Mario Sabino
Metrópoles
A imprensa está excitadíssima com o que chama de briga entre os três poderes. Eu chamo a briga de acerto entre os poderes. Entendo os meus colegas: é preciso cobrir a política brasileira, não tem jeito, e os atores da peça às vezes se ameaçam mutuamente quando alguém resolve emperrar o esquema que vinha funcionando perfeitamente.
É só quando a realidade concreta entra em jogo, apenas para servir de objeto de escambo.
Alguém resolve emperrar não pelo bem do país — que país? –, mas para ver se consegue aumentar o próprio cacife no toma lá, dá cá habitual. Aumentar o próprio cacife significa diminuir o do outro, mudando o que a esquerda gosta de chamar de correlação de forças.
COM CHANTILLY – Briga entre poderes me lembra uma cena que presenciei em uma famosa e movimentada sorveteria de Roma. Ao ser atendido por um dos atendentes que servia os sorvetes, o cliente pediu um de chocolate, café e creme. O atendente perguntou, como de hábito na Itália, se o sorvete era com ou sem cobertura de chantilly. O cliente respondeu que era com chantilly.
— Entendi: chocolate, café, creme, sem chantilly.
— Não, não, eu pedi com chantilly!
— Eu sei, senhor, foi só para dramatizar…
É preciso dramatizar, portanto, tanto da parte dos políticos, como da imprensa. Como nesse enfrentamento de Arthur Lira com Lula e com o PT, no qual o STF entrou de cambulhada por ser alvo da direita, que não suporta mais os transbordamentos de certos ministros do Supremo.
ABUSO DE AUTORIDADE – Até as tampas com o governo do PT, que tirou o emprego de um primo seu no Incra a pedido do MST e não quer que o próximo presidente da Câmara seja aliado seu, Lira ameaçou abrir investigação sobre abuso de autoridade das excelências do STF, como quer a direita, para mandar recado a Lula, que tem no tribunal o seu maior aliado político.
Os ministros ficaram apreensivos e recorreram ao presidente para ver o que podia ser feito, e um deles foi até o parlamento para um olho no olho com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e com o presidente da Câmara rebelde.
Lira conta também com outros itens no seu pacote de maldades, expressão usada em Brasília que costuma me causar bocejos. Ameaça, assim, dificultar a vida do governo Lula — como se o governo Lula já não se dificultasse por si só.
PARA DRAMATIZAR – É um repetição, perceba você, da mesma história de sempre. A única novidade, e reconheço que não de pouca monta, é que agora a briga inclui o Judiciário, que virou poder político.
Mas são todos brasileiros, graças a Deus, e tudo deverá se resolver como sempre, pelo menos neste momento em que o caos econômico ainda está em seus primeiros anúncios. O esquema só sofre abalo real quando o dinheiro começa a faltar para todo mundo. Aí, então, é preciso mudar para que tudo volte a ser como sempre foi, tal como ocorreu no caso do impeachment de Dilma Rousseff, para usar exemplo recente.
Se não houver fator novo, o que seria muito surpreendente, essa briga entre poderes vai acabar em sorvete com chantilly. O sorvete sem chantilly foi só para dramatizar, senhor.
Perfeito ! Quinquênios, 2,4 bilhões para emendas etc.
Parafraseando CN: E LA NAVE VA, CADA VEZ MAIS FELINIANAMENTE.
Combinados resultados atribuidos como “prêmios” entre os que beberam da água do deslembrado GDias, o “mago patológico”!
Brigas de gangues e facções criminosas .
Ou será tática da república do militarismo e do partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, só para esquentar a amizade e pacificar o revanchismo da comilança ?