governo bom, então talvez não fosse tão ruim assim.

Esta e qualquer outra solução para desatar a trava atual da política tem de se fundamentar num acordo coerente entre a maioria dos responsáveis pela condução da vida pública brasileira; ou faz sentido, ou nem sai do lugar. O norte deste acordo, como acontece nas democracias sérias, é a decisão de voltar à racionalidade.

A ideia mais prática, aí, é ter o máximo de consenso em relação ao que não deve ser feito. Se não tem lógica, não se faz. O resultado mais provável é que o Brasil vai economizar um monte do tempo que está perdendo hoje com crenças irracionais.

SEM ROTULAR – Não é lógico, por exemplo, dizer que todos os cidadãos que discordam do governo, da conduta do STF e das “pautas” que ambos defendem são “bolsonaristas”. Não faz nexo, da mesma forma, dividir a população brasileira em duas classes de pessoas – os bons, que acreditam estar no “campo progressista”, e os que são réus do crime de “bolsonarismo” e, nessa condição, não têm direito de desfrutar a proteção da lei. Também é incompreensível sustentar que as urnas eletrônicas são um objeto mágico e, portanto, não podem receber nenhum tipo de aperfeiçoamento.

É difícil sair do lugar quando dezenas de milhões de brasileiros são excluídos da cidadania por “golpismo” e “bolsonarismo”, sendo que jamais lhes passou pela cabeça defender golpe nenhum – e nem gostar de Bolsonaro.

Não faz sentido achar que um projeto de anistia para crimes não cometidos, e sobretudo não provados, como o de “golpe de Estado” e o de “abolição violenta do Estado de Direito”, seja um “ato antidemocrático” e “fascista” – só porque pode eventualmente, beneficiar Bolsonaro.

TUDO PARADO – Mais que tudo, há a evidência de que enquanto Jair Bolsonaro continuar a ser tratado como o problema mais importante que já apareceu na vida política do Brasil, o carro não pega – é óbvio que ele continuará sendo apenas um problema sem solução. Lula, a esquerda, os comunicadores e outros tantos poderiam ter contribuído para o Brasil passar à fase seguinte se deixassem Bolsonaro para trás. Mas fizeram contrário. Não passam um dia sem dizer que ele vai acabar com o País – e aí o ex-presidente continua sendo o centro de tudo, mesmo porque pelo menos metade da população não acredita que ele vai acabar com nada.

Bolsonaro só vai sair de cena se disputar uma eleição efetivamente limpa – não eleição tipo Maduro – e perder. O que paralisa a política do Brasil de hoje não são os vícios e as virtudes do ex-presidente. É o medo de que ele ganhe. Porque não se considera, nunca, que Bolsonaro possa disputar a eleição presidencial e perder? Quer dizer, então, que ele já ganhou?

Não há democracia de verdade com esse tipo de neura. Se o maior risco do regime é a vitória do candidato preferido pela maioria dos eleitores, nada vai funcionar.

14 thoughts on “Política está paralisada pelo temor de Jair Bolsonaro vencer a eleição

  1. Afora Lula (que também poderia perder para Bolsonaro), não há hoje nenhum outro ‘pré-candidato’ conhecido que vença o capitão numa eleição presidencial.

    Mas, a eleição não é hoje e nem se sabe se ambos serão candidatos.

    E, no campo da direita, muito provavelmente, mais de um postulante sairão candidatos no próximo pleito.

  2. Como sempre falando asneiras esse Guzo.

    O fato do Lula não arrastar milhares, ao contrário do ladrãozinho de joias, é a prova de que o eleitorado da esquerda está amadurecendo. Político nenhum tem que ser idolatrado. Não tem nada mais vergonhoso que um bando de tiozão corno ficar se reunindo em um feriado para fazer coro de “imbroxavel” pra um politiquinho de quinta categoria.

  3. ” É o medo de que ele ganhe. Porque não se considera, nunca, que Bolsonaro possa disputar a eleição presidencial e perder? Quer dizer, então, que ele já ganhou?”

  4. “Não há democracia de verdade com esse tipo de neura. Se o maior risco do regime é a vitória do candidato preferido pela maioria dos eleitores, nada vai funcionar.”

    Mas que papo brabo é esse?
    Uma pérola, digna de um abduzido!

    É a piada do século!

    Com todo respeito, mas o Sr. Guzzo não está batendo bem da bola.
    Acho que o almejado e frustrado golpe, danificou o tico e o teco.

    “Sr. moço”, trabalhas na casa?
    Parece que o moço foi sequestrado por algum pneu.

    Deixa eu lhe contar, e colocar a par da situação:

    O seu minto perdeu a eleição, tá sabendo?

    Ele fez tanta M. que ficou inelegível.

    Outra novidade pro Sr, que nós estamos carecas de saber, é que o bicho é um tremendo corno, todo mundo tá sabendo que a maçaneta é até apalpada em público, e o corninho não fala nada.
    Já está até acostumado…

    Por outro lado em Outubro tem eleições e aí, depois das mesmas, o pau vai cantar.

    Pode esperar que vai muita gente em cana, inclusive o seu capitão, sim, ele mesmo. Vai amargar uma xadrez de fazer gosto.

    É só ter um pouquinho de paciência que esse escroto vai pra jaula.

    Bem, por aqui as novidades são essas…
    E o moço, quando volta de Andrômeda? rs…

    Eu já tô com meu espumante na geladeira, aguardando aquele momento bacana.

    Sr. ET, vou me despedindo por aqui, pra não cansar seu côco.

    Lhe envio um abraço daqui, da Terra redonda.

    Atenciosamente,
    José Luis

  5. Bolsonaro não mete medo só no STF e PT, mete medo até nos arremessadores de bosta a curta, média e longa distância aqui da Tribuna.
    Alguns comentaristas devotos se portam mais como papagaios de puteiros ou rufiões de gafieira, este aqui não é local para dar vazão as suas perversões morais.

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