A chuva lava a cidade e molha os olhares que seguiam a poesia

Soneto | Ana Cristina Cesar | Sonoridade LiteráriaPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. O poema “Chove” descreve uma tarde chuvosa e, enquanto a cidade se lava, no coração da poeta passava a chuva dos olhares que a seguiam.

CHOVE
Ana Cristina Cesar

A chuva cai.
Os telhados estão molhados,
Os pingos escorrem pelas vidraças.
O céu está branco,
O tempo está novo.
A cidade lavada.
A tarde entardece,
Sem o ciciar das cigarras,
Sem o jubilar dos pássaros,
Sem o sol, sem o céu.
Chove.
A chuva chove molhada,
No teto dos guarda-chuvas.
Chove.
A chuva chove ligeira,
Nos nossos olhos e molha.
O vento venta ventado,
Nos vidros que se embalançam,
Nas plantas que se desdobram.
Chove nas praias desertas,
Chove no mar que está cinza,
Chove no asfalto negro,
Chove nos corações.
Chove em cada alma,
Em cada refúgio chove;
E quando me olhaste em mim,
Com os olhos que me seguiam,
Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar.

1 thoughts on “A chuva lava a cidade e molha os olhares que seguiam a poesia

  1. 1) Grande poetisa… a Ana Cesar…

    2) Licença… Estrofes & Diabetes…
    Antonio Carlos Rocha

    Açúcar e derivados
    não posso mais comer
    dieta severa
    se eu quiser
    continuar a viver.

    Foi bom enquanto durou
    comemorei bastante
    bebemorei idem
    agora é comportamento
    meu novo momento.

    Sal demais também não pode
    nada em excesso
    vou virar santo
    antes que chegue o pranto.

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