Musk gasta milhões em Trump, vence e deve atuar no governo

Donald Trump conversa com Elon Musk

Trump conversa com Musk no jantar que acompanhou a apuração

Stephen Morris e Hannah Murphy
Financial Times

“Uma estrela nasce: Elon”, afirmou Donald Trump em um longo agradecimento ao seu maior doador enquanto reivindicava vitória nas eleições dos EUA na madrugada desta quarta-feira (6). Horas depois, o triunfo do republicano seria confirmado.

A vitória de Trump inaugura uma nova era para Musk —a pessoa mais rica do mundo com uma fortuna de US$ 260 bilhões (R$ 1,51 trilhão)— cujo risco em uma eleição acirrada valeu a pena, pois ele está prestes a se tornar um dos conselheiros políticos e empresariais mais influentes do novo presidente.

LUGAR DE PONTA – O papel prometido por Trump para Musk assumir como chefe de um novo Departamento de Eficiência Governamental dará ao bilionário amplos poderes para recomendar cortes profundos no que ele considera uma “vasta burocracia federal… segurando os Estados Unidos de uma maneira gigantesca.”

Musk também prometeu defender a desregulamentação e ganhará influência na política dos EUA em inteligência artificial, exploração espacial e veículos elétricos —todos setores nos quais ele tem interesse pessoal, já que é dono da xAI, do SpaceX e da Tesla.

“Ele é um personagem, ele é um cara especial, ele é um super-gênio”, disse Trump sobre Musk no discurso desta quarta-feira. “Temos que proteger nossos gênios, não temos muitos deles.”

A PIA DE MUSK – Mais cedo naquela noite, Musk postou uma foto editada de si mesmo carregando uma pia para o Salão Oval, uma referência excêntrica a uma foto semelhante que ele tuitou quando entrou no X (antigo Twitter) pouco antes de adquirir a rede social por US$ 44 bilhões em outubro de 2022.

Outra foto na terça-feira mostrou o bilionário em uma conversa com Trump durante uma festa na noite da eleição na residência Mar-a-Lago do presidente eleito na Flórida, com a legenda: “O futuro vai ser tão quente [com um emoji de fogo].”

Musk —um autodeclarado “absolutista da liberdade de expressão” que disse ter votado anteriormente em Joe Biden, Hillary Clinton e Barack Obama — moveu-se acentuadamente para a direita nos últimos anos. Ele se alinhou com a campanha de Trump em questões como imigração e regulamentação, aversão à mídia tradicional e o que ele chamou de política “woke”.

APOIO FUNDAMENTAL – Musk endossou publicamente Trump horas depois de o político sobreviver a uma tentativa de assassinato em 13 de julho e comprometeu-se constantemente com mais tempo e recursos para sua reeleição.

Ele contribuiu com mais de US$ 100 milhões (R$ 582,94 milhões) para o America Pac pró-Republicano, organizou assembleias em estados-chave como a Pensilvânia e doou US$ 1 milhão (R$ 5,83 milhões) por dia para eleitores que assinaram sua petição a favor da liberdade de expressão. No dia da eleição, ele transportou eleitores republicanos que não podiam dirigir para os locais de votação.

Musk obteve um enorme retorno sobre esse investimento —a vitória de Trump e ao adicionar bilhões à sua riqueza, já que as ações da Tesla subiram quase 15% nas negociações pré-mercado desta quarta-feira.

REDE X – Nos meses que antecederam a votação, Musk usou seu próprio megafone —a rede social X— como proprietário e a conta mais popular com mais de 200 milhões de seguidores. Ele inundou a plataforma com mensagens pró-Trump, alegações sobre fraude eleitoral e avisos de que Kamala Harris destruiria o país se ganhasse a disputa presidencial.

Ao longo de 24 horas nessa terça-feira, dia final para a votação, ele tuitou quase 200 vezes, de acordo com uma análise do Financial Times, acumulando cerca de 955 milhões de visualizações, após uma média de mais de 100 postagens por dia no mês anterior à votação.

JOGAR PARA GANHAR – Durante uma entrevista com o apresentador conservador Tucker Carlson na noite de terça-feira (5), Musk disse: “Minha filosofia é jogar, jogar para ganhar, e não pela metade.”

Críticos argumentaram que Musk incluiu o viés nos algoritmos da plataforma e amplificou narrativas de extrema-direita e teorias da conspiração com pouca ou nenhuma evidência, ao mesmo tempo em que reduziu a moderação e a verificação de fatos.

Alguns alertaram que Musk se tornou um dos maiores divulgadores de desinformação e conspirações políticas no período pré-eleitoral, promovendo alegações de possível fraude na votação, por exemplo. Uma análise do grupo de verificação de fatos PolitiFact de 450 postagens de Musk no X nas duas primeiras semanas de outubro encontrou uma riqueza de desinformação, que recebeu quase 679 milhões de visualizações e mais de 5,3 milhões de curtidas.

Facão do corte de gastos de Haddad pode estar saindo na direção errada

Governo federal avalia novo corte de cerca de R$ 5 bilhões em despesas para  cumprir o teto de gastos | ASMETRO-SI

Charge do Guto (Jonal de Brasília)

Elio Gaspari
O Globo

Sabe-se lá o que vem por aí no pacote de corte de gastos armado em Brasília. A notícia de que Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniram-se com os seus colegas da Saúde, Educação e Trabalho, assusta. A lâmina parece apontada na direção errada.

Começando pelo Ministério do Trabalho, sabe-se que nas últimas semanas a ekipekonômika andou soprando por Brasília uma tunga engenhosa. Quem fosse demitido sem justa causa perderia uma porção da multa de 40% sobre o FGTS a que tem direito e que é paga pelo patrão. O engenho da tunga estava em descontar esse dinheiro avançando-se sobre aquilo que receberia pelo salário-desemprego, outro direito. Exposta, a tunga foi desmentida pelo Planalto e condenada pelo ministro do Trabalho, que ameaçou ir embora.

TAMBÉM NA SAÚDE – Olhando-se para a Saúde, percebe-se que o governo, assustado, quer cortar gastos. Contudo, em condições normais de temperatura e pressão, tentou gastar mal. Em junho, o Ministério da Saúde soltou um edital para a compra de 60 milhões de kits com dentifrício, fio dental e escova de dentes (enfeitadas com o logotipo do governo federal). Coisa de até R$ 3 bilhões.

Feito o pregão, uma empresa contestou-o, e a compra foi detonada na Justiça e no Tribunal de Contas. Precisava começar esse programa de saúde bucal com 60 milhões de kits?

Num primeiro sopro da tunga, revelou-se que junto viria um combate aos supersalários. Boa ideia, vinda de um governo que pretende cortar gastos, seria exemplar. É verdade que seria uma economia de clipes, mas pelo menos sete ministros (e mais alguns assessores afortunados) têm assento em conselhos de estatais para fazer pouco, ou nada, por falta de qualificação.

FARRA DO BOI – Em 2022, cada ministro do governo anterior com assento no conselho da hidrelétrica de Itaipu faturou cerca de R$ 500 mil entre jetons, participação nos resultados, um abono, mais plano de saúde (da Eletronorte) e seguro de vida. A carga de trabalho incluía reuniões mensais presenciais e outras, poucas, por videoconferências.

