Enquanto o Rio hospedava o teatro do G20, a realidade se impõe fora dele

Lula e Milei se cumprimentam no G20 -- Metrópoles

Lula e seu arqui-inimigo Milei se cumprimentam no G20

Mario Sabino
Metrópoles

A reunião de cúpula do G20, no Rio de Janeiro, foi um evento sem importância para mudar os rumos internacionais, repito didaticamente, respaldado na pouquíssima atenção que lhe prestam a imprensa americana e a europeia. É um teatro que dá a países coadjuvantes, como o Brasil, a ilusão de serem protagonistas na cena mundial, no que é, ainda, uma boa definição para o multilateralismo. Tem lá a sua função na psicologia das nações.

A desimportância desta reunião, em particular, pode ser medida pelo que ocorre simultaneamente na realidade que se impõe fora do seu âmbito.

EXEMPLO DA UCRÂNIA – Enquanto os diplomatas do G20 buscavam uma declaração final anódina sobre a guerra na Ucrânia, visto que a necessária condenação à Rússia não é palatável aos seus aliados, Vladimir Putin ordenou um ataque maciço de mísseis contra Kiev.

Ao ataque, seguiu-se a resposta de Joe Biden, que finalmente autorizou os ucranianos a alvejar o território russo com os mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos.

A autorização do presidente americano também foi uma reação ao envio de tropas da Coreia da Norte para lutar ao lado da Rússia.

Até que Donald Trump seja empossado, Joe Biden tenta assegurar o máximo de ajuda militar possível à Ucrânia. A vitória do republicano, contudo, já causa rachaduras no G7, esse, sim, um grupo que interessa.

EXEMPLO DA ALEMANHA – Às voltas com grandes dificuldades políticas para se manter à frente da Alemanha, o chanceler Olaf Scholz telefonou para Vladimir Putin para conversar sobre a Ucrânia.

Foi o primeiro contato do líder alemão com o ditador russo em dois anos. Vladimir Putin viu-se, assim, retirado da geladeira e interpretou o fato como uma demonstração de fraqueza do Ocidente.

Olaf Scholz informou os Estados Unidos, o Reino Unido e a França de que telefonaria para o ditador a fim de pedir a retirada das tropas russas da Ucrânia e o início de negociações de paz sérias. Mas não deu satisfação à Itália, que preside atualmente o G7.

SAI UM MANIFESTO – Como não é de engolir desaforos, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni moveu o seu joystick e fez com o que o grupo das maiores democracias ocidentais divulgasse um manifesto de apoio incondicional à Ucrânia — o que apaziguou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que ficou irritado com o telefonema de Olaf Scholz para Vladimir Putin.

Concomitantemente, ele recebeu o aval de Joe Biden para usar os mísseis de longo alcance contra a Rússia.

No front econômico, temos os agricultores franceses protestando outra vez contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Fortemente subsidiados pelo governo, eles não querem saber da concorrência brasileira e argentina, principalmente, no mercado europeu.

Alegam que é injusto que sejam obrigados a concorrer com quem não é obrigado a seguir as dispendiosas normas ambientais e sanitárias que lhes são impostas pela União Europeia.

MACRON É CONTRA – O presidente da França, Emmanuel Macron, já disse que é contra o acordo. Antes de desembarcar no Rio de Janeiro, ele foi a Buenos Aires para conversar com Javier Milei. Ouviu do presidente argentino que ele também não gosta do troço, mas por motivo contrário ao dos franceses: acha muito restritivo aos agricultores argentinos. Javier Milei, aliás, faz sombra a Lula.

O Trump dos Pampas encarna o original ianque e é voz dissonante em tudo no G20, da questão ambiental à tal aliança contra a fome, da qual ameaçou ficar fora, para a raiva dos barbichas do Itamaraty, que querem transformar Lula em líder de um bolsa família planetário e da luta contra o aquecimento global, apesar de o presidente brasileiro adorar lambuzar-se em petróleo.

O ditador chinês Xi Jinping, brother de Fernando Haddad, também fez uma escala na América do Sul, antes de vir ao Brasil. Ele foi ao Peru, assim como o pato manco Joe Biden, para uma reunião dos países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, responsáveis por 60% do PIB mundial.

MEGAPORTO – No Peru, Xi Jinping teve um tête-à-tête com o presidente americano e inaugurou um megaporto financiado pela China, no valor de US$ 19 bilhões, que facilitará o comércio do maior exportador do mundo com os seus parceiros sul-americanos, aumentando a sua influência no antigo quintal dos Estados Unidos, motivo de preocupação óbvia de Washington.

Pequim defende o multilateralismo ao mesmo tempo que engole os peixes pequenos em acordos bilaterais.

Tudo isso acontece à margem da reunião de cúpula do G20, em um mundo que aguarda, com o fôlego suspenso, a reentrada de Donald Trump na Casa Branca. Ele deve mudar o jogo o suficiente para transformar a declaração final do convescote no Rio de Janeiro, por mais anódina que ela seja, em letra morta.

4 thoughts on “Enquanto o Rio hospedava o teatro do G20, a realidade se impõe fora dele

  1. Xi Jinping avançou, e muito! como novo colonizador do Brasil, na vaga aberta por um EUA ‘ausente’ por aqui.

    Descaso com o Brasil:

    Já ‘pato manco’ (com Trump vencedor), Biden foi – pasmem! – o primeiro presidente americano (no cargo e na história) a visitar o Brasil.

    E deu no que deu: O Brasil é hoje uma enorme colônia da China.

  2. França tem estrume nas ruas em protesto contra o MERCOSUL.

    Brasil tem esgoto nas ruas, nos rios apodrecidos, de São Paulo até o Distrito Federal, passando por todas as “províncias”.

    O ardor fétido e putrefado, inclusive moral, estão full time, o tempo todo.

    E sem nenhum propósito

  3. Acompanhei parte o trabalho de Mário Sabino quando era um dos donos de O Antagonista e da revista Cruzoe. Na época eu acreditava que a Lava Jato estava fazendo um bem ao Brasil prendendo corruptos. Hoje eu vejo que a Lava Jato teve como principal objetivo acabar com a indústria nacional e a corrupção deixou de existir no Brasil pois ela foi legalizada.

    Sabino espalha desinformação em vários pontos. Olaf Scholz entrou em contato com Putin pois a Alemanha está quebrando. Sem o gás russo, ela deixa de ser competitiva e está em processo de desindustrialização. Volkswagen está fechando fábricas e demitindo alemães. Isso também está acontecendo com a Bosh, ZF, Bayer, Audi e etc…. Alemanha é o motor da Europa, ela indo mal, a Europa vai junto. Vemos isso com a Maserati e outras. Europa está pagando de 3 a 5 vezes mais caro pelo gás pois deixou de comprar da Rússia para compra dos EUA.

    Após o telefone de Olaf Scholz a Putin, os EUA liberaram o uso de armas de longo alcance pela Ucrania para minar qualquer tentativa de comunicação entre Alemanha e Rússia. O maior ganhador dessa guerra da Ucrania são os EUA que estão vendendo armas como nunca. Obrigando a Europa a se desfazer do seu estoque de armas e comprar dos EUA novas armas. Esse pretexto de dizer que militares da Coreia do Norte estejam combatendo ucranianos na Ucrania e uma balela, ninguém comprovou isso, está sendo usado como pretexto dará usar armas de longo alcance que não farão diferença no resultado desse conflito.

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