Provocações e violência: o lamentável cenário da campanha eleitoral

Datena e Marçal protagonizam episódio lamentável na TV

Pedro do Coutto

O apresentador e candidato à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena, arremessou na noite de domingo uma cadeira contra o adversário Pablo Marçal durante o debate da TV Cultura . O jornalista foi expulso e o ex-coach também deixou o local.

Antes da agressão, Marçal havia sido sorteado para fazer uma pergunta a Datena e questionou o apresentador sobre quando ele iria desistir da disputa. No 2º bloco, o clima entre ambos já havia esquentado, quando Marçal acusou o jornalista de ter assediado sexualmente uma mulher. Em resposta, Datena afirmou que a acusação a qual Marçal se referia já havia sido arquivada por falta de provas. Disse que o desgaste com episódio “chegou a provocar a morte” de sua sogra.

PROVOCAÇÃO –  Pablo Marçal voltou a provocar o apresentador e o questionou novamente quando ele deixaria a disputa. “O Brasil quer saber, São Paulo quer saber, que horas você vai parar, você não respondeu à pergunta. Você atravessou o debate esses dias para me dar um tapa, e falou que queria ter feito, você não é homem pra isso”, disse.

Depois desse momento, Datena foi para cima de Marçal com uma cadeira. O programa foi interrompido por alguns minutos. Quando retomado, o apresentador da TV Cultura, disse que o episódio “foi um dos mais absurdos da televisão brasileira”. Informou que Datena foi expulso e que Pablo Marçal optou por deixar o local. Guilherme Boulos, Tabata Amaral, Ricardo Nunes e Marina Helena continuaram no debate.

REPERCUSSÃO – Durante todo o dia de ontem, os veículos de comunicação repercutiram o fato. A questão é que no episódio que culminou com a agressão de José Luiz Datena contra Pablo Marçal, perderam todos. O público eleitor espera ver a apresentação de projetos, as propostas de cada candidato para as melhorias da cidade e não a constante troca de acusações e provocações.

Neste domingo, a violência ficou marcada pelo grau grotesco, independentemente de que estivesse certo ou errado. Além disso, nenhum dos dois está bem situado nas pesquisas, uma vez que, ao que tudo indica, a decisão para a Prefeitura de São Paulo será entre Boulos e Nunes. O confronto visto vai entrar para a história política como um triste capítulo, um espetáculo lamentável que não acrescentou nada para os candidatos. A reta final da campanha vai demonstrar isso.

Paulo Vanzolini, o compositor que nos ensinou a dar a volta por cima

Paulo Emílio Vanzolini – ABC

Vanzolini, grande compositor e boêmio paulista

Paulo Peres
Poemas & Canções

O zoólogo e compositor paulista Paulo Emílio Vanzolini mostra na letra de “Volta Por Cima” que se recuperar de um tombo não é uma tarefa das mais fáceis, visto que não é todo mundo que consegue levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, com tanta destreza como no samba do Vanzolini, gravado pelo cantor Noite Ilustrada, em 1963, pela Philips, com enorme sucesso.

Segundo os psicólogos, muitas vezes, quando caímos por qualquer motivo, entre eles o fim de um relacionamento, a perda de um emprego, um acidente ou até mesmo a pressão do dia-a-dia, tendemos a ficar estatelados no chão sem saber direito como levantar e seguir adiante.

Todavia, existem pessoas que conseguem tirar de letra as dificuldades e passar pelos problemas, mesmo quando tudo parece conspirar negativamente, estampam o sorriso no rosto e seguem em frente. Pessoas assim são naturalmente mais preparadas para lidar com as adversidades.

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VOLTA POR CIMA
Paulo Vanzolini

Chorei, não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim, não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava

Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima

Governo Lula nunca elaborou planos para enfrentar os problemas do país

Queimadas derrubam avaliação do governo Lula sobre meio ambiente: veja como o brasileiro enxerga a gestão em oito áreas

Queimada é sempre desafio para um governo incompetente

Carlos Newton

Sempre que o país entra numa crise grave, a primeira providência dos governantes é dizer que vão chamar os militares, como o presidente Lula da Silva acaba de fazer, referindo-se ao problema das queimadas. É claro que as Forças Armadas pouco podem fazer, além do que já fazem, como disponibilizar helicópteros e aviões para combater os incêndios. Nem pensar em colocar recrutas para atuar como bombeiros brigadistas, pois não têm preparo, só servem para ocupar posições de apoio às equipes profissionais que colocam suas vidas em risco de uma maneira impressionante.

Geralmente, as medidas tomadas são apenas midiáticas, como a criação da Autoridade Climática, quem nem o próprio Lula sabe o que significa nem o que fará. É uma espécie de nomeação fake, para fingir que o governo está tomando alguma providência.

MELHORES LEIS – Estamos cansados de informar aqui na Tribuna que o Brasil tem as melhores leis ambientais do mundo, algo jamais imaginado em nenhuma outra nação que possua grandes extensões de terra agricultáveis, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Rússia, Índia e China, nossos principais concorrentes na agricultura e na agroindústria.

Aqui no Brasil, os parlamentares decidiram que na Amazônia o produtor rural só pode utilizar 20% da área de sua propriedade; no Pantanal, 50%; no Cerrado, 35% e nas outras regiões, 20%. O problema é que não existe fiscalização.

Como acontece em todos os países do mundo, também aqui no Brasil os fazendeiros tocam fogo nas pastagens, para renová-las. Com isso, destroem as áreas de reserva e o fogo se espalha pela floresta.

QUEIMADAS – Os produtores rurais aproveitam as queimadas para expandir seus campos de criação acima do percentual da lei,

A maneira de fiscalizar é fácil, via satélite, fotografando cada propriedade rural. Se não está cumprindo a lei, multa e exigência do reflorestamento.

Mas falta vontade política, reina a esculhambação. Nenhum governante se lembra de que os militares poderiam ser convocados para esta missão, que é do interesse do mundo inteiro, que pode entrar com recursos para custear nosso projeto. Mas o problema é que não existe nenhum projeto. O governo apenas finge fiscalizar.

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P.S. –
Quando Lula da Silva ganhou a primeira eleição, em 2002, convidou o economista Carlos Lessa para o BNDES. Ele aceitou e foi pedir ao PT o programa de governo, mas não havia nada, rigorosamente nada.

Lessa e seu vice Darc Costa fizeram seu próprio programa e colocaram em ação, levando a economia a crescer de tal maneira que chegou a 7,5% em 2010, quando a parasita Dilma Rousseff foi eleita.

Agora, Lessa não está mais entre nós, Darc Costa voltou aos trabalhos como consultor da Escola Superior de Guerra, e Lula está de novo no poder, sem o menor rascunho de programa, e fica embromando, ao invés de organizar o desenvolvimento. É pena. Tenho saudades do meu amigo Lessa, faz uma falta danada. (C.N.)

Com o Brasil sem rumo, a iniciativa privada ainda exibe boas realizações

Brasília: 10 motivos que fazem a capital merecer a sua visita!

Brasília vai ganhar um novo hospital e mais um hotel

Vicente Limongi Netto

Uma quadra de aflições, rancores, impaciência, violência, temores, desapontamentos. Brasil sem rumo. Desigualdades crescendo. Falastrões incompetentes fazem caras e bocas em altos cargos. A insensibilidade e a hipocrisia dominam a vida nacional. O Supremo Tribunal Federal (STF) toma algumas decisões certas, diante da inércia do governo, e outras erradas. Mas a iniciativa privada ainda responde bem, dando demonstrações de procedimentos acertados.