A Viúva banca viagens ao exterior de ministros do Supremo Tribunal Federal, em alguns casos acompanhados por assessores e seguranças. O Executivo não pode cortar no orçamento do tribunal, mas os doutores poderiam oferecer bons exemplos. F

az pouco tempo, um jatinho da FAB levou um ministro e mais cinco pessoas à cidade argentina de Mendoza para um encontro de magistrados do Paraná, que fica no Brasil. O avião esperou pelo doutor por dois dias para trazê-lo de volta.

ASTEROIDE MARÇAL – Cada mordomia do andar de cima ampara-se em normas e portarias.

Tudo bem, mas não se deve reclamar quando ameaça cair sobre a cidade de São Paulo um asteroide chamado Pablo Marçal.

Por questão de Justiça, deve-se lembrar que o Brasil já elegeu um presidente que tinha a vassoura como símbolo.

Conforme lembrava um conhecedor dos costumes do andar de cima, Jânio Quadros, debilitado por problemas neurológicos, foi levado pelas ruas de Genebra para tentar localizar o banco onde guardava sua conta suíça.

China afirma esperar por uma “coexistência  pacífica” com os Estados Unidos

China strongly rebukes US' remarks on Nauru severing 'diplomatic ties' with  Taiwan region - Global Times

A porta-voz Mao Ning deu uma resposta bem diplomática

Deu na CNN

China disse que espera por uma “coexistência pacífica” com os Estados Unidos, pouco antes de Donald Trump garantir a reeleição como presidente dos EUA.

“A política da China nos EUA é consistente e clara. Vemos e lidamos com nossas relações com os EUA sob os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, na manhã desta quarta-feira (6).

ASSUNTO INTERNO – Oficialmente, o governo chinês apresentou uma posição neutra sobre a eleição, chamando-a de “um assunto interno dos Estados Unidos”.

Enquanto isso, a mídia estatal chinesa tentou retratar a votação como um reflexo de profundas divisões sociais e disfunção política nos Estados Unidos, em meio a um sentimento amplo na China de que não importa quem vença, os tensos laços bilaterais dificilmente melhorarão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A China quer saber outras coisas. Por exemplo, como será a reação dos EUA sobre a Nova Rota da Seda? Como o Ocidente reagirá contra o Plano Sul Global? Vai parar a guerra na Ucrânia ou vai destruir o país para enfraquecer a Rússia? São muitas dúvidas, sem falar nas dívidas… (C.N.)

“Não há diferença em quem vence e se torna presidente”, declara o Irã

Roma News | Aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã ameaça Israel e EUA

Aiatolá Ali Khamenei ironiza efeitos da eleição nos Estados Unidos

Eyad Kourdi
da CNN

O governo iraniano disse que não há “nenhuma diferença significativa” em quem se torna presidente nos EUA, relatou a mídia estatal, diante da projeção da CNN mostrando que o candidato republicano, Donald Trump, está de volta à Casa Branca.

De acordo com a Tasnim News, a agência de mídia estatal no Irã associada ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, “o porta-voz do governo iraniano, Fatemeh Mohajerani, confirmou que as políticas gerais do Irã e dos Estados Unidos são consistentes” e não mudam em função de eleição e posse de novos governantes.

SEM CONEXÃO – Mohajerani também disse que a eleição do presidente dos Estados Unidos não tem “nenhuma conexão” com o Irã e que as “políticas gerais dos EUA e do Irã não mudaram”, relata a Tasnim.

Mohajerani acrescentou que “as medidas necessárias foram planejadas com antecedência”, de acordo com a Tasnim.

Sem passaporte, Bolsonaro precisará de autorização do STF para ir à posse

Eduardo Bolsonaro, Gilson Machado e Gilson Filho

Com ex-ministro Gilson Machado, Eduardo espera a apuração

Deu na Terra

Apoiador de Donald Trump, Jair Bolsonaro (PL) pode ser impedido de ir à posse do republicano, marcada para 20 de janeiro de 2025, em Washington. Isso porque o passaporte do ex-presidente está apreendido por ordem do ministro Alexandre de Moraes. A viagem só poderá ser feita com autorização do Supremo Tribunal Federal.

O passaporte de Bolsonaro foi retido em fevereiro, no curso da operação da Polícia Federal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado por parte dele e de seus aliados. A decisão da Primeira Turma do STF também proibiu que o político se comunique com outros investigados, como o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

DEVOLUÇÃO – O ex-presidente chegou a solicitar a devolução do documento, mas foi rejeitado. Em outubro, os recursos foram negados de maneira unânime pelo Supremo. Na decisão, o relator do caso, Alexandre de Moraes, definiu a medida como necessária para evitar uma possível fuga do país.

O inquérito sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, pelo qual Bolsonaro é investigado, poderá ser concluído ainda neste mês. Em coletiva, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, estipulou o prazo para o final de novembro.

No entanto, não se sabe se a decisão sobre o passaporte do ex-presidente mudará até a posse de Donald Trump.

BOLSONARO APOIOU – O presidente eleito dos Estados Unidos governou o país entre 2017 e 2021, quando Jair Bolsonaro também era presidente do Brasil. O político brasileiro nunca negou a proximidade e o apoio ao republicano, mesmo não comparecendo presencialmente à campanha.

Antes da eleição na terça-feira, 5, o ex-presidente do Brasil publicou um vídeo em apoio ao norte-americano, com legendas em inglês.

“Em seu governo, os Estados Unidos projetavam poder. Não tivemos guerras e a paz se fez presente em todo o globo. Hoje, vemos guerras, a volta do terrorismo e a censura aprisionando a todos. A volta de Trump é a certeza de um mundo melhor, sem guerras, terrorismo e o retorno da liberdade em toda a sua plenitude”, afirmou.

PARABENIZAR – Pouco depois da vitória do republicano contra Kamala Harris ter sido anunciada, Bolsonaro voltou às redes sociais para parabenizar o “amigo”, maneira na qual se refere a Trump.

No X, ele escreveu: “Parabéns, meu amigo, por esta vitória épica que marca não apenas seu retorno à Casa Branca, mas também o triunfo da vontade popular sobre os desígnios arrogantes de alguns poucos que  desprezam nossos valores, nossas crenças e nossas tradições”.

Bolsonaro completou, destacando os possíveis efeitos da eleição em outros países, como o Brasil. “Este triunfo é histórico, um marco que reacende a chama da liberdade, da soberania e da autêntica democracia. Esta vitória encontrará eco em todos os cantos do mundo, impulsionando não apenas os Estados Unidos, mas também o fortalecimento da direita e dos conservadores em muitos outros países”, enfatizou.

GRANDE GUERREIRO – “Hoje, testemunhamos o ressurgimento de um verdadeiro guerreiro. Um homem que, mesmo após enfrentar um processo eleitoral brutal em 2020 e uma injustificável perseguição judicial, ergueu-se novamente, como poucos na história foram capazes de fazer. Contra tudo e contra todos…

Quem representou os Bolsonaro nos Estados Unidos foi o deputado federal e filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Nas redes sociais, ele publicou uma foto no final da noite de terça-feira, 5, acompanhando a apuração dos votos da eleição norte-americana na casa de Donald Trump, na Flórida.

Eduardo posou em frente a um portão decorado com tons de dourado, em Mar-a-lago, resort de luxo do republicano. “Uma honra estar aqui para acompanhar a apuração das eleições mais importantes do mundo livre. Dos EUA, com o coração dos brasileiros que padecem sob o poder da esquerda. EUA e Brasil precisam ser parceiros em defesa da liberdade”, escreveu o deputado.

