Carlos Newton
Gostaria muito de aplaudir a prisão do general Braga Netto, mas não posso fazê-lo, nas condições em que está ocorrendo. A meu ver, ele não é melhor nem pior do que qualquer brasileiro e deve ser julgado na forma da lei, sem exageros ou privilégios de qualquer espécie.
Por isso, concordo com o senador-general Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que apontou uma grave falha jurídica. O ministro Alexandre de Moraes forçou claramente a barra, ao descumprir a legislação, que impede a prisão dele, porque não há flagrante delito e o general tem endereço fixo, bons antecedentes e não representa perigo à sociedade. Mas o ministro Moraes não liga para essa lei. O negócio dele é vingança, apenas isso.
ARGUMENTOS ETÉREOS – A justificativa da prisão não apresenta nenhum dos pré-requisitos exigidos em lei. Ao mandar prender Braga Netto, o ministro Alexandre de Moraes afirmou apenas que há “fortes indícios” de que ele tenha contribuído em “grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente” para o planejamento e o financiamento da tentativa de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. Não citou esses “fortes indícios”.
E mais. Disse que “a Polícia Federal demonstrou a presença dos requisitos necessários e suficientes para a decretação da prisão preventiva do investigado como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal, comprovando a materialidade e fortes indícios de autoria”, escreveu o ministro, embora no pedido de prisão esses “requisitos necessários” sequer tenham sido citados.
IGUAL À LAVA JATO – O fato concreto é que Moraes adotou o estilo da Lava Jato que tão criticado foi pelo Supremo, a ponto de anularem todas as sentenças contra Lula da Silva, inclusive a da juíza Gabriela Hardt, que nem era da Lava Jato. Moraes repete o pior da Lava Jato de maneira exacerbada. Ele próprio conduziu de forma sigilosa o mais recente depoimento do tenente-coronel Mauro Cid.
Aliás, esse Mauro Cid não merece a confiança de ninguém. Um militar que fez fortuna nos Estados Unidos com a empresa Cid Family Trust (ele, o pai e o irmão Daniel), ninguém sabe como, quem pode confiar nessa gente? Os três têm várias propriedades e o irmão Daniel mora numa delas, na California, avaliada em R$ 9 milhões. É mole ou quer mais?
Cid é um covarde, que chora na prisão, embora jamais tenha sido trancado em cela, sempre fica livre dentro da unidade do Exército, fazendo o que me entender. Mostra que não tem alma de militar, deveria ter tentado outra profissão, como dançarino de balé ou cabeleireiro de madame.
###
P.S. – Por fim, não existe nenhuma lei ou tradição de informar as Forças Armadas sobre prisão de generais de 4 estrelas, porque esta é a primeira vez que isso acontece. O Exército tem de ficar quieto, sem passar recibo, até mesmo porque já deu seu recado, há duas semanas, quando os comandantes militares pediram diretamente ao presidente Lula que se empenhasse pela anistia. O momento é de reflexão e expectativa, porque Moraes é um ministro porra-louca que não respeita as leis. Foi ele quem interrogou Mauro Cid na última sessão, quando o tenente-coronel “entregou” Braga Netto, para não perder a delação. (C.N.)