Consciente que só no dicionário o sucesso vem antes do trabalho, o presidente da Federação do Comércio do Distrito Federal, José Aparecido Costa Freire, destaca que o Sistema Fecomércio-DF e o Sistema Comércio Brasileiro “são um universo de possibilidades”. São sistemas sintonizados com o Brasil.

NÚMEROS EXPRESSIVOS – Aparecido comemora números expressivos do projeto “Mais perto de todos”, dentro da expansão do sistema de Brasília: mais de 100 mil atendimentos, o crescimento de quase 200% de pessoas cadastradas pelo Sesc-DF, mais de 7 milhões de hora-aula no Senac e inclusão de mais de 5 mil jovens e estagiários pelo IF no mercado de trabalho.

Aparecido também salienta que graças a “visão de futuro” do presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, a cidade de Brasília ganhará, no segundo semestre de 2026, um novo hotel, no Setor Hoteleiro Norte e um novo hospital, na L-2 Sul. 

FUTEBOL – Vexame do Fluminense foi para testar meu coração. É a segunda vez que perdemos, levando virada, do Juventude. Vencendo, subiríamos cinco posições. O treinador Mano Menezes desta vez foi infeliz nas mexidas do time. Sem Ganso e Marcelo, o time surtou. E Felipe Melo voltou ao normal. Perdido e lento. 

PALMAS –   Convenhamos, foi merecida a cadeirada do Datena no cafajeste do Pablo Marçal. Se a moda pega…

Câmara faz o esforço concentrado para blindagem das emendas parlamentares

Orçamento secreto: falta de transparência continua - Sindicato dos  Bancários e Financiários de Bauru e Região

Charge do Cazo (Arquivo Google)

Carlos Andreazza
Estadão

Há três preocupações. A primeira são as eleições municipais, razão por que o Parlamento se concedeu cerca de quatro meses de licença, período não à toa coincidente com aquele em que se restringem as distribuições de emendas parlamentares. A derrama já fora feita, antecipada. Agora é colher as glórias do patronato e assegurar a manutenção-ampliação do poder regional.

Os donos do Congresso secaram as tetas quase todas dos fundos orçamentários que controlam. Operaram as emendas de comissão concentradamente, no primeiro semestre, como fundão eleitoral paralelo. E ora estão nas paróquias para observar a grana pública desequilibrar e impor as eleições-reeleições do filho-pai-esposa-tio-irmã.

RECESSO GORDO – A turma se concedeu recesso gordo dessa natureza e, quando dá uma trabalhadinha, chama o troço de esforço concentrado – deboche que reproduzimos. Esforço concentrado remoto – a galera votando via aplicativo. Esforço concentrado em causa própria.

Nada se vota no Congresso – incluída a autorização para que o governo se aproprie de dinheiros privados esquecidos em bancos e transforme essa limpa em receita primária para cobrir rombo na meta fiscal – sem que em negociação estejam as outras duas preocupações.

A segunda preocupação é a sucessão na presidência da Câmara. O favorito da vez é Hugo Motta; que nunca deixou de correr por fora. Lula vetou Elmar Nascimento, cuja cabeça Arthur Lira entregou. Elmar ainda resiste, em negação. Não tardará a perceber que vai instrumentalizado por Gilberto Kassab, que trabalha para ter alto o preço do PSD – a ser ainda dos grandes vencedores nas eleições de outubro – na hora de fechar com o seguro. Não tardará até que perceba também a inviabilidade fundamental de sua candidatura, que sempre só teve a oferecer como atrativo a prometida bênção de Lira.

ORÇAMENTO SECRETO – Motta é melhor para os negócios. Para o futuro de Lira até 26. Para a continuidade do orçamento secreto. O deputado paraibano faz fluir sem traumas. Parece novidade. Não é. Discreto, sim. Voando abaixo do alcance do radar. Um dos vips do orçamento secreto, cujo apadrinhamento de emendas é caso de sucesso constante desde o governo Bolsonaro – e sem qualquer soluço com Lula.

Já tratamos da terceira – a maior – preocupação do Congresso. É o futuro das emendas parlamentares. Motta dá liga para o arranjo que driblará as determinações do Supremo, fingindo acolhê-las. A corte constitucional conciliadora montou a mesa para o acordo de continuidade.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias, ainda aberta, será o corpo em que se escolherá – ao apagar das luzes de 2024 – o órgão acolhedor da versão 4.0 do camaleônico orçamento secreto. Sem maiores esforços.

“Rito”de Lula e do PT aceita tudo, menos nomear pessoas decentes no governo

Macaé Evaristo, nomeada por Lula para ministério, tem processo por superfaturamento, mas nega irregularidades

Nova ministra de Lula tem um curriculo que honra o PT

J.R. Guzzo
Estadão

Uma das últimas modas da política brasileira é o “rito”. Estava perdida no arquivo morto da República desde que o ex-presidente José Sarney falou no rito do seu próprio cargo. Sarney, pelo consenso mais ou menos geral, fez uma droga de governo. Mas em matéria de pose, de acordo com a sua autoavaliação, tudo correu sempre muito bem. A palavra foi ressuscitada há pouco, e teve seus quinze minutos de fama, com as atividades “fora do rito” de juízes de direito a serviço do ministro Alexandre Moraes.

O episódio, como tudo o que diz respeito à má reputação do STF, foi enterrado debaixo de mais uma dessas pirâmides do Egito que se constrói em Brasília para esconder os momentos mais feios da vida pública nacional. Mas a noção de rito, entendida como a praxe obrigatória a ser seguida quando se exerce esta ou aquela atividade, é especialmente útil para entender um pouco melhor o governo do presidente Lula e o seu “projeto de país”.

FICHA SUJA – Um dos seus principais ritos é só escolher gente com prontuário tumultuado para se sentar nos galhos mais altos do governo. Não tem ficha na polícia? Então não é nomeado.

O rito foi cumprido à risca, mais uma vez, com a nomeação da substituta do ministro dos Direitos Humanos – que teve de ser posto para fora do governo quando não deu mais para esconder que ele abusava mulheres, inclusive uma colega de ministério. Não deu erro.

Lula foi direto para a escolha de uma “mulher” e “negra”, é claro – só que a sua escolhida, além de mulher e negra, é uma linha de montagem na produção de patifaria em estado bruto. É, pelo menos, o que dizem os registros do Ministério da Educação, da CGU e do TCU.

DENTRO DO RITO – A preferida de Lula é um verdadeiro vendaval em matéria de lambança com dinheiro na educação pública. Constam de suas realizações, quando ocupava cargos no governo de Minas Gerais e na prefeitura de Belo Horizonte, um rombo de quase R$ 180 milhões nos orçamentos da merenda escolar, avaria grossa na compra de uniformes para as crianças e o pagamento de uma multa de R$ 10 mil para não responder treze ações penais por roubalheira na aquisição de carteiras para salas de aula. É uma biografia e tanto. Mas é a cara do governo Lula.

Será que não havia, em 220 milhões de brasileiros, nada melhor do que isso? Mesmo só entre as mulheres e os negros, ou só dentro do PT – não daria para Lula achar um outro nome? Obviamente, havia e daria.

Mas Lula e seu entorno aceitam tudo, menos gente de bem no governo – se acontece, aqui e ali, é por pura distração. Deve ser o “rito” mencionado no início deste texto. Os ministros do STF podem sair do “rito”, mas Lula leva essas coisas muito a sério.

