Paulo Peres
Poemas & Canções
O escritor, diretor do Museu do Clube da Esquina e poeta mineiro Márcio Hilton Fragoso Borges é, sem dúvida, um dos melhores letristas do nosso cancioneiro popular, criador da expressão “os sonhos não envelhecem”.
Na letra de “Clube da Esquina II”, feita com seu irmão Lô e Milton Nascimento, Márcio Borges fala de um tempo que não existe mais, de um tempo de lutas, de persistência, de não se render. Vale ressaltar que a letra casa bem com a luta pela sobrevivência do homem na sociedade com a luta contra os absurdos da ditadura militar, então, vigente no país desde 1964.
Além disso, é um canto de uma juventude que soube compreender seu tempo, seus medos, suas angústias e suas derrotas, mas não desistiu, é um Clube da Esquina, esquina de amigos que estavam tentando vencer na vida, assim como os amigos que tentavam vencer a ditadura, belo paralelo, pois acabou a ditadura, mas o Clube da Esquina, a luta e persistência para vencer na vida e na sociedade é algo sempre presente, por isso essa música será eterna.
A canção foi gravada por Milton & Lô Borges no LP Clube da Esquina, em 1972, pela Odeon.
CLUBE DA ESQUINA II
Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges
Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço…
Por que se chamava homem
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos…
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio,
De tudo se faz canção
E o coração na curva de um rio, rio, rio…
E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio,
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente, gente.
Será que vai ser preciso um novo regime militar para que aconteça boas músicas e poesias?