A ânsia de amar, um sentimento avassalador, na poesia de Alberto de Oliveira

Veredas da Língua: Alberto de Oliveira - PoemasPaulo Peres
Poemas & Canções

O farmacêutico, professor e poeta Antonio Mariano Alberto de Oliveira (1857-1937), nascido em Saquarema (RJ), no soneto “Que ânsia de amar”, apresenta uma tormentosa e incessante espera pela chegada de uma mulher, que lhe veio apenas através de um sonho.

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QUE ÂNSIA DE AMAR
Alberto de Oliveira

Que ânsia de amar! E tudo a amar me ensina!
A fecunda lição decoro atento,
Já com liames de fogo ao pensamento,
Incoercível desejo ata e domina.

Em vão procuro espairecer ao vento
Olhando o céu, o morro, a campina.
Escalda-me a cabeça e desatina,
Bate-me o coração como um tormento.

E sorrindo ardente e vaporosa
Por ela, a ainda velada, a misteriosa
Mulher que nem conheço, aflito chamo.

E sorrindo-me ardente e vaporosa
Sinto-a vir – vem-me em sonho, une-me ao seio
Junta o rosto ao meu rosto e diz-me “Eu te amo!”.

Putin não planeja parabenizar Trump e aguardará algumas ações concretas

Russian President Vladimir Putin attends a meeting with CEO of Rostec state corporation Sergei Chemezov in Moscow, Russia, December 28, 2023. Sputnik/Gavriil Grigorov/Kremlin via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY.

Putin vai esperar para saber a real intenção de Trump no poder

Anna Chernova e Lauren Kent
da CNN

O presidente russo, Vladimir Putin, não tem planos de parabenizar antecipadamente o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse o porta-voz do Kremlin.

“Não vamos esquecer que estamos falando de um país hostil que está direta e indiretamente envolvido na guerra contra nosso estado”, afirmou Dmitry Peskov.

MONITORANDO – O porta-voz do Kremlin declarou que a Rússia está monitorando cuidadosamente as informações sobre a eleição dos EUA e é improvável que faça uma avaliação oficial até ver “palavras e ações concretas”.

“Ainda há algo a fazer, considerando que o atual presidente dos EUA permanecerá no cargo por quase mais um mês e meio”, disse Peskov nesta quarta-feira (6).

Peskov destacou “declarações significativas” de Trump, incluindo o que o Kremlin se referiu como “seu desejo de acabar com as políticas em andamento de estender guerras antigas e começar novas”.

NO SALÃO OVAL – À medida que ele se prepara para entrar, ou quando já entrou no Salão Oval, reconhecemos que às vezes as declarações assumem um tom diferente. Portanto, estamos analisando tudo cuidadosamente, observando e tiraremos conclusões com base em palavras e ações específicas”, disse Peskov.

“Nós dissemos repetidamente que os EUA estão em posição de ajudar a pôr fim ao conflito. Claro, isso não pode ser alcançado da noite para o dia.”

Quando perguntado se Trump poderia ficar ofendido pela falta de parabéns de Putin, o porta-voz do Kremlin acrescentou: “É praticamente impossível que as relações piorem ainda mais. As relações estão atualmente em seu ponto histórico mais baixo.”

Votos por correio e regras estaduais agilizaram muito essa apuração

Para variar, a apuração final vai demorar bastante, uma chatice

Alicia Parlapiano e Lazaro Gamio
The New York Times/Folha

A contagem dos votos na eleição dos Estados Unidos se estenderá além da noite desta terça-feira (5), mas desta vez foi possível anunciar muito rapidamente o resultado da campanha presidencia. Mesmo nos estados que contam seus votos relativamente rápido, se a corrida fosse tão acirrada quanto as pesquisas indicaram, podia demorar dias antes que um vencedor seja projetado.

SEMPRE ATRASA – Em 2020, um número recorde de pessoas votou pelo correio por causa da pandemia, e muitos estados estavam processando um grande número de cédulas pelo correio pela primeira vez.

Embora a votação desse tipo tenha diminuído em muitos estados e outros tenham feito mudanças para acelerar a contagem, essas cédulas ainda são mais demoradas de contar, mas desta vez saíram rápido.

Os democratas têm sido mais propensos a votar pelo correio, e variações no momento de contabilizá-los podem contribuir para as chamadas miragens nos resultados — casos em que o tipo de cédulas relatadas primeiro favorece um partido de uma maneira que não é representativa do resultado final.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não houve aquela velha esculhambation de sempre, uma confusão dos diabos em que o vencedor pode ter tido menos votos, porém conseguia mais colégios eleitorais, como aconteceu com Hillary Clinton, que teve mais de 3 milhões de votos do que Trump, mas perdeu nos colégios eleitorais. É justo? Lá na matriz eles dizem que sim. Aqui na filial temos pelo menos três milhões de dúvidas. O importante é que acabaram as eleições lá e aqui, as pessoas precisam trabalhar para enfrentar o tranco.   (C.N.)

É a economia, estúpido!, que elege Trump e remodela a política dos EUA

Donald Trump discursa de trás de vídeo blindado durante comício na Pensilvânia

Vitória fácil de Trump desmoraliza o setor de pesquisas eleitorais

Flávia Barbosa
O Globo

À medida que a madrugada avançava, a eleição presidencial dos EUA foi ficando mais parecida com a de 2016, vencida por Donald Trump contra Hillary Clinton, do que com a de 2020, em que o republicano perdeu a reeleição para Joe Biden. Às 3h, os sinais eram inequívocos. Pouco depois das 4h, confirmou-se o que, desde o início da noite, se desenhava: com a vitória na Pensilvânia, o ex-presidente que dominou o Partido Republicano e radicalizou a política americana, com sua retórica incendiária, divisiva, misógina e xenófoba, voltará à Casa Branca.

E não será um retorno qualquer. Será retumbante. Entre os cenários absolutamente plausíveis para a corrida eleitoral deste ano, sempre houve a possibilidade do chamado landslide_ quando um candidato vence de lavada, especialmente carregando todos ou a maioria dos estados-pêndulo. Donald Trump já venceu 3 dos 7 estados decisivos e lidera nos outros 4, e pode claramente vencê-los todos.

ESMAGANDO – E mais: ele lidera o voto popular por mais de 5 milhões de votos, algo que um republicano não conseguia desde George W. Bush, duas décadas atrás. Seu partido obteve a maioria do Senado e tem grandes chances de obter a maioria na Câmara. Sua performance em cada estado é melhor em 2024 do que em 2020, com avanços de até 10 pontos percentuais em condados-chave. Barba, cabelo, bigode.

Como isso é possível? Muito resume-se ao mais famoso ensinamento político do genial estrategista democrata James Carville: “É a economia, estúpido!”.

Não era segredo para ninguém que a economia era o principal tema a mobilizar os eleitores.

TUDO ERRADO – A insatisfação com o custo de vida, a inflação acima do patamar histórico, a sensação de que as contas não fecham e de que o futuro será pior era gritante entre os americanos, que desaprovam por 56% a 41% a presidência de Joe Biden; e 59% desaprovam sua forma de conduzir a economia.

Para 63% da população, os EUA rumam na direção errada. A lembrança é de uma vida mais confortável sob Donald Trump _ considerado mais apto para lidar com a economia do que Kamala Harris, por uma margem de 6 pontos percentuais.