André Mendonça espera manifestação da Procuradoria sobre Silvio Almeida

Ministro do STF pede manifestação da PGR sobre caso do ex-ministro Silvio  Almeida | Página 12

Tremendamente evangélico, Mendonça repudia infidelidade

Rebeca Borges, Luciana Amaral e Basília Rodrigues
CNN Brasília

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, está aguardando que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre a competência da Suprema Corte para analisar as denúncias contra Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos, acusado de assédio sexual. O processo tem relatoria de Mendonça e tramita em sigilo no STF. Na quinta-feira (12), a Polícia Federal (PF) enviou à Suprema Corte um relatório preliminar das apurações sobre as denúncias.

Na sexta-feira (13), o ministro André Mendonça pediu que a Procuradoria se manifestasse a respeito da competência, assinalando que o caso deve ficar no Supremo ou descer para primeira instância, pois o ministro não tem mais foro especial. A PF também questionou se o caso deve ir para a primeira instância ou se Silvio Almeida deverá ser julgado pela Suprema Corte, já que tinha foro privilegiado quando as denúncias de assédio foram reveladas, no início de setembro.

ENTENDA O CASO – A organização Me Too Brasil confirmou, em 5 de setembro, que recebeu denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida. Segundo comunicado, as vítimas foram atendidas por meio dos canais de assistência da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico.

O caso foi publicado inicialmente pelo portal “Metrópoles”, que apontou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, como sendo uma das vítimas. A CNN apurou que ela relatou, para integrantes do governo, ter sido alvo de assédio.

O ministro diz “repudiar com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra” ele. Ele também alega que as denúncias não têm “materialidade” e são baseadas em “ilações” e que o objetivo das acusações são lhe “prejudicar” e “bloquear seu futuro”.

PROVAR INOCÊNCIA – Almeida diz que é o maior interessado em provar sua inocência e pede para os fatos serem postos para existir a possibilidade de sua defesa dentro do processo legal. Em sua única manifestação pública sobre o caso, a ministra Anielle afirmou que “não é aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência”.

 “Reconhecer a gravidade dessa prática e agir imediatamente é o procedimento correto, por isso ressalto a ação contundente do presidente Lula e agradeço a todas as manifestações de apoio e solidariedade que recebi”, escreveu em uma rede social.

Além de sigiloso, o procedimento preliminar aberto no Supremo está tramitando impresso. Não há versão digitalizada, afirmam funcionários da corte ouvidos pela CNN, como medida de cautela para evitar a circulação do conteúdo. Há preocupação com impedir mais exposição das mulheres que se apresentaram como vítimas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNão se sabe qual é a dúvida da Procuradoria, que demora tanto para responder sim ou não. A jurisprudência do STF é de julgar acusações ocorridas durante 0 período de foro privilegiado, como é o caso de Silvio Almeida. (C.N.)

Universidade Mackenzie vai reavaliar seu vínculo trabalhista com Silvio Almeida

Imagem colorida do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida

Almeida poderá ser demitido também da Universidade

Augusto Tenório
Metrópoles

A Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma das maiores instituições de ensino privado do Brasil, reavaliará o vínculo com o ex-ministro dos Direitos Humanos e Cidadania Silvio Almeida. Ele foi demitido do governo Lula após ser alvo de denúncias de assédio sexual. O jurista faz parte do corpo docente de graduação e pós-graduação stricto sensu no Campus Higienópolis, em São Paulo (SP).

Procurada pela coluna, a Mackenzie informou que o “professor Silvio Almeida não está no exercício de suas atividades docentes neste semestre” e que escutará o ex-ministro após o fim das atividades deste ciclo, que será encerrado no fim do ano. Somente após ouvi-lo sobre as acusações de assédio, a Universidade tomará uma decisão.

FORMAÇÃO – Além da Mackenzie, Silvio Almeida foi professor titular na Fundação Getulio Vargas, na Universidade São Judas e na Universidade Zumbi dos Palmares. Também lecionou como visitante na Universidade Columbia, em Nova York, e na Universidade Duke, ambas nos Estados Unidos. Ele é graduado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e em direito econômico pela própria Mackenzie, onde também fez pós-graduação e mestrado em direito político. Além disso, o ex-ministro tem doutorado e pós-doutorado em direito pela USP.

Considerado um dos ministros da ala ideológica do governo Lula, Silvio Almeida foi alvo de denúncias de assédio sexual, reveladas pelo colunista Guilherme Amado, do Metrópoles. Uma das supostas vítimas é a ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco. O caso levou à sua demissão em 6 de setembro, um dia após o caso ser revelado.

A escolhida para comandar o Ministério dos Direitos Humanos foi Macaé Evaristo. Ela passa pelo processo de transição, acompanhada pela ministra interina, Esther Dweck, que também comanda o Ministério da Gestão e Inovação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Conforme afirmamos na Tribuna, Almeida foi julgado e condenado sem direito a defesa, e agora pode perder também os empregos na iniciativa privada, sem que ninguém ainda saiba o que aconteceu. Comprem pipocas e lenços, o final pode ser muito triste. (C.N.)

Próxima pesquisa testará Bolsonaro, Michelle e Tarcísio contra Lula em 26

Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas

Na pesquisa mais recente, Lula só perde para Bolsonaro

Bela Megale
O Globo

Realizada desde o início do ano, a pesquisa que vem testando Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e governadores de direita contra Lula para a Presidência vai acontecer em outubro, após as eleições municipais. O PL e os outros partidos da oposição, como o PP, que costumam contratar o levantamento, estão com todos os recursos direcionados para as eleições municipais de setembro. Com isso, a Paraná Pesquisas, instituto responsável por ir a campo para testar os nomes da direita, só vai retomar esse trabalho no próximo mês.

A pesquisa mais recente foi realizada entre 14 e 18 de agosto e mostrou Jair Bolsonaro numericamente à frente de Lula nas intenções de votos, com 37,4%, enquanto o petista tinha 36,3%. Com isso, eles estão empatados tecnicamente. Nos cenários testados com outros nomes do bolsonarismo, Lula ficou na liderança. O presidente teve 37% das intenções de voto numa eventual disputa contra Michelle Bolsonaro, que apareceu com 30,5%. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teve 25,4% da preferência do eleitorado enquanto Lula alcançou 37,1%.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Está pesquisa sobre 2026 é muito interessante, porque mostra que não será fácil a reeleição de Lula, apesar da máquina publicitária com que ele conta. Reparem que, não interessa o adversário ou adversária. Nos três cenários testados, a votação de Lula da Silva praticamente não se altera. Fica com 36,3%, 37% e 37,1%. É como se este fosse seu teto, qualquer que for o candidato da direita. Não há mais aquele favoritismo de antigamente. E isso é muito bom, porque pode quebrar a nefasta polarização. (C.N.)

Com dinheiro do povo, Tribunais pagam R$ 4,5 bilhões acima do teto aos juízes

Tribuna da Internet | Novo penduricalho de juízes custará ao país R$ 81,6 bilhões em três anos

Charge do Kemp (humortadela.com.br)

Weslley Galzo
Estadão

É um mandamento constitucional: a remuneração dos ocupantes de cargos públicos não pode ultrapassar o valor pago mensalmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal. A regra, prevista no artigo 37 da Constituição como forma de limitar os supersalários na administração pública, tem sido sistematicamente burlada pelos tribunais estaduais do País inteiro. Levantamento realizado pela Transparência Brasil, obtido pelo Estadão, revela que pelo menos R$ 4,5 bilhões foram pagos a juízes e desembargadores acima do teto constitucional no último ano.

