Exército protege a gestão Bolsonaro e faz segredo das punições a oficiais golpistas

Freire Gomes e o Alto Comando

Ao depor, Freire Gomes não revelou quem foi punido

Francisco Leali
Estadão

O Comando do Exército tem um esqueleto da gestão Bolsonaro para lidar: o que fazer com os coronéis que, nos estertores do governo do ex-capitão, elaboraram e fizeram divulgar uma carta ao então comandante da Força com um chamamento à ação. O documento foi entendido como pressão de oficiais para o Exército entrar em campo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

O levante missivista não deu certo. O petista botou a faixa, veio o 8 de Janeiro, a delação do coronel Mauro Cid e ficou-se sabendo que o documento dos oficiais apareceu num momento em que integrantes do governo Bolsonaro tinham no bolso um ato para prender adversários. O tal plano de golpe naufragou por falta de apoio nas Forças Armadas e por reiterados recados de países como os Estados Unidos de que não concordariam com ruptura na ordem democrática no Brasil.

RESUMO DA ÓPERA – Os tais coronéis tiveram que se explicar. Como manda o figurino, foram instaurados procedimentos internos. No total, pouco mais de 40 oficiais estavam envolvidos, apesar de um site dedicado ao meio militar ter informado que no dia da publicação da tal “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro” havia mais de 1 mil adesões.

O resultado dessa apuração é história que, até agora, o Comando da Força não quer contar por inteiro. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-comandante da Força, general Freire Gomes, relatou que houve punições, mas não as detalhou. O Exército muito menos. O Estadão apresentou seguidos pedidos com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), todos negados. A Força não quis apontar qual punição teria sido aplicada.

No final do mês passado, depois de alegar que tudo era sigilo, informou que, dos 40 e poucos militares, 26 teriam sido punidos. Em nota, o Exército relata que esses foram “devidamente enquadrados à luz do regulamento Disciplinar do Exército (RDE), sendo eles 12 (doze) coronéis, 9 (nove) tenentes-coronéis, 1 (um) major, 3 (três) tenentes e 1 (um) sargento”.

QUATRO CORONEIS – A Força aponta ainda quatro coronéis, dois da ativa e dois da reserva, contra os quais haveria indícios de crime. E ficou-se acreditando que o Exército não passou a mão na cabeça de oficial algum e até puniu parte deles. E qual foi a punição já aplicada?

O Exército, até agora, não conta. Há quem acredite que não conta porque algumas da punições aplicadas, se vierem a público, possam parecer apenas uma bronca de pai em filho que fez mera peraltice e não um enquadramento severo numa instituição que leva a sério o respeito a hierarquia.

Num dos mais recentes pedidos de esclarecimentos por meio da LAI, o Comando alegou que as sindicâncias originais, apesar de encerradas, deram origem a uma nova sindicância. Esta última, agora, também terminou. Mas foi sugerido abertura de um inquérito policial militar (IPM) contra os quatro coronéis e, por isso, continua tudo em segredo.

DIZ O EXÉRCITO – “Informa-se que a sindicância em comento resultou na instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM), passando a fazer parte de um processo penal. Ressalta-se que a referida sindicância foi acostada aos autos do IPM. Nesse diapasão, o objeto do pedido inicial se trata de informação com restrição de acesso”, informou o Exército por e-mail.

O IPM inaugura apuração criminal que tramita na Justiça Militar. O comando das investigações está a cargo do general Adamo Colombo da Silveira. Por essas peças que o destino prega, o oficial chegou ao generalato em solenidade no dia 1º de dezembro de 2022. Três dias antes, a tal “Carta ao Comandante” era divulgada nas redes sociais.

Na solenidade daquele dia, o então chefe do Estado Maior do Exército, general Valério Stumpf, foi o único a discursar e falou duas vezes em respeito a hierarquia e disciplina. Bolsonaro estava presente, mas com cara de funeral. Naquele momento era, a contragosto, o futuro ex-presidente.

REGISTRO RECENTE – O registro de autuação do IPM é recente. Foi às 16h19 do dia 10 deste mês. O processo aponta um rumo inicial que pode projetar para uma apuração branda. Está grafado que o inquérito cuida de conduta enquadrada no artigo 166 do Código Penal Militar. Esse artigo trata de “publicação ou crítica indevida”. A pena prevista é dois meses a um ano de detenção. Por enquanto, não está no script tratar o caso como incitamento a revolta ou a aliciamento para prática de crime, conduta que o mesmo código estabelece pena de até quatro anos de reclusão.

É cedo ainda para saber que rumo o caso vai tomar. Até aqui o Exército preferiu deixar de lado a transparência para tratar tudo sob sigilo. O tema é melindroso para o Comando. Coronéis são a próxima geração de generais. Se há entre eles uma turma que, alega o direito de liberdade de expressão, para cobrar do comandante o que fazer ou deixar de fazer, isso prenuncia que há algo de frágil na tradição de que militar não sai por ai dando opinião sobre a vida política e cobrando do Exército que faço isso ou aquilo.

Punir quem saiu da linha na medida certa poderia ser o caminho. Mas sempre haverá os que viram no movimento dos coronéis uma ação legítima acreditando que era hora das Forças Armadas darem um basta na urna que não é confiável, no eleito que não deveria subir a rampa do Planalto e até no Tribunal que não se submeteu ao Ministério da Defesa. Felizmente, quem pensa assim não está dando as cartas atualmente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Exército não divulga as punições, porque foram ridículas, sem o menor rigor. Quanto ao processo dos quatro coronéis, é mais uma peça teatral, porque os dois da reserva não podem ser punidos e têm garantia constitucional. E os outros dois, da ativa, também serão poupados, acredite se quiser. (C.N.)