Isso mesmo com a economia americana sob Joe Biden ter tido uma excelente performance em baixar a inflação herdada da pandemia, em gerar empregos, em perdoar dívidas estudantis, em reduzir o preço dos planos de saúde… Mas simplesmente ninguém sente. E percepção é tudo.

MALDIÇÃO – Kamala Harris simplesmente não conseguiu fugir da maldição da Bidenomics. Afinal, ela é vice-presidente de Biden e parte do pacote. Quanto mais o mapa eleitoral foi sendo preenchido ao longo da noite e da madrugada, mais claro ficava o impacto do bolso nas decisões dos eleitores.

Sistematicamente, áreas mais atingidas pela inflação, preços de aluguel, alimentos, energia e gasolina cobravam votos de Kamala mesmo em regiões onde ela vencia com folga – suas margens, porém, encolheram em relação à votação de Biden, em estado após estado: Virgínia, Geórgia, Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Carolina do Norte.

A economia também serviu de combustível ao engajamento republicano e ao comparecimento às urnas. A identificação de eleitores com o Partido Republicano superou o alinhamento democrata pela primeira vez em décadas. Isso foi acompanhado do registro de mais eleitores republicanos.

VOTAÇÃO ANTECIPADA – Não à toa, os números de votação antecipada dos republicanos foram estrondosos. E o chamado turnout acompanhou, ontem, no dia derradeiro.

Não é a única mudança que a vitória de Trump catalisou nos EUA. De carona na insatisfação com a economia, com a falta de oportunidade, a dificuldade de avançar na escolaridade, notadamente mais forte entre os homens, o ex-presidente conseguiu em 2024 avançar nos votos de latinos, negros e mais jovens, um trio demográfico historicamente fiel aos democratas. Por largas margens. Este avanço se junta a outro observado já em 2016 e 2020, sobre trabalhadores brancos sem diploma universitário.

Juntos, esses movimentos cristalizam uma reconfiguração do voto nos EUA, com uma nova coalizão vencedora e radicalizada. Os “deixados para trás” pela globalização, o avanço tecnológico, o elevado custo de estudar parecem superar agora a coalizão que se alinhava em torno de pautas progressistas concretas: mulheres, latinos, negros.

POPULISMO – Parece que os EUA estão trocando uma coalizão popular por uma populista.

Este realinhamento empurrará ainda mais o Partido Republicano e a direita americana ao extremo, ou seja, a Trump. E forçará os democratas a redesenharem seu projeto de país e a redescobrirem o caminho para comunicá-lo.

Os EUA nunca mais serão os mesmos. Trump já mudou para sempre a América. E os próximos 4 anos podem mudar ainda mais, com reflexos nos quatro cantos do planeta.

Todas as pesquisas falharam, desta vez não sobrou um só acerto

Trump se declara vitorioso e agradece “um novo mandato sem precedentes”

O republicano Donald Trump discursa em West Palm Beach, na FlóridaJulia Chaib
Folha

Em um discurso após uma série de vitórias em estados-chave que podem consolidá-lo como o próximo presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump disse que vai curar o país, pediu união e destacou o que chamou de “surgimento de uma nova estrela”: o bilionário Elon Musk, um de seus maiores apoiadores da campanha.

Trump falou à nação por aproximadamente 20 minutos em West Palm Beach, na Flórida, estado que antes era um estado-pêndulo e que se consolidou, no atual pleito, como um bastião republicano.

VITÓRIA POLÍTICA – “É hora de deixar as divisões para trás. É hora da união”, disse ele ao celebrar o que chamou de “vitória política” sem precedentes, mesmo antes da divulgação do resultado oficial. “Nós alcançamos a coisa política mais incrível, uma vitória política que nosso país nunca viu antes.”

O republicano afirmou que os resultados lhe deram um “grande sentimento de amor” e que a nação lhe deu “um mandato poderoso”. Afirmando ter conquistado a maior parte do voto popular, além de ter vencido no Colégio Eleitoral, Trump disse que os resultados significaram “uma nova era de ouro” para os EUA.

“Nós retomamos o controle do Senado. O número de vitórias no Senado foi memorável”, disse ele. “Vocês terão ótimos senadores. E parece que vamos manter o controle da Câmara dos Representantes”, afirmou.

SEM CITAR KAMALA – Em nenhum momento do discurso Trump mencionou Kamala Harris, sua adversária na corrida eleitoral. Convidado a discursar brevemente, o vice na chapa de Trump, J.D. Vance, agradeceu o líder pela confiança e disse que sua vitória, tratada no discurso como certa, foi a “maior reviravolta política da história dos EUA”. Em resposta, Trump brincou dizendo que Vance havia sido “uma boa escolha”.

Além de Donald Trump e de seu vice, também estavam no palco Eric Trump e Donald Trump Jr. filhos do republicano, Melania Trump, a esposa do empresário, Dana White, o CEO do UFC, entre outros. Quase todos brancos —a exceção era Usha Vance, a esposa de V.D. Vance, cujos pais são da Índia.

O republicano ainda afirmou que a eleição representa “o maior movimento político de todos os tempos”. “Fizemos história essa noite”, disse.

APOIO DE MUSK – Ele mencionou os “trabalhadores americanos que se esforçaram para votar”. E agradeceu ao empresário Elon Musk, chamado por ele de “nova estrela”.

O clima no evento na Flórida foi se tornando de comemoração e euforia à medida que os resultados começaram a ser divulgados.

Apoiadores comemoraram a arrancada de Trump nos estados da Pensilvânia e da Carolina do Norte em meio a petiscos e chocolates oferecidos pela campanha.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Daqui para frente, é tudo festa dos republicanos. Entre os democratas, clima de velório, Kamala deixou a sede da campanha sem discursar, desanimada com os primeiros resultados. (C.N.)

Potencial volta de Trump à Casa Branca causa apreensão ao Brasil

A imagem mostra dois homens se cumprimentando de forma amigável, com um deles colocando a mão no ombro do outro. Ao fundo, há várias outras pessoas, algumas com expressões de interesse. O ambiente parece ser um evento formal, com um fundo azul.

Lula se dá bem com Biden, porque já estão com a validade vencida…

Fernanda Perrin e Patrícia Campos Mello
Folha

Integrantes do governo brasileiro estão apreensivos com um retorno de Donald Trump à Casa Branca e se preparam para o que um interlocutor descreveu como um “maior potencial de conflito”. A lista de preocupações inclui agenda climática, Venezuela, Elon Musk e as articulações internacionais de extrema direita.

Na sexta-feira (1º), o presidente Lula (PT) disse que está torcendo por Kamala Harris e incluiu o republicano no que vê como uma volta do “nazismo e fascismo com outra cara” no mundo. “Como sou amante da democracia, acho a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir para bem governar o nosso país, obviamente estou torcendo para Kamala ganhar as eleições”, disse.

A boa relação pessoal entre Lula e Joe Biden, que deve ir a Manaus e Brasília em novembro para a reunião do G20, não deve se manter entre Lula e Trump.

LADO PRAGMÁTICO – Ao mesmo tempo, membros do governo brasileiro dizem que há boa vontade para trabalhar com quem for e afirmam ver um lado pragmático no republicano.

Mas algumas derrotas já são vistas como prováveis. A primeira é o retrocesso na cooperação ambiental. Quando presidente, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e revogou uma série de regulações ambientais e incentivos à transição energética.