A cifra estimada no estudo pode ser ainda maior. Isso porque os dados disponíveis não estão completos e há erros nos registros oficiais cadastrados pelas cortes no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A Transparência Brasil conseguiu reunir dados completos de doze meses de contracheques dos magistrados em 18 dos 27 tribunais estaduais do País, em 2023. O teto do funcionalismo no ano passado era de R$ 39,3 mil até março e R$ 41,6 mil a partir de abril.

PENDURICALHOS – Procurado, o CNJ afirmou que “os indicativos de irregularidade na obediência ao teto remuneratório são apurados em procedimentos próprios pela Corregedoria Nacional de Justiça”. O Conselho ainda disse que o teto remuneratório só é aplicado ao subsidio (salário). São justamente os penduricalhos pagos a título de indenizações e outros benefícios que elevam as remunerações dos juízes para além do valor recebido por ministros do STF.

Cinco tribunais (Distrito Federal, Mato Grosso, Amapá, Pará e Paraíba) deixaram de divulgar até três meses de salários, outros três (Ceará, Tocantins e Sergipe) apresentaram ao Conselho valores divergentes aos efetivamente pagos aos seus membros. O Judiciário do Piauí foi excluído da análise por não publicar os contracheques nominais. “Apesar das ressalvas, o resultado é expressivo e reforça o caráter meramente decorativo do teto”, constata o estudo.

Todos os tribunais mapeados pelo levantamento pagaram salários médios brutos acima do teto constitucional. Os dados mostram que um em cada três magistrados teve holerite médio acima de R$ 70 mil e 565 membros receberam em suas contas valores médios superiores a R$ 100 mil.

RECORDISTA – O Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS) é o que paga os maiores contracheques extrateto a juízes e desembargadores: R$ 85,7 mil em média. A Corte de Amazonas tem o menor vencimento médio, ainda assim são R$ 51 mil em salários brutos aos seus membros.

O pesquisador Cristiano Pavini, que integra a equipe de autores do estudo, aponta a existência de 2.600 rubricas orçamentárias no Poder Judiciário que se convertem em ganhos financeiros para os magistrados, os chamados “penduricalhos”. “São recursos que poderiam estar sendo reinvestidos pelo Judiciário na ampliação de seu quadro. Em vez de remunerar muito bem alguns membros, você poderia remunerar bem mais membros, o que resultaria em um Judiciário mais célere e eficaz”, afirmou.

A conta desenvolvida pela Transparência Brasil foi aplicada mês a mês nos holerites de 16.892 magistrados estaduais. Dentre eles, 78% têm dados completos de 12 meses da folha de pagamento. Em valores gerais, 78 juízes e desembargadores receberam mais de R$ 1 milhão acima do teto durante o ano de 2023. Apenas 3,3% (434 pessoas) do grupo dos 13 mil não tiveram ganhos extrateto na somatória do ano.

IMORALIDADE – “O ponto principal é que se criou uma cultura no Judiciário e no Ministério Público de maximização de benefícios. Ambas as carreiras competem entre si para ver quem tem a melhor remuneração conseguindo assim alcançar patamares mais avançados de ganhos a despeito do que dizem as legislações e do que seria moral nesse recebimento”, disse Pavini.

Como mostrou o Estadão, os penduricalhos nascem em decisões e portarias que são compartilhadas por diferentes categorias. As carreiras públicas ainda pressionam o Congresso e os seus órgãos de controle por mais benefícios que turbinem os salários no fim do mês. Os “penduricalhos” que estão na fila para serem aprovados, como o chamado quinquênio, podem ampliar os gastos com esse tipo de pagamento e a desigualdade de remuneração entre os Poderes.

“Essa cultura faz com que, cada vez mais, essas carreiras sejam muito bem remuneradas acima do que o teto prevê”, avaliou Pavini. “Você tem o Judiciário e o Ministério Público como um meio de enriquecimento dos seus integrantes”, completou.

ACIMA DO NORMAL – Os R$ 4,47 bilhões pagos fora da regra constitucional aos magistrados brasileiros seriam suficientes para custear 555,5 mil famílias beneficiárias do Bolsa Família por 12 meses, considerando o valor mensal médio de R$ 670 repassado em 2023. Os dados ainda revelam que a despesa extrateto do Poder Judiciário estadual é superior ao orçamento de 14 ministérios, incluindo o de Meio Ambiente e o do Planejamento.

O relatório utilizou as informações reunidas pelo DadosJusBr, projeto da Transparência Brasil que coleta, padroniza e divulga contracheques do sistema de Justiça. O repositório mantido pela ONG estrutura os dados do Painel de Remuneração do Judiciário do CNJ, que sistematiza as informações enviadas mensalmente pelos tribunais.

A metodologia adotada pela Transparência Brasil excluiu do cálculo salarial a gratificação natalina (equivalente ao 13º salário) e o adicional de um terço de férias por serem benefícios garantidos aos magistrados pela Constituição e pagos também aos trabalhadores em regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Para aferir o valor pago aos juízes fora do limite constitucional, os pesquisadores subtraíram do total o desconto identificado na folha como “abatimento do teto”, ou seja, o valor que é retido da remuneração bruta quando esta ultrapassa o salário de ministro do STF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Uma excelente matéria, que mostra apenas a ponta do iceberg. A exploração do erário vai mais longe. Os magistrados possuem dois meses de férias, além do recesso judiciário. Há muitos anos não há trabalho às sextas-feiras e as varas funcionam em regime de plantão. Com a pandemia da Covid, inventaram o trabalho “home office”, e os juízes nem precisam comparecer aos tribunais diariamente. Como diria Tom Jobim, é a lama, é a lama, é a lama. (C.N.)

Viver como os bonobos seria a única forma de ser darwinista e progressista

Bonobo cub on the mothers back. green natural background. the • adesivos  para a parede Zaire, animais selvagens, deserto | myloview.com.br

Bonobo é o chimpanzé mais próximo do ser humano

Luiz Felipe Pondé
Folha

Somos chimpanzés, mas alguns de nós querem nos transformar em bonobos hippies e feministas. Claro que essa frase é retórica. Primeiro, somos homo sapiens e não somos nossos parentes muito próximos, os chimpanzés e bonobos. Segundo que é falsa a ideia de que esses animais seriam um grupo pacífico porque as fêmeas mandariam. Sinto muito pelos bonobistas.

Há muitos casos observados em que as bonobos fêmeas, mais poderosas politicamente do que as primas chimpanzés dentro de suas comunidades, são também muito mais agressivas. Logo, há uma enorme chance de que o caráter pacífico das fêmeas chimpanzés seja apenas consequência da falta de poder que elas têm em relação aos machos. Trocando em miúdo: teve poder, ficou agressiva.

HOMO SAPIENS – A esquerda está errada em relação à natureza dos nossos primos, como quase sempre está, inclusive em relação a natureza do homo sapiens. Quase tudo de importante que sabemos sobre nossos primos devemos aos trabalhos iniciados pela primatologista Jane Goodall, no sudeste da África, na década de 1960. Claro, outros estudos se seguiram.

Para quem ainda não percebeu, estamos aqui no universo darwinista, onde me sinto bem à vontade —sempre achei muito interessante nossa ancestralidade ser próxima aos chimpanzés. O darwinismo é uma teoria que apanha muito desde o início. Por um lado, os criacionistas e sua teoria do design inteligente, segundo a qual fomos planejados por Deus. Por outro lado, a turma das ciências sociais considera o darwinismo “de direita”.