11 thoughts on “Exército protege a gestão Bolsonaro e faz segredo das punições a oficiais golpistas

  1. Senhor Carlos Newton , por qual cargas d’água esses ” crápulas , desgraçados e covardes ” golpistas , não impediram os juízes do STF logo no nascedouro de soltarem , extinguirem seus processos , investigações e de reabilitação política de Lula , com o agravante de que não impediram o acordo entre o então presidente jair messias bolsonaro , seu vice general hamilton mourão com os juizes do STF , concordando e aprovando a soltura e reabilitação politica de Lula?

    • A “Mãe da Impunidade”, a qual todo alçado “estatutariamente” se submete, proíbe tal rebeldia à sua apátrida agenda internacional!

    • Sem, em momento algum, tentar usurpar a prerrogativa do Senhor Editor, vou tentar lhe responder seu questionamento:
      1º O Exército jamais interviria abertamente numa questão judicial e muito menos sendo o caso de corrupção, já que a instituição carrega há muito tempo três cancros da praga, Intendência, Saúde e Engenharia.
      2º Eles não se sentiriam a vontade fazendo na Lava Lula o que não fizeram na Lava Jair em 88, quando o STM liberou Bolsonaro de uma acusação de terrorismo, provada e comprovada e condenou nós a pagar seu soldo de capitão até hoje.
      3º A conivência do Jair com a operação Lava Lula foi resultado da estratégia de dois muares, ele e seu vice, que imaginaram que com a ameaça “comunista” do Lula na praça, não precisaria nem de campanha para a reeleição, poderia até ter sido, tivesse feito um governo ao menos sofrível.

      • Meu velho, duas pequenas correções:

        1- Bolsonaro nunca foi acusado de ato terrorista, muito menos um provado e comprovado;
        2- O soldo de capitão seria pago mesmo se ele tivesse sido condenado e expulso.

        • Lá vamos nós de novo, espero que não fique um hábito,
          Em 19/04/88, o Conselho de Justificação Militar, considerou, por unanimidade, o Capitão Jair Messias Bolsonaro, culpado de tentativa de colocar uma bomba na Adutora do rio Guandu que abastecia a cidade do Rio de Janeiro, declarando sua incompatibilidade para o oficialato e consequente perda do posto e patente, sendo que na apelação ao STM usando da simpatia dos velhos generais pelo seu entusiasmo pela ditadura e tortura e se agarrando ao detalhe de que o croquis da bomba e as instruções estariam em letra de forma, mesmo havendo o a perícia grafológica que atestava a veracidade de sua letra, foi só reformado compulsoriamente. Já, naquele tempo, o STM dava o caminho das pedras para o STF seguir na Lava Lula.
          Quanto à dúvida do soldo, consultarei RDE para conferir, minha certeza.
          Alguma dúvida, me avise para lhe enviar o Noticiário do Exercito nº 7.449 de 23/02/83, para o senhor ter uma ideia melhor do seu ídolo e parar de me patrulhar.

          • Meu velho, há uma confusão danada aí. Conselho de Justificação é uma coisa, julgamento no STM é outra. Nunca houve ATO terrorista provado e comprovado, houve a publicação de uma reportagem na revista VEJA, denunciando um suposto “plano” para explodir algo. Para os juizes do STM, a denúncia da revista esquerdosa era inverídica. Bolsonaro ganhou a causa e os comunas perderam. Desde aqueles tempos o bozo é “duro na queda”.

  2. O tal documento serviu como plantada ceva para atrair e incriminar nacionalistas, considerados “Os Ultimos Moicanos”, que ainda restavam dessa plantada (infiltrada), adubada e regada (locupletada) ROÇA DE MELANCIAS e eis o “aviso”(pito) para encolherem-se em suas deixadas tidas insignificâncias patriotas!

  3. Mais um artigo encomendado, infelizmente os leitores jamais saberão o valor do pix.

    Notem que o “jornalista” fala de uma carta golpista, a peça central de todo o ‘imbróglio’, mas o trapaceiro não se dignou a citar um único trecho da referida missiva pra que o leitor avalie, por si mesmo, a gravidade do seu “golpismo”.

    • Conselho de Justificação Militar é uma coisa, STM é outra, que eu saiba ninguém diz o contrário, assim como 13ª Vara Federal era uma coisa e STF é outra, essa ressalva cheira a sofisma.
      O RDE, alterado, visceralmente, em 2002, realmente dá uma lição de impunidade na Cidadã, muitíssimo mais fácil condenar um corrupto do que um milico terrorista.
      Como no seu último parágrafo o senhor enaltece seu “bozo” fica assentado que é bolsonarista raiz e que pelo tanto se identifica e imita seu totem., pelo que sua falácia sobre o disparate da revista “esquerdosa” ( mais um indício da sua obsessão), merece menos crédito do que um cheque do Bolsocheio.
      Se a intenção e planejamento de explodir a principal adutora de uma Capital não é terrorismo, então devo deduzir, mesmo não acreditando em espiritismo, que o senhor encarnou o Olavo de Carvalho e se alimenta de polémica, o que aviso desde já que não é minha praia, pelo que lhe recomendo procurar outro palco iluminado
      porque aqui os holofotes se apagaram.
      Em tempo: Se o senhor quer se ilustrar melhor para continuar sua campanha de bolsonarização do país, posso lhe indicar livros, artigos, documentos, notícias e até meu testemunho pessoal dos seus negócios na Câmara.

  4. Se alguém tem interesse em compreender exata e cientificamente o fenómeno do bolsonarismo que ainda pode virar este país do avesso, leia o artigo do Professor Ivan Lago “O Jair que há em nós” do qual eu adianto o último parágrafo e o link para sua leitura completa:
    Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Por isso não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo.”

    Por:
    Ivan Lago
    28/02/2020

    https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-politica/7391469

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