Neste ano, prometeu continuar apoiando os combustíveis fósseis —quarta maior doadora da campanha, a indústria de petróleo e gás deu US$ 14 milhões ao ex-presidente.

KAMALA X TRUMP – O que importa sobre a eleição dos EUA é que o Brasil se prepara para sediar a COP, a conferência do clima da ONU, em Belém, no ano que vem, e contava com a ajuda financeira e política dos EUA para transformar o evento em uma plataforma para novos mecanismos de financiamento para transição energética.

 O Brasil também apostava na cooperação dos EUA para desenvolvimento sustentável —Biden havia prometido repassar US$ 500 milhões ao Fundo Amazônia em cinco anos. No entanto, o grosso do montante ficou travado no Congresso.

Com Trump na Presidência e previsão de domínio republicano ao menos do Senado, diplomatas estimam que será o fim definitivo de qualquer esperança de o dinheiro chegar.

INCERTEZA – No restante dos temas, domina a incerteza. A principal delas é sobre a proximidade entre o republicano e Elon Musk. O bilionário, que recentemente entrou em choque com o ministro Alexandre de Moraes (STF), é um dos principais apoiadores de Trump, e sua influência em um governo dele é dada como certa, seja com um cargo formal ou não.

Já o analista Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Eurasia e colunista da Folha, diz que acredita que o confronto entre o dono do X e autoridades brasileiras deve escalar em um governo do republicano.

Bruna Santos, presidente do Brazil Institute, principal think tank sobre o país em Washington, relembra que já houve articulações no Congresso americano para tentar emplacar a pauta de supostas violações da liberdade de expressão no Brasil. Para ela, isso deve ganhar mais espaço sob Trump.

NOVAS INVESTIDAS – O movimento não teve um impacto maior, como queriam aliados de Jair Bolsonaro —que chegaram a falar em sanções—, diante da falta de apoio do Senado e da Casa Branca, ambos dominados por democratas. Mas, se houver uma inversão de forças, o temor é que essas investidas consigam avançar.

Para Santos, a relação entre os países seria marcada por uma guerra de narrativas “extremamente exaustiva e pouco produtiva”. A declaração recente de Lula sobre a corrida americana não surpreende, em sua visão.

Mas ela ressalta que, da parte do Itamaraty, já houve conversas com pessoas ligadas ao Partido Republicano para indicar que há uma intenção de manter o diálogo sob um governo Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
No final, tudo se acerta, porque os interesses comerciais sempre falam mais alto do que os meramente políticos. (C.N.)

Alguém acredita quando Tarcísio de Freitas diz que desistiu do Planalto?

A aposta de ministros de Lula sobre o futuro de Tarcísio em 2026

Tarcísio vai apoiar Bolsonaro e dá por encerrado o assunto

Basília Rodrigues
d
a CNN

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reafirmou nesta segunda-feira (4) que vai tentar a reeleição em 2026. Desde o resultado das eleições municipais — com vitória para o grupo político dele em São Paulo — circula a tese de que o caminho é a Presidência da República. Tarcísio, no entanto, nega.

“A única coisa que eu vou concorrer é a reeleição ao governo”, disse à CNN.

PALAVRA MANTIDA – A declaração ocorreu durante a festa de lançamento do novo canal CNN Money, que reuniu políticos e outras autoridades, em São Paulo, na noite desta segunda-feira (4).

“A visão de hoje vai se manter daqui a dois anos”, reiterou sobre sua disposição de não concorrer à presidência. “Eu já venho dizendo isso, mas as pessoas não acreditam. Quero ver quando chegar 2026, e todo mundo ver que eu estava falando (o que era) para valer”, complementou.

Tarcísio disse acreditar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguirá voltar a ser elegível até 2026. “Os motivos da inelegibilidade são muito frágeis. O meu candidato é ele. Eu estarei com ele (Bolsonaro)”, disse.

EFEITO TRUMP – O governador de São Paulo avalia que os partidos ainda estão se organizando para 2026 e que uma eventual vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, poderia gerar pressão no Brasil sobre a condição de Bolsonaro.

Após o resultado de segundo turno, Tarcísio tem evitado entrevistas de vídeo porque não quer falar sobre o assunto. “A eleição (municipal) já passou. Agora é virar a página”, disse.

O governador de SP ressaltou que, desde as eleições, fez quatro leilões, e ainda neste mês irá inaugurar a rodovia que liga Caraguatatuba a São Sebastião.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– É apenas uma declaração de momento, ainda muito longe do prazo legal, mas Bolsonaro e Lula estão desesperados com a possibilidade de Tarcísio se candidatar ao Planalto, parecem à beira de um ataque de nervos. Como se vê, pode continuar a chatice da polarização entre dois candidatos que competem entre si para ver quem é o mais despreparado. Aquele que vencer, se comprovar que é nesmo o pior, recebe de prêmio a Presidência da República. (C.N.)

Quem faz obras importantes tem mais chances de ganhar eleição municipal

Nota: Pelo SUS com financiamento mais justo! - Cebes

Charge do Amâncio (Arquivo Google)

Merval Pereira
O Globo

Esta eleição municipal ficou conhecida como a “das emendas parlamentares”. Mas poderia também ser chamada de “eleição dos fundos”. Nunca ficou tão claro o poder do dinheiro na definição dos resultados finais, especialmente na reeleição da maioria esmagadora dos prefeitos de capitais.

O sistema de reeleição ficou consolidado com a vitória de quase 80% dos incumbentes. Pode ser bom por garantir a permanência de gestores bem avaliados, mas também ser reflexo da máquina estatal, impulsionada pelas verbas públicas.

RENOVAÇÃO – Os prefeitos, de costume, são fundamentais para a eleição do Congresso e, como chamou a atenção o diretor da Quaest, Felipe Nunes, podem impedir que a renovação política se faça a partir das bases.

A supervisão do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais será cada vez mais necessária, para que o abuso do poder político e econômico não distorça os resultados das urnas. Ao mesmo tempo, ficou claro que saber gastar o dinheiro em obras importantes para os moradores é fundamental para obter resultados eleitorais positivos.

A mudança essencial é que os partidos políticos ganharam independência ante o governo central, cujo partido não detém o controle do Congresso.

MENOR INFLUÊNCIA – Nos tempos em que o Executivo controlava a distribuição de verbas e emendas parlamentares, era tradicional que seus partidos, fosse o PSDB, fosse o PT, ganhassem também as eleições, tanto municipais quanto federais.

Mesmo não fazendo maioria absoluta, tinham as maiores bancadas e atraíam deputados e senadores para suas legendas. Hoje, com as emendas parlamentares impositivas e os fundos eleitoral e partidário, a autonomia dos partidos permite que façam seus projetos eleitorais sem depender do governo central.

E o governo central não ousa se meter nas disputas regionais, como mostraram tanto Lula quanto Bolsonaro nas campanhas.

PIOR PARA LULA – Situação mais difícil hoje para Lula, que tem na sua base congressual partidos cujos objetivos de médio prazo não batem com o seu, são de centro-direita ou mesmo de direita.

O PSD foi o partido que mais elegeu prefeitos, mas apenas o quarto que mais recebeu dinheiro por meio das emendas parlamentares. Tem um pé na canoa petista e outro na bolsonarista, com Tarcísio de Freitas. E não quer abrir mão de nada.