Por isso, muitos querem dizer que podemos ser hippies, polissexuais — transam com todo mundo o tempo todo – e feministas, como a lenda afirma acerca dos bonobos. Seria a única forma de ser darwinista e progressista.

LEITURAS – Entre vários títulos na área, indico “Demonic Males” de Richard Wrangham e Dale Peterson. O livro é de 1996, mas continua atual. Wrangham foi aluno de Goodall e iniciou sua pesquisa na Tanzânia. Wrangham, em 2019, lançou “The Paradox of Goodness”, um estudo evolucionário acerca de como uma espécie violenta como a nossa pode desenvolver virtudes.

Não vou perder tempo aqui sustentando a proximidade chocante, do ponto de vista genético, entre nós e os chimpanzés. Remeto o leitor aos títulos acima citados, além de uma enormidade de outros existentes.

Os autores do “Demonic Males” mostram como olhar o comportamento de um chimpanzé – espécie conservadora em termos evolucionários, que não sofreu muita mudança nos últimos cinco milhões de anos, nem se mexeu além da linha equatorial africana, diferente de nós, que mudamos e viajamos muito – é como entrar numa “máquina do tempo”, como dizem os autores, que nos leva ao nosso ancestral comum que não devia ser muito diferente do chimpanzé atual. Ancestral este, pai e mãe, tanto dos chimpanzés e bonobos, quanto dos sapiens.

VIOLÊNCIAS – Chimpanzés machos se unem para invadir territórios vizinhos de outras comunidades de chimpanzés para matar os machos – que podem ter sido seus “amigos” antes de as duas comunidades se separarem e ocuparem espaços contíguos –, ocupar o território e roubar as fêmeas, que passam a reconhecer a nova comunidade como sua e entram no ciclo do sexo reprodutivo com os machos responsáveis por aniquilar a sua antiga comunidade.

Um detalhe interessante é que as fêmeas que não reproduzem podem atacar e ir à caça junto com os machos. Fêmeas “emancipadas da maternidade”, diríamos nós hoje.

Outro fator observado é que machos mais violentos e bem-sucedidos na matança e na caça reproduzem mais. Entre os chimpanzés, presentes dados às fêmeas abrem as portas para os seus corações.

DA NATUREZA – Nada disso quer dizer que ser violento é bonito. Apenas demonstra que a violência humana não é fruto da cultura sapiens, nem do capitalismo, nem do patriarcalismo – lembramos acima que fêmeas bonobos podem ser bem violentas.

Os mesmos chimpanzés que brincam, trocam carícias, choram seus mortos e cuidam de seus doentes também matam seus semelhantes pelos mais variados motivos. A natureza é amoral. Eis nossa alma ancestral.

Nada disso justifica moralmente a violência, como muitos já quiseram dizer. A natureza nunca serviu para uma fundamentação transcendental da moral. Nossa herança evolucionária deve ser um alerta contra delírios metafísicos e morais.

Cadeirada de Davena faz Marçal passar a madrugada em hospital

Pablo Marçal (PRTB) posta foto em leito de hospital após ser agredido com cadeirada por José Luiz Datena (PSDB) durante debate na TV Cultura neste domingo (15)

Marçal chamou Davena de estuprador e se deu mal

Cristina Camargo
Folha

O candidato Pablo Marçal (PRTB) passou a madrugada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após levar uma cadeirada do rival José Luiz Datena (PSDB) depois de discussões no debate da TV Cultura. Em resposta aos seguidores no Instagram, ele disse que sentiu dor ao respirar fundo ao deixar o debate e por isso foi para o hospital em uma ambulância.

Marçal contou ter feito exames que constataram haver recebido uma pancada na mão e sofrido uma fratura no sexto arco costal. Ele  postou foto em leito de hospital nas redes sociais.

PROVOCAÇÕES – O candidato do PRTB afirmou que não revidou a cadeirada porque jamais agrediria um idoso. Datena tem 67 anos e Marçal tem 37.”Eu tenho controle emocional”, disse. “Aguento tudo. Ainda mais para servir o povo. É uma missão. Tem que aguentar gente cuspindo, ameaça, cadeirada”.

O candidato do PRTB provocou o apresentador nos blocos anteriores ao resgatar uma denúncia de assédio sexual contra Datena. O jornalista respondeu que o caso não foi confirmado pela polícia e acabou sendo arquivado pela Justiça. Disse ainda que o fato atingiu sua família e levou à morte de sua sogra.

“Senhoras e senhores, nós vamos às manchetes dos debates pela pior cena já vista em debates. Peço que se comportem para terminarmos bem o debate”, disse o mediador Leão Serva após a confusão, afirmando que a agressão foi um dos “eventos mais absurdos da história da TV brasileira”.

Insegurança torna a população refém e apenas vem à tona em época de eleições

Problema se prolonga e é usado apenas como tema de promessas

Pedro do Coutto

Pesquisa nacional publicada na edição de ontem de O Globo revela que o problema da segurança pública é o maior e mais intenso das principais cidades do país. Todos querem realmente que o poder público enfrente a força da criminalidade que se projeta em todos os setores da atividade urbana. Estamos diante de uma situação em que sete das dez principais cidades têm o tema como urgência absoluta. A amostragem é significativa.

Reflexo de fenômenos que assolam as grandes cidades, o medo da população vem servindo de munição no debate eleitoral — e a segurança, área na qual os municípios têm limitações para atuar, “invade” as campanhas por meio de promessas e trocas de farpas. Seis a cada dez candidatos nas 26 capitais falam em aumentar o poder da Guarda Municipal, por exemplo.

PLANEJAMENTO – Mas esta não é a solução. A questão é a falta de planejamento e a efetiva atuação dos governantes. Também surgem propostas voltadas para a vigilância tecnológica, enquanto a iluminação pública passou a ser menos mencionada.

As cidades mais violentas do país, segundo os dados do Atlas da Violência, não são necessariamente as que estão dizendo agora, nas pesquisas eleitorais, que têm a segurança como maior preocupação. Isso se dá, avalia o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, por causa da ascensão nos grandes centros urbanos de problemas como as cracolândias, o medo de que o roubo de celular resulte em crimes financeiros e a disseminação do crime organizado.

CAPITAIS –  Os maiores percentuais de inquietação com a segurança nas capitais, acima dos 40%, estão no Rio (60%), Salvador (51%), Vitória (47%) e Fortaleza (45%). Entre elas, apenas o município capixaba não está entre os mais populosos do Brasil. Em São Paulo, maior cidade do país, 32% dos entrevistados colocam o tema no topo dos problemas. É no Centro paulistano, inclusive, que se forma a cracolândia mais conhecida, palco de diversas cenas de assaltos e incursões policiais nos últimos anos.

A questão é prioritária, e para ser tem uma ideia, um celular é roubado no país a cada 20 segundos. É uma situação alarmante que vai se agravando na medida em que nenhuma ação concreta é tomada. É preciso planejar com base na incidência dos fatos em todos os locais em que tais casos ocorrem com um sistema capaz de neutralizar a atividade dos ladrões.

Isso, além de outros fatos ainda mais graves, atinge as esferas públicas. A população está alarmada e clamando socorro. Mas, ao que tudo indica, por enquanto, o tema só volta à pauta quando acompanhado de promessas durante as campanhas eleitorais.

