Demétrio Magnoli
O Globo
“O governo do presidente Lula está enfrentando forte campanha especulativa e de ataques ao programa de reconstrução do país com desenvolvimento e justiça social”, afirmou a nota da direção do PT publicada há uma semana. Como? Pela “escancarada sabotagem ao crédito, ao investimento e às contas públicas, movida pela direção bolsonarista do Banco Central com a manutenção da maior taxa de juros do planeta”.
O BC seria uma ferramenta de “setores privilegiados” que, “valendo-se da mídia associada a seus interesses financeiros, fabricam uma inexistente crise fiscal”.
CONSPIRAÇÃO – A economia de mercado é uma conspiração — eis o conceito de fundo que orienta o texto partidário. Fosse, apenas, expressão da ignorância econômica petista, isso não passaria de uma curiosidade. Só que não é: a nota reflete o pensamento econômico de Lula, raiz do atual impasse fiscal.
Dólar, Bolsa, juros de longo prazo representam, na economia, o que temperaturas e precipitações representam para a ciência climática: indicadores das dinâmicas de um sistema complexo de interações.
O PT e o presidente, porém, os interpretam como resultados de uma ação política premeditada. A economia atenderia às ordens de um Comitê Central oculto, formado pelos tais “setores privilegiados”, cujo executor seria o BC.
BODE EXPIATÓRIO – É um equívoco benevolente imaginar que as periódicas campanhas semioficiais contra Roberto Campos Neto configuram apenas uma tática política destinada a produzir um bode expiatório para as dificuldades do governo. Como atestou a catástrofe econômica fabricada por Dilma Rousseff, o lulismo acredita genuinamente que, para o bem ou para o mal, uma varinha de condão política determina o comportamento da economia. “Vontade política” e “sabotagem” — a linguagem ritual lulista desvela uma abordagem mística da economia.
A refutação da tese exposta na nota do PT tardou só 48 horas. A decisão do Copom pela manutenção da “maior taxa de juros do planeta” contou, na sua unanimidade, com o voto dos quatro diretores indicados por Lula. Como, depois disso, acusar a “direção bolsonarista do BC”?
Fácil: basta alegar que os quatro escolheram a “traição”, alinhando-se aos “setores privilegiados” na “sabotagem” ao governo.
O QUE SE DIZ – Sem surpresa, é precisamente o que se diz em círculos próximos ao Planalto, num incipiente bombardeio à indicação de Galípolo para a presidência do BC.
Campos Neto “trabalha para prejudicar o país”, na frase insultuosa de Lula? O Copom unânime retrucou, certeiro, reafirmando que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Tradução: a queda na taxa Selic depende, entre outros fatores, da “vontade política” do governo de perseguir o equilíbrio fiscal.
MEIA ENTRADA – Nem tudo está errado na nota do PT. Ela, claro, não menciona a “democracia da meia entrada”, expressão cunhada por Marcos Lisboa e Zeina Latif, nem reconhece a farta distribuição de subsídios a setores empresariais nos governos lulistas anteriores e no atual.
Mesmo assim, a nota do PT acerta ao alertar sobre a necessidade de “correção de um conjunto de desonerações tributárias, muitas injustas e injustificáveis”, algo que exigiria esforço conjunto do Executivo e do Congresso.
O problema, no caso, é o acerto colocar-se a serviço do equívoco — da resistência ideológica à revisão das despesas públicas compulsórias.
OUTROS ELEMENTOS – A vinculação extensiva dos benefícios previdenciários ao salário mínimo faz com que cresçam bem acima da inflação — mas o governo desautoriza sistematicamente os tímidos ensaios de Simone Tebet para revê-la.
Os pisos legais da saúde e educação experimentam aumentos reais persistentes e inerciais, sem melhorar a qualidade dos serviços. Mas o tabu econômico lulista só admite ajuste pelo lado da receita, condenando qualquer tentativa de cortar despesas.
O Orçamento engessado, consequência de um pensamento econômico envolto em misticismo, comprime o investimento público. “Sabotagem”? Sim: o governo sabota a si mesmo.
Toda a receita de corte de gastos resumida nos últimos parágrafos.
“OUTROS ELEMENTOS – A vinculação extensiva dos benefícios previdenciários ao salário mínimo faz com que cresçam bem acima da inflação — mas o governo desautoriza sistematicamente os tímidos ensaios de Simone Tebet para revê-la.
Os pisos legais da saúde e educação experimentam aumentos reais persistentes e inerciais, sem melhorar a qualidade dos serviços. Mas o tabu econômico lulista só admite ajuste pelo lado da receita, condenando qualquer tentativa de cortar despesas.”
Só faltou o articulista defender outras receitas do mercado: fim do aumento reais do SM.
Pronto, essas receitas são para cortar os privilégios das camadas mais favorecidas, segundo ele e os seus colegas da mídia liberal..
Caro Vidal, matou a pau.
Esta direita reacionária brazuca é risível, de 2017 a 2022 essa politica de corte de despesas foi implementada. Foi tão bem sucedida que perderam pro candidato da oposição mesmo comprando votos na cara dura.
Ao contrário do que esse editorial prega, nenhum país cresce só com ajuste fiscal, aliás ajuste fiscal este da pior qualidade, sempre focado no corte de investimentos, por isso a direita nunca entregou resultados econômicos prometidos.
É muita munição, daí a ênfase no desarmamento, cfe:
https://www.facebook.com/share/v/BMBoDTBSuvfuQp2r/?mibextid=oFDknk
Além de ser uma tremenda estupidez não corrigir as aposentadorias e pensões pela inflação, é uma tremenda maldade com os mais velhos. Não é culpa do aposentado ou do pensionista se o governo “aposenta” gente que nunca aportou um só centavo para a sua aposentadoria. Como voltar atrás é impossível, agora o governo quer punir o aposentado como se ele tivesse culpa da demagogia estatal. Que o governo corte gastos imbecis como o tal Vale gás por exemplo, aí já sobrariam alguns milhões.
Essa Tribuna de Argemiros, Chagas, Fernandes, etc.
Hoje é infestada por Andreazzas, Bob fields,Waak, etc…..esqueci do nome acima, mas sei que sempre foi inimigo do Cara (HF).
Como pode ter acontecido isso?
Demétrio blá-blá-blá…
Quem pode levar esse capitão do mato à sério?