O PT foi o que recebeu mais verbas parlamentares, mas elegeu apenas 252 prefeitos em todo o país, ante 887 do PSD. Segundo o Portal do Orçamento, R$ 617,8 milhões foram liberados à bancada petista, que tem 68 deputados. O volume destinado ao PL, maior partido da Câmara, foi de R$ 367 milhões.

FUNDOS ENORMES – O total recebido pelas legendas por meio dos fundos aumentou de R$ 2,5 bilhões em 2018, ano da primeira eleição com as novas regras, para R$ 6 bilhões em 2024, fortuna usada pelas siglas para bancar as campanhas de candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.

Pelo tamanho das bancadas no Congresso, o PL, que elegeu 99 deputados em 2022, foi a primeira legenda a ter mais de R$ 1 bilhão num único ano, quase 30% a mais do que o segundo colocado, o PT, que deveria ser seu principal adversário se a polarização tivesse prevalecido. O MDB foi a legenda que mais elegeu vereadores, 8.113, enquanto o PT elegeu apenas 3.130, embora tenha se saído melhor que na eleição municipal anterior.

Na mesma proporção em que as verbas foram distribuídas entre os 25 partidos que concorreram, também os resultados foram compartilhados. Mas sem dúvida partidos como PSD, MDB e PL foram os mais vitoriosos. Certamente receberão adesões ou farão federações com outras siglas que terão de cumprir as cláusulas de barreira nas eleições para o Congresso em 2026

Banir livros é uma medida típica de ditaduras, mas Dino nem está ligando

Lula anuncia Flávio Dino para Ministério da Justiça

Flavio Dino, para espantar o tédio, agora decidiu ser censor

Lygia Maria
Folha

É temerário deixar que o Estado escolha o que pode ser publicado, já que nunca se sabe qual visão de mundo pode vir a basear a decisão

“Se um homem se deitar com outro homem, ambos praticaram um ato repugnante. Deverão ser mortos e o seu sangue cairá sobre eles.” Essa é apenas uma das passagens da Bíblia que tratam homossexuais de modo degradante.

OBRAS ESQUECIDAS – Estou curiosa para saber quando Flávio Dino, ministro do STF, ordenará que o livro seja retirado de circulação e só possa ser editado sem os trechos preconceituosos.

Pois foi exatamente isso que o magistrado fez com quatro obras jurídicas que estavam esquecidas na biblioteca da Universidade de Londrina. Nelas, alunos acharam discursos contra homossexuais e mulheres e acionaram o Ministério Público. O caso foi parar no STF porque o Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou o pedido de banimento dos livros.

O teor das publicações é de fato abjeto, ao tratar a homossexualidade como “loucura psicológica tão devastadora como nos tempos de Hitler” e apoiar a demissão de gays e lésbicas. Os autores também chamam de promíscuas e insensatas as mulheres solteiras que têm vida sexual ativa.

PERDA DE TEMPO – Mas a corte constitucional não deveria tutelar a esfera do debate público, ainda mais com o banimento de livros — medida típica de ditaduras. Os disparates nas obras já são amplamente refutados por pesquisas acadêmicas e leis que garantem os direitos de homossexuais e mulheres.

Ademais, ao contrário da Bíblia, são livros obscuros sem qualquer divulgação digna de nota. Na verdade, foi a decisão de Dino que os tornou conhecidos.

No Brasil, não é só a esquerda que é afeita à censura. Para citar apenas um exemplo, Marcelo Crivella, quando era prefeito do Rio, tentou recolher da Bienal do Livro uma história em quadrinhos que mostrava um beijo gay.

CONTRA A HONRA – Exceto em casos de ataques individuais (como calúnia e difamação), é temerário deixar que o Estado, até por meio do Judiciário, escolha o que pode ser publicado, dado que nunca se sabe qual visão de mundo baseará a decisão.

E, como disse John Stuart Mill, “se toda a humanidade tivesse a mesma opinião, e só uma pessoa fosse contrária, a humanidade não estaria mais justificada a silenciar essa pessoa do que ela, se tivesse o poder, estaria justificada a silenciar a humanidade”.

Concordo. O tema interrupção voluntária da gravidez foi banido do debate público por direita e esquerda, por motivos distintos. Gostaria de pedir às jornalistas e aos homens também que se organizassem para tratar deste tema em suas colunas em sistema de rodízio, garantindo publicações semanais

LIVRE-PENSAR – Amigos da Folha de SP, ironias à parte, a censura se mascara com desculpas variadas, vestindo trajes de virtude, zelo pela ordem, proteção da moral ou, no caso mais recente, dignidade da pessoa humana. Mas a essência é a mesma: controlar o pensamento e restringir a liberdade de expressão.

Quando o Estado ergue as mãos e cerra o punho sobre as prateleiras, retirando de circulação qualquer ideia que considera perigosa, é o próprio cerne do livre pensar que se vê ameaçado.

EUA vão se tornar ainda mais protecionistas seja com Trump, seja com Harris

Lula diz que torce pela vitória de Kamala Harris nos EUA

Lula perdeu  mais uma bela oportunidade de ficar neutro

Diogo Schelp
Estadão

Em 2008, o furacão Barack Obama atropelou Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata e venceu a eleição para a Presidência dos Estados Unidos pela primeira vez, tendo como adversário um candidato com uma plataforma claramente mais pró-livre-comércio: John McCain, do Partido Republicano. Obama é que era considerado o protecionista. Em 2012, ele foi reeleito e, quatro anos depois, veio Donald Trump e inverteu tudo.

Uma das primeiras decisões de Trump foi jogar no lixo um tratado de livre-comércio fechado por Obama com onze países da Ásia e do Pacífico.

VISÕES ILUSÓRIAS – Atualmente, considera-se que o republicano representa o ideal do protecionismo e do isolacionismo, enquanto os democratas, nas figuras do presidente Joe Biden e da sua vice e candidata a sucessora Kamala Harris, seriam mais abertos para o mundo. Mas será que a diferença é tão grande assim entre eles?

O primeiro mandato de Trump, entre 2017 e 2020, de fato foi marcado pela criação de barreiras às importações, especialmente daquelas vindas da China. Ele aumentou as tarifas sobre produtos chineses de 3% para 20%, em média. No total, as novas taxas de importação criadas por Trump somaram o equivalente a US$ 80 bilhões.

A gestão do democrata Biden não reverteu esse cenário. Ao contrário, ele não apenas manteve a maioria das tarifas criadas por Trump como criou novas barreiras ao comércio externo, efetivamente aumentando o protecionismo americano.

NOME NA LISTA – Quando Biden derrotou Trump na disputa para a Presidência, havia 102 empresas chinesas sob sanção direta ou indireta que constavam em uma lista de alerta para investidores americanos, segundo a consultoria Rhodium Group.

Atualmente esse número está em cerca de 300. Se forem consideradas também as organizações que não estão listadas em Bolsa, o total de empresas chinesas que enfrentam restrições nos Estados Unidos chega a 1.300.

Por essas e outras, o economista Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, disse em março deste ano que Biden e Trump foram os presidentes mais protecionistas da história do país. A diferença entre os dois está mais nas motivações e nos métodos do que na essência.

ESTRATÉGIA – Trump vê a guerra comercial como uma forma de proteger empresários e trabalhadores americanos da concorrência externa, principalmente da China. Sua arma preferida é a taxação da importação.