Uma cantiga para não morrer de amor, na poesia de Ferreira Gullar

Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o ...Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico de arte, teatrólogo, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e poeta maranhense José Ribamar Ferreira (1930/2016), conhecido como Ferreira Gullar, expressa no poema “Cantiga para não morrer” o desejo de ser lembrado de diferentes maneiras pela moça branca como a neve, moça esta com quem viveu uma profunda relação amorosa durante o seu exílio, em Moscou.

CANTIGA PARA NÃO MORRER
Ferreira Gullar

Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Imprensa acha ‘normais’ as relações românticas entre Almeida e Anielle

arte conversa whatsappCarlos Newton

arte conversa whatsappÉ importante, excitante e até extasiante a divulgação de parte das tórridas mensagens entre os dois ministros do momento – Anielle Franco, da Igualdade Racial, e Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, que perdeu o emprego.

São expressões e pequenas frases carregadas de paixão, que merecem ser estudadas por psicanalistas, sociólogos, filósofos, pedagogos e demais interessados nas relações humanas.

SOMENTE NELSON – Até que esses especialistas analisem a fundo os diálogos, a única saída é recorrer ao incomparável jornalista, cronista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Somente ele, sempre ele, pode nos levar a entender minimamente esse relacionamento de primeiro escalão,

Interessante notar que a imprensa analógica e digital considera “normais” essas mensagens de amor e trata essa apaixonante questão com a frieza de uma missa de sétimo dia, com os jornalistas torcendo claramente para que o ex-ministro seja condenado à prisão perpétua, seguida da pena de morte, por ter tentado devassar a pureza da colega de ministério, embora ela se comporte com uma noviça mais do que rebelde.

Notem que em momento algum o Romeu e a Julieta da Esplanada dos Ministérios usaram o linguajar da elite burocrática, com “V.  Exa. me permite”, “Concordo com V. Exa.” “Data vênia, conceda-me a oportunidade”, ou “V. Exa. demonstra bela aparência e extraordinária disposição”…

LINGUAJAR EXPRESSIVO –Nada disso, os dois ministros foram direto ao ponto, partiram para o popular, como se dizia antigamente, e no diálogo deles vale até falar palavrão.

Não vamos ter a deselegância de repetir as palavras chulas do enamorado casal ministeriável, mas é preciso observar que no caso anterior, no governo Fernando Collor, entre a ministra Zélia Cardoso de Mello (Fazenda) e Bernardo Cabral (Justiça) não houve esses rompantes.

Os dois ministros não davam na pinta, até que a orquestra tocou “Besame Mucho”, eles saíram a bailar um dentro do outro e todo mundo logo percebeu o que estava havendo.

PIADA DO ANO – O amor proibido entre os dois (Cabral era casado) durou pouco e virou Piada do Ano, levando Zélia a se relacionar com o humorista Chico Anysio, casar-se com ele e ter um casal de filhos.

As tórridas conversas entre Almeida e Anielle nem precisam de tradução simultânea. O que ninguém entende é por que ela resolveu denunciá-lo. Deve ter sido levada por maus conselheiros a esse gesto desesperado.

Como dizia Nelson Rodrigues, “qualquer amor há de sofrer uma perseguição concreta e assassina. Somos impotentes do sentimento do amor e não perdoamos o amor alheio. Por isso, não deixe ninguém saber que você ama”.

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P.S.
Nelson Rodrigues tinha outras frases que se adaptam bem a essa situação, como “meu amor é anormal porque é sem vergonha, sem limite e sem covardia”, ou “qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado”. Enfim, comprem pipocas, amigos e amigas. (C.N.)

Nunes não deve a Bolsonaro a liderança que recuperou neste final da campanha

O prefeito e candidato à reeleição em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), no Roda Viva

Nunes conseguiu mostrar que é menos ruim e mais aceitável

Merval Pereira
O Globo

As pesquisas Quaest sobre as eleições municipais no Rio e em São Paulo deixaram claro que o ex-presidente Bolsonaro não tem conseguido impor seus candidatos nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, a situação fica mais explícita, pois ele errou ao praticamente deixar de lado a candidatura do prefeito Ricardo Nunes depois que o ex-coach Pablo Marçal surgiu como adversário surpresa.

A pesquisa mostra não apenas que Nunes recuperou popularidade depois da propaganda eleitoral no rádio e televisão, como Marçal está à frente de Boulos mesmo depois da briga política com o clã Bolsonaro e de ser barrado no palanque da Paulista. O resultado, ainda empate técnico entre os três candidatos, não se deve a nenhuma ação de Bolsonaro a favor de Nunes, muito menos de Marçal.

MENOR INFLUÊNCIA – O fato de os dois estarem à frente da disputa neste momento indica, em vez de uma vitória bolsonarista, uma derrota de seu líder, que tentou se equilibrar entre os dois candidatos mais próximos e acabou perdendo a influência decisiva. Ao contrário, para não ter de escolher entre os dois, Bolsonaro tinha decidido abandonar a disputa paulistana e não pretende visitar a cidade até o dia da eleição. Mais grave: nenhum dos dois é mesmo de seu grupo político.

Nunes não deve a Bolsonaro a liderança que recuperou em São Paulo, muito menos a vitória fácil contra seus adversários num provável segundo turno. No momento, pesa mais a propaganda de sua gestão à frente da capital paulista. Os bolsonaristas se dispersam entre Nunes e Marçal, sem que Bolsonaro possa controlar esses votos. O mais grave para os bolsonaristas é a performance de Marçal, que está na segunda posição por conta e risco dele mesmo, sem obras para mostrar e sem apoio oficial da máquina bolsonarista.

Em vez disso, o apoio formal dos evangélicos, por meio do pastor Silas Malafaia, foi-lhe negado publicamente e de maneira agressiva. Malafaia chamou-o de psicopata. Nunes, por sua vez, foi deixado de lado pela família Bolsonaro quando parecia que Marçal o ultrapassaria.

TEMPO NA TV – O peso do bolsonarismo na vitória em São Paulo será menor do que podia ser avaliado no início da campanha. Nunes temeu a “cristianização” em favor de Marçal, mas acabou demonstrando que o tempo na propaganda eleitoral da televisão ainda tem seu valor de convencimento do eleitorado.

Sem tempo próprio, e sem apoio formal de Bolsonaro, dependendo apenas das redes sociais, Marçal mostra resiliência, enquanto Boulos depende mais que nunca de Lula empenhar-se em sua campanha. Num hipotético segundo turno contra Marçal, o candidato da esquerda tem chance de vencer, embora estejam no momento ainda empatados. Mas perde sem apelação para o prefeito paulistano.

No Rio, a situação do bolsonarismo, em seu berço eleitoral, é mais frágil ainda. A cada pesquisa vai-se firmando a possibilidade de o prefeito Eduardo Paes se eleger no primeiro turno. Bolsonaro promete permanecer na cidade, e na campanha de seu candidato Ramagem, nos últimos dias da campanha do primeiro turno. Pode não ser suficiente para uma arrancada.

PAES DISPARA – A pesquisa Quaest deu uma freada nas expectativas de crescimento que permitisse vislumbrar uma reação que o coloque no segundo turno. Embora tenha subido de 9% para 13%, viu Eduardo Paes subir os mesmos 4 pontos percentuais.

Se já se surpreendera com o crescimento de Paes para 60%, pois pensara que ele já atingira seu máximo, agora viu o teto do adversário aumentar. O candidato do PL deixou escapar, na sabatina de ontem do Grupo Globo no rádio e nos jornais, que estudos mostram que o eleitor carioca só se decide mesmo na última semana da campanha.

