Elio Gaspari
O Globo/Folha
Discursando no G20, Lula foi genérico: “não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita”.
Há duas semanas, o jornalista americano George Will foi específico em sua coluna no Washington Post: “a Terceira Guerra Mundial já começou”. Will é um veterano conservador, independente e erudito. Ele lembra que a Segunda Guerra começou cronologicamente em setembro de 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha, depois de uma “cascata de crises”.
HOSTILIDADES – Àquela altura, o Japão já havia ocupado a Manchúria (1931). Some-se a isso que o Terceiro Reich já havia engolido a Áustria (março de 1938) e um pedaço da Tchecoslováquia (dezembro de 1938). A Itália atacou a Abissínia em 1935 e invadiu a Albânia em abril de 1939.
Will lembra que a Rússia anexou a Crimeia em 2014 e invadiu a Ucrânia em 2022. Para ele, a participação americana na Segunda Guerra começou em 1940, quando a Marinha patrulhou as rotas marítimas do Atlântico Norte.
Já a mobilização dos Estados Unidos nesta Terceira Guerra começou antes mesmo da remessa para Israel de um escalão de cem soldados para operar um sistema de defesa antimísseis. Os Estados Unidos abastecem com informações os governos da Ucrânia e de Israel.
CRISE EM ALTA – Depois do artigo de Will, a crise escalou. O presidente Joe Biden autorizou as forças ucranianas a disparar mísseis americanos de médio alcance contra tropas russas que estão em seu território. Na outra ponta, hierarcas russos falam no risco de uma guerra, e as tropas de Vladimir Putin receberam um reforço de 10 mil soldados norte-coreanos.
Para Will, a cascata de crises se espalha por 6 dos 24 fusos horários do planeta, indo da fronteira ocidental da Rússia até os mares da Ásia, onde a China aperta as Filipinas. Enquanto isso, nenhum dos dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos parecia perceber o tamanho do problema.
Para o americano comum, a Segunda Guerra só começou em dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram a base naval de Pearl Harbor, no Pacífico. Para os russos, ela começou seis meses antes, em junho, quando o aliado alemão invadiu a falecida União Soviética. Eram os maremotos da cascata de crises.
EIXO DO MAL – Will fala de um eixo que junta a Rússia, China, Irã e a Coreia do Norte. Tratando da China, o falecido Henry Kissinger escreveu, em 2012, que o país e os Estados Unidos construíam uma rivalidade semelhante à da Inglaterra e da Alemanha nos primeiros anos do século passado. A Primeira Guerra Mundial começou em 1914.
A cascata de crises está na mesa. Talvez a Terceira Guerra ainda não tenha começado. Caso ela comece, os primeiros anos desta década serão vistos como se olha hoje para a segunda metade dos anos 30 do século passado.
Todos os maus augúrios não levam em conta que, em janeiro, Donald Trump assumirá a Presidência dos Estados Unidos. George Will foi republicano e, em 2020, votou em Joe Biden. Na última eleição, anunciou que votaria em Kamala Harris.
“Will fala de um eixo que junta a Rússia, China, Irã e a Coreia do Norte” Lugar comum deles. Só faltou especificar como “Eixo do Mal“, onde nunca se encaixam. Só inverteram: antes, os republicanos eram os agressores. Obama e Biden que o digam.
The cry is free. Ah país vagabundo.
Artigo sério e preocupante, na releitura do 1* volume do O Século, estou achando bastantes circunstâncias coincidentes, mesmo mais de cem anos depois.
Lembrete :
Recentemente um líder partidário inglês, desabafou em tom de arrependimento em alto e bom som , por serem os responsáveis por provocarem e iniciarem a guerra da ” Ucrânia ” contra a Rússia , mas infelizmente pouquíssimos órgãos de impressa BR x ESTR. repercutiram tal informação , sendo que os governos da Inglaterra , dos EUA e da França são os verdadeiros responsáveis por promoverem e iniciarem esta guerra na Europa , mas não esperavam tal reação da Rússia , logo é legítimo o uso de ” bombas nucleares táticas ” contra a Ucrânia e seus financistas da OTAN , pois são esses países-membros quem estão a atacando a RÚSSIA através da Ucrânia.