Na campanha deste ano, prometeu elevar as tarifas para 10% para produtos em geral e para 60% no caso daqueles vindos da China.

Já Biden recorre mais às barreiras não tarifárias como método, ainda que tenha também elevado as tarifas sobre produtos como carros elétricos e painéis solares chineses. Sua motivação está ligada à disputa de longo prazo por poder com Pequim, via domínio tecnológico.

NA MESMA LINHA – De Kamala Harris pode-se esperar que siga a mesma estratégia adotada por Biden, ou seja, uma escalada gradual nas barreiras alfandegárias e tarifárias às importações, enquanto mantém negociações comerciais aqui e ali que dão uma pequena abertura no comércio com outros países.

O resultado geral, ainda assim, será de mais protecionismo. Pelo teor das propostas, é dado como certo que um segundo mandato de Trump faria dos Estados Unidos um país mais fechado comercialmente do que um primeiro mandato de Harris.

Mas a diferença está na intensidade, não na essência. Com qualquer um dos dois, os Estados Unidos vão se tornar mais protecionistas.

Tarcísio tranquiliza Bolsonaro e Lula, ao confirmar que prefere a reeleição

Tarcísio contratou para a campanha dono de sua residência em SPVicente Limongi Netto

O governador Tarcísio de Freitas garante que, por ora, focaliza e pavimenta sua caminhada política apenas na própria reeleição. Governar São Paulo vale muito. Pesa forte no tabuleiro político. As credenciais de Tarcísio são fortes. Não devem ser desprezadas. Novo na rinha política e na idade, Tarcísio é desembaçado. Jeitoso, sabe ouvir, convencer e comandar.

Reelegeu o atual prefeito da capital paulista, contra adversário apoiado pelo presidente Lula.  Disputa foi pesada. Recheada de acusações e infâmias. Tarcísio superou todas elas.  Tarcísio não ficará fora das negociações das eleições de 2026. Não importa a preferência eleitoral e partidária dele.

Por sua vez, Lula precisa juntar os cacos do que sobrou do PT no pleito recente. Como sempre, terá que agir, pensar e decidir sozinho. Tarefa dura. Desafio brabo e difícil. Lula tem a caneta cheia e tinta e pretende usá-la, sem pestanejar, em 2016. Quando o jogo será ainda mais bruto. Para profissionais. O pesadelo do PT e de Lula parece não ter fim.

TÍTULOS MERECIDOS – O presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, recebeu os títulos de cidadão de Salvador e da Bahia, concedidos, respectivamente, pela Câmara Municipal de Salvador e pela Assembleia Legislativa.

Um mundo entre a vida sórdida de Trump e o velho império de Kamala

Candidatos à Presidência dos EUA, Donald Trump e Kamala Harris, se cumprimentam em debate na Pensilvânia

Trump e Kamala são dois candidatos que deixam a desejar

Vinicius Torres Freire

Democratas do mundo inteiro torcem em desespero pela vitória de Kamala Harris. Se eleita, a candidata do Partido Democrata não vai reverter esta onda longa de degradação social e política, fora do controle até do poder de um império mais benevolente. Mas manteria no poder o establishment imperial mais comedido e racional, de resto com 10% de desconto social, o Partido Democrata e seus aliados na finança, na universidade ou na ciência em geral e em boa parte das “big” (“techs”, “pharma” e outros gigantes tecno).

De certo modo, é coalizão que vem desde Bill Clinton (1992-2001), em especial desde Barack Obama (2009-2017), com qualificações.

O QUE VEM – As consequências de Donald Trump são incertas, até se ele perder. Haveria guerra jurídica e tumulto na rua? Vitorioso, vai implementar seu programa? Plutocratas menos lunáticos do entorno de Trump dizem que não; pode haver revolta política; talvez o Congresso barre o pior.

O plano de Trump tende a acabar com o que resta da ordem mundial que os EUA comandaram desde 1945 e com uma ideia de governo que, na sua versão moderna, tem bem mais de um século.

Os aumentos de impostos de importação (“tarifas”) acelerariam a fragmentação econômica global, além de agravar perigosamente o conflito com a China. Bloqueios de comércio alteram também fluxos de investimento; reorganizam ou reforçam blocos políticos e econômicos. Teriam consequências imediatas: preços e juros maiores, comércio menor, menos atividade econômica.

DRIBLAR RESTRIÇÕES – Haveria tentativas de driblar as restrições, como já acontece com as tarifas de Trump 1 (e políticas de vários governos dos EUA). Parceiros, vizinhos e aliados da China tornam-se veículos ou intermediários do capital e da produção chinesas. O pequeno Vietnã ora tem o terceiro maior saldo comercial com os EUA (US$ 105 bilhões, em 2023; o déficit com a China, o maior, é de US$ 279 bilhões). A

 fim de fazer valer sua vontade, Trump viria a impor outras sanções contra países da conexão comercial ou de investimentos chineses e contra outros dribles?

Trump quer que países da Otan e do Leste da Ásia paguem a conta da proteção militar americana. Criaria problemas na endividada e lerda Europa e pânico em Taiwan, para começar. Mais importante, sem dinheiro e armas americanas, qual seria a atitude diplomática e econômica de tais países e blocos?

MOEDA MUNDIAL – Um exemplo menor. A conversa sobre a substituição do dólar subiu de tom com o confisco de reservas da Rússia e o banimento do país das redes financeiras ocidentais, entre outros rearranjos. A perda de peso do dólar ainda é pequena; o poder da moeda está longe de depender só de política. Mas as coisas se movem.

Trump quer trocar a burocracia, o governo racional, o serviço público de Estado, por um séquito. Ameaça meter a mão até no Banco Central, o que teria consequências para o financiamento da explosiva dívida americana e para taxas de juros mundiais, para nem mencionar a insegurança que causaria nos donos do dinheiro grosso, que estacionam seus haveres nos EUA.

O republicano quer dar cabo da transição ambiental; por tabela, ameaçaria compromissos do resto do mundo. A fim de deportar milhões de imigrantes ilegais (o que teria efeito econômico sério), criaria campos de concentração e um grupamento policial-militar de caça e intervenções? Os EUA têm Guantánamo, recorde-se.

A existência de advogados e juízes prova que tendemos ao mau-caratismo

Como Identificar Pessoas de Mau-Caráter - Associação Espírita Allan Kardec

Às vezes, não é nada fácil perceber que alguém é mau caráter

Luiz Felipe Pondé
Folha

Almas superficiais, as mais adaptadas à vida social e política —já que a democracia as premia—, diriam que a direita no Brasil deu no bolsonarismo e marçalismo —que alguns tratam como “vírus”, imagine se a direita tratasse elementos da esquerda como “vírus” num argumento tido como parte da inteligência pública!— e a esquerda deu no cu.

No entanto, as coisas não são assim tão simplesmente miseráveis. Elas são, sim, mais sofisticadamente miseráveis.

NATUREZA HUMANA – Hipótese em questão: todas as iniciativas políticas ou religiosas humanas, cada vez mais afins, morrem na praia por uma razão muito simples —a natureza humana.

Os progressistas, sejam eles de escopo socializante, sejam otimistas de mercado, erram num princípio avassalador: o ser humano é, basicamente, mau caráter quando tem a chance de ser, para servir aos seus objetivos. As raras exceções confirmam a tendência universalizante da regra.