Não citou, mas me lembrei do fenômeno Wilson Witzel, que venceu na última semana do primeiro turno a disputa de 2018 contra o então prefeito Paes. Pode ser que essa seja a esperança de Ramagem, mas o clima eleitoral hoje não é o mesmo de quando nasceu o fenômeno Bolsonaro.

A teoria dos elefantes brancos: por que há tantas obras inacabadas em nosso país?

Posicionamento – Retomada das obras: geração de emprego e melhoria de  serviços - CBIC – Câmara Brasileira da Industria da Construção

Há mais de 14 mil obras inacabadas pelo governo federal

Marcus André Melo
Folha

Por que há tantas obras inacabadas em nosso país? Já fazem parte da nossa paisagem como uma segunda natureza as estradas que ligam nada a lugar nenhum; obras prontas que se mostram inviáveis ou com defeitos insanáveis: estaleiros, refinarias, cidades da música. A variável explicativa central é a corrupção. Mas não dá conta de explicar muitos casos, onde não há evidências de desvios. Ou de imperícia técnica.

Uma explicação foi proposta por James Robinson e Ragnar Torvik em um paper intitulado sugestivamente “White Elephants”. Robinson é um cientista político e coautor com Daron Acemoglu de “Por que as Nações Fracassam?” e “O Corredor Estreito: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza”. Os autores enumeram inúmeros elefantes brancos em vários continentes e formalizam o argumento.

FALHA DE MERCADO – Os elefantes brancos para os autores são produtos de uma falha política de mercado: de uma incapacidade de agentes políticos de lidar com o problema da credibilidade de suas promessas ao eleitorado. Do ponto de vista da sociedade, a melhor alternativa é quando os agentes políticos prometem bens públicos tais como educação pública e/ou infraestrutura com retorno social elevado.

Mas nas novas democracias os incentivos para a oferta de bens públicos são bem menores do que a oferta de bens com benefícios concentrados para indivíduos (transferências) e firmas (isenções) (o que examinei aqui na coluna). Projetos inviáveis ou economicamente deficitários representam uma forma de transferência de renda para grupos ou localidades. Sinalizam para um setor do eleitorado alinhado com o agente político responsável um compromisso crível de transferir renda. Mesmo sendo deficitários, geram empregos para setores alinhados com seus patrocinadores, e os custos socializados.

A volatilidade que os leva a ficarem inacabados ou funcionando com elevado custo social é produto de incentivos particularistas. Em democracias funcionais, os partidos políticos agregam interesses universalistas e têm mais incentivos para ofertar bens públicos, e para alinhar responsabilidade fiscal com gasto.

Pesquisa mostra que a polarização não funciona na eleição municipal

Tribuna da Internet | Polarização, que é obra de lideranças, depende muito do futuro incerto de Bolsonaro

Charge do Nani (nanihumor.com)

Maria Hermínia Tavares
Folha

Virou lugar comum dizer que o Brasil está imerso em polarização política. Dez em dez comentaristas a tomam como fato consumado e a consideram um dos principais problemas a emperrar o bom funcionamento da democracia no país. O termo foi ganhando importância à medida que se tratou de entender a crise política da década passada. E entrou para valer no vocabulário das classes conversadoras com a ascensão de Bolsonaro e a entrada em cena de uma extrema-direita ativa e ruidosa.

A controvérsia sobre o assunto é maior entre os acadêmicos e reproduz a animada discussão em curso nos departamentos de ciência política de universidades norte-americanas. Lá, como cá, há quem considere que se trata de um fenômeno restrito às elites políticas e à ínfima parcela dos cidadãos que acompanham o dia a dia do jogo do poder.

POLO RADICAL -No Brasil, alguns até argumentam que não seria adequado falar em polarização, pois o que se tem de fato é apenas um polo radical de ultradireita, sem equivalente na outra ponta do espectro, onde predomina uma centro-esquerda para lá de moderada.

Há ainda especialistas para os quais ela não só existe como se calcifica em atitudes extremadas e irredutíveis, muito além das meras simpatias políticas, a ponto de influir nas preferências por interlocutores, tipo de vizinhança ou laços familiares.

Em sociedades com divisões políticas calcificadas, as pessoas evitam ir a locais frequentados por partidários do inimigo, torcem para não tê-los como colegas ou vizinhos, muito menos parceiros das filhas.

PESQUISA REVELADORA – No Brasil, ainda são poucos os estudos empíricos que permitam desatar a controvérsia. Apenas algumas sondagens de opinião trataram de enfrentar a questão.

Daí o interesse em recente pesquisa do Datafolha sobre a segunda preferência dos paulistanos entre os candidatos a prefeito. O levantamento, feito nos primeiros dias deste mês, revela que a polarização passa longe dos prováveis eleitores.

Assim, Guilherme Boulos (PSOL), da coligação de esquerda, é a outra opção dos que se dizem decididos a votar em Ricardo Nunes (PMDB), que desfruta do firme apoio do governador Tarcísio de Freitas e, com menos entusiasmo, da família Bolsonaro.

VICE-VERSA – Da mesma forma, os que já estão fechados com o candidato da coligação petista, têm Ricardo Nunes e Tábata Amaral empatados como segunda escolha. Os que preferem Pablo Marçal (PRTB) são mais coerentes na sua opção pela direita: na maioria apontam Ricardo Nunes como primeira alternativa. Mesmo neste caso, um contingente menor se declara disposto a apoiar Tabata Amaral ou Guilherme Boulos, caso seu escolhido desista de concorrer.

Esses resultados seriam impensáveis se a sociedade estivesse cindida de cima abaixo em torno de opções políticas polares. Para um contingente numeroso dos paulistanos comuns, a distância entre os candidatos da direita e o contendor de centro-esquerda não parece ser grande – nem, em princípio, intransponível. Eles podem percorrê-la a depender da oferta de candidatos.

Talvez o que vale para São Paulo valha também para o país.

O que faria Anielle se o assediador fosse branco e de direita? Teria ficado calada?

O triste fim de Silvio Almeida | Brasil 247Eduardo Affonso
O Globo

O presidente Lula considerou insustentável a permanência de Silvio Almeida em seu governo após as denúncias de que o ministro tivesse praticado assédio e importunação sexual. A insustentabilidade passou a existir quando a imprensa divulgou o escândalo. Lula e seu entorno já sabiam dos fatos, e o ministro continuava lá, firme e forte. O que a opinião púbica não vê a ética não sente.

Foi admirável o contorcionismo dos que não podiam deixar de apoiar a ministra Anielle Franco e tampouco se sentiam confortáveis em condenar o comportamento do único homem preto do Ministério (logo o padroeiro do conceito de racismo estrutural!). E que, para surpresa de ninguém, deu a carteirada racial para tentar desacreditar acusadoras e acusações.

COISA ANTIGA – As violações de conduta por parte do ex-ministro acontecem há mais de dez anos — as queixas não foram levadas em conta quando de sua nomeação. E não faltaram teorias conspiratórias acerca dos “reais” motivos da degola: sua proposta de uma nova Comissão da Verdade, sua oposição à privatização de presídios, uma queda de braço com o Me Too. Tudo, menos considerar que Almeida tenha “letramento de gênero” suficiente para entender o que é assédio, o que é importunação — e que “não é NÃO”.

(Antes de prosseguir, vamos ao mantra: “A culpa nunca é da vítima, a culpa nunca é da vítima, a culpa nunca é da vítima”.)

