Usar o ‘banking’ é cair no novo círculo do inferno pós-Dante

Itaú pressiona bancários do grupo de risco a retornarem ao trabalho  presencial | Sindicato dos Bancários

Charge do Francisco (Arquivo Goggle)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Sim, novos demônios nascem a cada minuto. Um novo tipo disruptivo é o demônio do “banking”. Aquela entidade que você, cliente mortal, nunca tem acesso, mas que decide tudo que cairá do inferno sobre sua cabeça. O pressuposto de partida da descrição dessa figura icônica do século 21 é que o “banking” é um dos novos círculos do inferno pós-Dante.

Uma primeira lei organizadora do universo em que se movem esses demônios do “banking” é que eles operam de costas para o cliente mortal. Um reparo fundamental: existem clientes imortais —ou relevantes—, aqueles que têm muito, mas muito, muitíssimo dinheiro. O resto é irrelevante.

Torna-se relevante se você somar todos os irrelevantes juntos, mas cada um deles em sua miserável existência única permanece irrelevante. Feito esse reparo, sigamos adiante a investigar esse que se constitui como o novo círculo do inferno pós-Dante.

SEGURANÇA DO BANCO – A dinâmica que opera de costas para o irrelevante individualizado é a seguinte: tudo o que importa para o “banking” é garantir a segurança do banco —não a do cliente—, ao mesmo tempo em que reduz custos, reduzindo o gasto com pessoal, à medida que aumenta a dependência da operação dos recursos digitais que são, em si, ao contrário das mentiras do marketing, desumanizadoras.

Ao redor desse processo, cria-se uma névoa de enganação via comunicação institucional da marca e dos brinquedinhos coloridos digitais para o universo infinito de adultos regredidos que caracteriza o ridículo século 21.

O objetivo dessa estratégia de marketing e branding é fazer você, irrelevante, achar que sua existência, e seu dinheirinho, estão no centro da atenção dos bancos.

CRIAR PROBLEMA – Você só estará nesse centro enquanto variável que deve ser neutralizada a tempo, antes que crie algum problema. Mas, lembre-se, um irrelevante só não faz verão. Essa máxima guia a indiferença que move as técnicas de “banking” no século 21.

Vejamos um exemplo didático. A tendência dos bancos é concentrar cada vez mais os processos de “banking” em recursos digitais a fim de otimizar o controle de danos, para eles, os bancos, não para você, mortal e irrelevante.

No momento, esse recurso gira ao redor dos tais aplicativos. Poderá mudar no futuro e cada cliente terá uma IA para chamar de sua ao sabor do gênero que o/a cliente — faltam-me artigos para dizer o que tenho em mente, que tragédia! — desejar.

REFUGO DOS BANCOS – Esse passo será um daqueles que fará você de idiota, enquanto você continuar achando que o “banking” é “inclusivo”. Que digam os idosos, esse refugo dos bancos.

Se ser “inclusivo” funciona para os bancos é porque ser “inclusivo” custa dinheiro de pinga. Mas no Brasil do crime em que vivemos —e que o governo Lula se apressa em garantir que iremos para o fundo do poço fingindo que é “progressista”, essa expressão cunhada para idiotas em política —, quem pode não anda com o “celular do banco” na rua. Deixa em casa por segurança.

Portanto, qualquer agilidade digital se perde nas horas seguidas do cotidiano. E você, mortal e irrelevante, que fique às cegas quanto aos golpes digitais que sofrerá.

GOLPES DIGITAIS – Assim sendo, a tendência cada vez maior é que os demônios do “banking” construam situações em que golpes digitais na sua conta ou no seu cartão sejam problema unicamente seu e que eles estejam cobertos juridicamente.

Inclusive, porque ter advogados é coisa de gente com grana ou que tem duas encarnações para esperar a justiça ao alcance de todos os pobres e miseráveis dessa terra liderada por delinquentes.

Sabemos que em meio aos demônios do “banking” existem os funcionários do banco que nada têm a ver com as artimanhas digitais diabólicas feitas para que os bancos fiquem cada vez mais protegidos das desgraças que podem cair sobre a sua cabeça.

INFERNO PÓS-DANTE -Demônios do “banking” operam “top down” como se costuma falar nessa grande distopia que é o mundo corporativo — palavras em inglês assim usadas sempre soam brega. Os funcionários mortais —porque os demônios do “banking” são imortais na medida em que logo serão substituídos por uma IA diabólica, múltipla, plural, inclusiva e sustentável — não apitam nesse novo ciclo do inferno pós-Dante.

Ficam entre os clientes e os demônios acima deles, quando não têm uma validade funcional curtíssima, ou são mandados embora ou promovidos para seguirem sua carreira dentro da estrutura que são obrigados a “defender” para sobreviver.

E você, como um ator, corre de um lado para o outro do palco, seguindo um roteiro escrito por um idiota que você nunca saberá quem é. Tudo regado a muito som, muita fúria, apesar de não significar nada. “Banking” é pura barbárie no século 21.

4 thoughts on “Usar o ‘banking’ é cair no novo círculo do inferno pós-Dante

  1. Usar dinheiro vivo está fora de moda.
    Até criou-se a pecha de que quem usa dinheiro vivo é porque o obteve ilegalmente. Quanto cinismo e maldade.
    Artigo é oportuno.

    • Genial seu adjetivo de oportuno, sim, porque Pondé foi oportuníssimo em abordar essa escravidão do contarrentista à tecnologia do banking e por tabela ao Capital, meu comentário ao articulista nesta era da IA, seria “Assim caminha a humanidade”

  2. A revolta do Pondé por causa de dinheiro

    Pondé se revolta por não ter dinheiro como gostaria de ter – um fato comum a praticamente 99% dos brasileiros -, e mesmo fazendo ele parte daquele grupo de 1% de abonados que compõem o topo da pirâmide de renda no país.

    Estudou a vida toda para ser sociólogo, professor universitário e intelectual (no Brasil), e sente ironicamente como se fora hoje um pobretão, invejando outros, que seguiram carreira de jogador de futebol ou de cantor sertanejo, e ficaram milionários.

    Fazer o quê, Pondé? Conforme-se. Com todos os defeitos que – humanamente – possa ter, você pode se considerar um dos grandes luminares de nossa Pátria! O que não é pouca coisa.

  3. A revolta do Pondé por causa de dinheiro

    Pondé se revolta por não ter dinheiro como gostaria de ter – um fato comum a praticamente 99% dos brasileiros -, e mesmo fazendo ele parte daquele grupo de 1% de abonados que compõem o topo da pirâmide de renda no país.

    Estudou a vida toda para ser sociólogo, professor universitário e intelectual (no Brasil), e sente ironicamente como se fora hoje um pobretão, invejando outros, que seguiram carreira de jogador de futebol ou de cantor sertanejo, e ficaram milionários.

    Fazer o quê, Pondé? Conforme-se. Com todos os defeitos que – humanamente – possa ter, você pode se considerar um dos grandes luminares de nossa Pátria! O que não é pouca coisa (embora ‘sem dinheiro’, é verdade).

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