De 2014 a 2024, Brasil viveu a década perdida de uma polarização insensata

Tribuna da Internet | Polarização, que é obra de lideranças, depende muito do futuro incerto de Bolsonaro

Charge do Nani (nanihumor.com)

Bruno Soller
Estadão

Dez anos, quatro presidentes, aumento exponencial da polarização e um período perdido do ponto de vista econômico. O Brasil completa, em 2024, uma década desde a reeleição de Dilma Rousseff e passou por um turbilhão de mudanças políticas, crises, acirramento de ânimos e muito pouca mobilidade social da sua população. A vida do brasileiro estagnou e a sociedade parece anestesiada com tantas decepções.

Agarrar-se a um polo político parece ser uma defesa na tentativa de pelo menos mostrar que o outro lado é mais prejudicial. O fato é que a população acabou por se contentar em escolher o menos pior e, isso, para um país é uma falência de perspectivas.

DIZEM AS PESQUISAS – As pesquisas de opinião que mostravam o motivo do voto nos últimos desafiantes ao Palácio do Planalto apresentam essa situação. Em pesquisa Datafolha, datada de outubro de 2022, na véspera do segundo turno, 1/5 do eleitorado que votava em Lula, o fazia declaradamente apenas para tirar Bolsonaro da Presidência da República.

Um levantamento da Quaest, datado também do período eleitoral, mostrava que 35% dos brasileiros tinham medo da volta do PT ao poder e, por isso, preservavam o voto em Bolsonaro. Uma eleição contaminada por sensações negativas e dominada pela lógica de derrotar o inimigo.

Entre retrações e tímidos crescimentos do PIB, o Brasil cresceu, de verdade, pouco mais que 3% em uma década inteira. Os dois primeiros anos do segundo mandato de Dilma Rousseff inauguraram uma fase de queda do PIB de quase 7%. Temer, ao assumir, conseguiu remediar a situação e o Brasil, em 2 anos, teve ligeiro crescimento acima de 1% (1,3% em 2017 e 1,1% em 2018).

TÍMIDOS AUMENTOS – Bolsonaro enfrentou uma pandemia que fez derrubar o PIB em 4,1%, em 2020. Em 2021, conseguiu uma recuperação, com crescimento de 4,3%, mas que, no acumulado, virou jogo de soma zero. Desde então, o Brasil, no final de Bolsonaro e início de Lula, vem experimentando tímidos aumentos, que ainda são muito insuficientes para mudar realidades.

Além da questão econômica, os quocientes sociais são muito preocupantes. Eleito com a esperança de um choque na realidade da segurança pública, após um final de governo Temer com intervenção federal no Rio de Janeiro, com o Exército guerreando contra as facções criminosas, Bolsonaro não conseguiu fazer o Brasil sair do hall dos países mais violentos do mundo.

Acabados os seus quatro anos de governo, o legado para a segurança foi nulo.

DESTAQUE MUNDIAL – Relatório divulgado pelas Nações Unidas, na transição de governos Bolsonaro-Lula, mostra que o Brasil foi responsável por 10,4% de todos os homicídios ocorridos no mundo. Em mortes per capita, o País ocupa a vergonhosa décima primeira colocação mundial, tendo números quatro vezes maiores que a média global.

Outro ponto essencial para a construção do futuro da nação, o ensino público apresentou pioras preocupantes na corrente década. Um estudo realizado pelo Todos pela Educação, trouxe à tona um aumento significativo do analfabetismo de crianças de 6 e 7 anos. Os dados de 2022 apontaram que 41%, quase metade das crianças nessa faixa etária, ainda não sabiam ler nem escrever.

As sequelas da pandemia, com a falta de aulas presenciais e fechamento de escolas, ajudou sobremaneira esse perigoso impulsionamento. A crise econômica também é um fator que promove grande parte da evasão escolar.

SOBREVIVÊNCIA – Na busca por conseguir rendimentos, jovens abandonam os estudos e se imergem na informalidade, na tentativa de conseguirem manter o mínimo em suas casas. Pesquisa coordenada pelo IBGE mostra que 40% dos adolescentes que abandonam os estudos o fazem por necessidade de buscar trabalho.

Os dados de queda de desemprego coadunam justamente com o aumento gigantesco do número de pessoas na informalidade. São dados frios, que parecem uma conquista, mas que só expõem uma nova realidade do mundo do trabalho.

No Norte e Nordeste brasileiros quase 60% da população, de acordo com o IBGE, já vive na informalidade. A vinda dos aplicativos de carona e entrega, além do comércio eletrônico, mexeram com a forma como a população se remunera e garante sua renda. O emprego formal está cada vez mais escasso e depende de mão de obra qualificada para ocupação.

CONTRA POLARIZAÇÃO – Movimentos contra a polarização aparecem vez ou outra, coordenados por políticos brasileiros. A falta de um nome que represente esse rompimento é o maior dos problemas. Sempre que algum dos nomes surge, há uma tentativa de enquadrá-lo em um dos dois nichos.

Luciano Huck, apresentador da Rede Globo, ensaiou candidatura à presidência, em 2018 e 2022, e chegou a ter bons índices nas pesquisas de opinião, atingindo dois dígitos quando seu nome era testado.

Surpreendentemente, nas últimas semanas, o global lançou um manifesto em forma de vídeo, falando sobre ser “isentão” na política, um termo que foi criado para desqualificar aqueles que não se identificam nem com Lula, nem com Bolsonaro, parecendo querer incorporar esse movimento em torno de sua figura.

7 thoughts on “De 2014 a 2024, Brasil viveu a década perdida de uma polarização insensata

  1. Falar como se o gargalo fosse o nome e não o sistema exaurido na gastança, na comilança e na impostança é apenas mais 171 eleitoral, só isso. De nada adianta trocar um nome por outro conservador do sistema apodrecido. A maldição da polarização, enquanto defeito congênito do sistema apodrecido, só pode ser quebrada pelo projeto inovador, antissistema, sustentável, que não come na mão do capital velhaco e nem senta no colo do famigerado centrão. Tem que ser alicerçado na verdade, na boa-fé, na honestidade, na empatia e na Justiça reta, porque basta de tanta má-fé, mentira, propaganda enganosa, enganação e frustração..

  2. Para acabar com o Nós contra Eles, implantado pelo Stalinácio lá atrás , só acabando com o povo brasileiro . E quem insiste em continuar com o clima de divisão, acirramento dos ânimos e ódio começa no slogan do governo federal, união e reconstrução, reconstrução do quê?

    • Os falastrões inesgotáveis ​​transformaram-se nas sessões dos parlamentos e nas reuniões administrativas em prélios oratórios. Jornalistas audaciosos e panfletários clínicos atacam diariamente o pessoal administrativo. Os abusos do poder, finalmente, prepararão a queda de todas as instituições, e tudo será destruído pela multidão enlouquecida. Capítulo III https://www.islam-radio.net/protocols/indexpo.htm

  3. “Brazuela” X “Haitibras”, e seus puxadinhos (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª… vias dos me$mo$), conservadores do sistema apodrecido, que representam o nada e o coisa nenhuma em termos de mudanças de verdade, sérias, estruturais e profundas, é uma polarização pra lá de nefasta que representa o pior dos mundos para o Brasil empacado no passado, carente da solução, via evolução, há 134 anos, que o liberte da guerra tribal dos me$mo$, primitiva, permanente e insana por dinheiro, poder, vantagens e privilégios, sem limite$.

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