Decisões de Trump afetam bolsas e os aposentados entram em pânico nos EUA

A Nvidia despenca 6,80% no pré-mercado após anunciar impacto bilionário com  restrições dos EUA às exportações de chips à China. O setor tech sofre  efeito contágio com Apple e Meta também em

As ações despencam e os aposentados se apavoram

Pedro Dória
O Globo

Na semana passada, a Apple perdeu US$ 770 bilhões em valor de mercado. É consideravelmente mais do que vale a Tesla. Pegue todas as ações da Tesla, seja capaz de vender todas essas ações ao mesmo tempo pelo valor cobrado no momento do fechamento desta coluna, e dá mais ou menos isso. Uns US$ 640 bilhões.

A Visa, operadora de cartões de crédito, está avaliada pelo mercado em algo próximo de US$ 610 bilhões. Essa dinheirama não é pouco. Valer mais que US$ 600 bilhões quer dizer estar entre as 20 maiores companhias de capital aberto nos Estados Unidos. Até a semana passada, a ação da Apple era considerada estável, segura. Investimento conservador para padrões americanos. Donald Trump, com suas tarifas, a fez sangrar.

HORA DO PÂNICO – Aposentadoria, nos Estados Unidos, é responsabilidade individual. Cada indivíduo pode abrir uma conta-corrente de tipo específico, a 401(k), e mensalmente passar para ela um percentual do salário. Esse valor, até um teto que varia de acordo com a idade do contribuinte, é isento de imposto de renda.

É o contribuinte que decide como investir esse dinheiro. Todo americano tem parte de sua aposentadoria investida em Wall Street. É da natureza americana que os cidadãos tenham o hábito de investir suas economias no futuro das empresas americanas. Está entre as forças do país.

O tombo gigante da Apple, que perdeu 23% do valor entre os dias 2 e 8 de abril, foi refletido em cada poupança voltada para a aposentadoria em todo o país.

CLASSE MÉDIA DESABA – Não foi só a Apple que viu dinheiro virar pó. Num país onde o futuro de cada cidadão está atrelado ao valor das empresas, a loucura de Trump custa muito para todos. Só ficam de fora os tão pobres que não conseguem acumular para o futuro.

Não foi à toa que Trump voltou atrás e isentou parcialmente smartphones, computadores e apetrechos digitais em geral. Foi porque a bomba cresceu rápido e explodiria em sua mão. Ainda assim, o imposto de importação saltou de nada para 20%. Não ser 110%, como a Casa Branca estabelecera até a sexta-feira passada, é pouco consolo.

A briga só está começando. Trump ainda não entendeu o tamanho do problema que criou. Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, anunciou que começou a estudar tarifas sobre serviços digitais americanos.

CÁLCULO INFANTIL – Pois é. Na Casa Branca só fazem conta incluindo coisas que pegamos. Querem, num cálculo infantil, ter certeza de que cada país, individualmente, compre mais coisas dos Estados Unidos do que vende para os Estados Unidos. Só que um terço das exportações americanas não se pega com as mãos. São serviços.

Von der Leyen é uma política conservadora alemã para lá de experiente. Serviu como ministra num dos governos mais frios, pacientes e precisos que a Europa viu desde a unificação — aquele comandado por Angela Merkel. Seu último cargo foi como ministra da Defesa. O trabalho era lidar com gente tipo Vladimir Putin.

A Europa taxar serviços quer dizer o seguinte: a publicidade vendida por Meta e Google sentirá. E pode sentir muito pesado. Publicidade na Europa corresponde a 25% do que fatura a Meta e a 30% do que vende a Alphabet, holding do Google.

SENTINDO O BAQUE… – Se os Estados Unidos continuarem jogando pesado, e a Europa retrucar, algo que ainda não fez no nível dos chineses, outras duas gigantes americanas sentirão o baque. Feio. Isso quer dizer que inúmeros americanos próximos da aposentadoria ficarão ainda mais em pânico.

Um pedaço grande do Vale do Silício fez uma aposta: que, ao apoiar a Presidência de Donald Trump, teriam em Washington um parceiro para enfrentar a regulação do mercado digital no exterior. Esperavam que a Casa Branca pusesse todo o peso do Estado americano para forçar União Europeia, Austrália, Canadá, América Latina a não enfrentar as big techs.

Ora, a China não quer enfrentar as big techs. A Apple sozinha representa, dentro da China, uma cadeia que pode chegar a algo como 3 milhões de empregos. (A conta é de Patrick McGee, autor de um livro por lançar chamado “Apple in China”.) Mas a União Europeia quer. E Trump parece facilitar o trabalho em vez de dificultá-lo. À medida que a UE avança, outros a copiarão. Se ficará mais caro exportar para os Estados Unidos, por que não fazer um troco nas costas do Vale do Silício? E ainda não acabou.

1 thoughts on “Decisões de Trump afetam bolsas e os aposentados entram em pânico nos EUA

  1. ENTUSIASMO DO BOLSONARISMO POR TRUMP REVELOU-SE MAU NEGÓCIO

    ECONOMISTAS PREVEEM RISCO DO TARIFAÇO CAUSAR RECESSÃO GLOBAL

    Em 20 de janeiro, quando Trump tomou posse na Casa Branca, Bolsonaro teve um surto de entusiasmo. (…) E os devotos seguiram o mito, pulando de alegria.

    Não se deram conta de que quem pula com Trump dá um salto mortal.

    Fonte: UOL, Política, 18/04/2025 11h16 Por Josias de Souza

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