Donos do dinheiro acreditam que a economia vai bem, mas Lula vai mal

charge-divida-externa - Flávio Chaves

Charge do Iotti (Gaúcha/Zero Hora)

Vinicius Torres Freire
Folha

Por um lado, a conversa na praça do mercado é de “crise de confiança” em Luiz Inácio Lula da Silva – como o governo vai lidar com a dívida que cresce sem parar. O problema nem precisaria de nome. Basta olhar as taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro, que definem o custo de financiamento da dívida do governo e, pois, na prática, o piso geral das taxas.

Não param de subir, a caminho do monte da calamidade. A taxa real de um ano passa de 8%; a Selic pode ir a 13,5%, a julgar pelos preços da praça.

CONFIANÇA – Por outro lado, não necessariamente de modo contraditório, parece haver sinais de alguma confiança na economia, em sentido ligeiramente diferente da expressão.

O dinheiro levantado pelas empresas no mercado de capitais até setembro foi recorde, segundo dados da Anbima. De janeiro a setembro, foram R$ 541,9 bilhões, 16% mais do que em 2023 inteiro, ano bichado pelo crime da Americanas e outros problemas. Ainda assim.

No mercado de capitais, obtém-se crédito por meio da venda de debêntures e outros títulos de dívida. O dinheiro pode ser empregado em capital de giro, investimento na expansão do negócio ou em empreendimento novo, melhora do perfil da dívida (custos e prazos).

RECUPERAÇÃO – Ainda é crédito caro, embora movimentações e mudanças no mercado tenham reduzido o custo em relação aos pisos das taxas (como as pagas pelo Tesouro). De qualquer modo, recorde no mercado de capitais não é sinal de desconfiança.

Há indícios, com dados ora incompletos, de que o investimento na economia se recupera, ainda que devagar.

Investimento, neste caso, são recursos destinados à ampliação da capacidade de produção de bens e serviços (residências, instalações produtivas, máquinas, equipamentos, softwares etc.).

POR EXEMPLO – A importação de bens de capital (máquinas, equipamentos etc.) está crescendo rápido e mais rápido do que o total de compras brasileiras no exterior.

Há empresa por aí, pois, dedicada a ampliar a capacidade (que, pela estatística convencional, estaria no limite), renovar equipamentos e coisas assim. Enfim, diminui o saldo comercial (exportações menos importações). Dentro de certos limites, pode ser bom sinal. Fora dos limites, pode indicar superaquecimento da economia.

Sim, a taxa de investimento (a fatia do PIB dedicada ao investimento) ainda é menos do que medíocre. Não sustenta crescimento duradouro. Mas talvez algo se mova.

HÁ DÚVIDAS – Não se sabe quanto tempo vão durar certas animações (nem se previa que elas viriam, como se recorda). A soma dos rendimentos do trabalho cresce rápido, o gasto do governo cresceu muito (também nos estados e municípios, em particular neste ano eleitoral).

Mas as condições financeiras pioram: juros com cara de calamidade e dólar a R$ 5,70. A Selic vai subir. Há problemas importados, por assim dizer: descrença na retomada chinesa, perspectiva de os juros caírem mais devagar do que o previsto nos EUA e de aumentarem caso sobrevenha Trump 2, o que já influencia preços e taxas por lá e por aqui.

Nosso grande nó imediato, bidu, é a descrença na capacidade do governo Lula de apresentar um plano para, mesmo no médio prazo, conter o aumento de gastos obrigatórios e a dívida, ora sem limite. Não tomar providências pode dar em besteira feia, até de modo súbito. É ainda mais deprimente quando se nota que há sinais de vida na economia brasileira.

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