A ministra tem razão ao dizer que “tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência”. Entretanto, se essa vítima for alguém com visibilidade e peso político, convém lembrar a lição aprendida nos gibis: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Quando uma ministra de Estado não se sente em condições de denunciar um abuso, que mensagem estará passando às mulheres que sofrem importunação no transporte coletivo, assédio físico e moral no trabalho, violência doméstica?

CAMINHO LIVRE – É preciso respeitar e preservar a intimidade e os sentimentos de quem sofre ataques desse tipo. E também ponderar que, quando o abusador é contumaz (no caso, era), seguirá fazendo vítimas até que alguém o detenha. Não denunciar — repita o mantra: a vítima não tem culpa… — deixa o caminho livre para o predador.

(Se o macho tóxico fosse branco e de direita, teria a ministra permanecido calada, resguardando sua privacidade por tanto tempo? Mais uma vez, não importa o que se faz, mas quem faz.)

A ministra alegou preferir enterrar o caso por não dispor de provas. É mesmo difícil haver materialidade nesse tipo de crime. Há câmeras nas ruas, nas portarias, até nas fardas de (alguns) policiais, mas ainda não ocorreu instalá-las debaixo das mesas em torno das quais acontecem reuniões ministeriais.

VITIMIZAÇÃO – Conclui-se desse episódio que as mulheres continuam a ser revitimizadas — não só nas delegacias ou em seu círculo social, mas também em função de uma causa. A fim de poupar o governo e as pautas identitárias, parece ter sido revisto e atualizado o (suposto) conselho vitoriano às mulheres para que enfrentassem estoicamente os “deveres conjugais”:

— Feche os olhos e pense no progressismo.

Pelo menos esse incêndio, provocado por fogo amigo, Lula conseguiu apagar — depois que apenas abafar não deu muito certo. O resto do país, esse continua em chamas.

Cadáveres da Primeira Guerra Mundial ainda vagam em Gaza e na Ucrânia

Palestinos que retornam ao campo de refugiados de Gaza caminham em meio a ruínas - ISTOÉ Independente

Viver em guerra ainda é uma realidade para muitos países

Mario Sergio Conti
Folha

Foram tantos os rompantes de Trump no debate com Kamala Harris que um deles passou em branco: o mundo marcha para uma Terceira Guerra Mundial, agora nuclear. Deixando de lado seu diagnóstico (uma barafunda chauvinista) e o purgante que receita (votem em mim), ele está certo. Com as guerras na Ucrânia e em Gaza —que não é bem um duelo bélico, mas um morticínio—, o planeta está mais próximo de uma combustão do que quando Trump foi despejado da Casa Branca.

O que não quer dizer que, fosse ele ainda o inquilino, o mundo estaria em paz; muito pelo contrário. A dança macabra à beira do precipício se acelerou. Os conflitos em Gaza e na Ucrânia engolfaram países vizinhos. Provocaram êxodos que desarranjam continentes distantes. Aguçaram o desespero e o extremismo em massa. Incineraram bilhões e bilhões de dólares.

É INEVITÁVEL? – As guerras, por fim, atiçam a crise climática, cujas labaredas apocalípticas ora medram pelo Brasil. Questionados sobre o assunto, Trump e Kamala repetiram que é forçoso queimar mais petróleo e incrementar a economia – aquilo que, precisamente, agrava o colapso ambiental.

Os combates já não horrorizam como antes. As vítimas ficaram incorpóreas, são cifras. O Ministério da Saúde – do Hamas, mas referendado pela ONU – diz que, até ontem, 41.118 pessoas tombaram em Gaza, a maioria mulheres e crianças. Israel não divulga o número dos que massacrou.

Rússia e Ucrânia também ocultam suas baixas de guerra. O New York Times estima que, entre mortos e feridos, são mais de 500 mil nos dois lados. Por que não se fala de tantas vidas perdidas ou traumatizadas para sempre? Porque, como escreveu T.S. Eliot às vésperas da Segunda Guerra Mundial, “a espécie humana não aguenta tamanha realidade”.

NO DIA D – No 6 de junho passado, por exemplo, festejaram-se os 80 anos do desembarque aliado na Normandia. Com os rostos compungidos, Biden, Macron & Cia foram às praias tomadas dos alemães no Dia D. Pois sabe quantos civis o “tapete de bombas” anglo-americano dizimou? Foram 18 mil, fora os desaparecidos. Nem os franceses se lembram deles.

A guerra é o estado natural da humanidade. É assim desde que se formaram os primeiros clãs e depois as tribos, ducados, burgos, nações, impérios e as alianças entre eles. É inviável formular uma teoria geral da guerra, porque cada conflito armado depende de uma história, um lugar e uma situação; dos contendores, dos bens e territórios em disputa.

Talvez então o melhor seja voltar-se para a literatura sobre a guerra que, como se acreditou na época, acabaria com a própria noção de guerra, pois era tão formidável que depois dela o mundo poderia viver em paz para sempre: a Primeira Guerra Mundial.

“TEMPESTADES DE AÇO” – Existe um relato espantoso dela em “Tempestades de Aço”, de Ernst Jünger. Ele era um soldado alemão promovido a lugar-tenente e condecorado com a Ordem do Mérito por bravura – foi ferido 14 vezes. Fora do prelo há dez anos, o livro foi republicado pela Carambaia; Marcelo Backes, autor das notas e do posfácio, revisou sua tradução original.

Sobre o fundo preto, há 5 soldados verdes de brinquedo espalhados entre gotas de lágrima e um rio vermelho. O soldado que está no centro está sentado sobre um joelho e com o braço apoiado no rosto – ele está colocado sobre a página de um livro aberto.

Escrito no calor da hora, “Tempestades de Aço” retrata as mazelas da primeira guerra moderna, a que combinou aviões e tanques com o corpo a corpo sanguinário nas trincheiras. É ainda, na mesma medida, um enaltecimento dos aguerridos guerreiros teutônicos que veicula uma concepção aristocrática da guerra, vista como a alma nacional em ação.

Pode ser visto como uma crítica ao absurdo da guerra e, contraditoriamente, um apelo literário à destruição sádica do inimigo. “Mate o cão a pauladas!”, ordena um major a Jünger, apontando para um soldado inglês; e o escritor, sumário e sinistro, diz que isso “foi desnecessário”.

NACIONALISTA – O autor sustenta que a Alemanha era um país “digno de que se sangrasse e morresse por ele”. Não diz um “ai” contra os comandantes e o imperador, nem quando a derrota é certa. Descreve as atrocidades com um estilo altissonante, à altura da loucura da luta letal, revela a guerra como a pulsão de morte encarnada.

Jünger escreveu “Tempestades de Aço” com 20 anos. Seu estilo opulento se embebia no sangue da expansão imperial. Não era um ingênuo: flertou com o nazismo, do qual veio a se afastar, mas foi protegido por Hitler. Morreu com 102 anos, em 1998. É admirado na França (André Gide o celebrou) e atacado na Alemanha (Thomas Mann o chamou de “playboy gélido do barbarismo”; Walter Benjamin disse que era kitsch e fascista).

Insepultos, os cadáveres da guerra que acabaria com todas as guerras vagam em Gaza e na Ucrânia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O relançamento de “Tempestades de Aço” coincide com o sucesso de “Nada de Novo no Front Ocidental”,  a obra-prima de Erich Maria Remarque, em que um soldado pacifista morre com uma flor na mão, no último dia da Primeira Guerra Mundial. Não há nada mais idiota do que uma guerra. (C.N.)