E mais: essa tendência inexorável ao mau-caratismo é sofisticada nas suas formas materiais no mundo, isto é, posso ser mau caráter de modo tal que o seja em nome do bem público, em nome de uma causa, em nome de um grupo, em nome de melhoria salarial, em nome das populações mais vulneráveis, em nome da arte, em nome da educação, enfim, até em nome da deusa.

TESE CONCRETA – A história de longa duração comprova essa tese enquanto a tese contrária —a natureza humana tende a ser de bom caráter— só é passível de sustentação na utopia.

E, mesmo quando se tentou realizar historicamente essas utopias, a tendência ao mau-caratismo comportamental se mostrou mais verdadeira empiricamente. Sinto muito, o espelho das almas não mente.

Sei. Muitos estão a dizer que a hipótese aqui descrita não se sustenta porque a natureza humana não existe. Sempre achei esse argumento excepcionalmente fofo quando enunciado por adultos. Mas, antes de deixar claro ao que me refiro como natureza humana, devo lembrar que, mesmo que não existisse, a realidade pura e simples ainda sustentaria a hipótese de que há uma tendência inexorável ao mau-caratismo na espécie, assim o prova de forma definitiva a existência dos advogados e juízes.

DIREITO NECESSÁRIO – Enfim, enquanto existirem advogados e juízes, o ônus é de quem quiser negar essa hipótese. Sei que muitos profissionais da área poderão argumentar que o direito é necessário para a sociedade.

Quem seria louco de negar esse fato? A verdade desse fato, de novo, comprova a tese de que há uma tendência inexorável ao mau-caratismo na espécie.

Há aqueles que dirão que o direito pode estar a favor do bem social —e não apenas da manutenção da ordem, seja ela qual for. A estes eu diria que, seguindo o filósofo Blaise Pascal, do século 17, não fosse pelos salamaleques gestuais e de figurino do mundo do direito, todo mundo perceberia o vazio de qualquer vínculo das leis com o bem.

CRENÇA DE INGÊNUOS – Aliás, dizem que este não passa de uma abstração delirante do platonismo. E de uma crença de almas de pessoas ingênuas.

Pessoalmente, discordo de modo suave dessa hipótese que nega a existência de alguma forma de bem. Por exemplo, o filme dinamarquês “Bastardo”, com Mads Mikkelsen, apresenta, no meu entendimento, seguindo a evolução dramática do personagem principal representado pelo ator aqui citado, uma forma muito clara do que seria um tipo de comportamento moralmente consistente na vida de uma pessoa, entre a miséria repetitiva do mundo, mesmo que de formas variadas ao longo do tempo e do espaço.

Mais uma vez, o cinema dinamarquês, assim como o argentino, salva quem aprecia filmes não idiotamente ideológicos, melosos ou simplesmente estúpidos.

NATUREZA HUMANA – Mas devo dizer o que estou pressupondo como “natureza humana”. Generosamente, apresento aqui o que quero dizer por tal expressão, foco de tanto vespeiro ao longo da história da filosofia e das ciências humanas.

Não entendo por natureza humana nenhuma herança do pecado original, nenhuma estrutura biológica selecionada ao longo da evolução da espécie ou nenhuma forma pessimista de estrutura psíquica imutável. Poderia, sim, sustentar tais hipóteses, mas não seria este o momento, nem preciso fazê-lo para manter a hipótese aqui citada como sendo “a natureza humana tende inexoravelmente ao mau-caratismo” —já disse que a existência pura e simples dos advogados e juízes são uma prova incontestável dessa hipótese.

Por natureza humana, entendo o seguinte: dadas certas condições a priori que se repetem, se repetirão certos comportamentos. Você já disputou um apartamento na Praia Grande com irmãos e primos? Já viu alguém disputando uma eleição?

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sensacional texto de Pondé. Fica comprovada a tese de que, quando não fala de política, Pondé faz as melhores análises políticas da espécie humana. Ave, Pondé reúna as crônicas e solte uns livros… (C.N.)

Quem é melhor para nós: Trump ou  Kamala? Resposta: nenhum dos dois

Lula diz que torce por vitória de Kamala nos EUA | AGORA CNN - YouTube

Quando Lula abre a boca, os interesses nacionais estremecem

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Lula não deveria ter expressado sua torcida na eleição americana. Seja quem for o próximo presidente, é de nosso interesse ter uma boa relação. Ter chamado Trump de contrário à democracia, fascista e até mesmo nazista em nada nos ajudará se ele for eleito.

Dito isso, é fato que, no que diz respeito à democracia liberal, Kamala é melhor que Trump. O mundo vive um retrocesso democrático, que também se faz sentir no Brasil. A eleição de Trump será um duro golpe a todo o esforço de proteger as regras do processo democrático e as salvaguardas institucionais contra movimentos populistas que buscam derrubá-las. Ele não só criará um momentum favorável para o populismo de direita como também poderá criar embaraços para o STF, contra quem Elon Musk deve acalentar desejos de vingança.

MEIO AMBIENTE – Outra pauta em que Kamala é melhor para nós é o meio ambiente. Para Trump, restrições ambientais são um estorvo inútil. Ele deve desregulamentar a economia americana para crescer mais rápido no curto prazo e não participará de nenhuma iniciativa global contra a mudança climática.

O Brasil já paga um preço alto pelas mudanças climáticas. Nossos esforços de preservação da Amazônia precisam ser devidamente remunerados pelo resto do mundo, e nossa melhor chance dessa pauta progredir é com Kamala na Presidência. Um mundo no qual o meio ambiente é prioridade é um mundo em que o Brasil tem vantagens comparativas.

Nem Kamala, nem Trump (nem Lula) parecem querer novos acordos comerciais, o que é uma pena. Ambos são protecionistas e ambos entendem que é preciso conter a expansão econômica chinesa, mas não da mesma maneira.

“COMPETIDORES”  – Para Trump, todo o resto do mundo é composto de possíveis competidores dos EUA. Ele promete “tirar empregos” não só da China, como da Alemanha e do Reino Unido. Kamala deve favorecer seus aliados e melhorar relações com o continente.

Com a estabilidade democrática do México em dúvida, o Brasil cresce como alternativa do nearshoring. Com Kamala, essa alternativa provavelmente dependerá de cumprirmos critérios trabalhistas e ambientais, incentivo que é bom para o nosso desenvolvimento sustentável.

Não que Trump seja inteiramente ruim para nós. Sua maior dureza com a China cria uma oportunidade para o Brasil, já que, se o agro americano reduz suas vendas para a China, o nosso cresce. Ao mesmo tempo, nos deixará mais dependentes da China.

OUTRAS DIFERENÇAS – Trump enfraquecerá ainda mais os organismos multilaterais que, em algum momento, pareciam ser o futuro da governança global. Com ele, é cada um por si. Kamala tende a ser mais favorável (ou, ao menos, menos nociva) a um mundo baseado em regras e diplomacia, seja para o comércio, seja para o meio ambiente. Trump pode colocar mais medo nos inimigos dos EUA, mas Kamala oferece mais oportunidades para seus aliados.

Trump na Presidência pode ser mais desafiador para o Brasil, ambos terão seus riscos e suas oportunidades que caberá ao país saber aproveitar. Como sempre, nosso desenvolvimento (ou falta dele) depende mais de nós do que de qualquer fator externo, embora um vento a favor seja sempre bem-vindo.

Lula poderia torcer menos pela eleição dos EUA e atacar mais os problemas do Brasil.